Flor do deserto

Capítulo 34- Natal em Cotswolds


— Sherlock, por favor me diga que você ouviu.

— Ouvi e vi.

— O que vou fazer agora? Todo o país sabe quem sou.

— Mas não viram seu rosto. Só os mais próximos à você que sabem.

Emanuelle estava assustada. Ela tinha acabado de ouvir a revelação de Harrison e ligou para Sherlock em seguida. Sherlock já tinha solucionado a questão do que fazer. Ele iria mantê-la longe da cidade, para evitar mais um ataque; e o convite se seu pai para o interior do país foi a solução perfeita. Holmes deu um tempo antes de responder, dando à impressão que estava a pensar:

—A melhor coisa a fazer agora é se manter longe da multidão. Arrume suas malas, vamos passar o Natal com meus pais no sul do país.

— Onde fica?

— Cotswolds.

Emanuelle calou-se. Ficou assim por um tempo, ao ponto de Sherlock ter pensado que a ligação caiu. Ela então, com a voz triste disse:

— Entendi...vou fazer isso então. Bom...eu sempre quis conhecer Cotswolds.

— Vai gostar do lugar, é tranquilo e discreto. E o mais importante, é longe de tudo e todos.

— Parece ótimo. Mais alguma coisa?

— Mantenha-se longe do celular. Entregue para Mary e se for importante você atende.

— Entendi. Obrigada.

— Não agradeça. É meu dever.

— Não entendi.

— Sou seu marido agora. Preciso protegê-la -disse Sherlock friamente. Pelo tom dele, a jovem não sabia se ele estava falando sério, ou se estava fazendo algum tipo de piada. Ela decidiu então encarar aquilo como uma brincadeira.

— Mas você já fazia isso antes -disse a jovem, sorrindo discretamente.

— Agora é oficial.

— Então tá certo. Até mais tarde “marido” -disse em tom brincalhão.

— Até “esposa” -respondeu Holmes com a mesma frieza.

Ele desligou o telefone e entrou no escritório da fábrica. John, Lestrade e Donovan estavam de pé, em frente a uma mesa, com um mapa de toda a Inglaterra estendido sobre o móvel. Sherlock então se aproximou deles.

— E então, qual o seu brilhante plano? -perguntou Lestrade.

— Brilhante? será que não quis dizer arrogante? -alfinetou Donovan. Sherlock ignorou a morena, e pôs-se a falar:

— Sabemos que eles levaram tudo que eles guardavam aqui, como também em casa. E isso inclui o urânio. Me diga, o que o urânio é?

— Radioativo.

— Isso! Radioativo! É só fazer um reconhecimento aéreo com detecção de radioatividade e bingo! Achamos o urânio e os terroristas.

— Brilhante…-comentou Watson, fazendo Donovan revirar os olhos.

— Entendi! -disse Lestrade passando a mão por toda a região sul do mapa- vamos fazer um reconhecimento e mapeamento radioativo por toda essa região -Lestrade olhou para o mapa e comentou após um suspiro- puxa, isso vai demorar.

— Então é melhor começar agora. John, preciso falar com você.

— Ah, claro.

— Lá fora.

— Tá, tá entendi.

Sherlock saiu do escritório, seguido de John. Chegando do lado de fora, Holmes disse:

— Eu e Emanuelle vamos passar o Natal com meus pais em Cotswolds.

— É um bom começo para o casal, desejo felicidades -Sherlock revirou os olhos.

— Você e Mary também estão convidados. Na verdade...preciso de vocês lá.

— Precisa de nós?

— Sim. Na situação que estamos, ter duas pessoas a mais no grupo que saibam manejar uma arma, é uma boa vantagem...e, eu também sou novo nesse negócio de casamento, e preciso de ajuda para não agir feio na frente dos meus pais.

— Não contou para eles?

— Na verdade nem contei que me casei. Eles vão saber amanhã. Ora vamos John, eu preciso de vocês lá.

— Tá, tá, nós vamos. Vou falar com Mary.

— Excelente -disse Sherlock, se virando para a imensa planície coberta por neve. Ele observava a paisagem. Watson então, o interrompeu de seus pensamentos, e perguntou:

— Escuta, já que estão casados, não deveriam usar alianças?

