Forget About Me

Capítulo 14 – Fire Escape


The killing keeps us close enough

— Para de balançar a escada, Brendon.

— Você poderia simplesmente fazer um feitiço, sabia? Um “Wingardium Leviosa” e acabou.

— Se eu soubesse o que estamos procurando, eu poderia. Aqui, achei mais uma caixa.

Layla entregou uma caixa de papel decorada ao irmão. Eles estavam revirando o armário do pai, enquanto ele estava no trabalho. Envolver Brendon na investigação dos segredos da família tinha sido uma boa escolha. Ele tinha ótimas ideias e evitava que ela se afundasse na própria confusão. Também tornava mais rápido invadir a privacidade do pai deles.

— Não, são apenas relógios.

— Vou continuar procurando.

— Eu estava cético quanto a história do Sirius Black no começo, mas a reação do pai foi muito suspeita. Foi como se você tivesse o flagrado no meio de uma mentira.

— Sinto falta de quando eu era a mentirosa da família. – Comentou Layla ao tirar os casacos de neve do fundo do armário, revelando uma caixa de madeira.

Ela desceu da escada bamba, se apoiando no irmão.

— Isso parece interessante.

A caixa era funda e larga, capaz de conter as respostas que procuravam. Layla abriu a tampa com cuidado. A primeira coisa que viu foi a fotografia da sua mãe. Os olhos azuis hipnóticos e sorriso doce. Abriu espaço para o irmão conseguir ver as fotografias. As primeiras fotografias era mais conhecidas. A imagem de seus pais jovens, em paisagens escocesas e no dia do casamento. Os registros de Bonnie com os filhos pequenos ainda chocavam, mesmo que fossem poucos. Brendon se deteve nessas fotos, admirando com carinho todos os detalhes. Layla odiava que era o motivo pelo qual o irmão teve essas lembranças roubadas por tanto tempo. Enterrou esse sentimento quando notou uma sequência de fotografias da infância de seu pai, com presença de tia Candice e Katie. Seu coração acelerou ao perceber que o outro maço era da infância de sua mãe.

— Eu não acredito.

Ela largou o que tinha na mão. Brendon recolheu as fotografias do chão. O retrato era de Bonnie criança ao lado dos pais, com o bar da família no fundo. Seu avô Norris correspondia a descrição que tinha sido dada. Por outro lado, sua avó Davina tinha longos cabelos encaracolados. Loiros. Não havia nada em seu rosto que a aproximasse de Layla.

— Ninguém te confundiria com ela.

A garota desistiu da busca. Talvez algumas coisas não devessem ser descobertas. Foi Brendon que continuou explorando a caixa, encontrando uma manta de bebê.

— Era meu ou seu? – Perguntou Layla antes de notar duas letras “L” entrelaçadas costuradas no canto esquerdo.

— Pelo menos, podemos confirmar quem é o filho preferido. – Ironizou Brendon.

Frustrados por não terem encontrado mais nada no quarto do pai, os irmãos decidiram suspender as buscas até terem uma estratégia melhor. Brendon tinha planos de encontrar Elsie na praia, deixando Layla com a casa toda para ela. Ela não tinha outras preocupações e encontrou dificuldade para esquecer o assunto.

Acendeu um cigarro e ficou encarando a manta. O material era felpudo e de boa qualidade. A cor creme era ofuscada pela condição encardida. As letras escuras tinham sido costuradas a mão. Apesar de não se lembrar da peça, ela combinava com o estilo elegante dos Harrison e com as peças de roupa que tivera na infância.

Quando tinha se tornado o tipo de pessoa que ficava em casa pensando sobre suas roupas de bebê? Ela costumava ir para festas e beber para esquecer seus problemas. Não era saudável, mas sentia que era menos patético. Só tinha uma pessoa que a confortava mais do que ignorar a realidade e colocar uma roupa justa demais.

A voz de Fred surgiu na sua cabeça. Colocou um casaco, pegou sua bolsa e aparatou no Beco Diagonal. Foi até a loja número 93. O lugar estava cheio para um dia de semana e encontrou George no caixa.

— Onde Fred está?

— Oi, Layla. Estou muito bem, obrigada por perguntar.

