Dia três de novembro: Jacobson e Harrell se interaram, em uma reunião, dos detalhes acerca da investigação promovida pelas equipes de Carlson e de Wang. Os chefes, inclusive, requereriam novamente a viagem do grupo para a China, após a explanação de Santeri e Brian.

— Um minuto!— começou Jacobson.— A criança que trouxemos da China e tentamos, por um longo período devolver à Rússia, o que foi recusado sem explicações convincentes, é FILHA de um figurão do alto escalão do governo de lá?— perguntou, confuso, o presidente da Interpol.

— Sim, Jacobson, um filho que o figurão em questão não quis reconhecer até umas semanas atrás.— disse Brian. Santeri se segurava para não corrigir Jacobson e Brian com um enfático “ele é MEU FILHO!”, mas lançou um olhar de reprovação ao chefe que, para sua sorte, não percebeu.

— Isso deve ter alguma motivação que vá além de um simples arrependimento.— deduziu Harrell.

— Por que você pensa assim, Brad?— indagou Jacobson.

— Por que uma pessoa demoraria dois anos para procurar por um filho de cuja existência ele sempre soube? Se ele foi atrás dessa criança só agora, certamente há algum interesse “oculto” dele por trás dessa busca.— respondeu Harrell.

— Uma teoria da conspiração a essa altura da investigação, Brad?— gracejou Jacobson.

— Pode-se dizer que sim, Rich. Mas, cá pra nós, pode ser possível sim. É estranho ele ter apresentado súbito interesse em um filho quase dois anos após seu nascimento. Principalmente com o que já foi descoberto de que ele queria que sua namorada, amante, sei lá, fizesse um aborto ou então matasse o bebê. O que fica ainda mais estranho se percebermos que ele não tinha nenhum motivo para esconder a existência do relacionamento e, muito menos, da criança. E provavelmente ela morreu exatamente por não fazer o que lhe foi ordenado, deixando o bebê seguro na clínica. Esse interesse súbito de Igor Azarov por ele deve, certamente, esconder algo mais. E, talvez, sabendo que a criança morreu num empreendimento do qual era sócio, ele tenha ainda mais razões para esconder a paternidade do garoto.— discursou Harrell.

— Agora o senhor embolou o meio de campo, Harrell.— disse Renato, confuso.

— O Renato tem razão, Harrell. O senhor complicou um pouco a história.— Nikolas fazia coro com o brasileiro.

— Vou tentar resumir o que penso. Alguém, também ligado ao governo russo, talvez até mais influente que ele, soube dessa história e o está chantageando. E, ou ele quer se livrar de qualquer vestígio da criança, ou assumi-la, pra sair desse enrosco por cima.

— Ah, agora sim! Que tipinho picareta! Bom, se for isso mesmo o que está acontecendo. Agora quem o está chantageando? E o que quer com ele?— era Nikolas.

— Bom meus caros, isso cabe a vocês descobrir.— finalizou Harrell com um sorriso sem-graça no rosto.

— Ok, voltando à vaca fria; Harrell, Jacobson; Wang e eu queremos despachar essa turminha, com exceção de Sofia Rossini Korhonen para a pedreira de Li Zhou.— começou Carlson com os formulários para a viagem, já preenchidos, em mãos.

— Isso. Acreditamos que as respostas que procuramos só serão conseguidas lá. Por que Li Zhou envenena as crianças e também, talvez, algo sobre essa história do Igor Azarov.— emendou Wang.

— É verdade.— ponderou Jacobson.— Dê-me os formulários, Carlson. Brad e eu os leremos e amanhã traremos a resposta.— finalizou Jacobson, que falara por si e por Harrell, pegando os formulários com Carlson.— Vamos Brad.

— Tenho que falar mais uma coisa com o pessoal aqui, já vou Rich.— disse Harrell.

— Tudo bem. Até mais tarde.— concordou Jacobson saindo da sala.

— O que o senhor quer falar com a gente, Harrell?— perguntou Dario curioso.

— É sobre o caso do Igor. Se quem descobriu e o está chantageando for também ligado à imprensa, ele está em péssimos lençóis.

— Com certeza. Mas, ainda tem algo faltando.— disse Renato.

— Pode ser que ele e essa pessoa estejam em uma caçada desses dados. Quem achar a criança primeiro, leva a melhor.— disse Dario.

— Se descobrir que Alex estava na pedreira que utiliza trabalho infantil escravo pra ter mais lucro e que pra piorar, mata as crianças por razões ainda não esclarecidas, se for pra aumentar ainda mais os lucros e essa informação cair na mão de alguém ligado a imprensa russa: “Igor Azarov põe o próprio filho em um esquema de tráfico de crianças para trabalho escravo”. “E as crianças são assassinadas numa pedreira da China um mês depois”.— Matthew brincava de jornalista.

— Manchete macabra, não Matt?— perguntou Jonathan.

— Possivelmente. Imagine a repercussão que isso terá no Kremlin.— era Matthew de novo.

— Prefiro nem pensar. Me pergunto o que os russos farão com Igor e Maxim se descobrirem o envolvimento deles no massacre de uma cidade inteira, a existência de um filho do Igor lá no meio e que as crianças que não morreram no massacre foram enviadas para um campo de concentração.— era Brian.

— Boa comparação, Sanders. Pelo que li e vi da pedreira aquilo é um campo de concentração mesmo.— disse Harrell.

— Então... Só pode ter sido ele, Igor Azarov, quem pediu ao governo pra fazer vista grossa para a invasão.— disse Brian.

— Pelo contexto... É muito provável.— arrematou Wang.

— Bem, pessoal. Vou conversar com o Rich sobre a viagem de vocês. Até mais.— disse Harrell resolvendo sair da sala.

Santeri esperou o secretário fechar a porta para falar.

— Independentemente do que vocês disserem, Alex é MEU FILHO e nada que se faça agora mudará a situação.— esbravejou o bioquímico finlandês. Para a sorte dos agentes, Sofia não estava lá. Senão seria um sermão duplo.

— Certo, Santeri, ninguém aqui duvida de que você seja o pai de Alex.— disse Brian.

— Acho bom.— rebateu Santeri ainda chateado.

— Bem, só nos resta ir à China coletarmos provas para descobrirmos o resto dessas conexões malucas.— disse Renato, pouco a fim de continuar a discussão sobre a já resolvida paternidade de Alexander, já chamado oficialmente de Aleksanteri.

— Matt, onde Maxim entra nessa história?— perguntou Nikolas, também querendo sair do assunto Aleksanteri.— Ele é só sócio da pedreira e amigo de Igor ou tem algo mais no meio?

— Um minuto.— disse Matthew mexendo nos papéis.— Minha nossa! Ele pega a heroína produzida por Iajuddin e a distribui na região de Moscou! Igor mexe os pauzinhos para que ninguém incrimine Maxim. Sempre acha um bode expiatório pra ficar com a culpa e com a vaga na cadeia.

— Caramba! Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece!— comentou Renato. Carlson riu.

— Nesse ritmo, teremos de chamar um exorcista em breve.— disse o chefe americano.

— Tenho de concordar com você, Carlson.— disse Wang rindo.— Em breve surgirão fatos de que Li Zhou e Meiying fazem sacrifícios humanos com aquelas crianças. Que estão possuídos e por aí afora...

— Credo, Wang, que é isso? Acho que nem Stephen King pensaria numa história de terror dessas.— disse Brian assustado.

— É o meu lado trash.— gracejou Wang. Brian resistiu à ideia de comparar seu chefe, outrora austero, a Carlson, que sempre tivera fama de engraçadinho nos bastidores da Interpol. Apenas riu junto com os demais da brincadeira.

— Gente, falando sério, agora. As conexões fecharam. Todos os investigados, Li Zhou, Meiying Guo, Iajuddin Wajedd, Igor Azarov e Maxim Carpov estão interligados. Vejam.— disse Jean mostrando aos colegas um papel no qual pusera o nome de todos os envolvidos, ligando-os por linhas nas quais escrevia a razão da ligação.

— É isso mesmo! Todos estão interligados, ninguém escapa.— constatou Brian, o primeiro a ver o papel de Jean.— Essa coisa está só piorando, Jean.

— Deixe-me ver isso aí, Jean.— pediu Carlson referindo-se ao papel.— Isso aqui deu um belo nó!— comentou, passando a folha para Wang.

— Minha nossa, Jean! Como você conseguiu montar isso?— perguntou Wang assustado com o que lera.

— Ah, eu só liguei as pessoas pelos dados que colhemos até agora. Foi algo bem simples.— respondeu o francês, humilde. Nikolas não pode deixar de fazer graça:

— Mas você é modesto mesmo, hein Jean? Acabou de desbaratar uma gangue de narcotraficantes e escravizadores de crianças e está aí contando tudo como se só tivesse tropeçado na esquina.

— Ah, Nikolas, qual’é?— disse Jean.— Pra sua informação, eu não desbaratei nada. Só montei as relações.

— Ok. Se você pensa assim, seu Sherlock Holmes, não posso fazer nada.— Nikolas continuava debochando.

— Agente Schweizer. Agora chega.— censurou-o Carlson, bravo.

— Sim senhor.— disse Nikolas entendendo o teor da “bronca”.

Brian, Jonathan e Matthew riram da bronca, Nikolas já estava pegando pesado. Mas, ao contrário de três anos antes, quando Carlson perdeu a paciência com Santeri e mandou-o para sua sala e, em seguida pedindo que Sofia fosse até lá, em momento algum pediu que Nikolas se isolasse com Gillian.

