Fúria dos Deuses

Tem um centauro na minha sala


Fui para a escola e resolvi esperar minha professora de história para perguntar algumas coisas para ela. Sentei no pequeno sofá no corredor dos professores e abri um livro para esperar. Para variar, estava insuportávelmente quente. Eu adoro o calor. Me sentir suando enquanto cozinho em uma enorme panela de pressão chamada planeta Terra. Uma das portas se abriram e eu identifiquei ela como o banheiro feminino dos professores. Mas que saiu de dentro dele foi Chuck. Ele me lançou um meio sorriso se virando para dentro do banheiro e puxando a nossa professora de ciências. A Srta. Stevens não aparenta ter mais do que 25 anos. Tem os cabelos castanhos levemente ruivos e olhos negros profundos, e um corpo que deixaria qualquer uma com inveja. Ela estava levemente vermelha e descabelada, e com os botões da camisa fechados tortuosamente. Já Chuck estava intacto. Ela me olhou suplicante e eu apenas lancei um sorriso de pena. Decadência, algo que sobrava nessa escola. E aqui na Califórnia.

Me senti enjoada com a cena e me dirigi até a sala de aula. Coincidentemente, a primeira aula era Ciências. Sentei em uma carteira do meio. É claro, que como minha sorte está ótima, Chuck sentou exatamente do meu lado, tendo várias cadeiras livres ainda. Coloquei os fones de ouvido e abri o último livro que minha mãe havia lançado, ignorando a presença do Chuck ali.

A aula estava decorrendo normalmente e eu já estava sem meu fones. Chuck me encarava de vez em quando e eu apenas dei um sorriso lateral.

- Não precisava ter fugido ontem. O máximo que eu faria era te cortar em partes pequenas e ver o vento levar o que sobrou de você. - Eu falei em um tom que apenas ele conseguisse escutar. Os lábios dele se contorceram de um jeito engraçado.

- Desde quando eu tenho medo de você? Poderia te matar de olhos fechados e com uma espada desequilibrada. Em uma só mão. - Foi minha vez de rir sarcasticamente. Ninguém parecia estar prestando atenção na nossa conversa.

- Então por que teve que chamar seus amiguinhos para me bater? Foi tão fácil acabar com eles. - Sorri calmamente enquanto via que de repente todas as pessoas passaram a prestar atenção em nós.

- Porque não queria sujar minha mãos com uma vadia como você. - Toda a sala começou a gritar, tentando tirar uma da minha cara enquanto eu ainda sorria.

- Veja quem fala, o Sr. Eu-transei-com-a-professora-de-ciências-senhotira-Stevens-no-banheiro-dos-professores. - A sala toda se calou. Todos mantinham uma expressão abismada, menos eu e o Chuck. Nós sorriamos divertidamente. Olhei para a Srta. Stevens e ela parecia estar a beira de um colapso nervoso. Todos me olhavam com um misto de admiração e medo. July foi a primeira a se recompor e sorrir para mim.

- OS DOIS. PARA A DIREÇÃO. AGOOORA!

Bati os pés compulsivamente na frente da sala do diretor. Chuck estava sentado do outro lado do estreito corredor com normalidade. Parecia que já tinha estado ali várias vezes. A sala do da coordenação era um pequeno corredor. No fim dele, havia uma secretária que encaminhava os alunos. Haviam 4 salas: a coordenação, a sala de psicologia, a sala de reuniões (para conversas entre direção/pais, direção/professores, professores/pais...) e a temida direção. Não trocamos uma única palavra até nos chamarem para a sala do diretor. Ela era clara e arejada. As poltronas dos alunos ela de veludo, parecia confortável. O diretor era careca, um poucobaixo e gordinho. Parecia simpático, mas assustado. Tentava manter uma pose séria, mas sua mão tremia, e eu não entendia o porquê. Chuck sentou primeiro.

- Senhor Bass, você aqui. De novo. - Ele falou em um tom sério.

- É parece que sim. - Chuck sorriu. O diretor fez sinal para que eu me sentasse na poltrona ao lado do Chuck e quase sorri ao perceber que era tão confortável quanto eu imaginará.

- O que aconteceu? - O diretor perguntou enquanto se recostava desconfortavelmente na cadeira de couro preto.

- A Waldorf contou que eu transei com a Srta. Stevens.- ele falou com normalidade.

- Ah, isso é inaceitável Srta. Waldorf. - Minha face se contorceu em uma expressão de espanto e ódio.

- Espere, foi ele que transou com a professora. E ele me chamou de vadia. Isso não conta? - O diretor contorceu os dedos de uma forma nervosa e envergonhada.

- Eu falarei com os pais. Dos dois. - Ele piscou para o Chuck e eu percebi que ele não ligaria para a mãe dele. Empurrei minha cadeira bruscamente para trás e levantando.

- Você é um covarde. Não merece o posto que ocupa e não imagina no problema que acaba de se meter. Se tem medo da piranha da Sra. Bass, comece a temer minha mãe. Escritora que doou os livros para a biblioteca. Comece a temer meu pai, empresária internacional poderoso, mas principalmente comece a temer a mim: pois eu tenho o telefone da secretária de educação e o testemunho de vários alunos de favorecimento, nepotismo e corrupção. - Eu falei me virando para sair da sala.

- Espere Srta. Waldorf. Sente-se. - O diretor falou com um ar preocupado e reprimi um sorriso vitorioso. - Que tal nós... esquecermos essa história toda. Acho que foi tudo um grande mal entendido e não precisamos incomodar os pais de vocês com essas besteira. - Chuck brincava com uma caneta e sorriu. Assenti com a cabeça.

