—É sério mesmo que estamos casados?- Chuck parecia, bem... Surpreso seria considerado o eufemismo do ano. – Sério mesmo?

—Sim, estamos casados há mais ou menos um ano e meio. – ela estava sentada no sofá de sua casa, enquanto ele caminhava de um lado para o outro tentando entender o que ela dizia.

—Como...? Como eu consegui casar com você?

—Nós passamos uns dois ou três anos antes de namorar, e mais alguns outros antes de casar. Casamo-nos na igreja, Morgan fez a cerimônia. Temos o vídeo do casamento.

—Éramos felizes? Meu Deus! Nós estamos casados de verdade!

—Muito felizes.

Ele parou de caminhar e olhou para ela. Por um segundo ela podia jurar que tinha visto aquele olhar, do seu Chuck, não que aquele não fosse ele, mas o seu Chuck atual aquele com quem ela estava planejando ter filhos há apenas algumas semanas atrás. Ele a estava encarando.

—O que foi?

—Você é muito bonita. – ele disse. – Estou casado com a mulher mais linda desse mundo. - o rosto de Chuck ficou completamente vermelho, ela lembrava que alguns anos antes ele corava muito facilmente, nos últimos anos isso foi diminuindo um pouco e às vezes ela o provocava só para ver o seu rosto ruborizando.

—Que tal irmos para a cama? Sei que está cedo, mas foi um dia bem cansativo para nós dois. –Sarah ficou feliz em pensar em algo rapidamente, impedindo que ele começasse a divagar, e ficou mais feliz ainda em poder ter uma noite de sono sem se preocupar com nada. Eles estavam em casa. Seguros. E depois de um dia cansativo e cheio de burocracias para tirar Chuck do hospital, ter uma noite de paz e tranqüilidade, como se nada daquilo tivesse acontecendo... e só o fato de poder dormir em casa, com ele, era simplesmente a única coisa que poderia desejar naquele momento.

O rosto dele, por um momento, ficou como se não entendesse o que ela estava falando, mas ele arregalou os olhos e engoliu em seco.

—Ir para a cama... tipo, nós... – ele permaneceu balbuciando.

“Meu Deus, vai ser mais difícil do que eu pensava...” ela pensou.

—Se não estiver se sentindo confortável, eu posso dormir no sofá, o quarto de Morgan também é uma opção, mas está sem o colchão... –Sarah sabia que essa noite seria um pouco complicada, mas eles teriam que decidir como seria daqui para frente.

—Não, tudo bem. Podemos dormir na mesma cama... Se estiver tudo bem para você também...

Ela não queria se sentir muito otimista para não parecer como uma criança tola, mas agora, deitada na cama, Sarah começou a se permitir um pouco de esperança. Ela cogitou em vestir alguma camisola comum de renda, mas as que tinha ou eram curtas ou transparentes, e talvez Chuck não estivesse preparado para isso agora, ela esperava estar redondamente enganada, mas o olhar dele era quase de gratidão por ela ter escolhido a calça do pijama e uma camisa velha e folgada. Ele saiu do banheiro vestindo uma camisa velha e a calça de um pijama, deu um sorriso tímido e deitou do seu lado. Alguns segundos depois ele suspirou, mas permaneceu em silêncio. A tensão do momento era quase palpável.

—Chuck...- ele olhou para ela, os olhos quase aterrorizados.- Se... se quiser me abraçar, tudo bem.

Na verdade, ela era quem desejava poder abraçar ele novamente, quebrar todo esse momento constrangedor e ter uma noite realmente tranqüila como seu marido. A boca de Chuck abriu e fechou algumas vezes antes de responder apenas um “Ah”, mas ele permaneceu rígido, sem mover nem um músculo. Antes que pudesse se conter, ou que o bom senso pudesse ser ouvido, Sarah esticou a mão esquerda e pousou em seu braço, ele estava quase com os olhos fechados, mas com o movimento ele se encolheu e abriu-os.

— Hey, calma. – “O que fizeram conosco?” ela pensou “Ele está tão assustado que nem posso nem tocá-lo mais...”- Calma. Eu só queria... –ela soluçou.

Chuck deve ter captado os seus sentimentos (ele sempre a compreendia), e deslizou um dos braços por cima do dela. Não estavam literalmente abraçados, mas o calor do corpo dele, mesmo que apenas no braço, foi suficiente par ela fechar os olhos por um segundo e fingir que nada daquilo estava acontecendo. O soluço agora estava um pouco mais alto e, mesmo de olhos fechados suas pálpebras começaram a temer e sentiu uma lágrima escorrendo e se acumulando na curva do nariz. Ele não merecia isso.

— Desculpe- ela ia levantar para sair da cama, quando Chuck a segurou e puxou mais para próximo de si.

Suas mãos um pouco desajeitadas não souberam exatamente em que parte de seu corpo segurar, mas ele acabou se decidindo pela cintura.

—Sarah. –ele fez uma pausa- Não se desculpe. Isso não é sua culpa, e sei que está sendo difícil para você. Sinto muito não lembrar como éramos, gostaria muito mesmo de saber.

As lágrimas agora desciam descontroladas, como cachoeiras. Isso não estava correto, era para ela estar consolando ele e não o contrário. Ela permaneceu ali por alguns segundos, de olhos fechados, imóvel e calada, apenas as lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Como um reflexo antigo ou simplesmente por delicadeza ele retirou a mão de sua cintura e começou a secar as lágrimas e afagar o seu cabelo. O toque dele conseguiu acalmá-la e por um momento eles eram de novo os mesmos do passado.