***

O dia seguinte chegou muito frio, talvez um dos mais frios do ano. Era véspera de Natal e as estradas estariam cheias de neve e de viajantes. Havia uma longa estrada pela frente, por isso que Holmes e Emanuelle combinaram de sair bem cedo e ir para casa dos Watson. Eles sairiam no mesmo carro para o sul do país. Sherlock subiu as escadas para o 221c, e ao bater na porta, Emanuelle abriu e voltou para a cozinha rápido, dizendo que estava apenas terminando de assar um sanduíche para a viajem. Ela ofereceu um para Sherlock, mas ele negou. Ele pegou a mala da jovem e desceu até o primeiro andar, subindo novamente. Ao chegar lá viu a jovem já trancando a porta com as chaves.

— Ah, eu vi que você desceu as malas. Obrigada -ela andou em direção às escadas, passando pela frente do detetive, mas ele segurou o braço dela, a impedindo de descer as escadas. “Espere”, foi o que ele disse, fazendo a jovem retroceder alguns passos. Ela olhou curiosa para ele. Holmes pegava algo no bolso de sua calça. Ao alcançar o objeto, pegou delicadamente a mão de Emanuelle e disse “Se vamos mentir para meus pais, vamos mentir direito” e então colocou no dedo da jovem uma aliança dourada. Ela olhou para a sua mão “é linda”, comentou com um sorriso discreto. Ele sorriu e disse “eu também tenho uma”, mostrando o anel para ela. Quando Holmes ia colocá-la em seu próprio dedo, Emanuelle disse “espere”, pegando a aliança “acho que eu quem deveria fazer isso”, e dito isso, pôs o anel no dedo anelar do detetive. Os dois se olharam de maneira sublime. Emanuelle segurava na mão do detetive. Sherlock, como num sobressalto, limpou a garganta e disse, tentando abafar um abalo na voz “É bom irmos, se não podemos nos atrasar” e desceu as escadas rapidamente. Logo o casal pegou um táxi para a casa dos Watson, e os cinco seguiram com o carro dos Watson pela estrada sul.

Após algumas cansativas horas, eles chegaram à região de Costwolds. Sherlock estava dirigindo. Na rua principal havia casas de tijolos com grandes janelas e telhados oblíquos cobertos de neve. Das chaminés saíam uma fina fumaça. Algumas estradas de terra saíam da principal, e Sherlock pegou a segunda delas, seguindo bosque adentro. As árvores estavam nuas, com os galhos à amostra e cobertos de neve. A paisagem era encantadora. Emanuelle ora olhava para o lugar, ora para a aliança em seu dedo, pensativa.

Eles chegaram à casa dos pais de Holmes bem na hora do almoço. O lugar era realmente grande e isolado. A casa era no mesmo modelo daquelas que Emanuelle vira na rua principal, entretanto aquela era maior. As janelas exibiam belas cortinas azuis e a neve dava um toque final àquele belo lugar. Assim que desceram do carro, foram recebidos por dois idosos de cabelos brancos e um doce sorriso. O sr e a sra Holmes desceram as escadas e cumprimentaram os convidados. Emanuelle desceu do carro, ficando atrás da porta aberta. Observava os pais do deteive abraçarem e cumprimentarem todos ali com uma alegria e cumplicidade que ela desconhecia existir na família Holmes. A sra Holmes brincava com a pequena Rosie. “Como ela cresceu!” Comentou a senhora, foi quando percebeu Emanuelle, pseudo escondida atrás da porta do carro aberta. “Sherlock, quem é essa jovem?” perguntou a senhora. O detetive estendeu a mão, fazendo sinal para Emanuelle se aproximar. A jovem veio, hesitante, se colocando ao lado do detetive e ele, abraçando-a pela cintura, se aproximou mais de seus pais. Ele disse:

— Mãe, Pai, conheçam minha esposa, Emanuelle.

— Esposa? -perguntou a sra Holmes boquiaberta- mas querido, você não nos disse nada.

— Foi recente. Queríamos fazer uma surpresa.

Emanuelle sorriu tímida, ela ruborizou imediatamente com a situação.

— Oh não minha querida -disse o sr Holmes- não se envergonhe. Vamos, entre, vamos lhe mostrar a casa.

— Ah sim, desculpe meu jeito. Seja bem vinda à família Holmes.

