POV do Derek

–Com licença? -Falei, tentando me esconder o máximo que podia. Tinha acabado de me transformar em humano, depois de vários meses como um lobo selvagem. Tive que abandonar a alcateia.

–Sim, o que desej... Oh, meu Deus! -A inocente senhora a quem me dirigi olhava para mim -ou tentava não me olhar- com espanto. Imediatamente compreendi o motivo de sua tensão: eu estava nu. Usei apenas algumas folhagens para me cobrir. Torci para que não tivesse ninguém em sua casa. Por sorte, ela vivia em um local isolado -Seu pervertido, sem vergonha! -Ela pegou uma vassoura e tentou bater em mim, mas esquivei.

–Por favor, calma! -Gritei, procurando acalmar a velhinha -Não sou um pervertido, senhora! Me... perdi na floresta e preciso de ajuda. -Menti na primeira parte.

Ela me observava, no bom sentido, claro. Queria saber se eu falava mesmo a verdade ou era apenas mais um safado querendo assaltá-la ou coisa pior. Seu coração batia fortemente em seu peito e fiquei preocupado de levá-la a um ataque fulminante ou algo do tipo.

–Venha cá, filho. -Chamou carinhosamente, sorrindo -Sei muito bem do que precisa.

Entrei em sua casa, ainda usando algumas folhas para me cobrir. Não tinha ninguém por lá, como eu esperava. Katerina, como se chamava, me guiou até um dos quartos e apontou para um armário.

–Essa é a cômoda de meu filho. -Fez uma pausa, mostrando um sorriso meio triste -Giuseppe está em uma viagem de negócios. Tenho certeza que não irá se incomodar em dar umas peças de roupa para alguém com necessidades.

–Obrigado. -Fui para o banheiro e vesti as roupas. Eram muito confortáveis, ainda mais depois de não usar vestimentas por um bom tempo.

Antes de sair do banheiro, notei alguns desenhos e arabescos no assoalho. Alguns deles eram flechas cruzadas, atravessando uma letra "S".

–Deu certo, querido? -Perguntou, vendo-me já vestido.

–Ficaram ótimas. Ah, tenho uma uma pergunta.

–Fique à vontade em perguntar.

Olhei sem jeito para ela. Assim que entrei nessa casa, não tive um bom pressentimento, mas ignorei a sensação. Precisava de ajuda.

–O que aquele "S" gravado no assoalho significa? -Ela me olhou assustada. Acho que não esperava esse questionamento. Ignorei o clima pesado e apenas esperei a resposta.

–"S" é de Strausman, sobrenome de nossa família. Quer alguma coisa para comer? -Falou, mudando de assunto.

–Seria agradável...

Andava pelos diferentes cômodos, explorando cada objeto, apesar de ser inadequado. Esse lugar não me trás uma boa aura. Percebi que o símbolo do banheiro se destacava em cada lugar, principalmente em madeira. Cama, penteadeira, móveis e mais móveis.

Katerina me olhava com desgosto, era notável. Não entendia o que se passava ou o porquê de tanta desconfiança. Sei que sou um desconhecido, mas provei minha dignidade à senhora.

–Quer um bolinho? Panquecas? Bacon? -Sugeriu, colocando uma pilha de massas em minha frente.

–Só bacon, por favor. -Sorri. Normalmente não é o que faço, mas ser o estilo "Derek carrancudo" não serviria nessa situação. Poderia assustá-la.

–Então, senhor Hale. -Começou -Qual é sua história? -Fiquei encarando a humana. Ela colocara seus óculos arredondados para me olhar com mais clareza. Precisei criar uma história para encobrir a realidade.

–Eu estava acampando com meus amigos. -Pausei, tentando processar o relato na minha cabeça -Bebemos muito na noite anterior e acordei assim. Acho que eles zoaram comigo. -Forcei um riso.

–Que estranho. -Falou, adquirindo um tom falso.

–O q-quê? -Gaguejei contra minha vontade.

–Tem muitos lobos naquela floresta. Vocês estariam mortos a essa altura.

A velha me encarou por vários minutos. A situação começou a ficar constrangedora, até que lembrou da comida no fogão.

–Oh, como sou desastrada! -Riu -Quase ia me esquecendo do chá!

–Chá?

–Sim, querido. -Murmurou -Você não é alérgico a essas coisas, não é? -Brincou, batendo fracamente em minhas costas.

