Dia 25 de outubro: Brian ligou seu computador logo cedo, quando chegou à sede da Interpol. Logo depois, abriu seus e-mails, dois deles apenas lhe pareceram interessantes de imediato. Foram enviados pelo delegado de polícia que investigava o massacre na cidade russa. Um deles era de detalhes a cerca da estranha e misteriosa invasão:

— Ei, Johnny, olhe aqui. Descobriram quem invadiu e dizimou aquela cidade da Rússia. Um grupo de mongóis e chineses liderados por um tal de Iajuddin Wajedd.— comentou Brian ao ver seu colega no local.

— “Um tal de Iajuddin Wajedd”, Brian? Esse cara é o traficante de heroína que a equipe do Carlson está investigando. E, também é o responsável por levar crianças para a pedreira.

— Ih, é verdade. Bem, resolvida parte do problema. Tem outro e-mail aqui, preciso ler...— disse Brian envergonhado da sua falta de memória. Abriu o segundo arquivo e enquanto o lia, Jonathan saiu da sala tomando rumo ignorado pelo colega que, tão absorto na leitura, nem o viu saindo do local. Depois de ler o segundo arquivo...— PUTA QUE O PARIU!

— Agente Sanders, o que foi isso? Onde estão os outros?— perguntou Wang assustado com o grito e prestes a repreender Brian pelo palavrão.

— Um detalhe do caso que eu acabei de ver aqui, Wang. O Johnny estava aqui até bem pouco tempo atrás. Agora a turma do Carlson eu não vi. E também não vi o Matthew nem a Gillian.

— Ou eles estão atrasados ou o Carlson precisou fazer alguma reunião.— deduziu Wang.

— Com dois agentes da CIA?

— Convidados...— disse Wang.

— Wang, o senhor está ficando engraçadinho igual ao Carlson.— comentou Brian rindo.

— Vou tomar isto como um elogio, Sanders. Agora, voltando à vaca fria, o que o fez gritar aquela... Expressão?

— Recebi dois e-mails do delegado russo que está investigando o massacre lá naquela cidade. Um deles conta que foi um grupo liderado por Iajuddin Wajedd quem invadiu a cidade agora o outro tem informações bombásticas! Não vou estragar a surpresa, leia o senhor mesmo o texto.— disse Brian cedendo o computador para o chefe. Wang, que fazia leitura dinâmica, leu-o em velocidade recorde. Quando terminou, estava tão impressionado com o conteúdo quanto seu subordinado. Entretanto, diferentemente do mesmo, não soltou nenhum palavrão ao terminar a leitura.

— Meu Deus! Que história!

— Pois é... Eu bem que te avisei!

— Verdade. Quando isso vir à tona...

— O circo vai pegar fogo, desculpe-me pelo clichê.

— Desculpado.

Logo depois, Carlson chegou à sala com seus agentes; Matthew e Gillian.

— Onde estavam?— perguntou Wang.

— Jacobson nos chamou para ajustar uns detalhes das investigações. E, antes que você fique com ciúmes, Wang, ele falará com você e com seus agentes posteriormente.

— Eu com ciúmes, Carlson? Só você mesmo...— riu Wang.

— Sem querer cortar a brincadeira aí... E o Johnny, que sumiu sem deixar vestígios?— perguntou Brian preocupado com seu colega.

— Aquele ali não é ele?— perguntou Nikolas apontando para uma pessoa que entrava na sala naquele instante por uma porta que dava para o setor de arquivos da Interpol.

— É mesmo. Onde você se meteu, Johnny? Você tem que ler aquele segundo arquivo! O bicho pega! A história virou do avesso.— disse Brian plantando um enorme ponto de interrogação nos demais agentes.

— Que segundo arquivo?— perguntou Dario.

— Sanders, antes de se empolgar ainda mais com o lido, tudo bem, há razões pra isso, explique o que ocorreu para eles. Estão todos com cara de interrogação, incluindo o Sullivan.

— Ah, sim.— disse Brian contando o que recebeu no primeiro arquivo. Que continha diversos detalhes da invasão da cidade. Para falar do segundo, esperou Jonathan terminar de lê-lo. Queria ver a reação de seu colega.

— CARALHO! Que bomba!— gritou Jonathan perplexo.