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Há algumas quadras de distância da Interpol, no laboratório de toxicologia da polícia de Lyon, Thierry Lefebvre continuava, persistentemente, a tentar descobrir o que havia naquele pó estranho. Somente descobrira que tinha carvão em pó no meio. Entretanto, a ingestão de carvão não provocava todos aqueles sintomas descritos minuciosamente por Brian, muito menos explicava por que uma criança estava há mais de três meses inconsciente.

— Minha nossa! Nunca vi algo tão difícil em toda a minha vida. Tudo o que eu testei até agora deu negativo. Eu não estou aguentando mais, essa merda está me estressando!— reclamou Thierry dando um soco na bancada. Então, Santeri, que havia saído da Interpol assim que se encerrou a discussão sobre a paternidade de seu filho, entrou na sala.

— Ê Thierry, que é isso?— perguntou o finlandês, referindo-se ao soco que o francês dera na bancada.

— Ah, oi, Santeri. Estou chateado com esse caso, que não vai a lugar nenhum. Só descobri que tem carvão no meio desse pó. Mas carvão não faz nada do que você me descreveu.

— Carvão? Comum ou ativo?— perguntou Santeri.— Aliás, quando você descobriu isso?

— Hoje cedo. Ah, não sei que tipo de carvão é.— disse Thierry levantando-se e voltando a fazer testes. O pote trazido por Jonathan ainda estava pela metade e Thierry queria descobrir logo os componentes daquela mistura.

Logo a reação aconteceu. O carvão contido no pó era o comum.

— É isso aí. Tem carvão na mistura.— definiu Santeri fingindo não ser nada demais, mas com o estômago embrulhando por saber que deram aquilo para seu garoto comer.

— Bem, ao menos isso.— contentou-se Thierry.— Falta agora descobrir o resto dos componentes.

— Agora que descobrimos o primeiro, o resto vai no embalo. É só uma questão de tempo.

— Deus te ouça.— disse Thierry desanimado.— Já tem três meses que estamos analisando este pó e nada.

— É que o leque de opções é muito grande, cara. Este pó pode ter qualquer coisa. Exceto o que você já testou.

— Eu sei, cara, mas me incomoda analisar esse pó sem descobrir nada. E a demora da análise pode prejudicar seu filho. Esse pó ainda pode estar fazendo algum estrago no corpo dele e, enquanto não sairmos da estaca zero, meu irmão não pode fazer nada por ele. E Alex não é um ratinho de laboratório para testarem “n” medicações nele. Se fizerem esses testes, o tiro pode até sair pela culatra.

— Tem razão, Thierry. Não aguento mais ver meu filho naquele estado. Nunca me senti tão triste na minha vida quando como o vi pela primeira vez. Um garotinho daquela idade não merece sofrer tanto.— disse Santeri recordando-se do dia em que ele e Sofia conheceram Alex. Um lindo menino, porém extremamente doente e cheio de manchas arroxeadas e esverdeadas pelo corpo.

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No hospital, ao lado do garotinho, Sofia também se recordava daquele momento. Foi um choque para ela e Santeri. Mas, logo conseguiram enxergar a criança por trás daquelas manchas, tubos e sondas... Amavam o menino e enfrentavam quem quer que fosse. Inclusive o chefe do hospital, Doutor François Bouvier. Que, ao contrário do que supôs Pierre, não deu trégua ao garoto após ele ser adotado por Santeri e Sofia.

Sempre que o médico chefe do hospital entrava no quarto do menino era para dizer algo a respeito da aparência ou da situação dele. Sempre em tom ríspido, o que magoava Santeri, Sofia e Pierre. E, naqueles três meses de internação, Alex já apresentava sinais de melhora, além de reagir fisiologicamente a estímulos externos, principalmente quando esses vinham de Sofia ou de Santeri. As manchas no corpo dele haviam diminuído consideravelmente e às vezes ele mexia seus braços e pernas, respirava sozinho agora e apenas dependia da sonda alimentar. O que seria retirado assim que ele recobrasse a consciência. Outra coisa que ainda estava em suspenso eram as sequelas neurológicas do envenenamento. Pierre chegara a sonhar que estava contando para Santeri e Sofia que Alex não sofrera nada com o envenenamento. Era um menino totalmente saudável.

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No laboratório, Santeri ainda conversava sobre Alex com Thierry:

— Ele, Sofia, nosso outro filho, meus pais e meus dois irmãos são tudo o que tenho na minha vida. Acho que enlouqueceria se perdesse qualquer um deles.— disse o finlandês.

— Compreendo.— disse Thierry.

— Ah, Thierry, vou te deixar sozinho nessa análise aí por alguns dias. Vou viajar com a equipe pro Triângulo Dourado. Espero ficar lá por no máximo uma semana. Vamos coletar dados sobre o envenenamento.

— Sei. Você vai pra lá, cara? Boa sorte. Eu não iria nem se me pagassem.— declarou Thierry.

— Como turista eu também jamais iria pra lá, mas é esse o meu trabalho...— disse Santeri.

— Verdade.

Depois dessa conversa, Santeri saiu do laboratório e voltou à Interpol. Lá, soube que a equipe partiria para a China em setenta e duas horas. Decidiu passar a maior parte possível desse tempo no hospital, com Alex e Sofia.

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Dia onze de novembro: os agentes embarcaram para a China. Santeri enrolava para entrar na sala de embarque, beijando e abraçando Sofia e acariciando a barriga da Italiana, na época com dezenove semanas de gravidez. Pedindo a ela que cuidasse de Alex:

— Diga ao Alex, que o pai dele, ainda que ausente por algum tempo, o ama e jamais deixa de pensar nele.— pediu Santeri com a voz embargada.

— Claro, querido, agora, entre logo, se não você pode perder o voo.

— Está bem. Tchau querida.— disse Santeri finalmente entrando na sala.

— Ah, mulheres. Sempre mandando nos homens.— gracejou Carlson ao ver Santeri obedecendo Sofia.

A italiana riu da piada do chefe saindo com ele, Wang e Harrell do aeroporto. Jacobson não fora. Ao chegarem ao estacionamento, Carlson chamou-a para se juntar a eles.

— Vai para a Interpol ou para o Hospital, Sofia?— perguntou o americano.

— Hospital.— respondeu Sofia.

— Entre, nós a levamos.— ofereceu Harrell abrindo a porta do carona do veículo para ela. Sofia entrou e Harrell assumiu o volante. Carlson e Wang, automaticamente, foram para o banco traseiro do carro. Logo, o secretário geral da Interpol parou o veículo na entrada do hospital onde Alex estava internado. Sofia despediu-se do trio e saiu do veículo dirigindo-se imediatamente ao quarto onde seu filhinho estava internado. Uma enfermeira estava no local ajustando a sonda de alimentação de Alex e comentou com Sofia que o quadro no menino havia melhorado. O garoto estivera com febre no dia anterior e Pierre especulou que fosse uma resposta à viagem do pai.

Assim que a enfermeira saiu, poucos minutos depois, Sofia beijou o garoto e contou-lhe que seu pai viajara. Ficou olhando para o rostinho do menino remoendo tudo o que Brian, Jonathan e Matthew lhe contaram sobre a história de Alex. Logo Pierre entrou no quarto. Havia pedido uma série de exames para averiguar a razão da febre de Alex, já que nenhuma pessoa doente entrara em contato com o garoto.

— Oi, Sofia, tudo bem?— cumprimentou o médico.

— Oi, Pierre. Mais ou menos. Santeri foi para a China hoje. Não sei quando volta. Mas, deu pra descobrir por que ele teve essa febre?

— Ainda não. Todos os resultados foram negativos. O que reforça, pelo menos um pouco, minha teoria de que essa febre foi pra chamar a atenção de vocês. Ele não queria que Santeri viajasse. E, como não pode ainda espernear, chorar, fazer birra, pra ser mais claro, foi o jeito que ele encontrou para, por assim dizer, pedir que Santeri ficasse aqui e não fosse passar uns dias do outro lado do mundo, literalmente. Aliás, isso pode ser interpretado como um sinal de melhora, não um problema.— sentenciou Pierre.

— Que ótimo!— disse Sofia.— Quando é que você vai abrir esses olhinhos aí, hein, filho?— perguntou a italiana olhando para o garoto.

— Depois que meu irmão e seu marido decifrarem o que havia naquele pó quem ele ingeriu. Aí sim ele poderá recobrar a consciência. Tudo vai depender disso.

— Como, Pierre, poderá recobrar a consciência?— Sofia parecia brava com o médico.

— Depende da extensão dos danos cerebrais, coisa que eu espero que seja zero, e de haver algo que possa neutralizar a ação desse veneno no organismo dele.

— Ai, meu Deus! Ainda tem essa...— disse Sofia chateada com a possibilidade de Alex nunca sair dessa situação.

— Fica fria.— amenizou Pierre.— Se não existir nada que faça o serviço, talvez Santeri crie um. Ele não quer que Alex fique assim o resto da vida dele. E, talvez, o garoto possa se recuperar sozinho. Crianças têm uma capacidade de recuperação impressionante. Talvez até o nascimento do bebê ajude na recuperação dele.

— Deus te ouça, Pierre.— desejou Sofia. Ainda tinha esperanças de que o garotinho tivesse uma vida normal. E saber que o bebê que gerava podia ajudar o irmão mais velho a se recuperar deixou-a extasiada.

