Já se passara uma semana desde que Alexander chegara da China. Wang ainda vigiava a área com seus dois únicos agentes. Ambos, entretanto, estavam ensaiando um jeito de contar um fato ao chefe. Três dias depois, Jonathan resolveu abrir o jogo. Brian foi no embalo.

— Wang, Brian e eu temos que te contar uma coisa.

— O que é, rapazes?— perguntou Wang.

— Quando estávamos lá na China, conhecemos um casal de agentes da CIA. O que lhe contamos sobre a invasão da cidade russa no relatório de viagem, nos foi passado por um deles, Matthew Owen Baker.— soltou Brian.— A outra agente chamava-se Gillian Mary Finnes.

— Hum, interessante. Venham comigo.— disse Wang levantando-se. Levaria o caso recém-descoberto ao conhecimento de Jacobson e Harrell. No caminho, perguntou a seus subordinados.— Eles também presenciaram a morte das crianças?

— Sim, presenciaram. Inclusive foram conosco até o hospital onde internamos Alexander, em Kunming.— respondeu Jonathan.

— Ok. Mas só mais uma coisinha. Da próxima vez que viajarem, contem-me toda a história de uma só vez. Não quero que a dividam em prestações, combinado, agentes Sanders e Sullivan?— disse Wang, querendo fazer graça.

Os dois riram e responderam juntos:

— Pode deixar.

— Da próxima vez despejamos tudo de uma vez em cima do senhor. Você vai ficar até vesgo, Wang!— disse Brian, em tom de fingida ameaça.

— Assim seja.— disse Wang, rindo.

¨¨¨¨¨

Mais alguns minutos e estavam diante das portas do gabinete de Jacobson. Entraram.

— Bom dia, Wang, o que o traz aqui dessa vez?— perguntou Jacobson amigavelmente.

— Sanders e Sullivan têm uma coisa para contar ao senhor, Jacobson.

— Pois bem, rapazes, o que aconteceu?

Se quem contou a Wang a história fora Brian, para Jacobson quem fez esse serviço foi Jonathan. Depois...

— Certo. Vou entrar em contato com a CIA e ver se podemos, por assim dizer, nos aproveitar disto. Talvez consigamos dados confidenciais da agência com detalhes que nós não conseguimos. Obrigado por contar Sullivan, Sanders, Wang.— finalizou Jacobson.— Mais alguma coisa?

— Não, Jacobson, era só isso. Eu acho. Não tem mais nada para vocês contarem não, rapazes? Ou vão esperar mais uma semana?— disse Wang.

— Não. Agora acabou mesmo.— disse Brian e Jonathan confirmou acenando com a cabeça.

— Já falamos tudo o que tínhamos para falar.— disse o irlandês.

— Bom, então estão dispensados. Podem voltar ao serviço. Ah, Wang, você fica.— disse Jacobson.

Brian e Jonathan voltaram para o setor onde trabalhavam enquanto Wang ficara na sala com Jacobson e Harrell. Muito embora a dupla da chefia da Interpol não parecesse inamistosa, Wang se viu em uma masmorra medieval quando Brian fechou a porta, desaparecendo do outro lado com Jonathan. Mas poucos segundo depois, a sala voltou ao normal.

— O que vocês querem comigo?— perguntou Wang ressabiado.

— Nada demais... Mas, para a próxima reunião, teremos que esperar por alguém que o Brad Harrell chamou.

— Posso ao menos saber quem é essa pessoa?— perguntou Wang.

— Claro. Robert Joseph Carlson.— disse Harrell, até então quieto.

— Certo.— disse Wang aliviado.

¨¨¨¨¨

Enquanto Jacobson e Harrell ouviam Jonathan e Brian, Carlson pensava nas duas investigações em que estava envolvido. O pó que o agente Jonathan Christopher Sullivan trouxera da pedreira, cuja análise ainda não tivera nenhum resultado ainda, e o tráfico de Heroína do birmanês Iajuddin Wajedd. Novas imagens, obtidas por satélite, mostravam extensas plantações de papoula na fronteira Do Mianmar com China e Laos. E Iajuddin, aparentemente, tal como os donos da pedreira, explorava mão de obra escrava infantil. Isso chateava o americano, que se lembrou da única vítima da pedreira que estava viva: Alexander.

Carlson, juntamente com Wang, Jacobson e Harrell, fora ao hospital visitar o menino e puderam ver de perto o estrago causado pelo pó. O pequeno corpo de Alex estava coberto de manchas arroxeadas e esverdeadas e o garoto estava inconsciente havia mais de um mês. Vê-lo naquele estado deixou os quatro homens aborrecidos, mas o que os deixou aliviados foi ver o carinho que Santeri e Sofia dispensavam ao menino. Enquanto o quarteto observava o garoto, pela janela do quarto que dava para o corredor, viram o casal beijando, afagando e conversando com o menino.

— É, pessoal, tomamos a decisão correta. Essa cena valeu todo o trabalho.— disse Jacobson.