— Ok, seu Stephen King de meia-tigela, dá pra acabar com esse suspense logo?— brincou Nikolas.— Que raios tem nesse segundo arquivo aí?

— Ok, Nik, vou contar. Segurem-se. É um relatório sobre o caso do abandono de Alex no hospital, depoimento da sua mãe biológica na ocasião...

— E o que tem demais nisso?— cortou Santeri.

— Eu ainda não terminei! Ela abandonou o garoto no hospital por se sentir ameaçada de morte pelo pai da criança e por um amigo dele... Ambos diziam que iriam matá-la e a criança se ela não desse um fim no bebê... Após depor, ela desapareceu, sendo encontrada morta uma semana depois com duas balas cravadas na cabeça... Alex tinha só doze dias de vida quando a mãe morreu.

— E daí?— disse Santeri não vendo nada demais naquilo, mas sua postura mudou com uma olhadela de Brian. Sofia apertou a mão do marido.— O pai dele é algum figurão importante?— perguntou, assustado.

Brian, Jonathan e Wang manearam afirmativamente a cabeça.

— O filho de vocês, Santeri e Sofia, tem como suposto pai biológico um funcionário do alto escalão do governo russo.— disse Brian.

— Mas quem?— insistiu Santeri.

— Igor Azarov. Ele é o pai biológico de Alex, supostamente, claro. A criança nasceu naquela cidadezinha por que sua mãe, uma moça de aproximadamente trinta anos chamada Natasha foi seriamente ameaçada por Igor e Maxim para, inicialmente abortar o bebê e depois, quando viram que na gravidez já estava bastante avançada, abandonar a criança em um lugar ermo que pudesse resultar na morte dela. Como ela não fez uma coisa nem outra...— disse Brian.

— O pai biológico do meu filho é Igor Azarov.— disse Santeri atordoado, tentando assimilar a notícia.

— Igor tem ligações com Li Zhou. Quando descobrir que Li Zhou matou seu filho...— disse Nikolas.

— Alex ainda está vivo e é meu filho agora.— corrigiu Santeri.

— Ninguém lá na pedreira sabe que Alex está vivo. Eles não devem ter controle das crianças, nem devem checar se todas estão de fato mortas. Para esses efeitos vamos considerar que Alex morreu. Igor pode estar transtornado com a história de que o empreendimento dele matou o garoto.— disse Nikolas.

— Pelo teor da história, Igor não queria esse filho. Deve é ter agradecido a Li Zhou por ter “matado” o menino.— disse Jean.

— É aí que a história muda... Igor foi visto na cidade dizimada, mais precisamente onde ficava o orfanato onde Alex vivia atrás do corpo dele. Acredito que ele sabia da invasão há muito tempo, mas achou que o garoto era novo demais para que Li Zhou e Iajuddin achassem que ele teria condições de trabalhar... E, enquanto estive lá na pedreira, o garoto não conseguia fazer nada, não tinha força física, lógico. Só que o Li Zhou e a Meiying não faziam nada contra ele.— disse Brian.

— Será que eles já sabiam quem era o garoto?— especulou Jonathan.

— Como assim?— perguntou Dario.

— Que ele era filho do Igor, do sócio deles. Por isso não agrediram o garoto quando ele não dava conta do serviço.— explicou Jonathan.

— É... No dia do envenenamento, quando ele jogou a tigela cheia de comida no chão, Meiying só pegou a tigela e passou a mão na cabeça dele. Se fosse outra criança, acho que ela o forçaria a comer mais um pouco.— lembrou-se Gillian.

— Ou então, por ele ser muito pequeno, achou que o pouco que ele comera ,seria suficiente para matá-lo.— era Jean.

— Pode ser também. E Igor estava atrás dos dados de uma criança de aproximadamente dois anos. Não disse que é filho dele, mas dá a entender que é atrás de Alex que ele estava. Ele era a única criança daquela idade do abrigo. Aliás, ele era o caçula de lá. Não havia nenhum bebê mais novo que ele no local. Cidade pequena.— contou Brian.

— Se ele estiver arrependido de ter abandonado a criança... Alto lá! Por que, então, o Governo russo está oferecendo tanta resistência para aceitar a criança de volta? É o filho dele, ele podia aceitar e depois ficava com o menino.— disse Dario.