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No avião, os agentes estavam apreensivos, tensos. A região, para a qual iam, era extremamente perigosa. Nos cochilos que conseguiram tirar durante a viagem, sonhavam que eram torturados e mortos por Li Zhou, Meiying Guo e Iajuddin Wajedd e tinham seus corpos jogados na vala. Horas de voo depois, os agentes desembarcaram em Hong Kong, onde passaram uma hora à espera da conexão que os levaria a Kunming onde ficava o aeroporto mais próximo da pedreira. Lá chegando, Brian espantou-se ao ver o carro que utilizara em julho ainda parado no estacionamento. Comentava a coincidência com Jonathan quando dois homens se aproximaram dele.

— Esse carro é seu?— perguntou o sujeito identificando-se. Era o administrador/gerente/diretor do aeroporto.

— Eu peguei emprestado. Por quê?— respondeu e perguntou Brian.

— Esse carro está aqui desde julho, foi abandonado, com as chaves no contato e tudo. Ninguém o reivindicou desde então.

— Sério? Quanto devo?

— Cinco mil Iuans.

— Quanto dá isso em dólares?— perguntou Brian enquanto todos os agentes fuçavam em suas carteiras para pagar a dívida.

O gerente tirou uma calculadora do bolso e fez as contas para o agente.

— Você me deve, em dólares, a quantia de setecentos e setenta dólares.

Cada agente deu a Brian a quantia de noventa dólares. Brian juntou o valor da multa e devolveu o resto aos colegas. Entregou os setecentos e setenta ao gerente que pegou o dinheiro, entregou as chaves a Brian e deu as costas ao grupo, perguntando apenas o nome de Brian que, obviamente respondeu usando o nome falso:

— Meu nome é Zachary Kirk Roberts.

— Certo, senhor Roberts, aproveite sua estadia em Kunming.— disse afastando-se do local com o seu funcionário nos calcanhares.

Depois que o gerente se retirou, os agentes ficaram perplexos.

— O cara não pediu os documentos do carro nem nada... Se estivéssemos na Europa...— estranhou Renato.

— É. Vamos nessa. Acho que vai ficar apertado, mas...— era Brian girando as chaves do veículo nas mãos convidando os colegas para entrar no mesmo e irem embora.

— Simbora.— disse Santeri entrando no carro, uma minivan. Brian sentou-se no banco do motorista e os demais se acomodaram no carro. Partiram para a pedreira. Uma hora e Alguns minutos depois, chegaram. Brian largou o carro no meio de deserto, mais precisamente em uma gruta, há duzentos metros da pedreira. Vai que o Li Zhou reconhece o carro, argumentou. Depois, ele e Jonathan guiaram o grupo pelas montanhas desérticas enquanto os agentes de Carlson pensavam em seus nomes falsos. Nikolas decidiu chamar-ser Michael, Jean escolheu o nome de Antoine, Santeri chamar-se-ia Markos, o nome de seu pai, Renato virou Felipe e Dario, Stephano. Jonathan, Matthew, Brian e Gillian já tinham seus nomes falsos, respectivamente Scott, Todd, Zachary e Kelsey. Quando chegaram à “portaria” da pedreira viram as crianças da vez trabalhando. A maioria parecia ter sido conseguida nos países da região, como sempre, principalmente Laos, Bangladesh e Vietnã. Pareciam desnutridas e desesperadas.

— Acho que vão dar o maldito pó para elas em breve.— especulou Jonathan.

— Se isso acontecer, não quero estar aqui pra ver. A Gi, Kelsey até hoje comenta.— disse Nikolas/Michael.

— Eu também me lembro dessa ocasião, Michael.— disse Brian.

Nisso, Meiying apareceu. E começou tratando os agentes com a mesma rispidez que usara da outra vez. Jonathan, Brian, Matthew e Gillian gelaram, temendo serem reconhecidos pela chinesa, o que não ocorreu. Matthew, em seguida deu a mesma desculpa da vez passada: eram turistas perdidos nas montanhas. Li Zhou apareceu logo em seguida e também não os reconheceu.

Logo depois, convidou a turma pra passar um tempo na pedreira até que conseguissem se ajeitar para retornar a Kunming. Santeri/Markos e Brian/Zachary de pronto aceitaram a proposta. Logo, Jean/Antoine chamou Gillian/Kelsey num canto, longe dos ouvidos de Li Zhou e pediu-lhe que já começasse o “trabalho” de seduzir o chinês dono do negócio.

— E avise o Michael por mim, ele também tem uma parte no plano.

— Pode deixar, Antoine.— assegurou Gillian/Kelsey já começando a sua parte no plano. Nikolas/Michael ficou extremamente agitado e com o que viu, mas não enciumado. Ao perceber que Meiying estava totalmente indiferente às insinuações de Gillian/Kelsey para com seu sócio, Nikolas partiu para o ataque. Aproximando-se da chinesa.

— Acho que vamos gastar menos tempo do que imaginávamos, Antoine.— disse Brian/Zachary ao ver as cenas. Mas todos temiam pela vida do casal de Meiying e Li Zhou soubessem que estavam sendo ludibriados...

Depois dessa, os agentes passaram o resto do dia perambulando pala pedreira, controlando-se para não fazer nada que pudesse despertar suspeitas. Esconderam suas insígnias no fundo de suas mochilas, e no local onde ficariam, Jean separou os artefatos do plano. Duas garrafas de vodka, dois gravadores, e flanelas para limparem impressões digitais.

¨¨¨¨¨

No segundo dia, viram dois homens entrando na pedreira e Meiying os recepcionando amigavelmente. Matthew, ao lado de Santeri, também próximos a entrada da Pedreira, deu uma cotovelada no finlandês e disse:

— Ali, cara, o mais alto é o suposto pai biológico de seu filho.

— Igor Azarov?

— Exato.

— Quem é o outro?

— Maxim Carpov.

— Ei, Todd, sabe quem são aqueles dois?— perguntou Brian surgindo do nada atrás deles.

— Quer me matar de susto, Zacky?— zangou-se Matthew/Todd.— São Igor e Maxim. Igor é o altão.

— Ok, muito obrigado.— disse Brian fotografando a dupla como um paparazzo ao flagrar uma celebridade em situação escandalosa.

— Relatório pro Wang?— perguntou Matthew.

— Sabidamente.— respondeu Brian achando que já tinha fotos suficientes dos salafrários russos.

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Pouco antes disso, na sala de Li Zhou, Santeri/Markos conversava com ele, parecia querer tornar-se amigo do finlandês.

— O que faz da vida, Markos?

— Sou bioquímico.— respondeu Santeri/Markos.

— Sério? Bacana. Entende bastante de toxicologia?— perguntou Li.

— Ah, muito pouco.— mentiu o finlandês. Jean/Antoine, também na sala olhou-o assustado. Até onde sabia, Santeri tinha doutorado em toxicologia sendo isto, inclusive o que o fez ser recrutado para a equipe antidrogas da Interpol. Mas, achou melhor ficar quieto.

— Que pena. Gostaria que alguém me decifrasse a composição de um negócio pra mim.

— Posso saber o que é?

— Isso aqui. Um amigo russo me manda, mas até hoje não me contou do que isso e feito.— explicou Li Zhou entregando nas mãos de Santeri um pote contendo um pó cinza. AQUELE pó cinza. Jean e Santeri congelaram. Nem Li Zhou sabia o que havia na mistura.— Cuidado, esse é meu último frasco.

— Ele nunca te disse nem vagamente, o que tem aqui? Ah, pra que serve esse pó?— Santeri perguntou despretensiosamente.

Li Zhou foi até a janela que dava direto para a área onde as crianças trabalhavam, apontou para as mesmas e disse:

— Dou pra elas, quando não preciso mais que elas trabalhem aqui. Elas o comem e morrem dentro de poucas horas. É uma morta horrenda, elas têm convulsões, vomitam...

Santeri sentiu o estômago queimar. Achou melhor não fazer qualquer comentário. Estava diante do homem que tentara matar seu filho mais velho. Pediu licença e saiu. Viu Matthew/Todd perambulando na pedreira e foi conversar com ele.

— Nem Li Zhou sabe a composição daquele pó.— contou o finlandês.

— Sério, como soube disso?

— Falei que sou bioquímico. Ele me pediu para analisar o pó.

— E aí?

— Menti que não sei nada de toxicologia. O Jean quase entregou o ouro.

— Antoine, Markos. Isso acontece.— desconversou Matthew/Todd vendo, logo em seguida, Igor e Maxim aproximando-se da pedreira.

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Na “portaria” da pedreira, Meiying está agitada.

— E o Boris, por que ele não veio? O Pó está acabando.— disparou nervosa logo após cumprimentar a dupla.

— Ele chega depois de amanhã. Disse-me que não terminou ainda por que acabou um dos ingredientes que ele usa. Me disse o nome do produto mas eu não me lembro dele.— explicou Maxim enxugando a testa com um lenço.

— Certo. Mas Li ficará furioso com essa demora.

— Serão apenas mais dois dias!— disse Igor. Já não parecia tão abalado pela perda do filho.— Acho que isso dá pra esperar.

Escondidos atrás de uma “guarita”, Jonathan/Scott e Nikolas/Michael pegaram o diálogo.

— Seja lá quem esses dois forem, são conhecedores da pedreira há muito tempo.— disse Jonathan. Não sabia que a dupla que chegava à pedreira era Igor e Maxim.

