Há algo de errado com sua cabeça, ele só não sabe dizer exatamente o que é. Já teve a sensação não estar lembrando algo, e aquilo ficar persistindo em sua mente, você sabe que é importante, mas não consegue lembrar o porquê? Essa foi uma das múltiplas sensações que Chuck teve ao acordar. A cabeça doía como se fosse explodir e o fato das cortinas estarem abertas e ter o sol em seu rosto não ajudou em nada; ele tentou sentar na cama e logo percebeu que foi uma ideia horrível, um enjoo terrível o fez levantar da cama para ir ao banheiro. Mas ao abrir completamente os olhos percebeu que aquele não era o seu quarto, e que o seu braço esquerdo estava com um cateter e um líquido transparente estava sendo injetado em seu corpo, havia do seu lado um monitor onde apareciam vária imagens de um cérebro nas imagens havia cores que iam e vinham. Será que escorreguei no banheiro e bati a cabeça? Ele pensou. Meu Deus, por favor, não. Que vergonha seria ser encontrado por sua irmã e seu cunhado, nu no chão o banheiro!

Estava pensando de qual forma vergonhosa ele teria chegado ao hospital quando uma enfermeira baixinha de cabelos negros enrolados entrou em seu quarto.

— Oi, meu nome é Anne, como está se sentindo Charles?- ela pergunta, sentando-se em uma cadeira e escrevendo algo em uma prancheta.

— Oi, eu... hum... estou com muita dor de cabeça e enjoado.

—Qual é a coisa mais antiga que você se lembra?

—Bem, eu e meu amigo, o Morgan, estávamos jogando Call of a duty..., como cheguei até aqui?

—Ok, vou lhe fazer algumas perguntas antes de te responder, tudo bem? – ela não esperou a resposta e continuou. – Qual o seu nome completo?

—Charles Irving Bartowski.

—Em que ano estamos?

—2007, em setembro. - Neste momento ela parou de escrever e olhou para ele. –O que há de errado? Já é outubro?

— Não se lembra de nada depois disso, depois de estar jogando com seu amigo?

— Fui tomar banho para dormir, acho. Escorreguei no piso banheiro, não foi?- a sua cabeça agora doía mais do que tudo, o quarto parecia estar fora de foco.

—Vou lhe dar um pouco de remédio para as dores. –ela levantou-se, abrindo uma gaveta ela tirou uma seringa e injetou o conteúdo dela na bolsa de onde o líquido transparente fluía.

—Bem, Chuck, posso te chamar de “Chuck”? – ele assentiu. – Não, você não caiu no banheiro. A história é muito longa e não sou a pessoa mais apta para contar-la, daqui a pouco a pessoa certa virá tirar todas as suas dúvidas, o máximo que posso fazer é responder algumas questões básicas. Por exemplo, hoje é janeiro – a boca dele abriu em um ‘O’. – Janeiro de 2012.

***

Chuck não havia percebido, mas do lado direito do quarto havia um grande espelho falso e do outro lado havia um grupo bem distinto de pessoas: uma mulher baixinha, com cabelos castanhos claros presos em um coque, ela olhava com interesse a cena que se desenvolvia; ao lado direito dela havia um homem alto, com ar sério e ao mesmo tempo preocupado; do lado esquerdo havia uma mulher magra, de cabelos loiros, sua mão se movimentava quase como um tique nervoso, seus olhos estavam inchados e vermelhos, do lado desta última estava um cara um pouco mais baixo do que ela, barbudo, com os braços cruzados em frente ao peito, ele também estava com os olhos vermelhos.

— O que vamos fazer General?- a loira perguntou para a baixinha- O que vamos dizer para ele?

— Ainda não sei, ele acha que estamos 5 anos atrás. –uma pausa. – talvez devamos lhe dizer a verdade. A terapia durante alguns meses poderia ser boa para ele, para vocês dois, aliás.

— Ellie já está bem avançada nas pesquisas de reintegração da memória, desde que aconteceu o mesmo comigo. - o barbudo falou- e já faz uns três dias que está estudando todas as formas possíveis para reconstruir a dele. Tenho certeza de que ela vai conseguir algo.

— Vá dormir Walker, amanhã ele poderá voltar para casa. – a General falou, a loira negou com a cabeça – Já faz quantos dias que não dorme mais do que 3 horas? Você precisa descansar. – Sarah permaneceu no mesmo lugar. – É uma ordem agente Walker.