— Concordo.— emendou Wang.— Um peso enorme saiu das minhas costas.

— Só espero que eles não sofram quando o menino voltar pra Rússia.— disse Carlson.

— Algo me diz que isso não vai acontecer.— disse Harrell.

— Como assim?— perguntou Jacobson.

— A Rússia fez vista grossa para a dizimação de uma cidade inteira, Rich. Duvido que liguem para um garotinho de dois anos extremamente doente.

— Verdade.— consentiu Jacobson.

Nesse momento, Pierre, que estava no quarto, confere os sinais vitais de Alexander. Embora estejam estáveis, o médico não fica muito satisfeito. O menino ainda estava muito debilitado e provavelmente ficaria meses no hospital.

¨¨¨¨¨

Carlson recordava-se dessa cena quando um bipe o tirou de seu devaneio. Era a mensagem de Harrell pedindo que ele fosse até a sala de Jacobson. Caminhou lentamente pelos corredores até o local. Entrou pouco tempo após Harrell dizer a Wang que era ele quem aguardavam.

— Me chamou, Harrell?— perguntou Carlson tentando disfarçar o ar preocupado.

— Sim.— disse o secretário geral da instituição.— Temos uma proposta para fazer para você e para o Wang.

— Bom, e que proposta seria essa?— perguntou Carlson.

— Queremos que vocês dois unam suas equipes e trabalhem juntos. Os casos estão interligados... Bem, o que tem a dizer?— propôs Jacobson.

Carlson e Wang se entreolharam e, óbvio, concordaram com a proposta da chefia. Uniriam seus agentes. A sala de Carlson, como era maior, foi a escolhida para abrigar o time reforçado que Jacobson e Harrell criaram.

A ideia do reforço foi bem aceita pelos agentes de ambos os setores e logo Brian e Jonathan estavam enturmados com Santeri, Renato, Sofia, Dario, Nikolas e Jean.

Enquanto isso, Jacobson entrou em contato com a CIA, contou a história dos agentes e recebeu a animada resposta da união de forças. A CIA enviaria a Lyon os dois agentes que estavam na China. Três dias depois, Matthew Owen Baker e Gillian Mary Finnes desembarcaram em Lyon, sendo recepcionados no aeroporto por Bradley Lee Harrell, que os levou para a sede da Interpol e, por fim, à sala de Carlson.

— Com licença, eles chegaram.— disse Harrell entrando na sala com os dois agentes emprestados pela CIA o acompanhando.

— Eles quem?— perguntou Jean.

— Os agentes que a CIA nos emprestou. Gostaria de apresentá-los. Matthew Owen Baker e Gillian Mary Finnes. Espero que essa interação seja proveitosa. Bem, já vou. Mas posso voltar qualquer hora dessas.— disse Harrell saindo da sala.

Os agentes se apresentaram após a saída de Harrell e ficou claro que Gillian se interessara por Nikolas. O sarcástico alemão tinha crédito para tal, entretanto. De estatura mediana, cabelos castanhos claros, um belo par de vivos olhos azuis e traços no rosto que beiravam a perfeição. Era um homem bonito e nem mesmo outros homens discordariam. Nikolas ganharia fácil um “concurso” de agente mais bonito da Interpol. E, segundo Sofia, que pensava nisso ao ver “faíscas” entre o alemão e a americana, a concorrência não ficava para trás. Jean, Renato, Dario, Brian, Jonathan, Matthew (rapidamente incluído) e Santeri também eram bonitões. Mas Nikolas ganhava, inclusive na opinião de Sofia. Os grandes atrativos do marido da italiana, para a própria eram sua inteligência e sua autoconfiança. A beleza do finlandês não fora o principal ingrediente que fizera Sofia se apaixonar por ele, três anos antes, muito embora estivesse no pacote também.

Naquele dia, após o expediente, Gillian pediu para Nikolas mostrar-lhe Lyon.

— Ouvi falar que Lyon é uma cidade linda. Quer me mostrar?— perguntou Gillian para o alemão.

— Ah, claro, imagina se não...— disse Nikolas, fisgado. Matthew, apaixonado por Gillian há anos, ficou profundamente chateado com o que via, embora soubesse que, pela política da CIA, ele e Gillian não poderiam nunca se relacionar. Mas não era só Matthew que sofria em silêncio; Brian, que também era apaixonado pela americana se segurava para não mostrar seus sentimentos.

“Ela é bem atiradinha” pensou Sofia observando aquela atitude... Embora tivesse se apaixonado quase que instantaneamente por Santeri, nada fizera. A iniciativa total fora do finlandês. Mas, desejava que Gillian e Nikolas fossem felizes juntos, se essa história entre os dois fosse à diante.