— Scott, devem ser comparsas deles, outros sócios, talvez. Ah, o Markos, o Todd e o Zacky estão ali. Eles talvez saibam quem são esses dois.

Quando Meiying levou a dupla pra dentro, Jonathan e Nikolas atravessaram a área que os separava dos colegas.

— Quem são aqueles dois, Todd?— perguntou Jonathan.

— Eles são Igor e Maxim. Igor é o altão. Vocês ouviram algo do que eles conversaram?

— Meiying perguntou-lhes por Boris. E Maxim explicou que ele não veio, pois o pó não ficara pronto ainda. Faltou um ingrediente, mas eles não disseram que ingrediente é esse que falta na fórmula.

— Caramba, se eu descobrir a composição desse pó ganho a viagem!— entusiasmou-se Santeri.

— Isso sim seria um grande achado.— concordou Jonathan.— Ah, ele estará aqui depois de amanhã. Pergunte direto a fonte.

— Vou tentar.— disse Santeri.

— Já vi tanta coisa nesses dois dias que jamais calculei que veria.— disse Nikolas.— Aliás, cadê a Gil Kelsey, o Da Stephano e o Re Felipe? O trio tomou chá de sumiço.

— Não os vejo desde a manhã.— disse Biran/Zachary.

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Sozinho, Dario Fraschetti, ou melhor, Stephano Lucchesi, bisbilhotava uma sala extremamente desorganizada. Era lá que Li Zhou e Meiying guardavam, aparentemente, documentos e contratos velhos da pedreira. No meio da papelada, Dario/Stephano viu um envelope pequeno já amarelado com o nome BORIS POISONOVSKI escrito em letras garrafais em um dos lados. Sabendo que é esse o nome do criador do pó, pega o envelope, o abre e retira o papel que estava lá dentro. Quase cai de costas. Lá estava a fórmula do pó, com todos os componentes e suas concentrações. Tira várias fotos do envelope e do papel. “Santeri vai adorar ver isso” pensa. Em seguida, põe o papel no bolso traseiro de sua calça. Sai da sala. Por pouco não vê Igor e Maxim entrando na sala onde se situava o escritório de Li Zhou. Vai até o local onde dormiam e esconde sua descoberta junto com sua insígnia. Volta à entrada da pedreira e vê Santeri conversando com Brian, Matthew, Jonathan e Nikolas. Preocupa-se com a ausência de Gillian, Renato e Jean. Esquecera-se do envelope quando finalmente se aproximou de seus colegas:

— Ei, galera, onde estão o Antoine, o Felipe e a Kelsey?

— Antoine está na sala do Li Zhou. Agora a Kelsey e o Felipe, ainda não os vi.— disse Santeri.

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Na sala de Li Zhou, Jean/Antoine olhava para um mapa da região fixado na parede quando Igor, Maxim e Meiying entraram na sala. Ao vê-los, Li pergunta imediatamente:

— Onde está Boris?

— Não pode vir. Falta um componente do pó. Ele trará o pó pronto dentro de dois dias.— explicou Maxim.

— Tudo bem. Iajuddin ainda não trouxe as próximas ofertas mesmo... Posso esperar.

— Então... Quando ele vem?— perguntou Igor.

— Acho que em três dias. Ele estava na Índia ontem, parece. Procurando pela mercadoria.

Mesmo com Li usando metáfora. Jean compreendeu que a mercadoria de que eles tratavam eram as crianças usadas na pedreira. Tratou de fingir que não sabia de nada.

— Certo... Dá pra esperar, então.

— Sim, mas eu queria poder trocar mais depressa. Esses aí não estão fazendo o serviço direito. Uma semana atrás peguei uma das crianças comendo lama. Literalmente. Choveu um pouco.

— E... O que você fez com ele?— perguntou Igor, ligeiramente preocupado com a criança. Jean tencionou-se esperando a resposta.

— Dei uma surra no menino. Ele desmaiou e eu o joguei na vala. Nem sem se ele estava vivo ou morto.

— Li, se você alimentasse essas crianças regularmente... Mas para lucrar cinco por cento a mais você resolveu promover essa matança. E quanto ele comeu, no máximo dez centavos.— era Igor.

— Não me interessa.— desconversou Li nada envergonhado do que fizera.

— Seu miserável!— disse Igor levantando-se.— O que você fez com meu filho?

— Eu não fiz nada disso com ele! Nem me lembro dele aqui. Aliás que fixação é essa em encontrar esse peste?

— Tem gente lá em Moscou sabendo da história. Preciso sumir com essa criança antes que o encontrem! Se não...

— Igor, relaxa! O corpo dele está naquela vala! Acha que seus rivais políticos virão até aqui e que terão coragem de revirar a vala atrás do corpo de uma única criança?

— Li, quem joga os corpos na vala? Ela fica há um quilômetro daqui.— perguntou Maxim.

— Iajuddin traz uns comparsas dele lá do Mianmar e eles jogam os corpos num caminhão que o próprio Iajuddin dirige até a vala. Aí lá ele despeja os corpos. Depois, jogamos umas pás de cal em cima e vamos pra próxima.

Quieto, num canto, Jean estava lívido. Mal acreditara no que ouvira. Li Zhou matava crianças para ter mais lucro? Aquilo era demais para ele. Que achou, por um longo período, que Mackintosh era o salafrário mais sangue-frio que conhecera. Agora, o falecido narcotraficante escocês poderia ser até beatificado pelo Papa. Li Zhou dava um “banho” nele quando o assunto era ardilosidade do crime. “Se essa história vazar na Europa, vão nos pedir as cabeças de Li Zhou e de Meiying numa bandeja” pensou Jean. Depois, passou a refletir se valeria à pena executar seu plano ainda. Seduzir Li Zhou seria algo necessário ainda? Decidiu contar aos colegas a mais recente descoberta e juntamente com eles decidir se precisaria ou não executar o plano que elaborara.

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Naquela noite, Jean contou a seus colegas o que descobrira e perguntou-lhes:

— Ainda precisamos executar meu plano?

— Bom, talvez. Já temos a informação que queríamos mas...— disse Brian.

— Quer fazê-los sofrer um pouco, Brian?— perguntou Gillian. Ela e Renato exploraram outras áreas da pedreira e encontraram o caminhão que Iajuddin usava para levar os corpos para a vala. O caminhão fedia a carniça e estava com restos de carne e de sangue grudados à caçamba.

— Talvez.— disse Brian evasivo.

— Então é o que vamos fazer.— decidiu Santeri. Os demais concordaram e decidiram, Gillian e Nikolas fariam o serviço no mesmo dia que Santeri conseguisse a composição do pó de Boris.

¨¨¨¨¨

No dia seguinte, Li voltou a conversar com Santeri, mas sobre sua vida pessoal.

— É casado?— perguntou Li, ao ver a aliança no dedo anular esquerdo do finlandês.

“Droga!”, praguejou Santeri. “Me esqueci de tirar minha aliança!”

— É, sou.— disse Santeri vendo que não dava para inventar desculpas.

— Tem filhos?

— Não, ainda. Mas minha esposa está grávida.— disse Santeri se remoendo de raiva por ter esquecido de tirar aquele aro de metal que três anos e meio antes, Sofia colocara em seu dedo.

— Markos, de que país você é?

— Sou sueco.— Santeri/Markos voltara a mentir.— Markos Solberg. Um pacato professor de química do ensino médio.

— Que bacana. Pena que você não pode me ajudar com o pó.

— O sujeito que lhe fornece o pó nunca lhe falou?

— Não. Disse que era algo complexo demais pra mim, que sempre tive aversão à química.

— A maioria das pessoas tem essa aversão. Convencer meus alunos que química é interessante me dá mais trabalho que ensinar a matéria mesmo.

— Isso é verdade.

¨¨¨¨¨

No horário do almoço, os agentes ajustaram mais alguns detalhes do plano.

— Vai ser amanhã à noite, correto?— conferiu Gillian.

— Exatamente.— disse Jean.— Santeri, você conseguiu algo pra misturar com a bebida?

— Achei, aqui. É um anti-histamínico. Meio frasco desse xarope deve fazê-los “capotar” antes da metade da garrafa da bebida.— respondeu Santeri.— Vão misturando aos poucos na vodka.

— Anti o quê?— perguntou Nikolas.

— Anti-alérgico. Eu tomo isso de vez em quando.— contou o finlandês.

— Perfeito. Mas funciona mesmo?— perguntou Dario, cético.

— Claro. Está até escrito na bula, ele interage com o álcool potencializando seus efeitos.

— Tomara que você esteja certo. Não quero ficar por muito tempo na companhia deles.— disse Gillian.

— Nem eu.— emendou Nikolas.

— Cara, mal posso esperar pra arrancar a composição aquele pó do Boris.— confessou Santeri.

— Você vai conseguir. É só uma questão de persuasão. Ter as manhas de um bom interrogador.— disse Jean.

— Você era delegado de polícia, Jean, eu sou e sempre fui perito. Nunca tive contato direto com suspeitos.— desdenhou Santeri.

— Tenta, ué. Talvez Poisonovski se abra com outro bioquímico.— desdenhou Jean.

Depois do almoço os agentes voltaram para a pedreira, e Gillian e Renato levaram-nos até onde acharam o caminhão de Li Zhou. Ninguém conseguiu entrar no galpão onde ficava o caminhão devido ao mau-cheiro.

