— Ralof, dá pra você me esperar? Por que está correndo? VOCÊ 'TÁ CORRENDO E FALANDO, isso não me ajuda a entender.

Tentou acompanhar os passos largos do homem, evitando pisar em cima de alguma pequena flor e ainda compreender tudo o que saia da boca dele. Pescou umas palavras: Stormcloaks, blablabla, ajuda, blablabla, dragões, blablabla, bundas geladas. Ok, talvez tivesse fingido ouvir a última parte, mas não ficaria surpresa caso Ralof o dissesse mesmo.

— Precisamos chegar em Riverwood antes de escurecer, garota. É melhor se apressar.

A boca retorceu-se em caretas enquanto imitava as palavras dele, mas obedeceu. Agora que estava fora de risco após horas e horas de estresse e correria seguida, começava a ficar mais assustada ainda. O que faria? Para onde iria? Teria que passar o resto dos seus dias vendendo carne de skeever defumada pelas ruas de uma cidade de Skyrim? Sentia um pequeno impulso em virar para o outro lado e fugir de Ralof, tentar a vida selvagem, mas não era corajosa o suficiente para isso. Em seu íntimo, torcia conseguir encontrar algum apoio dele, qualquer coisa que a ajudasse a iniciar a sua nova vida.

Ouviu o som característicos de lobos se aproximando do meio dos arbustos e ficou imóvel, a mão no ar pronta para agarrar o seu arco. Felizmente, o canino parecia estar sozinho: apenas rosnou, ameaçou avançar e saiu correndo para o outro lado. Suspirou aliviada, e continuou seguindo Ralof. Abriu a boca novamente apenas para questionar as três rochas dispostas ao lado de um rio.

— Que isso? Tá com desenhos. — Aproximou-se com passos vacilantes, com certo receio. Sentia uma atmosfera diferente no ar, quase como uma vibração. Ralof parecia sentir o mesmo, pois pode vê-lo ter um calafrio ao seu lado.

— Provavelmente algo que vai te matar. Vamos logo, a cidade está logo após aquela curva.

Leaaha ouviu o conselho? Ouviu. Acredito nele? Talvez. Seguiou-o? Claro que não! Antes mesmo de Ralof terminar sua frase ranzinza, a garota estava esticando a mão e encostando a ponta dos dedos na ilustração entalhada em uma das pedras, a que portava um belo guerreiro. Não esperava pelo o que aconteceu em seguida.

— Aaaaaaaaaaaaaaaaah SOCORRO! — Começou a abanar a mão enquanto seu corpo era envolvido por um brilho azulado. Virou-se para Ralof, esperando que ele ajudasse de alguma forma, mas o homem apenas deu uns passos para trás com a mesma carranca de sempre no rosto.

O brilho não incomodava ou doía, mas era... Estranho. Não estava acostumada a brilhar. Tentou tirar aquilo com as mãos, mas não era possível tocá-lo. Poucos segundos depois, um feixe de luz foi emitido da rocha, que agora brilhava assim como a garota. Levantou a cabeça e tentou acompanhar até onde o feixe ia, mas não pode ver o final.

— ... Wow. Isso foi atéeeee o céu? — Fitava o alto com olhos arregalados, deixando o nervosismo ir embora agora que não estava mais parecendo um vagalume. Quando a resposta não veio, virou-se para trás de novo, com receio de que Ralof tivesse fugido correndo.

— Suas... Suas feridas. — Utilizar a mão para apontar devia ser delicado demais para o nórdico, que fez um gesto bruto com a cabeça para indicar as pernas dela.

Foi só então que notou que não sentia mais dor. Na verdade, estava revigorada! O sorriso que abriu em seu rosto ia de lado a lado.

— Ha há, olha issoooooo! Uau. Aposto que consigo destruir um lince com meus DENTES! — Saltitou ao redor, fazendo gestos de luta no ar. — Eu me sinto FEROZ! SELVAGEM!

Golpeava seres imaginários a cada nova palavra. Na hora que pegou impulso para dar um chute alto, Ralof aproximou-se e segurou seu pé no ar. Foi pega de surpresa, e no segundo seguinte estava caída de costas no chão, observando as nuvens acima.

— Eu falei “vamos logo”. — O homem ainda segurava o pé de Leaaha no ar, e soltou-o no chão sem cerimônias ao final da frase.

A face carrancuda durou um bom tempo nela após isso. Ao menos ele teve delicadeza o suficiente para não fazê-la bater a cabeça em uma pedra e morrer com sangramento mortal.

— Sangramento mortal?

Só quando ouviu a voz sarcástica de Ralof percebeu que estava resmungando seus pensamentos em voz alta.

— É. O tipo de sangramento que mata. Não aqueles que seu dedo fica vermelhinho porque puxou pelinha, ooou quando vai limpar um pedaço de carne do dente que estava ali por váaaarios dias e machuca. Não, um sangramento grande, que mata mesmo, desses na cabeça.

Gastou toda essa saliva e tempo para fazer seu discurso e recebeu apenas uma coisa de Ralof: vácuo. Viu-o acelerar o ritmo da caminhada e disparar na frente, e por um segundo imaginou que tinha ultrapassado o limite da chatice e ele decidiu que não precisava aturá-la. Começou a segui-lo, aproveitando que não tinha mais machucados pelo corpo que a torturavam.

Uma vila! Inspirou profundamente com a visão e deu-se ao luxo de sorrir. Era adorável: cabanas que deviam ser quentinhas dentro, um rio com peixes pulando ao lado e duas grandes montanhas crescendo nas laterais. Perfeita. Podia até mesmo sentir o cheiro de faisão tostado. O que teria para acompanhar? Uma sopa de legumes? Sentiu o estômago revirar com a ideia, lembrando a cena com as cenouras que a traumatizou. Não, não legumes. Um ensopado de carne estava ótimo!

Ralof parou embaixo do portal que iniciava o vilarejo e virou-se para trás. Sorriu para Leaaha e chamou-a com um aceno da mão. Com o estômago revirando de fome, seguiu-o.