¨¨¨¨¨

Depois disso, Sofia foi para o hospital passar um tempo com Alex. Já havia alguns dias que estava sentindo cansada demais e inchada. Mas disfarçava bem a canseira e o inchaço, mas nesse dia não deu muito certo. Comentava justamente isso com Alex, dizendo que nem assim o abandonaria. Pierre ouviu a conversa, mas não comentou nada naquele dia, mas três dias depois, notou que Sofia estava, de fato, com uma aparência de cansada. Perguntou-lhe sutilmente:

— Sofia, você tem se sentido bem nesses últimos dias? Você me parece bastante cansada...

— Pra ser sincera com você, Pierre, não. Estou morta de cansaço, com dor nas costas e também estou um pouco inchada. Deve ser excesso de trabalho.

— Pode ser, mas, Sofia...— começou Pierre fazendo outra pergunta para a italiana. Já tinha esse tipo de liberdade, após a resposta de Sofia.— Sofia, tenho setenta por cento de certeza de que você não está com estafa e sim, grávida. Mas faça um exame pra confirmar. Os sintomas que você me descreveu são bem compatíveis.

— Você acha, Pierre?— perguntou Sofia, animada.

— Sim.— respondeu o médico.

Logo em seguida, François Bouvier entrou no quarto, Pierre revirou os olhos e a animação a respeito da suspeita do pediatra sumiu da fisionomia de Sofia.

— Por quanto tempo esse negócio vai ficar aqui no hospital?— perguntou apontando com desprezo para Alex. Sofia sentiu o estômago queimar.

— Que negócio? Essa máquina? Até quando o Doutor Henry Gauthier achar necessário monitorar a atividade cerebral do meu paciente.— disse Pierre fazendo-se de desentendido e referindo-se ao neurologista que o auxiliara.

— Deixe de ser cínico, Lefebvre! Falo dessa... Dessa... Dessa criança!

— Ah, o Alexander? Até ele se recuperar totalmente, queira o senhor ou não. Ele tem tanto direito quanto qualquer outra pessoa.— respondeu Pierre sério.

— Isso não me interessa. Quero vê-lo longe do meu hospital.— disse François emburrado, como sempre.

— Você não é dono desse hospital, só o dirige, Doutor Bouvier.

— Não me interessa quero ver esse... Menino fora daqui logo.— encerrou François saindo do quarto.

— Calma. O “Doutor House” é assim mesmo, me desculpe pelo ocorrido. Desde quando soubemos que ele viria para cá ele começou a criar caso.— disse Pierre.

— Tudo bem.— disse Sofia.— Sei que você está cuidando bem do meu filhotinho.— terminou a italiana acariciando o rostinho de Alexander. Pierre notou uma ligeira alteração nos sinais vitais do garoto.

Logo em seguida, Santeri entrou no quarto.

— Oi querida.— disse beijando a mulher.— Oi filhão! Sentiu saudade do papai?— disse, agora, voltando-se para Alexander.

Novamente Pierre notou uma alteração nos sinais vitais de Alex. Dessa vez, comentou com o casal:

— Ele sente a presença de vocês. Sempre que vocês o tocam ou falam com ele os sinais vitais dele se alteram um pouco.

— Verdade?— perguntou Santeri.— Mas... O que isso significa?

— É verdade sim. Isso significa que o rapazinho está melhorando. Aliás, Santeri, e a análise do pó? Já conseguiram alguma coisa?

— Que nada. Ainda estamos na estaca zero.

— É. Thierry me disse que essa análise tem sido difícil. Agora, com licença, preciso ver outros pacientes. Ah, se o “doutor House” aparecer aqui, ignorem-no, por favor. Ele gosta de aborrecer os outros.

O casal ficou ainda por algumas horas com Alexander. A perspectiva de melhora do menino deixou Sofia tão animada que ela se esqueceu de comentar a suspeita de Pierre com Santeri, mas lembrou-se disso pouco depois, ao ligar para seu médico. Decidiu que Santeri só saberia daquilo se fosse confirmada. Sofia estava cansada de ver seu marido frustrado com falsas suspeitas de gravidez. Mesmo desta vez sendo um médico quem suspeitou. Dois dias depois, na consulta, o médico lhe pediu um exame de sangue para que ela confirmasse a suspeita. Mais três dias e saiu o resultado. Sofia retornou ao consultório.

— Meus parabéns, Rossini. Você está grávida dessa vez.— disse-lhe o médico ao ler o resultado, sabendo das várias vezes em que a italiana suspeitou estar grávida, mas que não passaram de alarme falso.

Extremamente feliz com a notícia, Sofia dirige-se para a Interpol. Lá estava a primeira pessoa que deveria saber da notícia. Entretanto, antes, ela teria que contar a novidade para Carlson. Um pouco chateada, pois queria contar primeiro para Santeri. Sofia entrou no prédio e dirigiu-se à sala do americano. Ao passar pela sala onde seus colegas trabalhavam, nem foi notada, de tão concentrados no caso que eles estavam, inclusive Santeri.

Deu três batidas na porta.