— Caramba, parece que entrei numa tubulação de esgoto.— comentou Jonathan.— Nem lá na vala fede tanto.

— Ar livre. Tem circulação de ar lá, aqui é ambiente fechado, tende a feder mais mesmo.— disse Santeri.

— Deve ser.— disse Jonathan recusando-se a convidar os colegar para irem até a vala e, pra sua sorte, ninguém deu essa ideia.

— Anotem aí: trazer máscaras de oxigênio da próxima vez que viermos.— brincou Nikolas tampando o nariz por causa do cheiro.

— Se Deus permitir, não haverá uma “próxima vez”, Michael.— disse Jonathan.

Enquanto esperavam o dia passar, os agentes ficavam perambulando pela pedreira, o que nunca era uma boas ideia, pois ver aquelas crianças vivendo naquelas condições acabava com qualquer pessoa, por mais durona que ela fosse.

¨¨¨¨¨

No dia seguinte, os agentes levantaram agitados.

— É hoje que eu arranco a composição desse pó do Boris! Sentenciou Santeri.

— Tomara que você consiga Santeri. Jean, está tudo pronto?— desejou e perguntou Gillian.

— Sim senhora. Preparada?

— Acho que sim.— disse Gillian hesitante.

Os agentes saíram dos quartos e se dispersaram pela pedreira. Logo, chegou um sujeito de cabelos desgrenhados, jaleco encardido e com uma enorme e pesada caixa de papelão nas mãos. Nikolas e Jean, os primeiros a vê-lo, não conseguiram segurar o riso. “Que figura!”, pensavam.

— Será que esse aí é o tal do Boris, Michael?— perguntou Jean a Nikolas entre risos.

— Deve ser, Antoine.— respondeu o Alemão.

— Bem que o Scott disse que ele era meio esquisito.— disse Jean.

— Esquisito é elogio, Antoine.

Nisso, Dario veio ao encontro deles, cruzando com o suposto Boris. O italiano não pode deixar de perceber a presença do sujeito e acompanhou-o virando a cabeça. Ao se aproximar dos colegas, perguntou-lhes:

— De que laboratório de filme de ficção científica aquele sujeito escapou?

— Teve fuga de algum hospício da região?— perguntou Renato ao ver a bizarra criatura.— Gente, imaginem o Markos conversando com isto...

Dario, Jean e Nikolas se entreolharam e dispararam a rir imaginando a surreal conversa entre Markos, ou melhor, Santeri e o “fugitivo do hospício”, como passaram a chamar o “cientista”.

— Essa foi boa, Felipe! Essa conversa não vai render nada, será “chutar cachorro morto”.

— Ei, me contem a piada!— pediu Matthew chegando ao local.

— Você viu aquela figura que chegou aqui carregando uma caixa de papelão?— perguntou Jean.

— Vi. Parecia um cientista maluco de desenho animado. O que tem ele?— perguntou Matthew.

— Então, estávamos imaginando esse cara “trocando figurinhas” com o Markos. Não vai rolar.— explicou Jean vendo Matthew reagir imediatamente gargalhando.

— Ei, pessoal, qual é a graça?— dessa vez era Jonathan, que chegara ao local acompanhado de Brian e Gillian.

— Um cientista, desses que parecem ter escapado de um desenho animado ou de um filme de ficção científica, ou ainda de terror passou por aqui a pouco. Estamos imaginando o quão surreal seria uma conversa dele com o Markos.— Matthew tratou de responder.

Jonathan franziu a testa, tentando visualizar a cena pitoresca enquanto Brian e Gillian tinham um acesso de riso.

— Eu não posso perder essas.— sentenciou Brian.

— Nem eu.— decidiu Jean, concordando com Brian.

— Esse cientista maluco que vocês viram, por acaso trazia uma caixa de papelão quase do tamanho dele?— perguntou Jonathan, o único que não achara a cena engraçada.

— Trazia.— respondeu Jean. Renato, Nikolas, Dario e Matthew confirmaram.— Por que?— era o francês de novo.

— Vocês acabaram de cruzar com Boris Poisonovski.— contou Jonathan.

— Ele mesmo? O Boris?— perguntou Renato.— Ele deve estar no escritório do Li Zhou agora. Vamos lá?— convidou o brasileiro.

— Vamos, claro, mas, pessoal, cuidado. Não podemos deixar transparecer nosso real objetivo aqui.— disse Brian.

— Nós sabemos disso Zacky.— cortou Jean.

— Ô Scott, você já viu a figura antes?— perguntou Dario a Jonathan.

— Já, Stephano. Da primeira vez que estive aqui. Querendo que fosse a última, diga-se de passagem. Mas...

— Todd, e você?— era Dario de novo.

— Só em algumas fotografias. Pessoalmente ainda não tinha tido esse “prazer”.— respondeu debochando Matthew.

Os agentes caminharam pela pedreira até o escritório de Li Zhou. Já pareciam indiferentes às crianças que lá trabalhavam. Meiying, ao vê-los, cumprimentou-os:

— Bom dia, pessoal!

— Bom dia, Meiying!— cumprimentou Nikolas saindo da “formação” e aproximando-se da Chinesa. “É hoje! Ou eu convenço essa mulher a passar a noite comigo, ou o Jean corta meu pescoço” pensava o alemão. Gillian ignorou. Afinal, faria o mesmo com Li Zhou e queria que o plano de Jean fosse bem sucedido. Ter crise de ciúme àquela altura do campeonato só serviria pra jogar areia na ideia.

Entraram no prédio e viram a porta do escritório de Li Zhou aberta. Lá dentro, o cientista visto pelos agentes, Santeri e Li Zhou conversavam. Na verdade, Li e Santeri estavam interrogando Boris para que ele contasse qual era a fórmula do maldito pó. Entretanto, o cientista russo estava irredutível.

— Desistam, eu não vou contar!— disse Boris, firme.

— Por que não?— rebateu Li.

— Nenhum de vocês jamais conseguiria compreender o que há lá.

— Markos é bioquímico!— argumentou Li.

— E daí?— Boris continuava resoluto.

— Ele vai te entender.— disse Li desarmado.

— Conversa fiada!

A “lengalenga” continuou na sala por um bom tempo. Do lado de fora da sala, os agentes riam da situação.

— Antoine, me passe os números da loteria?— pediu Renato.

— Outra hora eu te falo, Felipe. Acho que aqui não vai adiantar.— brincou Jean.— Agora... Por que você está me pedindo?

— Você disse que a conversa, estou usando a palavra no sentido figurado, do sujeito ali com o Markos não ia dar em nada...

— Ah, é. Meio óbvio. Aquele sujeito deve ter um parafuso a menos...— brincou o francês.

Na sala de Li Zhou a conversa ainda não saíra da estaca zero. Por mais pressionado que fosse, Boris deixava claro que jamais entregaria a fórmula do pó a quem quer que fosse. Mesmo que esse alguém fosse o único comprador.

Do lado de fora da sala, uma dúvida surgiu:

— Li Zhou nunca teve curiosidade de saber o que há naquele pó?— perguntou Brian sem se dirigir a ninguém em específico.

— Ele já levou o pó para um amigo dele de Kunming, engenheiro químico para que ele analisasse. O cara ficou seis meses com um frasco de pó e não conseguiu descobrir nada!— contou Meiying. Nikolas estava com os braços no pescoço da chinesa fingindo estar totalmente apaixonado por ela.

“O Nik é um excelente ator.” pensou Brian. O americano de Huntington Beach olhou de relance para Gillian que evitava olhar para Nikolas abraçado a Meiying. Riu. “Disfarça mesmo, Gil. Um passo em falso e nosso plano já era!” “ordenou” Brian.

Logo, Boris, cansado da discussão, saiu da sala após gritar para Li Zhou que jamais voltaria à pedreira. Era a chance. Gillian imediatamente foi até Li Zhou para consolá-lo pela briga. Santeri entendeu a intenção de Gillian e saiu da sala.

— Zacky, não consegui. Mas acho que, apesar do insucesso, a discussão serviu pra alguma coisa.— disse ao ver a esperteza de Gillian.

— A Kelsey, hein? Quem diria! Coitado do Michael.— debochou Brian/Zacky.

— Chumbo trocado não dói. Ele e a Meiying.— disse Renato/Felipe.

— Ah, é.— disse Brian.

Nesse instante, Dario lembrou-se da folha que pegara dois dias antes. Entretanto, achava que a China não era um local seguro para contar a Santeri sua descoberta, muito menos para entregar-lhe a folha. “Só toco nesse assunto lá em Lyon, no prédio da Interpol.” Decidiu o italiano sabendo que, se Santeri ainda tinha algum ressentimento em relação a ele, nada mais existiria quando o papel aparecesse.

¨¨¨¨¨

Naquela noite, munidos de um gravador, uma garrafa de vodka e de 150 mililitros de um xarope anti-histamínico, Gillian/Kelsey e Nikolas/Michael se viam na mais pitoresca situação de suas vidas. Ambos estavam utilizando trajes mínimos (uma lingerie vinho para Gillian e uma cueca azul-marinho para Nikolas) embebedando, ou melhor, dopando Li Zhou e Meiying Guo com vodka misturada com remédio para a rinite alérgica de Santeri.

— Li.— disse Gillian ao entregar mais uma dose para sua “presa”.— Como você começou a pedreira?

— Sempre quis ter um negócio próprio. Conheci a Meiying e começamos a montar isso aqui.— os efeitos da mistura já apareciam no chinês.