Emanuelle entrou, guiada pela mão do Holmes mais velho. Logo todos entraram e se acomodaram em seus quartos. Emanuelle e Holmes iriam ficar no antigo quarto do detetive, no térreo. No cômodo havia uma estante com algumas fotos de Sherlock quando criança. Ela observou uma em que um garotinho estava sorrindo com um chapéu feito de papel e uma espadinha de madeira na mão. “Eu queria ser um pirata” disse Sherlock, perto de Emanuelle, a assustando. “Essas suas aproximações repentinas me matam do coração” disse, sorrindo e massageando o peito. “Vou ser mais cuidadoso”, disse com um sorriso discreto. Emanuelle desfez o sorriso, e comentou baixinho com ele:

— Sherlock, você não acha que devíamos contar a verdade?

— Porque?

— Caso algo aconteça.

— Não. Quanto menos pessoas souberem disso melhor. Menos chances de comprometer o caso. E eu não sei como eles iam encarar isso. Principalmente a minha mãe.

— Eu confesso que fiquei bastante tensa.

— Ela é assim mesmo. Intimidadora como eu -Emanuelle riu.

— Ah, é verdade, morro de medo de você -disse em tom de brincadeira.

Sherlock olhou para ela de um jeito que ela nunca viu antes. Ela não sabia identificar o que se passava na mente do detetive, mas não era algo ameaçador, mas amigável, talvez até mais que isso. Ela aos poucos desfez o sorriso, principalmente com o comentário dele. “Não deveria ter medo de mim, sou inofensivo para com aqueles que me importo” disse Sherlock, colocando uma das mechas do cabelo de Emanuelle atrás da orelha dela. Ela olhava diretamente para os olhos azuis cristal do detetive. Desfazendo aos poucos o sorriso. Ela sentiu novamente no seu estômago a sensação boa. Mas foi interrompida por um aviso que ecoou no corredor avisando que o almoço estava à mesa.

***

Durante o almoço, John e Mary conversavam com os pais de Sherlock, contando sobre Rosie e as condições do nascimento dela e como Emanuelle apoiara o casal. Logo depois Watson e Sherlock falavam sobre suas aventuras e John defendia a importância do bloco, dizendo que até a rainha Elizabeth o lia. Emanuelle pouco falou durante a refeição, até mesmo quando comentaram sobre o Hukm Allah e o que estava havendo em Londres. A sorte da doutora é que os pais do detetive não costumavam assistir televisão, sabendo das principais notícias pelo jornal. Logo, não sabiam da revelação de Harrison. A refeição acabou e todos se levantaram para ajudar de alguma forma.

Emanuelle e a sra Holmes lavavam a louça, enquanto John ninava Rosie; Holmes pai e filho foram buscar lenha e Mary terminava de arrumar a mesa, já trazendo sobre elas os materiais para preparar a ceia de Natal. Emanuelle estava insegura perto da Sra Holmes, tinha medo que ela conseguisse fazer o que o filho não conseguia: lê-la. A mulher então perguntou, enquanto colocava os últimos pratos no lava-louças:

—E então Emanuelle, como se conheceram? -Mary olhou para Emanuelle, ansiosa.

— Bom...eu me mudei para o apartamento acima do dele. Fomos apresentados pela sra Hudson, e depois tudo aconteceu naturalmente.

—Entendo.

Emanuelle sorriu nervosa. A sra Holmes olhava de uma forma que a jovem não sabia discernir se ela tinha acreditado ou não no que dissera. A mulher voltou a mexer nos pratos e comentou:

—Me fale mais de você. Ficou tão calada no almoço. Não precisa ter vergonha querida, afinal você faz parte da família agora.

A Sra Holmes sorriu de forma doce, fazendo Emanuelle dar um suspiro discreto, aliviada. Ela então contou resumidamente sua história, que foi criada por seus avós, se formou em medicina e se mudou do Brasil para a Inglaterra.

A Sra Holmes ia comentar algo, mas foi interrompida pelo som da campainha. Ela enxugou as mãos num pano de prato e foi atender à porta. Ao ouvir quem chegou, Emanuelle olhou para Mary, preocupada. Logo ela ouviu uma voz vinda do corredor, indo em direção à cozinha “venha, quero lhe apresentar à alguém”. Na porta na cozinha, uma figura masculina surgiu, vestindo seu terno caro e com ar de superioridade. Era Mycroft, seguido de sua mãe.

—Emanuelle? -disse Mycroft, surpreso. Ele não gostou de ver ela ali.

—Vocês já se conhecem? -perguntou a mãe dele.