— Entre.— disse Carlson.— Sofia, o que houve?— perguntou preocupado. Pensou que algo acontecera com Alexander, preocupação essa que de evaporou ao ver o sorriso de Sofia.— São boas novas, acertei?

— Sim, Carlson, ótimas. Estou grávida.

— Ora, mas que maravilha!— empolgou-se Carlson levantando-se e abraçando a italiana. Sabia o quanto ela e Santeri queriam aquilo. E também, agora, se Alexander fosse embora pra Rússia, o casal não sofreria tanto.— O papai já está sabendo?

— Ainda não. Não consegui falar com ele. E essa notícia, queria dar pessoalmente.

— Então ele vai saber agora.— disse Carlson convocando Santeri para se apresentar em sua sala. Logo depois o finlandês entrou lá e estranhou ver sua mulher no local.

— Sofia? Carlson, o que quer comigo?

— Sofia tem algo a lhe contar.— disse Carlson com um misterioso e satisfeito sorriso no rosto. Retirou-se da sala para deixar o casal sozinho. Foi até a sala dos agentes e ficou fazendo perguntas sobre o caso, para fazer hora. Matthew e Jonathan eram os mais participativos. Nikolas, às vezes fazia uma ou outra tirada engraçada e Gillian apenas o olhava, totalmente seduzida pela beleza ímpar do alemão.

¨¨¨¨¨

Na sala de Carlson, enquanto isso.

— Bem, Sofia, o que você tem pra me contar? Aconteceu algo com o Alex?— perguntou Santeri, preocupado.

— Não querido, o Alex está ótimo. É outra coisa.

— O quê?

— Finalmente, nós conseguimos, San.— disse Sofia pegando a mão de Santeri e colocando-a sobre sua barriga.— Estou grávida.

Os olhos do finlandês brilharam. Ele simplesmente abraçou Sofia. E assim ficou por vários minutos. Sofia percebeu que seu marido estava chorando e beijou-lhe o pescoço. Depois Santeri beijou a italiana e disse-lhe:

— Te amo, Sofia. Essa foi a melhor notícia que recebi nos últimos meses.

— Eu sei. Pra mim também.

O casal se beijou de novo. Até que Santeri lembrou-se de um detalhe:

— So, será que sua gravidez não vai atrapalhar a guarda do Alex?

— Não sei, espero que não. Já me animei com a ideia de ter os dois.

— É verdade. Nós queríamos três filhos, não?

— É. Dois meninos e uma menininha. Um menino nós já temos, resta saber se esse aqui também é menino ou não.

— Não sei, mas tanto faz. Vamos ver essa história da guarda com o Carlson.

— Verdade. Ele deve saber.

Santeri e Sofia voltaram a se beijar. Ainda se beijavam quando Carlson entrou de novo na sala. Pigarreou.

— E então, como foi?— perguntou com um tom um tanto brincalhão na voz.

— Nem brinca, Carlson. Foi a melhor notícia que recebi nesse ano.— disse Santeri.— Ah, Carlson, a gravidez da So vai atrapalhar a guarda do Alex?

— Não, creio que não. Mas, vamos falar com o Jacobson, ele que conhece o acordo que fizeram. Vamos lá.— disse Carlson saindo da sala dessa vez com destino definido, a sala do presidente da Interpol, Richard David Jacobson.

Na sala de Jacobson...

— Olá Carlson! O que querem?— cumprimentou Jacobson. Harrell não estava lá àquela hora.

— Falar uma coisa com você.— disse Carlson.

— Sim, o quê?— perguntou Jacobson achando a resposta de Carlson um tanto óbvia.

— Bem, os agentes que têm a guarda de Alexander, como o senhor sabe, são casados entre si e... A agente Sofia Rossini Korhonen está grávida. Isso pode atrapalhar o processo de guarda?

— Ah, não, não atrapalha não... A não ser que, com isso, ambos não tenham mais interesse no menino... É esse o problema?— perguntou Jacobson preocupado. Encontrar outro guardião para Alexander seria uma tarefa praticamente impossível. Pobre Harrell, quem se incumbiria do trabalho.

— Não. Pretendemos continuar com ele. Milhares de pessoas conseguem criar dois filhos... Conosco não seria diferente.— disse Santeri, sem notar que Jacobson estava um pouco chateado.

— Que ótimo! Bom, o que vocês devem fazer é falar com o serviço social. Nós só trouxemos o menino pra cá. E, parabéns pela gravidez.— terminou Jacobson aliviado.

— Obrigada.— disse Sofia.

Carlson e seu casal de agentes saíram da sala deixando Jacobson com um aliviado sorriso no rosto. Normalmente num caso desses, o casal desistiria da guarda da criança para ficar só com o filho biológico. Mas não dessa vez. Alexander continuaria a ter quem zelasse por ele. Outra coisa que preocupava o inglês era a recusa do governo russo em receber o menino de volta. A nacionalidade dele não fora reconhecida. Alexander já estava na França havia três semanas. Se em dois meses a Rússia ainda insistisse no não reconhecimento, Alexander ficaria em um abrigo até ser adotado por um francês, ou por seus guardiões, o que parecia mais cabível no momento. Santeri e Sofia já o tratavam como filho.