— E quando os outros entraram?— perguntou Gillian ciente de que seu gravador estava funcionando desde o início da conversa, gravando inclusiva a hora em que convenceu Li Zhou que o gosto adocicado da bebida era por uma mistura de suco de frutas, algo que lera em uma revista.

— Que outros?

— Esses que vieram aqui esses dias...

— Ah, sim! Eles são conhecidos de Iajuddin, amigo meu do Minamar, em razão de outros negócios. Depois de um tempo nos tornamos sócios.

— Certo.— disse Gillian dando mais uma dose da mistura para Li Zhou.

Bêbado, o chinês pôs uma das suas mãos na coxa de Gillian.

— Sabia que você é linda, Kelsey?

— Já me falaram.— disse Gillian, sem graça.— E as crianças, Li?

— Foi ideia do Iajuddin também. Ele conhece gente que precisa de dinheiro, quem, afinal não precisa dele? E que a única coisa que tinham eram os filhos. E por aqui se acha muita criança abandonada. Resolvemos dar uma utilidade para elas.— disse Li Zhou bêbado, com a voz arrastada e sem ter ideia de que acabara de confessar algo inconfessável a uma estranha.

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— Mas por que vocês as matam?— soltou Gillian suando frio.

— Aff... Esse povo daqui se reproduz como coelhos. Tem inúmeros filhos e estão sempre querendo se livrar deles. E o Boris, este que esteve aqui hoje é amigo do Max, criou aquele pó e pediu que eu o testasse. Foi um sucesso tot...— disse Li Zhou até finalmente dormir por conta do álcool. Gillian esperou alguns minutos, e, ao ter certeza de que Li Zhou não acordaria tão cedo, desligou o gravador e guardou-o na bolsa. Jogou o resto da vodka e do xarope no vaso sanitário, vestiu-se, pôs a garrafa, o frasco e os copos numa sacola, virou-se e saiu, largando o chinês embriagado para trás.

Assim que fechou a porta, o medo foi substituído por uma gargalhada nervosa. Então, rindo, foi para o ponto onde combinara-se de encontrar com seus colegas. Nikolas já estava lá e ao vê-la todos suspiraram aliviados.

— Vamos?— convidou a recém-chegada.

— Na hora.— concordou Brian.— Santeri, quanto tempo temos até que eles recobrem a consciência?

— Aproximadamente quinze horas. Até lá já estaremos no meio da viagem de volta.— respondeu o finlandês enquanto andavam até o local onde Brian havia deixado o carro quatro dias antes.

— Deu certo, Gil?

— Certíssimo. Pena que ele não conseguiu terminar a última frase. Capotou antes.

— Maravilha. Detalhes durante a viagem.— disse Jean.

— Isso aí. Quanto menos tempo ficarmos por aqui, agora, melhor.— concluiu Jonathan.

¨¨¨¨¨

Enquanto Gillian embebedava Li Zhou, Nikolas fazia o mesmo com Meiying Guo só que a situação ficava ainda bem mais inusitada, pois ainda sóbria, Meiying começou a investir pra cima de Nikolas, que a repelia com mais vodka com xarope. Meiying pensava que Mike, como chamava Nikolas, por conta de seu nome falso, realmente queria algo com ela.

Tal como sua namorada de verdade, Gillian, Nikolas fez uma série de perguntas sobre a pedreira e as crianças para Meiying. Ouviu respostas muito similares às ouvidas por Gillian, entre elas, que foi ideia de Iajuddin Wajedd usar crianças compradas de suas paupérrimas famílias para trabalhar lá.

Mas, logo, os efeitos mais bizarros do álcool começaram a se manifestar em Meiying: extremamente alcoolizada/dopada, a chinesa tentou tirar a cueca de Nikolas, mas antes de conseguir algo visível, desabou na cama no meio do serviço enquanto o alemão recuava. Caiu em uma posição constrangedora e incômoda. Estava de joelhos com o rosto no colchão, tal como um muçulmano rezando, só que estava nua. E nem conseguira deslocar a cueca de Nikolas mais que três centímetros.

— Meiying?— perguntou Nikolas sem ter resposta. Concluiu que a mistura de Santeri havia funcionado. Arrumou o local, vestiu-se, pegou o gravador e pôs no bolso, jogou o que sobrara da bebida e do xarope fora juntou as garrafas na sacola e saiu. Foi para o prédio em que estavam, lá encontrando seus colegas de malas prontas. Arrumou suas coisas e as de Gillian e aguardaram a volta a americana na entrada do prédio, o que aconteceu vinte minutos depois.

Assim que a americana chegou, partiram para o lugar onde Brian deixara o carro, coisa que ele checara à tarde naquele dia.

¨¨¨¨¨

No carro, rumo a Kunming às duas horas da madrugada, os agentes pareciam estar voltando de uma festa, não de uma missão. Todos riam descontroladamente do que Gillian e Nikolas contavam da investigação. Principalmente das investidas de cunho sexual que Li Zhou e Meiying. E mais ainda do fato de ambos terem dormido durante o serviço.

— Ela tentou te pagar um, Nikolas?— perguntou Jonathan rindo incontrolavelmente.

— Tentou, Johnny, exatamente. Foi tentar tirar minha cueca, mas apagou no meio do caminho e caiu de cara na cama. Pena que eu não tive presença de espírito para fotografá-la naquela posição de...— era Nikolas respondendo à pergunta de Jonathan e empacando ao final, sem ter palavras para descrever a situação de Meiying.

— Bebi demais e estou pagando mico?— sugeriu Renato.

— Exatamente.— disse Nikolas.

— Pode ser.— concordou Brian, ao volante.

Seguiu-se, após isso um período de silêncio. Brian, concentrado na esburacada estrada mal falava, já o assunto da pedreira parecia ter se esgotado. Após aproximadamente uma hora e meia de viagem, eles se veem entrando na cidade de Kunming. Brian estaciona o carro ao lado de uma caçamba de lixo pra que a turma descarte as garrafas e vidros de xarope, já limpos com uma flanela para retirar as digitais. Dario depositou as sacolas lá. Depois, dirigiu até próximo ao aeroporto. A rua estava deserta. Desceram. Enquanto Brian brincava com o fato de não querer pagar outra multa por estacionamento, Ele e os colegas passavam uma flanela em toda a parte interna e externa da mini-van. Só então foram para o aeroporto.

Santeri estava agitado e deixara claro na viagem, o tempo todo, que não via a hora de retornar a França. Os agentes consentiram. Também não viam a hora de pisar em Lyon de novo e sabiam que Santeri tinha motivos de sobra para querer voltar à França. Havia deixado lá sua mulher, grávida, e o filho de dois aninhos.

No aeroporto, Brian comprou as passagens para Hong Kong, num voo que sairia às seis horas da manhã. Enquanto isso, os agentes conversaram mais sobre o caso, comeram sanduíches e Dario, fuçando na mochila pouco antes do embarque, pegou o envelope. Ia entregá-lo a Santeri, mas hesitou. Kunming não era um local seguro, em sua opinião. “Talvez em Hong Kong... Não, melhor lá em Lyon, já no prédio da Interpol.” Pensou Dario guardando o envelope de novo na mochila. Pouco tempo depois, embarcaram. Duas horas depois, a equipe estava no aeroporto de Hong Kong. Eram oito horas da manhã lá. Aproximadamente meia noite em Greenwich, uma hora da manhã em Lyon. Santeri imediatamente ligou para sua casa.

¨¨¨¨¨

Em Lyon, Sofia estava angustiada com a falta de notícias de Santeri. Imaginava sempre o pior, que Li Zhou havia assassinado seu marido. E passara a maior parte do tempo ao lado de Alex, ainda inconsciente. Thierry nada conseguira nas análises. Dario trazia a solução na mochila.

Estava insone, na madrugada do dia dezesseis de novembro, à uma hora e meia da manhã, quando ouviu o telefone tocar. Atendeu-o com o coração disparado:

— Alô?— perguntou com voz trêmula.

— Sofia? Tudo bem aí, querida?

— San! Graças a Deus você me ligou! Tudo bem aqui sim. E com você?

— Estou bem também, querida. E estou voltando hoje pra casa. Saio daqui às três da tarde, hora local, sete horas da manhã aí. Às três da tarde daí devo estar chegando. E nossos filhos?

— Graças a Deus você volta. Os dois estão bem.

— Alguma novidade do Alex?

— Ainda não, querido. Aparentemente não descobriram nada.

— Eu encontrei o criador do pó, mas não consegui que ele me dissesse nada.— contou Santeri aborrecido.

— Paciência...— disse Sofia.

— Verdade. So, tenho que desligar. A gente se encontra em dez horas. Não se esqueça de dar um beijo no Alex por mim. Assim que chegar aí vou direto pro hospital vê-lo.

— Claro, San. Tchau. Te amo.

Depois do telefonema, Sofia, relaxada, finalmente dormiu. E sentiu que o bebê também parecia mais calmo ao ouvi-la falando com seu pai. E lembrou-se de ir ao hospital logo que se levantasse. Alex tinha de saber que seu pai estava voltando da China.

— Está com saudade do papai, filho?— perguntou para o bebê.

Em Hong Kong, depois de falar com sua mulher, Santeri dirigiu-se ao balcão da companhia aérea com Brian para comprar as passagens de volta da turma toda para Lyon. No voo das quinze horas. Só conseguiram falar com Wang e Carlson meia hora antes do embarque.