— Alex é MEU filho, Dario.— vociferou Santeri.

— Ok, me desculpe. Mas volto a afirmar: Igor está atrás dele, pode não ter se atinado de que o menino que está aqui na França é o da pedreira. Quando ele descobrir, ele vem buscar o filho. Bom, isso SE ele descobrir.— disse Dario.

— A França, ou melhor o governo da França já declarou o garoto como apátrida... Foram dois meses de negociações, sempre tendo a porta fechada na nossa cara pelos russos, que sabiam do prazo desde o primeiro minuto de contato. Agora, Alex foi formalmente adotado seus colegas. Não há o que se contestar.— discursou Carlson antes que houvesse alguma briga entre Dario e Santeri por conta da filiação de Alex.

— É. Entramos com o pedido logo após a declaração.— disse Sofia que ainda tentava assimilar o fato recém descoberto: o menino que tratava como filho era, na verdade, filho de um picareta russo que tentara matá-lo. Depois, perguntou para Brian.— Brian, sobre a mãe dele, o que mais se sabe? Ou só sabem o nome e a idade?

— Um minuto, me deixe ver aqui... Ah, ela era secretária de um advogado de Moscou. Não se sabe como ela conheceu Igor e os dois passaram a namorar. Tudo parecia bem até que ela engravidou. Igor, no início, não quis saber do filho, e, logicamente pediu que ela abortasse a criança. Diante da recusa, começou a ameaçá-la de morte. Ela largou o emprego e tudo mais que tinha em Moscou e foi parar naquela cidadezinha. Lá, uma mulher jovem, solteira e grávida só podia ser uma coisa: garota de programa. Não se sabe como, Maxim a localizou lá e ele e Igor voltaram a ameaçá-la. Isso uns sete meses depois. Queriam que ela abandonasse a criança recém-nascida, preferencialmente em um lugar em que demorasse tempo o suficiente para que ela morresse antes de ser encontrada. Ela abandonou a criança, mas dentro da clínica onde o menino nasceu. Para que ela não entregasse que era ele o pai, eles a mataram. Só que ela já tinha deposto pelo abandono do bebê para o delegado responsável pelo inquérito. Aí a assassinaram. Ainda não se sabe quem foi o autor dos dois disparos que a mataram. E, como ela tinha fama de garota de programa, o menino, que foi pra fila de adoção assim que souberam da morte da mãe; nunca foi adotado na Rússia. Acredita-se que por conta dessa fama da mãe.— disse Brian.— Mais alguma pergunta, galera?

— Por enquanto não.— disse Sofia satisfeita com a resposta de Brian. Queria, agora voltar ao hospital, ficar perto de Alex. Depois do que ouvira, passou a perceber o quão triste fora a vida do garoto até então. Só agora é que as coisas estavam melhorando para ele.

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Dois dias depois, Matthew trazia uma notícia-bomba na pasta:

— Pessoal, vocês não vão acreditar: Igor Azarov foi visto na pedreira. Estava atrás do corpo de um menino de dois anos que acredita ser seu filho.— contou o agente da CIA.

— Ele acredita que seu filho, com todo o respeito, Santeri, está morto?— perguntou Nikolas, ciente que era a Alex que Matthew referia-se.

— Aparentemente sim, Nik. Pelo jeito, ele sabe que o menino foi pra lá e está deu um jeito de convencer o governo russo de fazer vista grossa para a dizimação. Arrependeu-se e agora está buscando o corpo da criança. Eu acredito que também foi por isso que o governo russo recusou o acordo com a França para receber Alex de volta. Ele estava se protegendo. Se vazar no alto escalão do governo russo que ele tem um filho bastardo, a corda pode apertar no pescoço dele.— disse Matthew.

— Mas, Matt, o Igor é casado?— perguntou Renato.

— Não. Solteiro.— Matthew estranhou o teor a pergunta do brasileiro.

— Então, por que ele deu esse “chega pra lá” na mãe do Alex? Se ele tivesse pulando a cerca, eu até entenderia, mas sói pra manter a boa vida de solteirão?— argumentou o brasileiro. Os colegas deste reagiram àquelas palavras como se um choque elétrico tivesse percorrido seus corpos.

