Após o jantar eles sentaram no sofá, apenas aproveitando as últimas horas da noite e ouvindo música. Chuck percebeu que gostava bastante das suas atuais músicas favoritas, mesmo sendo a “primeira” vez que as escutava. Sarah já estava sonolenta e ele se sentia levemente bêbado. Olhando por cima do ombro avistou a garrafa de vinho, quase vazia, em cima da mesa.
— Sarah, - ela olhou para ele – acho que já está na hora de irmos dormir.
Ela conferiu o relógio e assentiu. Durante o jantar Sarah demonstrou estar bastante animada, mas agora, caminhando pelo corredor, ele pôde observar o quanto ela estava cansada. Chuck sabia que havia muita preocupação e responsabilidade sobre ela agora, e como deveria ser difícil estar nessa situação. Enquanto deitava na cama ele lembrou-se de algo que o deixara em dúvida durante o dia.
— Sarah? Nós temos filhos?- ele perguntou de forma cautelosa.
— Não.- ela sentou na cama ao lado dele. Parecia despontada? Triste? Ela suspirou e continuou. –Na verdade, estávamos tentando antes de... – Sarah se interrompeu. Ele permaneceu calado. - ...do Quinn aparecer.
—Ah. – Ele respondeu. Sarah permaneceu sentada, com um olhar distraído e um sorriso triste no rosto. - Você está OK? Não lembro de muita coisa, mas se quiser conversar, sou todo ouvidos...
— Obrigada Chuck. Só estou um pouco cansada agora, talvez possamos conversar sobre isso em outra hora.
Sarah deitou e virou-se de costas, estava cansada de pisar em ovos o tempo inteiro; Por mais que dissesse para si mesma que não queria machucar o Chuck com esses assuntos, lá no fundo ela sabia que era para se proteger de pensar sobre isso, ou sobre qualquer coisa relacionada ao que poderia ter sido. Ela queria gritar de frustração.
— Tudo bem, boa noite Sarah. – Ele não queria pressionar ela sobre qualquer assunto e encolheu-se em seu lado da cama, observando a nuca com fios louros na sua frente. Ela respirava suavemente, pelo que os movimentos dos ombros deixavam perceber, mas ele sabia que ela ainda estava acordada. Após um tempo observando suas costas, Chuck finalmente adormeceu.
Acordaram às quatro da madrugada, com o despertador apitando. Sarah estava envolta pelos braços de Chuck, dava para sentir a sua respiração próximo à sua orelha, isso lhe causou arrepios. Os seus pés estavam sob os pés dele e, por mais que quisesse ficar o dia inteiro desta forma, ela sabia que deveria estar em Washington antes das 7:00h. Chuck resmungou quando o som do alarme tocou novamente.
— Bom dia. Uhh. Precisamos realmente ir? – Chuck resmungou. – Nem arrumei as malas...
— Nós sempre deixamos malas arrumadas, e não se preocupe, tenho certeza que lá será coisa rápida. – Ela tentou levantar, mas os braços de Chuck ainda estavam ao redor dela. – Chuck?
— Ah, sim, desculpe. Eu...
Ele soltou os braços, virando-se para levantar. Sarah sabia o quanto ele gostava de abraça-la, não que ela não quisesse isso no momento, mas eles realmente tinham que ir. – Não se desculpe, podemos conversar depois sobre isso e algumas outras coisas.
—Tudo bem. - “Realmente vamos ter que reservar um bom tempo para conversar” Chuck pensou, “Será que conversávamos muito antes? Ou sempre adiava os assuntos delicados?”. Enquanto Sarah se preparava no banheiro, ele caminhou para a cozinha para fazer o café.
A viagem foi tranquila, e conseguiram chegar antes do horário da reunião. Eles se alojaram em uma base da CIA, havia muitos corredores semelhantes, se estivesse sozinho Chuck teria se perdido facilmente. Todas as paredes eram cinzas, com o chão branco; as portas eram pretas, com pequenas janelas retangulares que permitiam observar o que ocorria dentro, mas Sarah caminhava rapidamente, então ele não sabia exatamente o que estava atrás daquelas portas. Algumas pessoas os cumprimentavam e ele apenas acenava para estranhos que não fazia a mínima ideia de quem fossem. Finalmente chegaram na sala; além deles haviam outras três pessoas: uma senhora baixinha, com aspecto austero, mas que sorriu brevemente ao avistá-los. Ao lado direito dela estava um homem moreno, com blusa social e permaneceu entretido no celular; em outra parte da mesa, afastada, encontrava-se uma mulher magra, levemente ruiva observando-os com diversão. Era como risse de algo e Chuck simplesmente não sabia o quê.
— Chuck! – a ruiva exclamou – Quanto tempo! Venha, sente-se aqui, do meu lado. –ela se debruçou sobre a mesa, evidenciando o decote da blusa.
Antes que Chuck pudesse fazer qualquer movimento, Sarah o segurou pelo braço e o conduziu até uma cadeira próxima ao rapaz. – Nem pense nisso Carina. – Sarah falou com a ruiva, com os olhos em chamas.
— Apenas quero me divertir um pouco... –ela fez beicinho. – Seria muito gentil da sua parte não ser tão egoísta e dividir o seu brinquedo. –Chuck começou a sentir o rosto queimando.
— Pode ter qualquer outro brinquedo, Carina, mas esse é meu. – Sarah piscou para ela e permaneceu segurando o braço dele de forma protetora.