¨¨¨¨¨

Eram três horas da tarde em Lyon quando os agentes finalmente chegaram. Jacobson, Harrell, Wang Carlson e Sofia os esperavam no aeroporto. Após serem liberados, Santeri passou reto pelos chefes indo direto abraçar Sofia.

— Ê saudade.— brincou Carlson ao ver a cena.

— Vamos dar o resto do dia de folga para eles.— disse Jacobson com Harrell.

— Boa ideia. A turma está precisando de um descanso, jet lag...— lembrou o canadense.

— Boa tarde, Jacobson, Harrell, Carlson, Wang.— disse Nikolas.

— Boa tarde, Schweizer.— cumprimentou Harrell.

— Boa tarde, chefes.— era Brian.

— Boa tarde, Sanders.— era Jacobson.— Sanders, chame seus colegas aí, quero falar com eles.

— Sim senhor.

Em pouco tempo, Brian conseguiu avisar a todos e eles se reuniram em volta dos chefes.

— Bom, meus caros, só queria lhes avisar que, por hoje, vocês estão liberados. Nos vemos amanhã cedo lá no prédio.— disse Jacobson.

— Certo. Obrigado. Até amanhã então.— agradeceu Jean, que se reuniu com Nikolas, Gillian, Brian, Jonathan, Dario, Renato e Matthew em seu apartamento para escrever o relatório, numa noite regada a pizza e cerveja. Haviam combinado no avião e Santeri pediu pra ser dispensado. Queria ficar com Sofia e Alex. O que foi rapidamente concedido.

— Depois dessa viagem, nunca mais tomo vodka na minha vida.— brincou Renato tomando um gole de cerveja.

— Nem eu. Que mistura explosiva o Santeri criou.— disse Jonathan.

— Verdade. Também, o cara é doutor em bioquímica. Mais precisamente em toxicologia.— disse Nikolas elogiando o finlandês.

— Gente, queria estar lá na pedreira agora, só pra ver como o Li Zhou e a Meiying Guo estão...— confessou Gillian.

— De ressaca. Nem precisei estar lá pra adivinhar.— disse Matthew, nem um pouco afim de voltar ao Triângulo Dourado.

— Com certeza. Ressaca. Só física ou será que moral também? Encher a cara não é algo socialmente aceito lá. E... Será que deu amnésia alcoólica neles?— perguntou Brian rindo de Matthew.

— Espero que sim.— disse Nikolas passando a se preocupar com as próximas ações dos chineses.

— Brian, tomara que eles tenham deletado os últimos cinco dias do disco rígido.— disse Renato em tom de brincadeira.

— É, tomara.— disse Brian apreensivo.

— Santeri poderá lhe responder. Nessas horas temos que agradecer a Deus que temos um amigo toxicologista.— disse Dario mastigando um pedaço de Pizza quatro queijos.

— Verdade.— disse Brian.

Os agentes ficaram até as onze horas da noite discutindo e comendo. Brian e Nikolas foram para suas casas, o segundo com Gillian, com boa parte do trabalho pronto. O alemão era o “reserva” de Santeri e provavelmente assumiria a frente do grupo quando o finlandês viajasse para seu país para o nascimento de seu segundo filho.

¨¨¨¨¨

No aeroporto, Santeri despediu-se dos colegas e foi com Sofia para o hospital. Lá foi direto para o quarto de Alex.

— Filho, o papai voltou!— disse, pegando o menino no colo.— Não estava aguentando de saudade de você, Alex!— completou beijando o garoto.

Pierre, ignorado por Santeri, viu que os sinais vitais de Alex se alteraram tanto que temeu que o garoto tivesse uma convulsão. Mandou uma mensagem para Henry que chegou rapidamente ao quarto.

— Que foi, Pierre?

— Olhe o monitor cerebral dele... Acho que ele pode ter uma convulsão.

Henry examinou os dados. Virou-se para Pierre:

— Acho difícil, cara. Ele não tem histórico de convulsão e os impulsos já se normalizaram. Por que isso aconteceu?

— Saudade do pai. Santeri passou cinco dias fora.

— Ah, está explicado.

— Oi, Pierre, oi Henry. Desculpe não ter falado com vocês. Estava louco pra ver meu filhote.— explicou o finlandês ainda com o menino no colo.

— Imagino. Cinco dias longe não é fácil.— disse Pierre.

— Pra mim, pareceu um mês.— disse Santeri.

— Pra mim também. Principalmente por você não ter dado sinal de vida enquanto estava lá.— disse Sofia em tom de censura.

— O lugar onde fica a pedreira é isolado, num fim de mundo. Sem qualquer tipo de comunicação com o resto do mundo e há duas horas da cidade mais próxima.

— Isolado mesmo? Acho que eu não aguentaria viver lá.— comentou Henry.

— Eu pude constatar que não.

Pouco depois, entrou outro médico no quarto. Cumprimentou seus colegas e Sofia com entusiasmo. Virou-se para Alex e perguntou se o “mocinho”, como chamava o garoto, estava bem, conheceu Santeri, conversou mais um pouco com casal e com os médicos que lá já estavam. Retirou-se logo depois. Então Pierre explicou a situação para Santeri, que não conseguiu esconter seu espanto diante do acontecido.

¨¨¨¨¨

Na pedreira de Li Zhou, enquanto os agentes deixavam definitivamente o território Chinês...

Iajuddin Wajedd chegou ao local sem trazer crianças em seu ônibus enferrujado. Li Zhou teria que, antes, dar cabo das que estavam lá. E o avisaria. Ele queria era mostrar dessa vez os potenciais vendedores de aproximadamente 70 crianças. Cada uma lhes sairia por quinze dólares. Devendo Li Zhou já lhe dar dois mil dólares para pagar pelas crianças, as despesas da viagem e sua comissão. No entanto, em vez de encontrar a costumeira agitação de uma tarde, A pedreira estava deserta. As crianças ainda estavam trancadas no galpão onde dormiam.

— O que aconteceu aqui?— perguntou-se o birmanês.— Li! Meiying!— gritou sabendo que, pelo contexto, não teria respostas.

Decidiu, então, ir ao prédio nos fundos da pedreira, onde Li e Meiying moravam. Eram dois pequenos apartamentos, cujo estilo e sua boa condição de conservação destoavam do resto, praticamente caindo aos pedaços. Lá dentro, encontrou o casal administrador da pedreira em péssimas condições: ambos nus, passando mal, com uma violenta dor de cabeça e sem ter ideia de como ficaram naquele estado. Sequer se lembravam do grupo de estrangeiros que estava por lá.

Sem condições de trabalhar e sequer de conversar, Li pediu, num fio de voz a Iajuddin que voltasse noutro dia e que o birmanês pusesse as crianças para trabalhar e as vigiasse.

— Tudo bem. Pode deixar.— concordou Iajuddin.

Ficou lá até às oito da noite quando trancou as crianças no galpão e se acomodou no local que, menos de vinte e quatro horas antes, abrigara os responsáveis pelo que acontecera com Li Zhou e Meiying Guo. Enquanto isso, pensava no que podia ter ocorrido para que Li e Meiying ficassem no estado que os encontrou. O mal estar e a dor de cabeça eram explicados com algo que talvez eles tivessem comido, mas e a falta de roupas? Calor? Não, isso não tinha explicação. A não ser que ambos tivesse tido febre naquela noite. Mas ainda assim ficava algo sem ser explicado: a amnésia dos dois.

¨¨¨¨¨

Enquanto a equipe estava na China, algo estranho e grave ocorreu no hospital, com Alex. François Bouvier, ao saber que o pai do menino havia viajado para fora do país por tempo indeterminado, procurou por Pierre, com dois frascos de medicamentos do bolso do Jaleco.

— Lefebvre, quero que você injete isso em seu paciente, o estrangeirinho.— pediu-lhe.

Inocentemente, Pierre ia pegar os frascos quando Henry Gouthier passou ao seu lado. O pediatra chamou-o:

— Henry, venha aqui. Você tem alguma emergência agora?

— Não. Ia pra minha sala, checar meu facebook e assistir a um episódio de The Big Bang Theory. Isso pode esperar. O que é?

— Doutor Bouvier quer que eu injete algo no Alex. Quero que você veja comigo o que é. Se isso for prejudicar o garoto, eu tenho uma testemunha.— disse Pierre.

— Está bem.— concordou o neurologista. Nenhum dos dois percebeu que François ficara nervoso com a ideia.

— Me passe os frascos, Doutor Bouvier.

François entregou os frascos a Pierre. O sangue do pediatra ferveu. Furioso, entregou os frascos para Henry e disse a François cuspindo as palavras.

— Eu te desprezo, François. Quem o senhor acha que é? O melhor médico do mundo? Pois está muito enganado. Qualquer pessoa nesse hospital é mais médico que você. Henry, chame a polícia e o conselho de medicina do hospital. Esse filho da puta asqueroso não pisa mais aqui.

Em pouco tempo, o conselho e a polícia, chamados por Hery estavam no “local do crime” Pierre, Henry e alguns outros funcionários e até parentes de pacientes que testemunharam a cena tiveram que conversar com os responsáveis. Depois que eles deixaram o local, cerca de duas horas depois, Pierre desabafou com seu amigo:

— Não acredito que ele queria que eu injetasse Cloreto de Potássio e Morfina no Alex.— disse o pediatra.