— RENATO!— gritou Gillian.— Como nós nos esquecemos desse detalhe? De quem Igor queria esconder sua relação com Natasha?

— Bem lembrado. Acho que ser solteiro não é pré-requisito para ocupar o cargo que Igor ocupa.— disse Jonathan.

— Essa história dele está cada vez mais esquisita. Aparentemente ele estava tentando encobrir um erro dele. Agora se arrependeu e quer ao menos enterrar a criança. Só que não sabe que ele está aqui.— disse Dario.

— E nem é mais filho dele.— rebateu Santeri.

— O que será que Igor fará quando descobrir que o menino ainda está vivo?— refletia Brian.— Será que ele vai tentar pegar o garoto de volta?

— Só passando por cima do meu cadáver.— ameaçou Santeri, nervoso.

— E do meu.— completou Sofia.

— Acalmem-se. Isto não vai acontecer. Ele teve dois anos para assumir e criar essa criança, mas não quis. Agora é tarde demais. E outra: ele jamais vai desconfiar que Alex seja a criança que ele procura. Em minha opinião, em breve ele desiste desta busca. Vai pensar que o corpo de seu filho está perdido naquela vala nos Montes Wuliang.— disse Carlson pondo panos quentes numa embrionária briga de Santeri e Sofia com os colegas.

— Acha mesmo, Carlson?— perguntou Santeri.

— Tenho quase certeza de que sim. Em todo caso, pergunte a Jacobson e a Harrell. Eles sabem melhor dos detalhes do acordo.— disse Carlson.— E quanto a vocês, por favor, quando se referirem a Alex, não digam que ele é filho de Azarov. Os pais dele são os colegas seus ali.— finalizou apontando para Santeri e Sofia.

— Sim senhor.— disse Jean, o que menos fazia tal comparação.

— Ok, mais tarde vamos conversar com ele.— disse Santeri.

— Bom, Baker, a CIA te mandou algo mais além dessa notícia?— disse Carlson querendo encerrar o assunto “Alex” na sala. Nada contra o filho de seus agentes. Em sua opinião, mesmo sendo o pai biológico do menino, Igor não teria mais qualquer direito sobre a criança. A sentença de adoção já fora prolatada e agora, Alex já tinha inclusive um novo nome: Aleksanteri Rossini Korhonen. E era oficialmente filho de Santeri Korhonen e Sofia Rossini Korhonen. Nada mais restava a Rússia fazer que não apenas aceitar a adoção.

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Lá em Moscou, Igor vai até a casa de Maxim. Não para assustá-lo com notícias sobre a pedreira, e sim para desabafar sobre o caso de seu filho.

— Ah, Max, honestamente, estou fortemente arrependido de ter feito o que fiz com a Nat. Agora perdi meu filho...— disse Igor. Ele e Maxim bebiam vodka na sala da casa do segundo, enquanto rolava um CD de Blues ao fundo.

— E aquele menino lá da França, Igor? Já lhe passou pela cabeça que ele pode ser seu filho?— Maxim punha pilha na história.

— Talvez.— divagou Igor.— Ah, não é.— completou após alguns minutos em silêncio.— Como meu filho iria parar na França?

— Você me disse que a Interpol está investigando a pedreira sobre trabalho infantil. O garoto não está em Lyon?

— Li Zhou e Meiying disseram não ter visto nenhum agente da Interpol lá. Nenhuma criança sumiu... Eu já desisti, Max, meu filho está morto.— sentenciou Igor.

— Bom, você decide. O filho é seu mesmo...— encerrou Maxim, já bêbado, dando de ombros ao problema de Igor.