Algum tempo depois, Harrell voltou. Estivera resolvendo uns problemas particulares.

— E aí, Rich, aconteceu algo diferente enquanto estiva fora?— perguntou o secretário.

— Mais ou menos. O casal que está com a guarda e Alexander, Santeri e Sofia, esteve aqui. Ela está grávida, mas vão continuar com o menino.

— Boa notícia. Normalmente eles desistiriam do garoto.

— Foi o que eu pensei, Brad, mas ambos tomaram a decisão de ficar, ou melhor, criar os dois. Acho que nem para um abrigo Alexander precisará ir. Ah, acabei de receber um comunicado de Paris dizendo que os russos se negaram a reconhecer Alexander. E algo me diz e nossos agentes estão interessados no menino.

— Olha, Rich, se os russos acharem que o menino terá sequelas do envenenamento, como uma lesão neurológica, dificilmente o aceitarão de volta. Já os agentes, espero que o aceitem, mesmo deficiente.

— Acha que os russos vão rejeitá-lo por ele ser deficiente, Brad?— Jacobson pensava que seu colega delirava.

— Acho que deveríamos passar essa informação pra Rússia, Rich. Algo me diz que esse garoto só ficará bem com os agentes de Carlson. Vou ligar para o hospital e falar com o pediatra dele.— decidiu Harrell.

— Ok, você é quem sabe, Brad.— Jacobson “lavava as mãos”.

¨¨¨¨¨

Nisso Harrell pegou o telefone e ligou para o hospital universitário de Lyon. Após falar com uma funcionária, era Pierre Lefebvre quem estava na linha.

— Pierre Lefebvre, pediatra, com quem falo?

— Olá, Pierre, sou Bradley Harrell, Secretário Geral da Interpol, é você quem está cuidando de Alexander?

— Correto, Harrell, sou eu.

— Poderia me esclarecer uma coisa? O garoto pode ter alguma seqüela desse envenenamento?

— Bem, Harrell.— começou Pierre hesitante. Sabia a Interpol tinha responsabilidade sobre o menino, mas não sabia se poderia falar para o secretário geral da instituição sobre as condições de saúde dele. Ainda mais por telefone.— Olha, não quero falar sobre isso por telefone, o senhor poderia vir aqui ao hospital?

— Entendo. Estarei aí em meia hora.— disse Harrell saindo.— Vou ao hospital falar com Pierre Lefebvre pessoalmente.

— Está bem.— disse Jacobson, neutro.

Dentro da prometida meia hora, Harrell se viu na recepção do hospital. Pierre o esperava.

— Doutor Lefebvre? Sou Bradley Lee Harrell, o secretário geral da Interpol com quem você conversou ao telefone.

— Ah, sim! Prazer. Vamos para minha sala.— decidiu o médico virando-se e entrando em um corredor, logo depois em uma sala. O fundo de tela do computador chamou a atenção do secretário. Era uma foto da banda americana de heavy metal Avenged Sevenfold. “Um médico roqueiro. Bacana.” Pensou Harrell.— Bem, o que quer saber sobre Alexander?— terminou Pierre sentando-se e mostrando uma cadeira para Harrell.

— Alexander corre riscos de ter sequelas neurológicas ou de qualquer outra espécie como consequência desse envenenamento?— perguntou Harrell sentando-se na careira indicada por Pierre.

— Harrell, ainda está cedo pra dizer isso. Ele está muito frágil sim, mas não posso afirmar que ele terá sequelas futuras. Isso só será possível de ver após ele recobrar a consciência.

— Quanto tempo temos até lá?

— Não sei, Harrell, pode ser amanhã ou daqui vários meses... Só posso lhe dizer que estamos fazendo de tudo por ele.

— Ok. Última pergunta. Ele corre risco de morte?

— Todos corremos risco de morte, Harrell, mas acho que o senhor quer saber se essa toxina que ele ingeriu irá matá-lo? Acredito que não. As outras crianças vítimas tiveram morte instantânea. Esse risco, eu acho que não existe não.

— Voltando à possibilidade de lesões o que mais você poderia me dizer?

— Bom, tudo está incerto ainda, só quando ele recobrar a consciência poderemos ver a gravidade, profundidade e extensão dessas lesões, se existirem, pode ser que ele esteja perfeitamente sadio.

— Certo, muito obrigado, doutor Lefebvre.— disse Harrell, aliviado com o que ouvira.

— Pierre, por favor. Não gosto dessa frescura de doutor Lefebvre.

— OK, como queira, Pierre, muito obrigado pelos esclarecimentos. Até a próxima e continue cuidando dele.

— Claro. Pode ficar tranquilo.