— Oi. Eu preciso falar com o seu irmão. Ele está no apartamento?

— Não. Minha mãe precisou visitar a tia avó Muriel e pediu para Fred cuidar de algumas coisas na Toca.

Ela suspirou profundamente. Era tão cansativo chegar até a Toca. Além de aparatar novamente, teria caminhar um bom trajeto. Usava uma sandália delicada, entretanto, se contentou ao lembrar que tinha outra cartela de cigarro na bolsa.

— Está bem. Obrigado, George. – Layla fez um sinal de positivo com o polegar. – Continue com o bom trabalho.

Sob olhares confusos de George, saiu da Gemialidades Weasley e aparatou.

Como previsto, sua tentativa de caminhar em um ritmo rápido foi desafiada pela falta de fôlego, pelo cigarro e pelo seu calçado. Layla chegou na porta da casa suada, ofegante e esperançosa. Fred sempre sabia o que dizer para fazê-la se sentir melhor. Bateu na porta e esperou que ele estivesse do lado de dentro. Fred abriu a porta, a encarando por uma eternidade.

— Fred.

— Layla! Que surpresa. – Ele deu um beijo na namorada e abriu mais a porta. – Entre.

Eles foram até a cozinha, onde Fred preparou um chá para ela. Layla aproveitou para se recompor.

— Você já tirou todos os gnomos que a sua mãe pediu?

— Todos que eu consegui. – Ele se sentou na frente dela com a própria xícara fumegante. – E a que eu devo a honra da sua presença nessa parte do país?

Layla conseguia ver a apreensão nos olhos dele. Ela deveria se esforçar para, ao menos, tentar agir como uma pessoa minimamente equilibrada.

— Eu descobri algo e precisava falar com você. – Ela enfiou a mão na bolsa, tirando o pequeno cobertor – Não precisa ficar preocupado. Apenas quis te ver.

Fred não parecia ter registrado as duas últimas frases. Seus olhos estavam arregalados e fixados na manta. As palavras saíram atrapalhadas da sua boca.

— Isso é o que parece que ser?

— É uma manta de bebê, Fred. – Respondeu Layla, sem entender ao que ele estava se referindo.

— Ok. – De alguma forma, seu namorado parecia ainda mais desesperado. Ele colocou as mãos em cima das suas. - Está tudo bem, vai dar tudo certo. Eu amo você. Vamos dar um jeito. A gente se casa, quer dizer, se você quiser. Nós vamos ter um ótimo jogador de quadribol, Layla.

Ela não entendeu uma palavra do que ele disse.

— Do que diabos você está falando?

— Do bebê.

— Que bebê?

O rosto de Fred pareceu relaxar.

— De quem é essa manta?

— Era minha quando criança. Que bebê? Ah, Merlin! – Ela percebeu o significado do discurso. Tirou as mãos sardentas de cima dela e ficou em pé, perturbada. – Não, não, não! Sem jogadores de quadribol por aqui.

— Você chegou aqui falando que descobriu alguma coisa com uma roupa de bebê na mão! O que eu deveria pensar?

— Claro, só pode significar que vim perguntar sua opinião sobre o enxoval. Fala sério, Fred. Você é tão esquisito.

Layla resistiu a vontade de chacoalhá-lo. A sua vida estava uma bagunça, mas sempre era bom lembrar que poderia piorar.

— Então, sem bebê. – Disse Fred em um tom de quase questionamento. – Só para confirmar.

— Sem bebê, seu maluco.

Ele deu um suspiro de alívio. Aquele gostinho de paternidade foi traumático.

— Ai, Layla.

— Vou precisar de uma bebida depois disso.

Layla chacoalhou a xícara. Fred observou a namorada terminar de tomar o chá, parecendo envergonhada. Ele mesmo não acreditava em tudo o que tinha falado. Almejava uma relação suave e descomplicada. A última coisa que queria era espantar Layla. E tinha acabado de pedir ela em casamento? Com sorte, eles poderiam esquecer aquela conversa.

— Então, se não é isso, o que você queria me contar?

A pergunta foi interrompida por um patrono. Um lobo. Layla tinha visto poucos patronos na vida e nunca foi capaz de conjurar um. A visão era impressionante. Fred já estava acostumado com patronos e sabia que aquilo era um mau presságio. Percebeu que estava certo quando a voz de Remus Lupin encheu a sala.