— Senhoras, se controlem! – A senhora com ar severo falou e imediatamente todas param. – Obrigada. Senhor Bartowski, acredito que não me reconheça, permita-me me apresentar. Sou a brigadeiro-general Diane Beckman, este ao seu lado é o agente Ethan Frazier e, do outro lado, temos a agente da DEA, Carina Miller. Bem, estamos aqui para falar sobre a Carmichael Industries. Muitas partes já forma acertadas, mas gostaria de contratá-los de forma terceirizada para a realização de algumas missões excepcionais. Visto que a agente Wal...Bartowski, já tem familiaridade com o Intersect e, possivelmente algumas memórias retornarão com o tempo, gostaria que participassem do novo projeto Intersect. Ainda estamos ajustando os detalhes, mas gostaria de saber se posso contar com vocês.
— General, uh- Chuck pigarreou, todos estavam o observando, até Sarah parecia surpresa. – Não sei exatamente como poderia ser útil para a senhora, ou para a missão, a única coisa que sei sobre os meus últimos anos foram contados por outras pessoas, e sinceramente, duvido da veracidade de alguns fatos. Me sinto agradecido pelo convite, mas não sei quando as memórias voltarão, caso retornem, mas não quero ser um incômodo.
— Tenho certeza que a sua presença será sempre um prazer, Bartowski. - Carina sorriu amplamente. Ethan guardou o smartphone e sorriu. Sarah fuzilou Carina com os olhos.
—Não se preocupe, Charles. Serei o novo Intersect, soube que você é bom em programar e mexer em computadores, queremos reparar os danos do aplicativo e gostaria de receber algumas dicas sobre como utilizar ele da melhor forma. – ele parecia bastante amigável, mas olhou para Sarah de uma forma que deixou Chuck um pouco desconfortável.
— Exatamente isso, agente Frazier. Senhores Bartowski, poderão pensar por um tempo sobre isso. Por hoje é isso, estão liberados.
— Hey, Sarah. –Ethan chamou enquanto saiam da sala de reuniões - Podemos jantar juntos hoje, eu, você, Carina e Charles. Conheço um local onde servem uma ótima comida. O que acha?
Ela olhou para Chuck, ele sorriu, e voltou a olhar para Ethan. – Tudo bem, às 19:00 está bom?
— Perfeito.
— Vocês se conhecem? – Chuck perguntou quando já estavam sozinhos, caminhando para o alojamento deles, se sentia meio bobo logo após perguntar, ele não queria que ela pensasse que estava com ciúmes.
— Nos conhecemos na academia, fomos da mesma turma. –ele apenas assentiu permanecendo em silêncio, Chuck (que geralmente era bastante falador) estava definitivamente com ciúmes. – Namoramos durante alguns meses, se é o quis perguntar. – Chuck apenas ficou suavemente rosa, tentando achar alguma desculpa, era tão fácil saber o que ele pensava.
Quando chegaram ao quarto, a mala já tinha sido entregue. Já que a viagem era curta, Sarah garantiu que uma mala seria o suficiente. Ela explicou que pelo costume de algumas missões ocorrerem de forma imprevista e, muitas das vezes, urgente, havia algumas malas específicas como: Viagem longa de Sarah, Viagem longa de Chuck, Viagem curta de Sarah, Viagem curta de Chuck e Viagem curta juntos. Mas quando são quatro da manhã e você está ansioso apenas para voltar para cama e terminar o sono, não é uma coisa que se peste muita atenção. Chuck não fazia ideia do que poderia conter na mala, ou se teria roupas para sair à noite. Sarah parecia tranquila apesar de tudo.
— O que acha? – ela perguntou sentando em uma cadeira. O quarto era pequeno, mas bastante aconchegante; possuía uma cama de casal no centro, com vista para uma televisão embutida. Havia um banheiro e guarda-roupas na parede esquerda e uma mesa e duas cadeiras próximo à uma janela no lado direito.
— Parece bem confortável, mas não passaremos muitos dias aqui... – ele olhou ao redor, avaliando o quarto.
— Estava falando sobre Beckman, a oferta de emprego. – ela sorriu.
— Bem, como eu disse... não sei se serei útil totalmente, nem me lembro de ter usado o Intersec e veja o que ocorreu... –ela desviou o olhar da janela para ele. - Como poderia auxiliar alguém? E muitas das coisas que sabia de informática, tenho certeza que agora já estão defasadas. Mas o que você acha?
— Tenho algumas dúvidas, principalmente em relação ao pessoal, Ethan é uma pessoa difícil para se relacionar, muitas vezes. E bem, Carina e eu, mesmo sendo amigas, temos um relacionamento complicado, a última coisa que quero é que o nosso relacionamento fique mais frágil do que já é. Mas seria realmente uma ótima oportunidade.
— Poderia ser uma coisa boa, voltar à ativa. Posso me lembrar de algo durante o processo.
— Não quero que faça isso de forma obrigada, para se lembrar das coisas. Sei que está muito ansioso para tentar se lembrar de tudo, mas talvez forçar dessa forma possa complicar mais ainda, não quero que fique frustrado, entende?
—Entendo. – ele desabou na cama fechando os olhos.
Ela queria se abrir e falar para ele o quanto ela estava preocupada com isso, e se as memórias não voltassem nunca mais? Iriam ficar no passado remoendo as mágoas antigas? E Sarah reconhece que ele está fazendo muito para tentar ser o “Chuck de antes”, ela aprecia esse esforço, mas também não quer perder o Chuck que está com ela agora. Ela quer estar perto dele novamente, sem se preocupar com mais nada, dormir em seus ombros, cozinhar juntos, planejar uma vida futura (talvez até com filhos). “Falar isso em voz alta pode assustá-lo mais ainda” ela pensou. Ela o ama, independente de tudo, só queria que ele soubesse disso de alguma forma.