¨¨¨¨¨

Harrell voltou para a Interpol encontrando na recepção do hospital Santeri e Sofia, que acabam de voltar de um encontro com a assistente social, para a qual haviam confirmado a vontade de ficar com Alex. Tal como Carlson havia suposto e Jacobson afirmado, a assistente disse ao casal que a gravidez não influenciaria no processo. A guarda continuaria com eles.

— Se gravidez fizesse alguém perder a guarda de filhos, ninguém poderia ter um segundo bebê.— disse a mulher.

— Tem razão.— disse Sofia.

— Olá meus caros!— disse Harrell ao reconhecê-los.

— Bom dia, Harrell!— cumprimentou Santeri.

— Ah, já estou sabendo da novidade, meus parabéns!— felicitou-os o secretário.

— Obrigada.— agradeceu Sofia. Nem ela nem Santeri escondiam a felicidade da descoberta.

— Vocês merecem.— disse Harrell.— Bem, vou embora, preciso voltar pra Interpol. Encontro vocês lá.

— Certo. Até mais.— disse Santeri acenando para Bradley.

Depois disso, o casal apressou-se pelos corredores do hospital até o quarto de Alex. Queriam contar a notícia ao menino. Ele era examinado por Pierre quando chegaram. Ao vê-los, o médico murmurou no ouvido do garoto:

— Alex, o papai e a mamãe chegaram.— afagou de leve a cabeça dele, para não deslocar os eletrodos, e olhou para os monitores. Alex reagira à notícia de que seus pais estavam chegando.— E aí, tudo bem?

— Tudo ótimo.— disse Santeri sorrindo.

— Suas suspeitas estavam certas, Pierre.— disse Sofia.

— Mesmo! Poxa, meus parabéns!— disse o médico, feliz.

— Já sabia?— Santeri estava intrigado.

— Suspeitei há alguns dias.— explicou Pierre.

— Ok, deixem-me falar com o Alex, agora.— disse Sofia aproximando-se do leito do menino. Beijou-o e afagou-o. Pierre cutucou Santeri para mostrar-lhe as alterações nos monitores.— Querido, você vai ganhar um irmãozinho. A mamãe está grávida. Te amo, meu principezinho.— disse Sofia com a voz falhando. Enquanto isso, Pierre percebendo que Santeri começara a chorar pôs amistosamente a mão no ombro de seu amigo. Santeri abraçou a mulher e depois, voltou-se para Alex:

— Oi meu filho, a mamãe já te contou do seu irmãozinho, tudo o que o papai tem pra te dizer é que te amo muito, ok?— o finlandês, por mais durão que fosse, chorava naquele momento, como chorara no dia que conheceu Alex, quando Sofia contara-lhe que estava grávida e, também, no dia do seu casamento. Acariciava o rosto do menino sem dizer nada. Beijou seu filho.— Papai te ama, Júnior.

— Júnior?— Pierre perguntou com cara de interrogação.

— Santeri é versão reduzida de Aleksanteri, que é Alexander em finlandês.— explicou o próprio Santeri.

— Ah, que interessante! Vocês são quase xarás!— disse Pierre.— Coincidência!

— Pois é.— disse Santeri.

— Ok. Mudando de assunto, os sinais vitais dele se alteram sempre que vocês interagem com ele.— disse Pierre.

— Acredita que isso seja um bom sinal?

— Sim. Isso é sinal de que o cérebro dele está reagindo a estímulos externos. O que diminui a possibilidade de uma lesão séria.

— Que maravilha!— comemorou Sofia beijando a bochecha do menino.

¨¨¨¨¨

Já no laboratório, Thierry analisava o pó chinês, angustiado por não conseguir nada. “O que o compõe? Já testei inúmeras substâncias e até agora nada. Será que...” pensava Thierry. De fato, ele já havia testado um sem-número de possibilidades e só havia obtido resultados negativos até que se lembrou de um detalhe: só havia testado substâncias sujas sequelas da ingestão por seres humanos já havia sido observada. “E se o veneno em questão for algo nunca testado antes em seres humanos?” pensou, alarmado, o irmão de Pierre. Voltou a consultar o grosso livro de química, agora procurando por qualquer coisa suspeita. Já examinava o pó havia semanas sem sucesso. Talvez essa fosse a saída. Porém, antes de começar os testes, queria falar com Santeri. E este chegou perto do meio-dia ao laboratório.

— Oi, Thierry, desculpe a demora.— disse ostentando um sorriso bem maior que o habitual.

— Está animado hoje, Santeri! Posso saber o motivo?— perguntou Thierry.

— Claro que pode. Minha mulher está grávida! Depois de mais de três anos de tentativas, conseguimos!

— Uau! Meus parabéns!— felicitou o chefe do laboratório.

— Obrigado. Essa foi a melhor notícia desse ano!

— Posso imaginar. Agora, Santeri, voltando à análise, percebi uma coisa... Nós só testamos substâncias que, pelo menos uma vez na história, já foi usada em seres humanos, em testes... E se esse pó tem algo nunca testado em laboratórios sérios antes?