Lentamente, ela se virou e caminhou até a porta, antes de sair deu uma última olhada para o quarto que estavam observando, ele parecia tão confuso. A sede da CIA em Los Angeles era cerca de metade do tamanho da sede de Washington D.C, mas mesmo assim ainda era muito grande. Ela caminhou durante cerca de cinco minutos até encontrar os quartos onde ficavam os agentes, o seu quarto era simples, como todos os outros, a única coisa diferente era a de casal que tinha no meio do quarto, ao contrário das camas de solteiro na maioria dos quartos. Se fosse escolha sua ela preferiria dormir em um quarto comum a sentir o vazio do lado dele cama. Ela não queria dormir, mas logo que deitou de bota e tudo, ela adormeceu.

***

Ela está novamente naquele dia, é um dia claro e tranquilo, ao tatear pela cama percebe que Chuck não está lá. Ela levanta com o som do celular vibrando, pela tela ela identifica como Chuck.

— Oi- ela sorri.

—Oi, Sarah desculpe te acordar.

—Onde você está tão cedo?

— Eu... Bem, não consegui dormir. Estava muito empolgado com o tudo. O que acha de ver os escritórios hoje ao meio dia?- enquanto ele ia conversando ela caminhava pela casa na direção da porta. – Podemos chamar o Morgan e Casey, e fazer uma pequena comemoração, sabe? Com alguns Champanhes... e destruir o Intersect... O que acha?

—Acho uma ótima ideia. –ela responde enquanto se abaixa para pegar o jornal. - Talvez dizer “Ultima missão”não tenha dado azar dessa vez.

—Eu te amo Sarah.

—Eu também te amo, Chuck. Tchau.

—Tchau. Ela fecha a porta e sorri para a tela. Enfim tudo estava terminado, essa vida de espiões, fuga perigo. O que tinham para frente agora era um futuro tranquilo e seguro, ela mal podia esperar para começar essa nova parte de sua vida. Enquanto pensa sobre todas essas coisas ela não percebe o sutil movimento por detrás dela, e em um instante há uma dor horrível em sua nuca e ela cai no chão.

***

Foi nessa parte em que ela acordou alarmada, o sol já estava se pondo, deveria ser umas 6 da tarde. Hoje pelo menos, ela conseguiu dormir mais do que 4 horas. Ela queria logo levar Chuck para casa, tirar ele da vista de todos aqueles espiões e médicos que olhavam para ele mais como um experimento, um objeto desconhecido, do que como uma pessoa, um ser humano que merecia uma vida em paz, ela queria que olhassem para ele como o homem incrível, inteligente e carinhoso que era. Ela respirou fundo e levantou da cama, tomou um rápido banho , vestiu uma roupa simples e saiu.

Mesmo que não permitissem a entrada de mais ninguém a não serem os médicos e enfermeiros, ela gostava de ficar observando ele através do espelho. Mesmo até quando ele não tinha acordado, Sarah gostava de vê-lo dormir, parecia tão calmo e tão sereno, ela faria de tudo para que isso fosse verdade.

Morgan também estava lá, ela praguejou mentalmente por não poder estar só.

—Ei Sarah, como está?- ele perguntou.

— Estou mais ou menos. Não quero falar sobre nada agora, desculpe. – ela expirou o ar dos pulmões. – Não é nada pessoal, só para constar.

Ele assentiu com a cabeça. E Sarah se sentiu grata por ele não insistir no assunto. Eles estavam parados observando, havia um médico loiro e alto conversando com Chuck, de vez em quando ele gesticulava, como para exemplificar algo. Chuck agora não parecia tão confuso como antes, a reação dele estava mais para impressionado. Esse deve ser o terapeuta que Diane citou, ela pensou, deve estar contando sobre os anos de espião que ele teve. O médico contou algo engraçado o que fez Chuck rir, aquele sorriso maravilhoso, simples e puro. Antes que percebesse, ela estava chorando novamente, chorar tinha se tornado um hábito diário. Morgan segurou a sua mão e ela não criou resistência para impedi-lo.

—Vai ficar tudo bem Sarah, amanhã mesmo ele estará em casa.

—Eu sei Morgan, mas... - as lágrimas prenderam as palavras que ela queria dizer, então permaneceram ali, juntos chorando enquanto Chuck ria na sala ao lado.