— Molly, um grupo de alunos saiu de Hogwarts para ir ao Departamento de Mistérios com Harry. Ron e Gina estão entre eles. Pode ser uma armadilha de Voldemort. Estamos a caminho.

Fred se levantou e começou a preparar a lareira para usar o pó de Flu. Ela notou que as mão dele estavam tremendo.

— O que você pensa que está fazendo? Você não vai para lá.

— Layla, meus irmãos estão em perigo. Eu tenho que ir.

— De jeito nenhum. Não ouviu o patrono? Você-sabe-quem pode estar lá.

— Exatamente! Voldemort pode estar com Gina e Ron nesse momento.

— Fred, você largou a escola. Sei que é corajoso e talentoso, mas não é um auror. Você pode se machucar e piorar as coisas.

— Você não entende. O Ministério nem admite que o Voldemort está vivo. Não vão mandar nenhuma equipe treinada de resgate. – Fred se irritou, estava perdendo tempo. Sabia que Layla faria o mesmo pelo irmão dela. – Eu estou indo.

— Se você vai, eu também vou.

— De jeito nenhum!

— Ótimo. Então, ninguém sai daqui.

O casal trocou um olhar intenso. Nenhum dos dois queria recuar. Layla não tolerava a ideia do namorado ir naquela missão suicida. Ela mesma não queria se envolver. Não considerava o acompanhar, porém Fred não sabia disso. Torcia para ele comprasse o blefe.

— Layla, escute. – Fred tentou negociar com a namorada. Ele sabia que ela era impulsiva o suficiente para se meter em problemas que não eram dela. – Eu sei que a minha ajuda não é ideal, mas você não pode me pedir que eu fique aqui enquanto minha família corre perigo. Se a minha habilidade de defesa não é o suficiente, imagine a dos meus irmãos. Eu tenho que ir.

— O patrono era para sua mãe. Ela não vai ficar feliz que outro filho dela vai se arriscar desse jeito.

— Minha mãe vai ficar feliz se tiver todos os filhos vivos.

— Exatamente por isso que você não pode ir! – Os dois estavam gritando.

— Não vou perder mais tempo discutindo com você, Layla.

Fred pegou um punhado de pó de flú e entrou na lareira.

— Tudo bem! Vamos discutir entre comensais da morte, então!

— Você é esperta. Não me siga. – Ele jogou o pó no chão. – Ministério da Magia, Departamento de Mistérios.

Com um clarão, ele sumiu. Layla quis bater o pé e gritar. Se ele morresse, ela nunca ia se perdoar por não ter tentado ajudar. Quem sabe ela poderia ficar em um canto, apenas observando se as coisas iriam piorar. Seis meses atrás, ela jamais se arriscaria dessa maneira para proteger um garoto. Naquele dia, levou apenas alguns segundos para Layla se decidir. Pegou um pouco de pó de flú e foi para o Ministério.

Fred estava a esperando.

— Você me pede para não te seguir e me espera. Confiança demais, Weasley.

Vários minutos se passaram antes deles conseguirem se localizar dentro do Ministério e encontrar quem estavam procurado.

Fred e Layla apenas chegaram na Câmara da Morte após o corpo de Sirius Black cair através do Véu da morte. A Ordem da Fênix já tinha chegado e o lugar estava cheio de adolescentes e comensais da morte. Dentro da Câmara, os dois se separaram. Ele foi correndo achar os irmãos. Ela ficou lá, estática.

Havia muita coisa acontecendo ao mesmo tempo: pessoas lutando, feitiços sendo lançados, gritos. Percebeu que os gritos mais altos eram os de Harry Potter.

— Ela matou Sirius! – exclamou Harry. – Ela o matou … e eu vou matá-la!

Layla tentou ver a mulher que Harry ameaçava. Ela fugia de um homem mais velho –Dumbledore? – e usava um manto, mas seu o rosto era perfeitamente visível. Sentiu seu coração gelar. Harry Potter foi o único a sair atrás dela, sala a fora. De forma discreta, ela o seguiu.