— Uma substância nova! É mesmo, cara! E nós dando cabeçada aqui! Putz, mas agora reabriu o leque de opções e muito maior que antes.— disse Santeri.

— Eu sei. Mas é nossa única saída. Já testei praticamente tudo que conhecemos e nada de resultado. Já estou ficando irritado!

— Eu também.— disse Santeri passando a pesquisar possíveis componentes desse pó com Thierry.

¨¨¨¨¨

Pouco tempo depois, Santeri foi à Interpol, deixando Thierry sozinho com o trabalho. Antes, buscou Sofia no hospital, era hora de contar aos colegas sobre a gravidez da italiana. Todos sabiam da vontade do casal de ter filhos. Entraram no prédio e foram para a sala onde trabalhavam.

— Olha só quem apareceu! Esqueceram o caminho do trabalho?— brincou Nikolas. Santeri e Sofia estavam praticamente sumidos nas últimas semanas.

— Muito engraçado, Nik.— disse Sofia.

— Está tudo em ordem com a investigação, Nikolas?— perguntou Santeri.

— Creio que sim. E... Que está havendo?— perguntou o alemão desconfiado da animação do casal.

— Temos uma coisa pra contar a vocês.— disse Santeri.

— Certo.— era Jean.— O quê?

O casal se entreolhou e Santeri decidiu que ele contaria.

— Bem, pessoal, a Sofia está grávida!

— Opa! Parabéns!— cumprimentou Renato abraçando a italiana e dando um tapa no ombro no finlandês.

Os colegas, Jean, Dario, Nikolas, Brian, Jonathan, Matthew repetiram os gestos do brasileiro.

— Vou pra casa com o braço latejando de tanto que vocês estão me batendo.

— Eu não vou fazer isso.— prometeu Gillian abraçando Sofia e Santeri. Nisso, ficou angustiada, desde que deixara Alexander no hospital em Kunming não tivera mais notícias do menino, enquanto todos conversavam com o casal, ela chamou Brian para perguntar-lhe sobre isso.

— Brian, tem notícias do Alexander? Lembrei-me dele agora.

— Fale com a Sofia e com o Santeri. Alexander está internado aqui em Lyon e os dois estão com a guarda dele.

— O Alexander está aqui em Lyon? Sério?

— Sério. Foi ideia do Harrell trazê-lo pra cá. Antes que a Meiying e o Li Zhou descobrissem que ele está vivo.

— Sei, mais tarde falo com a Sofia, então.— decidiu Gillian.— Mas... E se eles desistiram da guarda de Alexander agora, que ela está grávida?

— Ah, isso eu não sei.— disse Brian.

— Desculpe bancar o intrometido aí, mas eles não desistiram não. Santeri acabou de falar que vão ficar com os dois. E talvez tentem ter outro filho dentro de alguns anos...— disse Jonathan.

— Jura, Johnny? Graças a Deus! Alexander já sofreu demais pra passar por mais essa!— disse Gillian, aliviada. Já estava em Lyon há vários dias, mas não fora ver Alexander no hospital. Coisa que fez naquele dia, após o serviço.— Oi, lindinho! Lembra-se da “tia” Gillian?— disse para o menino acariciando de leve os finos cabelos loiros do menino. Pierre franziu o cenho ao ver que os sinais vitais de Alex se alteraram, mas era outra área do cérebro que “trabalhara” daquela vez. Segurou sua vontade de falar com o neurologista do garoto. Conversando com Santeri, soube que aquele “mulherão” era uma agente da CIA que estava na pedreira no dia que as crianças morreram.

— Mas pode ir tirando seu cavalinho da chuva. Ela namora o Nikolas, um colega meu da Interpol.— disse Santeri ao médico que não conseguia desviar o olhar da americana.

— Tudo bem.— riu Pierre.

Despediram-se e Gillian foi para o apartamento onde morava alugado pela Interpol. Mas desejava ir morar com Nikolas, que vivia em outro apartamento num prédio a três quarteirões distante do seu.

¨¨¨¨¨

Algum tempo depois, foi a vez de Sofia e Santeri deixarem o hospital. Despediram-se de Alex, dizendo que logo estariam de volta e foram para a casa. Lá...

— Então, querida, como vamos comemorar a notícia?— perguntou Santeri.

— Sei lá...— disse Sofia.— Ah, amanhã tenho exame de ultrassom. Vai querer acompanhar?

— Claro. Perdi o anúncio da notícia, acha que vou perder qualquer outra coisa relacionada com meu filho caçula? Aliás, por que você escondeu de mim que suspeitava da gravidez e que o Pierre também suspeitava disso?

— Não queria que você se frustrasse se fosse outro alarme falso.

— E você ia se frustrar sozinha? Somos casados. Por favor, não esconda mais nada de mim.— apesar de parecer uma bronca, Santeri disse tais palavras com suavidade na voz. Sofia o beijou.

— Desculpe. Isso não vai acontecer de novo.