Deixei pra lá e encarei o estranho líquido que a mulher depositava em uma xícara que por coincidência -ou não- continha os mesmos símbolos que rondavam pela casa inteira.

–Prove. -Ordenou -Meu marido vive dizendo que o meu chá é especial. É uma das melhores coisas que existem no meu cardápio.

Segurei o pequeno material feito de porcelana e levei o conteúdo à minha boca. Beberiquei o líquido quente que decia na minha garganta, mas meu estômago relutava em aceitá-lo. Quase vomitei, mas não queria ser mal educado.

–Delicioso! -Tossi, fingindo uma mordomia.

–Verdade? Que bom. -Tocou em minha pele e notou que estava ficando frio -Vou pegar um suéter para você. Não saia daí.

Katerina saiu, deixando-me sozinho na cozinha. Meu corpo parecia querer me desobedecer. Tentava ficar com a cabeça erguida, mas sentia minhas pálpebras pesarem, como se pregos quisessem prendê-las na minha pele.

Suspirei. O sono estava vencendo. Meu redor estava escurecendo, mas antes de fazê-lo, vi a imagem de minha "salvadora".

–Oh, querido. Não vai se importar de ficar por aqui mais tempo, não é? -Deu um largo sorriso cínico -Não vai embora tão cedo, Derek Hale...

***
POV da Lydia

Depois dos momentos de tensão na procura de Darren, fomos descansar. Queria continuar a busca, mas John Stilinski e Parrish nos barraram. "Vão dormir um pouco. Precisam voltar para suas casas, crianças." Foi o que o xerife disse. Resolvi obedecer às duas ordens e fui para a casa de Allison que propôs uma noite das garotas, ou seja Malia, Allison, Kira e eu estávamos dormindo.

–Garota... -Ouvi uma voz desconhecida na minha cabeça, enquanto dormia. Como sou uma banshee, esse tipo de coisa normalmente acontece. Mas aí ouvi outra que sabia exatamente de quem era.

–Lydia? Você está aí? -A segunda voz era da Kira. Estranhei na hora. Se estamos dormindo, como podemos conversar mentalmente?

–Kira? Sou eu! -Gritei com a voz abafada. Depois de andar um pouco, acabei encontrando a kitsune -Onde estamos?

–Acho que estamos num sonho compartilhado... -Sugeriu, coçando a cabeça.

–Mas como??

–Não sei...

–Garota... -A voz emergiu novamente, dessa vez mais grave e mais irritante. Olhei para Kira. Ela também ouvira a mesma coisa, o que provou que estávamos mesmo compartilhando uma mesma realidade -que não era a nossa.

–Quem é você?! -Kira perguntou. Sua voz ecoava pelo local escuro e sombrio.

–Não se preocupem, meninas. -O ruído masculino se pronunciou novamente -Sou confiável. Como prova, vou me mostrar para vocês. -Por um instante, me esqueci completamente de que falávamos com uma sombra, já que não via seu rosto.

Uma luz apareceu magnificamente do "teto". A imagem que antes era só uma voz estridente apereceu diante de nós. Se tratava de um adolescente, talvez um pouco mais velho do que nós. Seu rosto estava distorcido, não fui capaz de ver seus olhos. Seu cabelo era branco, com um tom platinado. Vestia uma blusa verde e um colar com a imagem de uma cobra.

Fiquei assustada. Kira também.

–Onde estamos? -Perguntei novamente, mas dessa vez para o garoto.

–Estamos na minha mente. -Assim que falou isso, nossa realidade se alterou. O que anteriormente era negro, ganhou uma cor escarlate e sintilante. Vozes e mais vozes rondavam o lugar. Outras imagens se formaram, mas estavam mais embaçadas do que o rosto do menino.

Tinha, entre elas, uma figura alta, magra e corcunda. A outra era totalmente o oposto: era minúscula e toda enrolada com fitas velhas.

O terceiro e último vislumbre nos assustou mais ainda. Um homem mais volumoso e de terno escuro nos olhava. Usava botas amarelas e ridículas e tinha um pingente que se assemelhava a um relógio com o formato de coração.

Finalmente um sussurro foi gerado. Enquanto o menino se pronunciava, as vozes do lugar eram extintas.

–Irmãos! Se contenham! -O garoto de cabelos brancos começou -Nosso senhor quer falar!

–Só quero que mandem uma simples mensagem, minhas queridas. -A figura do pingente de coração se aproximou de nós e falou -Diga a Darren Shan que "Des Tino" o espera.