Não teve tempo de questionar o fato que cérebros nadavam na outra sala, aproveitando o feitiço que o menino lançou para se deslocar. Se Fred ou qualquer outra pessoa estivesse lá, não seria capaz de dizer. Atravessou um hall negro e redondo e outra sala estranha e claustrofóbica antes de chegar aos elevadores. Teve que pegar o mesmo elevador que a mulher tinha usado, chegando em um pavimento. O adolescente e a mulher já tinham voltado a duelar. Nenhum deles notaram quando ela saiu do elevador e se escondeu atrás das várias colunas do lugar.

— Aaaaaah… Você o amava, bebezinho Potter?

Para a sua surpresa, Harry se levantou de onde estava escondido e lançou uma maldição Cruciatus. A mulher não demostrou nenhuma dor, apenas caiu. Layla tinha aprendido que maldições imperdoáveis não funcionam por falta de habilidade ou de vontade. O contra-ataque dela atingiu a estátua que era o esconderijo de Potter.

— Nunca usou uma Maldição Imperdoável antes, não é, garoto?— Ela gritou. Os anos marcavam o seu rosto, dando uma sensação de envelhecimento precoce. Layla não conseguia desviar os olhos dela. — Você precisa querer usá-las, Potter! Você precisa realmente querer causar a dor, aproveitá-la, raiva moralista não vai me machucar por muito tempo, eu mostrarei a você como se faz, certo? Eu lhe darei uma lição…

A bruxa lançou uma maldição Cruciatus e acertou em uma estátua de centauro, arrancando um pedaço.

— Potter, você não pode me vencer! – ela gritou.

Layla não conseguia ver os dois, que davam voltas em círculos ao redor da estátua. A voz feminina surgiu do lado direito.

— Eu fui e sou a serva mais leal do Senhor das Trevas. Eu aprendi a Arte das Trevas diretamente dele e eu sei feitiços tão poderosos com os quais você, menininho patético, nunca poderá competir...

A dupla lançou uma série de feitiços, que só poderiam ser acompanhados pelos feixes de luz saindo das varinhas. Harry acabou sendo atingido pelo próprio feitiço.

— Potter, eu vou lhe dar uma chance! Me dê a profecia, role-a na minha direção agora e eu talvez poupe a sua vida!

Então, era por isso que estavam no Departamento de Mistérios. Uma profecia.

— Bem, você vai ter que me matar porque ela não existe mais! E ele sabe! Seu velho amigo Voldemort sabe que ela não existe mais! Ele não vai ficar feliz com você, não é?

O tom de voz de Harry tinha mudado. Layla ficou arrepiada quando ouviu o nome de Voldemort. Não conseguia imaginar o tipo de vida que aquele garoto tinha levado.

— O quê? O que você quer dizer?

Pelo tom de voz, agora quem estava com medo era ela.

— A profecia quebrou quando eu estava tentando puxar Neville nos degraus! O que você acha que Voldemort vai dizer disso, hein?

— Mentiroso! Ela está com você, Potter, e você vai entregá-la para mim! Accio profecia! Accio profecia!

Potter recuperou o ar de juventude. Gargalhando, balançava as mãos vazias entre os feitiços lançados.

— Nada aqui. Nada para convocar! Ela quebrou e ninguém ouviu o que ela disse, diga isso ao seu chefe!

— Não! – Ela gritou e pareceu desesperada. - Não é verdade, você está mentindo! Mestre, eu tentei, eu tentei... Não me castigue...

Harry retrucou, contudo Layla não escutou as suas palavras. Aproveitou o tormento da mulher para se aproximar, se expondo a visão de todos. Queria ter certeza do que tinha visto. Essa era uma intepretação que não cabia margem de erro. A cautela que adotou foi inútil, pois a mulher levantou a cabeça na sua direção. Os pares de olhos castanhos se encontraram. Ela viu a expressão de agressividade abandonar o seu rosto. Houve genuína surpresa, mas também reconhecimento. Layla percebeu que a mulher sabia quem ela era. A adolescente desaparatou imediatamente.

Sirius Black estava certo ao tentar sufocá-la. A maldita tinha o matado. Layla tinha encontrado o que procurava em velhos álbuns de família. Alguém parecido com ela. O problema é que essa pessoa era uma assassina psicótica e, provavelmente, sua mãe.