—Ah sim -disse a jovem, hesitante- ele foi a testemunha de nosso casamento.

—Mas filho, nem você nos disse nada.

—Sherlock quis fazer uma surpresa, ele fez Mycroft prometer que não falaria nada -se interpôs Emanuelle, olhando para Mycroft de forma a fazê-lo entender que precisava confirmar a história.

O Holmes mais velho olhou com reprovação para a jovem, fazendo-a baixar a vista. Ele em seguida comentou com sua mãe:

—É claro que eu não poderia quebrar uma promessa que fiz ao meu irmãozinho, não é?

Em seguida, Sherlock chegou com o pai. O detetive ficou surpreso ao ver o irmão ali, sendo recebido pelo mais velho com o mesmo olhar de reprovação que Emanuelle recebeu.

Depois de Mycroft saudar o pai e os demais na casa, os dois irmãos saíram para a varanda, para conversar:

— O que você faz aqui? -perguntou Sherlock.

— Se me lembro bem, ainda faço parte dessa família. Ao contrário da mulher que você trouxe.

— Você viu que Harrison a denunciou na televisão.

— Eu sei. Fui eu quem ordenou a prisão dele.

— Eu não poderia deixar ela lá. Podiam invadir o apartamento e arrastá-la para fora.

— E você teve a brilhante idéia de trazê-la para cá.

— Não vão achá-la aqui.

— Não estou preocupado com ela, estou preocupado com todos que você colocou em risco trazendo ela aqui -Sherlock fechou o cenho para Mycroft, enquanto tentava acender um cigarro- essa mulher atrai problemas onde quer que vá.

— Estamos preparados -disse tirando suas luvas para acender o isqueiro para o irmão.

— Mas o que é isso? -perguntou Mycroft, olhando para a aliança no dedo de Holmes- vocês trocaram alianças foi?

— Se vamos mentir, temos que fazer isso direito.

— Será que você está considerando isso com uma mentira mesmo?

Sherlock encarou o irmão o desafiando. Mycroft deu uma tragada longa no cigarro, jogando-o fora em seguida, encarando de volta o irmão enquanto voltava para dentro da casa.

***

Escureceu e o frio intenso caiu sobre o lugar. A família comeu a ceia de Natal e em seguida o senhor Holmes acendeu a lareira, atraindo todos para a sala. Emanuelle estava sentada num canto perto da janela. Ela observava encantada o brilho da lua sobre a neve. As árvores sustentavam em seus galhos nus, grossas camadas de gelo. Podia-se ver subindo aos céus algumas finas fumaças vindas das lareiras da vizinhança distante. Sherlock começou a tocar uma música natalina em seu violino. Ele estava de pé, em frente à lareira. Seus olhos fechados em total concentração e sintonia com a melodia que seus dedos produziam. Emanuelle levantou-se donde estava e sentou-se no tapete, perto de Mary, para aproveitar melhor a música. Sem ninguém notar ela fechara os olhos. Podia sentir a melodia mexer com seu coração. Era como se cada nota saída daquele instrumento dançasse com a jovem, fazendo-a entrar num êxtase enquanto a música era ouvida. Por isso que a jovem amava aquele instrumento, pela profundidade emocional que ele a permitia. Todos no ambiente bateram palmas e o detetive agradeceu curvando-se à pequena platéia.

“Pausa para ir ao banheiro”, disse o senhor Holmes, brincando. O pai dos Holmes se dirigiu ao sanitário, enquanto a mãe se levantou para esticar as pernas, e perguntou quem queria chocolate quente, indo para cozinha preparar. Emanuelle levantou-se dispondo-se a ajudá-la. Sherlock foi até a varanda pegar um ar. Logo a doutora voltou da cozinha com várias xícaras com o doce líquido quente, distribuindo entre todos. Faltava apenas o de Sherlock. Emanuelle foi até a varanda com a xícara e uma pequena caixa enfeitada na mão. Sherlock estava de frente à paisagem, e Emanuelle colocou-se ao seu lado, estendendo o chocolate quente. Ele pegou a xícara, agradecendo. Ao ver a caixa, antes que ele perguntasse qualquer coisa, ela disse com um sorriso tímido:

— Eu tenho uma coisa para você -disse entregando-lhe o presente- Feliz Natal.