Igor foi embora para sua casa, chateado. Para manter uma inexistente fachada de “homem sério” dera um fim em sua “namorada”, Natasha, quanto ela engravidou. Ele, solteiro, poderia ter muito bem se casado com ela. Mas preferiu esquecer que houvera qualquer relacionamento e forçou-a a abortar. Recusando a ideia, a moça mudou-se para a minúscula cidadezinha no sul da Rússia, próxima à fronteira com a China e Mongólia. Igor e Maxim passaram meses procurando-a quando a localizaram na cidade em questão apenas duas semanas antes do parto. Se quando ela ainda estava em Moscou, lhe foi sugerido um aborto, agora era para que ela tivesse o bebê e o matasse após o parto, jogando o corpo em um lugar ermo. Algo que ela também não fez. Teve o menino na clínica da cidade e o deixou lá. Logo, foi localizada por agentes de polícia e foi levada a delegacia, encontrando-se com o delegado que colaborava com a Interpol. Lá, tranquilizada pela autoridade, declarou a paternidade de seu filho (Igor Azarov) e todas as ameaças sofridas por ele e por Maxim. Foi liberada, mas não quis ficar com a criança. Logo a confissão dela chegou aos ouvidos de Maxim, que ficaria na cidade em questão até resolver o problema. Assim que soube da declaração, fez um telefonema. Quarenta e oito horas depois o corpo de Natasha foi encontrado na beira de uma estrada secundária, com dois tiros disparados por trás: Um pegou-a no pulmão e outro na nuca. Agonizara por quase cinco horas antes de morrer.

Já a criança, ficou na clínica, sendo batizado de Alexander por uma enfermeira e ganhando o sobrenome de Ivanovitch (um dos mais comuns na Rússia). Foi posta para adoção, mas a fama de sua mãe, ser garota de programa, boato este que Maxim ajudou a espalhar, fez com que ele fosse recusado por diversos casais aptos a adoção. Até que, um dia, Iajuddin invadiu a cidade e o levou para a pedreira...

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No hospital, ainda inconsciente, o filho de Natasha e Igor era cada vez mais mimado pelos seus novos pais, Santeri e Sofia. Desde que ele pode ser retirado da cama, sete semanas após sua chegada a Lyon, Santeri sempre o pegava no colo e ficava com ele até começar a sentir formigamento nos braços. Sofia, proibida de fazer o mesmo por conta da gravidez, aninhava a cabeça do garoto no peito e cobria o menino de beijos. A decisão do processo de adoção foi bem recebida por Pierre, que logo arrumou o prontuário do menino, consertando o nome, sobrenome e filiação.

— Quero ver o Doutor House chiar agora.— decretou ao terminar a arrumação.

— Ele continua rabugento?— perguntou Santeri, com Alex no colo.

— Pra ser sincero, ele sempre foi. Quando a série começou a ser passada, ele ganhou o apelido.— explicou Pierre.

— Você trabalha aqui há quanto tempo Pierre?

— Há nove anos. Desde que comecei minha residência em pediatria.

— Hum, ok? Ah, você é muito mais velho que seu irmão?

— Sim, sou oito anos mais velho que o Thierry. Ele tem vinte e sete anos e eu trinta e cinco.

— Só vinte e sete anos e já é chefe do laboratório de toxicologia daqui?— espantou-se Santeri logo se lembrando da própria carreira.— Era essa a minha idade quando vim pra cá.

— Você entrou na INTERPOL só com vinte e sete anos?— Pierre estava assombrado.

— É. Nem fui toxicologista forense direito lá em Helsinque, já me chamaram.

— Bacana.

— Agora, Pierre, voltando a falar de seu irmão, ele é um dos melhores bioquímicos que já vi. Para ele ingressar na Interpol é só uma questão de tempo.

— Verdade? Caramba, esse é o maior sonho dele... Ele me contou há uns três anos sobre uma análise de cocaína que fez com um agente de lá. Falava desse cara como se ele fosse, sei lá, o rei da toxicologia. Queria saber quem é... Ele nunca me disse o nome desse cara, ou se falou, eu não me lembro.

— Pierre, sem querer me gabar, eu sou o agente que fez essa perícia com seu irmão.

— É mesmo? Acho que ele não falou nada não mesmo. Ele sabe que estou cuidando do seu filho.

— Deve ter se esquecido ou acha que você já sabe.

— É, pode ser.

— Agora, me deixe por esse moleque na cama. Adoro meu garoto, mas meus braços já estão doendo...— disse Santeri colocando Alex de volta na cama e beijando-o. O garoto agarrou a camisa do finlandês, com se não quisesse sair do colo do pai.— Alex, o braço do papai está doendo, daqui a pouco te pego de volta, está bem?— disse Santeri soltando sua camisa dos dedinhos compridos do menino.

— Cadê a Sofia, que não apareceu aqui hoje?