- Foi um prazer falar com você, Regys. - Chuck falou sem deixar a caneta e o diretor não falou nada enquanto saiamos da sala.

O resto da aula passou sem maiores problemas. Apenas July permaneceu do meu lado no recreio. As outras pessoas pareciam ter medo de se aproximar de mim. Serena não havia apareciado ainda, e July disse que no fim da aula de ontem ela disse que teria que ir falar com uma pessoa para ver se ele poderia me ajudar. A aula acabou e eu apanhei meus materiais indo para casa.

Cheguei um casa e encontrei um homem em cadeira de rodas na sala. Ela não parecia ter mais do que 50 anos e conversava animadamente com meus pais. Minha mãe sorria assim como meu pai. Parecia que o diretor não havia ligado afinal.

- Então essa é a pequena Blair. - Mordi a língua antes de dizer o que era pequeno quando recebi um olhar carinhoso da minha mãe.

- Vamos querida, se apresente para Quíron. - Minha mãe disse e eu praticamente desmaiei.

- Espere, você é Quíron, o grande preparador de Hércules, Aquiles, Aristeu... - Eu disse sentindo um leve orgulho por ter um centauro na minha sala.

- Parece que andou estudando a história grega. - Ele sorriu levemente e eu retribui o sorriso. - Bem, eu vou ter mais um nome na minha lista de preparações. Depois do seu pai e sua mãe, você é minha próxima aprendiz. - Maneei a cabeça um pouco confusa. Meu pai e minha mãe, aprendizes de Quíron. Eu vou ser a próxima aprendiz de Quíron.

- Ah. - Foi a unica coisa que eu consegui dizer.

- Você deveria me agradecer. Consegui uma vaga para você no Acampamento Meio- Sangue. - Minha mãe tinha um certo brilho nos olhos e meu pai parecia igualmente animado.

- Eu não sou uma meio-sangue. - Eu falei um pouco irônica. Desculpe, irônia é algo mais forte do que eu.

- Vocês humanos são tão presos a detalhes. Eu falei com o Sr. D. e o acampamento é dele. Digamos que ele odeia ser tachado de marionete do Olimpo, então concordou em te abrigar. Eu vou te treinar e você estará segura lá. Tirando o filho de Zeus, os, filhos de Ares, os filhos de Afrodite e os filhos de Hefestos, você não terá inimigos. - Meu sorriso e abriu um pouco mais. Poderia ser divertido. Espere...

- Filho de Zeus? - Eu perguntei rapidamente completando meus pensamentos.

- Ah, acho que você já o conhece. Serena me contou os últimos acontecimentos. - Ele olhou para meu pai e sorriu. - Você é tão abusada quanto seu pai. - foi a vez dele sorrir.

- E quando partimos? - Eu perguntei despreocupada.

- O que você acha de irmos no sábado? - Lembre que hoje é quarta-feira. Parecia bom.

- Não tem nenhum problema por mim. - Dei de ombros. - Hades não tem filhos? - Eu arqueei uma sobrancelha.

- Não. Pelo menos não que tenha chegado ao nosso conhecimento. Ele foi o único deus que cumpriu o pacto. Não terá essa problema. - Ele sorriu.

- Ele deve estar ocupado demais... ã... o que aquele inútil faz mesmo? Ele só fica sentado naquele trono de ossos o dia todo, correto? - O chão tremeu pai ria frenéticamente assim como eu. Minha mãe parecia irritada e Quíron mordia o lábio inferior.

- Por favor, tente não afundar a cidade até sábado. - Quíron disse se dirigindo a porta.

- Vou fazer o possível. Não tenho culpa se esses deuses não aguentam simples criticas construtivas. - E sarcásticas, mas resolvi guardar essa última parte para mim, por o terremoto de alguns segundos atrás já havia quebrado algumas porcelanas.

- E mais uma coisa, tente se manter longe do Bass. Ele é um bom garoto, mas é um pouco... difícil. Ele não hesitará te matar se tiver a oportunidade. - Tentei rir do bom garoto mas não consegui. Tentei ironizar mas as palavras não saiam. Ele poderia ter me matado. Duas vezes. E simplesmente não o fez. Por que?

Afastei os pensamentos e subi para meu quarto pulando de dois em dois degraus. Fechei a porta e me joguei sobre a cama. Espere, acho que essa coisa brilhante não estava aqui antes. Me aproximei da caixa. Ela tinha um brilho prateado e um cartão de prata, como o que eu encontrei na batalha contra os cachorrinhos. Tirei o cartão cuidadosamente e comecei a ler a talhação.

\"Acabo de ficar sabendo da sua ida para o acampamento. Parace que vamos passar o verão lá. Juntos. Pode ser divertido. Ah, um presente de boas vindas. Provavelmente não vai viver tempo suficiente para conseguir outra conta.

Chuck B.\"

Sorri despreocupadamente para o cartão e peguei a caixa, e percebi que ela era extremamente pequena. Ela deveria parecer maior pelo brilho. Puxei de dentro da caixa uma conta. Nela estavam gravados dos cachorros e um raio no meio deles. Um pequeno cordão de prata dava sustentação à ela.

- Mão, para que significam contas em colares no acampamento meio-sangue? - Eu falei entrando na cozinha.

- Você ganha uma depois de um ano no acampamento, por sobreviver. - Ela deu de ombros. - E ficam gravados nela o seu maior feito nesse tempo. - Ela olhou para o meu pescoço. - Onde consegui isso?

- Um raiozinho me deu. - Eu falei sarcática, sabendo que Chuck deveria estar ouvindo a conversa.