O detetive colocou a xícara no guarda corpo da varanda e desembrulhou o pacote. Ele retirou da caixa uma caveira feita de gesso, como daquelas dos laboratórios de medicina. Ele deu um discreto sorriso, ao que ela comentou “Desculpe por ter quebrado a sua naquele cara. A moça da loja de presentes achou bem estranho eu comprar um artigo de Halloween em pleno Natal. Então eu disse que meu amigo tinha gostos bem peculiares.”

Sherlock abriu um sorriso com o comentário da jovem, ele agradeceu e disse, escondendo mais o sorriso agora “também tenho algo para você”. Ele retirou uma caixa pequena e preta do bolso e entregou à jovem. Emanuelle abriu e seus olhos lacrimejaram. Era um colar de ouro com uma flor dourada em mosaico como pingente. O colar era igual ao que a mãe da jovem usava na única foto que Emanuelle tinha guardada da mãe. “Sherlock...esse colar é igual ao da minha mãe, como você sabia? Ah, deixa você deve ter invadido minha casa de novo”. A jovem riu, colocando o pingente na palma da mão, observando-o melhor. “Deixe eu colocá-lo em você”, disse o detetive. A jovem entregou o colar, e ele, abraçando-a e passando os braços ao redor do pescoço dela, afastou os cabelos negros dela e atacou o colar. Ela o abraçou e ele respondeu também a abraçando. Ela lhe disse perto do ouvido “Muito obrigada”. Mycroft foi para a varanda e observou a cena. Ele fez uma carranca, reprovando. Mycroft então limpou a garganta, assustando os dois. “A platéia está pedindo o músico de novo” disse o Holmes mais velho. Sherlock soltou a moça, olhando-a docemente e virando-se, pegou sua caveira e a xícara e foi para a sala. Emanuelle ficou na porta de entrada observando Holmes tocar mais um repertório. Emanuelle se encostou numa das ombreiras da porta e Mycroft em outra. Todos ouviam a música ritmada que ele tocava, e acompanhavam com palmas. Mycroft acompanhou para onde Emanuelle olhava sorrindo, vendo que olhava para seu irmão mais novo. O Holmes mais velho em sua mente calculista previu um desastre emocional na vida do irmão por causa daquela moça. Ela sem dúvida estava apaixonada por ele, e seu irmão ao que tudo indicava também tinha baixado as guardas contra tudo aquilo que ele tinha evitado a vida toda. “Idiota -pensou- depois de todo trabalho que tive para recuperá-lo da morte de barba ruiva, agora ele está se rendendo às emoções de novo”. Mycroft sentiu que deveria fazer algo. Não queria ver ser irmão destruído novamente. Então, puxando assunto com Emanuelle, disse:

— É uma bela família, não é verdade?

— Sim. Você e seu irmão tem muita sorte.

— Mas nem sempre foi assim -Emanuelle olhou desconfiada para ele.

— Como assim?

— Meu irmão teve uma perda terrível no passado. Tive um imenso trabalho para retirá-lo do buraco que ele entrou. Eu prometi a mim mesmo que o protegeria de algo assim de novo...até que você apareceu.

— Eu? Mas, como assim?

— Ora Emanuelle, pense. Essas pessoas são tudo que meu irmão tem agora. E se ele os perdesse -Mycroft suspirou- não sei o que aconteceria com ele.

— E porque ele os perderia?

— Por sua causa -Emanuelle ficou boquiaberta. Ela entendera onde o irmão queria chegar. Ela começou a lacrimejar e disse, com voz trêmula:

— Mycroft, eu jamais quis a morte daquelas pessoas, nem nunca quis me envolver nessa confusão toda.

— Emanuelle, seja onde você passe, a morte vai atrás de você. O Hukm Allah não vai parar até te alcançar...e eles vão matar quem for necessário para conseguir isso -disse, direcionando para todos aqueles que estavam na sala.

Emanuelle olhava para todos. Estavam felizes e batiam palmas acompanhando a melodia. Ela mordeu os lábios, curvou a cabeça, fechando os olhos com força. Lágrimas brotaram dos olhos dela caindo direto no chão. Ela as enxugou antes que alguém as visse. Ela então respirou fundo e disse para Mycroft:

— Eu não quero trazer mais dor. O que eu faço?

— Fuja. Saia do país. Na mala do meu carro vai encontrar passaportes e dinheiro que lhe permitirão sair.

A jovem concordou com a cabeça, pegando a chave do carro de Mycroft para pegar a documentação.