— Está desculpada.— encerrou Santeri beijando a mulher.

— E, vamos ligar para seus pais, para contar a notícia?

Santeri olhou no relógio e fez as contas. Já passava da meia noite na Finlândia.

— Agora não, eles já devem estar dormindo. Amanhã cedo eu ligo. O Heikki vai me encher o saco se eu ligar de madrugada. Conheço meu irmão.— decidiu Santeri. Heikki, irmão de Santeri, faria inúmeras piadas com a ligação de madrugada.

No dia seguinte, foram fazer o exame. Sofia estava com seis semanas de gravidez. E tudo parecia bem com o futuro filho do casal. A única coisa que o médico disse a Sofia foi que ela não poderia carregar peso durante a gestação. Mas, antes disso, logo que acordaram, Santeri ligou para a casa de seus pais, em Helsinque.

¨¨¨¨¨

Enquanto isso, em uma casa da capital finlandesa, um casal e dois de seus três filhos tomavam o café da manhã. O pai olhava para a mesa, sentindo falta do filho mais velho.

— Que cara é essa, pai?— perguntou o mais novo.

— Nada demais, meu filho, só queria que seu outro irmão estivesse aqui.— respondeu-lhe seu pai.

— Ah, pai.— era o outro filho do casal. O do meio, o mais velho morava fora do país.— Ele está trabalhando onde ele sempre sonhou desde adolescente. Se bem que faz tempo que ele não dá as caras por aqui.

O papo continuou assim até que o telefone tocou.

— Eu atendo.— ofereceu-se o segundo filho do casal.— Alô? Ê mano, há quanto tempo! Quando você vem pra cá, babaca?— perguntou. Eles se tratavam daquele jeito como brincadeira.— Mamãe? Certo, um minuto. Dona Paula, é seu filho mais velho. Falando no santo...

— Falando no Santeri, Heikki, isso sim.— debochou Kimi, o caçula.

— Essa foi horrível, Kimi!— disse Heikki fazendo cara de desesperado e cravando as unhas na cabeça.— Pai, vamos internar o Kimi.

Markos, o pai deles, riu. Divertia-se muito com as piadas que seus três filhos faziam.

— Fala meu filho. O que aconteceu?— perguntou Paula pedindo pra os dois filhos mais novos maneirarem.— Sentada, eu? Não! Por quê?

— Então se sente, mãe.— pediu Santeri na linha.

— Tudo bem.— consentiu Paula sentando-se.— O que aconteceu? Jura? Meu filho, que maravilha! A melhor notícia do ano! Claro, parabéns e obrigada pela novidade meu filho. Dê um beijo na Sofia e no Alex por nós. Tchau!— Paula desligou o telefone.

— E aí, mãe, o que o Santeri te contou?— perguntou Kimi.

— Uma excelente notícia...— disse Paula sem revelar a notícia.

— Mãe, a senhora não é a Agatha Christie, por favor, pare com esse suspense!— pediu Heikki, fazendo seu pai, sua mãe e irmão terem um acesso de riso.

— Ok, eu conto. A Sofia está grávida.— ainda rindo da piada de Heikki

— Que maravilha!— disse Markos.

— Maninho, vamos ser titios!— disse Kimi, empolgado.

— Verdade, cara!— era Heikki abraçando o irmão.— Um minuto, Kimi, nós já somos. Tem aquele menino que eles estão cuidando. Ele é nosso sobrinho também!

— Verdade. Esqueci-me desse detalhe.— disse Kimi.

— O Alex...— disse Paula.— Tios desnaturados! Nem sabem o nome do sobrinho!— debochou.

— Assim a senhora me deixa sem-graça, mãe.— disse Heikki.

— Agora fiquei sem-jeito.— disse Kimi.

— A casa vai cair! Heikki sem-graça e Kimi sem-jeito? É o fim dos tempos!— gracejou Markos eufórico com a notícia de que seria avô mais uma vez.

— Pai...— disse Heikki

— Que foi?

— Que foi o que?

— Pra que você me chamou?

— Não precisa fazer esse drama dos infernos por causa disso.

— Não pude perder a piada...— gracejou Markos.

— Ai, meu Deus...— disse Heikki.— Opa, tenho que acelerar se não chego atrasado ao trampo.— explicou terminando apressadamente seu café. Kimi foi no mesmo ritmo.

— Tenho que periciar cinco supostas pedras de crack no laboratório. Vida de toxicologista forense é fogo...

— Eu sei...— disse Heikki.— Quer uma carona?

— Opa, claro que aceito.

A dupla despediu-se dos pais e foram no carro de Heikki para o trabalho. Heikki deixou o irmão caçula no prédio da polícia onde o mesmo trabalhava e rumou para a empresa onde laborava um grande laboratório farmacêutico finlandês. Processava a ideia de que Santeri, seu irmão mais velho, teria um filho. Desde que o mesmo se casara ele só pensava nisso, Heikki chegou a suspeitar que houvesse algum problema, mas agora...