— Ela está lá na Interpol. Precisavam da especialidade dela lá. Mas ela deve chegar logo. Ela não fica sem vir aqui.

— Beleza. Ela é especialista em quê?

— Organizações criminosas, como a máfia.

— Que legal!

— Verdade.— disse Santeri.

Logo depois dessa conversa, Sofia entrou no quarto. Cumprimentou Pierre, e depois, voltou-se para o filho e o marido, afagando o primeiro e beijando o segundo que aproveitou a chance para acariciar a barriga da mulher.

— Está tudo bem?— perguntou Sofia.

— Está sim.— respondeu Santeri.— Só falta o Thierry e eu descobrirmos a composição desse pó para solucionarmos o problema dele.

— Imagino. Quero levá-lo pra casa logo.— disse Sofia, cansada, sentando-se ao lado de Santeri, ao lado da cama de Alex.

— Sinto dizer-lhes mas ele não vai pra casa tão logo recobre a consciência. Precisaremos fazer uma série de exames nele para averiguar possíveis sequelas neurológicas e, dependendo do caso reabilitação, fisioterapia... Espero que ele não tenha nada, mas...— disse Pierre.

— Verdade. Tinha me esquecido. Eu também espero que ele não tenha nada de errado.— era Sofia, lembrando-se dos possíveis riscos de lesão neurológica, já apontados por Pierre.

— Ele não vai ter nada errado não. E se tiver, não deixará de ser nosso garoto.— disse Santeri.

— Acredito que as chances de danos neurológicos sejam pequenas. Ele não teve nenhuma parada cardiorrespiratória nem convulsões todo esse tempo...— Pierre era assaltado por uma onda de otimismo.

— Que ótimo.— disse Santeri.

— Bem, preciso visitar outros pacientes. Fiquem à vontade.— disse Pierre saindo da sala.

Sofia virou-se para Santeri assim que Pierre fechou a porta.

— Vai acabar tudo bem. Alex sai desse hospital bem antes do nosso filho caçula nascer.— disse a Italiana.

— Espero que sim. Mas o que aconteceu lá na Interpol?

— Descobrimos que Maxim e Igor são traficantes de heroína ligados à Iajuddin Wajedd e que eles são sócios de Li Zhou e Meiying na pedreira. Matt contou ainda que Igor, desde que descobriu que seu filho foi escravizado na pedreira tenta sair do negócio e tem sido, por isso, ameaçado por Li Zhou.— contou Sofia.

— Caramba! Igor, então, tecnicamente soube desde o início que o ex-filho dele foi para a pedreira.

— Ex-filho. Gostei. Agora ele é nosso filho.

— E ele encobriu a morte do próprio filho. Agora, está arrependido e quer a criança de volta. Sem chance. E... Ele está sendo ameaçado por Li Zhou?

— Está. Se ele sair no empreendimento, Li Zhou o matará.

— Essa coisa está ficando complicada... Eu estou com medo de ir pra China, So.— Confessou Santeri.

— Mas vai mesmo assim?

— Tenho que ir. Sou o subchefe da equipe do Carlson. Estou no mesmo nível hierárquico que você, o Dario, o Renato, o Jean e o Nikolas, mas sou uma espécie de líder da equipe. Não posso deixar de ir.— disse Santeri chateado.— Alex, o papai vai viajar mas vai voltar logo. Prometo.— continuou o finlandês beijando o menino. Depois, repetiu a frase para a barriga de Sofia, temerosa pela vida do marido depois de pesquisar sobre os investigados. Pro fim, Santeri virou-se para sua mulher.— Prometo ficar por lá o mínimo de tempo possível. Te amo.— terminou beijando-a.

— Eu sei, San. Mas, cuidado. Aquele pessoal da China é perigoso, querido. Não quero ficar sozinha com duas crianças.

— Não vai ficar. Se algo acontecer comigo, você fica com meu irmão, o Heikki.— brincou Santeri.

— Seu irmão é lindo, mas espero que ele continue sendo só o meu cunhado.— riu Sofia. A brincadeira de Santeri, ainda que fora de hora, serviu para aliviar a tensão.

O casal se abraçou e ficou assim por vários minutos. Por mais que quisesse se sentir seguro, Santeri não estava nem um pouco tranquilo com a ideia de viajar pra China.