— Nem eu. O Doutor House podia até ser meio esquisito, egocêntrico, rabugento e não gostar de algum paciente, mas pedir para matá-lo, aí já é demais...

— Ahn... Henry, conto ou não para Sofia o que aconteceu?

— Melhor não.

— Obrigado pelo conselho. Vou lá ao quarto dele. Preciso ver como ele está.

— Ok.

O médico, depois de algum tempo, foi até o quarto de Alex, cuidou do garoto seguindo o conselho de seu amigo sem mencionar nada sobre o acontecido para a mãe do menino. Sofia até lhe perguntou o porquê do atraso, mas Pierre mentiu dizendo que houvera uma emergência. Um bebê recém-nascido passara mal e ele era o único pediatra no hospital naquela hora. Mas, ainda assim, estava conseguindo disfarçar a raiva que sentia de François e ocultar de Sofia o que ocorrera no corredor. Entretanto, estava emburrado.

¨¨¨¨¨

Pouco antes de resolver ir ao quarto de Alex, Pierre se refugiou em sua sala. Tremia de tanta raiva que sentia de François. Não tinha condições de ir ver nenhum paciente. Pôs Avenged Sevenfold pra tocar no computador para ver se se acalmava. A primeira que rolou foi “God Hates Us”. A introdução lenta da música de fato tinha um fator calmante embora Pierre já estivesse esperando a virada da música. Finalmente podia se considerar calmo de novo. Pensou então em COMO aquilo fora acontecer. Iria pegar os frascos de François sem qualquer suspeita até que viu Henry. Algo lhe despertara a desconfiança, mas o quê? Olhou para o monitor de seu computador. A foto do Avenged Sevenfold fora substituída por uma colagem de diversas fotos da banda e de seus integrantes, incluindo aí James Owen Sullivan, falecido em 2009. O sangue de Pierre gelou ao ver uma das fotos do falecido baterista do grupo. “Será que foi ele?” perguntou-se.

¨¨¨¨¨

Dois dias depois, o humor de Pierre era outro. O pediatra estava feliz e bem-humorado. O Motivo: François Bouvier fora destituído de seu cargo no hospital e nunca mais poderia entrar naquele prédio, só se precisasse de cuidados médicos.

— Resumindo a ópera: o “Doutor House” já era!— explicou Pierre animado para Sofia, naquele dia. Contara para a italiana que ele pedira para um dos médicos matar um paciente, mas, claro, não disse que o paciente alvo de Bouvier era o filho da italiana.

— Que bom. Não gostava do jeito que ele tratava o Alex. Ele tratava todos assim?— perguntou Sofia.

— Era. Principalmente com crianças, pacientes terminais, estrangeiros e pessoas que não tem boas condições financeiras.— respondeu Pierre.

— Quem é o chefe do hospital agora?

— O cirurgião que o apelidou de Doutor House. Esse é gente fina, pode ficar tranquila.

Logo depois, o novo chefe do hospital, um médico de pouco mais de 50 anos entrou no quarto.

— Com licença, é aqui o quarto de Aleksanteri Rossini Korhonen?— perguntou.

— É sim.— respondeu Pierre.

— Vim visitá-lo.— justificou o novo chefe.— Como o mocinho tem passado?

— Bem.— respondeu Sofia.

— Você é a mãe dele? Eu acertei a pronúncia do nome dele?

— Acertou. Sou sim. Sofia Rossini Korhonen.— apresentou-se a própria.

— Prazer. Doutor Jacques Montagny. Sou o novo chefe do hospital. Acho que Pierre já lhe contou que houve uma substituição.

— Prazer.— devolveu Sofia.— Ele contou sim.— a italiana já se simpatizara com o novo diretor do hospital. Chamara seu filho de “mocinho”, e o chamara pelo nome e ainda perguntara se havia pronunciado o nome da criança corretamente.

— Bem, foi bom conhecê-los.— disse Jacques acariciando Alex.— E o pai dele, onde está.

— Santeri viajou a trabalho. Não sei quando ele volta. Espero que em breve.— respondeu Sofia.

— Certo. Bem, vou passar para ver os demais pacientes, e, qualquer problema, estou por aí.— disse Jacques saindo do quarto.

Depois...

— Gostei dele. Ele tratou Alex como uma criança, não como um bicho como o Doutor House fazia.

— O Doutor Jacques é médico de verdade. Ao contrário daquele um.— disse Pierre recusando-se a pronunciar o nome de Doutor House.

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Já em casa, no dia da volta dos agentes, Sofia não conseguia esconder o alívio que sentia com a volta de seu marido, perguntou ao mesmo:

— San, aquele plano do Jean deu certo?

— Deu, e como... Você acredita que a Meiying, totalmente bêbada, tentou tirar a cueca do Nikolas?

— Como?— Sofia caiu na gargalhada. Depois de cinco dias de angústia, sem saber quando e se Santeri voltaria, estava sentada ao lado dele rindo de algo que ele dissera.

— É sério. Só não conseguiu terminar o serviço por que desmaiou antes, culpa da bebedeira. Aliás eles já devem recobrado a consciência.— deduziu Santeri.

— O que eles beberam?— perguntou Sofia.

— Vodka com xarope antialérgico. Ideia minha.

— Que loucura.

— Mudando de assunto querida, que foi esse caso do Doutor House, hein? Uma loucura!

— Pois é. Ainda bem que isso aconteceu. O Doutor Jacques é bem melhor que ele.

— Concordo. Gostei dele. Agora... Quem será que o Doutor House tentou matar para que isso acontecesse?

— Pierre não me contou. Talvez não saiba mesmo, mas eu tenho a impressão de que foi o Alex, San. No dia em que isso aconteceu Pierre estava uma pilha de nervos quando foi vê-lo. E o Henry apareceu pra perguntar ao Pierre se ele estava melhor.

— Será?

— Não tenho certeza, San, mas algo me diz que foi ele.

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No dia seguinte, os agentes mataram seus chefes de tanto rir contando detalhes da execução do plano de Jean.

— Quando ela começou a tirar minha cueca, eu fechei os olhos para não ver o que estava acontecendo. De repente, não senti mais nada. Criei coragem e abri os olhos. Ela estava caída na cama naquela posição, com o rosto enterrado no colchão. Quando percebi que não era fingimento tratei de dar o fora do lugar. Fazendo tudo o que o Jean havia nos instruído.— contou Nikolas com dificuldade, pois começara a rir.

— Queria estar lá pra ver isso. Deve ter sido muito engraçada a cena. Bem na hora “h” a pessoa cai no sono. Tudo bem, ela estava dopada, mas...— comentou Harrell.

— Deve ter sido pitoresco mesmo.— disse Jacobson rindo.

— Foi, pode apostar.— disse Nikolas.

— Certo, além da sessão comédia, o que mais aconteceu?— perguntou Carlson.

— Comédia mesmo.— concordou Wang.

Os agentes contaram o que mais aconteceu. A tentativa frustrada de Santeri de conseguir a fórmula do pó do próprio criador deste, incluindo aí a descrição física de Boris como um cientista maluco de filme de terror. O caminhão e a aparição de Igor Azarov e Maxim Carpov na pedreira.

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Três dias depois, Dario, assim que chegou à Interpol, viu os colegas reunidos. Inclusive Santeri e Sofia. Dirigiu-se imediatamente a Santeri e lhe entregou o envelope.

— Encontrei lá na pedreira. Desculpe a demora.— explicou Dario entregando o envelope para Santeri.

Santeri abriu o envelope e leu o papel. Tremia ao final da leitura.

— Dario, nem sei como te agradecer, cara!

— Não precisa.— desdenhou Dario.

— O que tem nesse papel, Santeri?— perguntou Brian.

— É a composição do Pó! Se perguntarem por mim, fui pro laboratório.— disse Santeri sem dar tempo aos colegas e nem mesmo a Sofia reagirem. Saiu da sala imediatamente.

Demorou um minuto para que algo ocorresse na sala. Sofia, então abraçou seu conterrâneo. Ele dera a Alex a chance de se recuperar.

— Grazie, Dario.— disse em italiano.

— Prego.— respondeu Dario devolvendo o abraço.

— Ahn... Vamos voltar ao trabalho... O que faremos com as informações colhidas na China além de mantê-las em sigilo?— perguntou Brian.

— Temos muito que fazer com elas, além disso, Brian.— respondeu Jonathan.— Você recebeu algo novo da CIA, Matt?

— Desde que voltamos da China, não. O que tinha recebido antes já passei pra vocês.— respondeu Matthew.

— Certo.— disse Nikolas. Todos estavam se jeito após o ocorrido.

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Santeri entrou correndo no laboratório assustando Thierry que estava sentado à bancada tentando desvendar a composição do pó.

— Que é isso, Santeri?— perguntou o bioquímico.

— Acabou, Thierry. Aqui está ela.— disse Santeri mostrando a folha onde vinha escrita a composição do pó para Thierry.

— Brincadeira! Cara, onde conseguiu isso?

— Um colega meu que achou lá na pedreira.

— Hum, bom. Vamos testar isso aqui. Se forem essas as substâncias presentes nesse pó mesmo.

— É...

Dois dias depois, Thierry confirmou que era aquilo mesmo que havia no pó e contou o seu irmão o resultado das reações. Então, Pierre pode, finalmente curar Alex.

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Lá na pedreira, Li Zhou e Meiying não se lembravam de absolutamente nada que se passara antes da bebedeira. Recuperados, voltaram a cuidar da pedreira como se nada tivesse acontecido.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.