Flor do deserto

Capítulo 35- Concretização


Após algumas horas de conversas e músicas natalinas, o sr e a sra Holmes sugeriram um jogo de cartas. Eles organizaram de forma que fariam uma disputa entre os casais. John e Mary contra os pais de Sherlock, e depois Sherlock e a esposa contra os vencedores. Eles concordaram e Sherlock chamou Emanuelle para o jogo. O detetive não obteve resposta. Ele chamou de novo, e de novo silêncio. Sherlock olhou para John e ele entendeu, levantando-se e indo procurar pela casa por ela. Depois de alguns minutos ambos voltaram para sala, não a achando. “Ela estava lá fora da última vez que a vi”, comentou a mãe de Holmes. Sherlock e Watson correram para fora e gritavam pelo nome dela. Não tinham resposta. Os dois amigos voltaram para dentro, comentando, preocupados “Emanuelle sumiu”. “Como assim sumiu? Ela estava aqui agorinha!” disse Mary, “podem ter pego ela” comentou Watson. “Mas o que está acontecendo? porque a pegariam? Sherlock, o que está havendo?”. Sherlock estava calado o tempo inteiro. Ao ver a passividade e o olhar de vitorioso que seu irmão carregava, o detetive estreitou os olhos contra Mycroft e perguntou desconfiado:

— Você sabe para onde ela foi Mycroft?

— Não. De repente ela fugiu, quem sabe?

— Mas porque ela fugiria? -perguntou a sra Holmes já indignada. Mycroft respirou fundo e respondeu, encarando o irmão.

— Porque a esposa de Sherlock na verdade é a moça que o Hukm Allah está atrás, e meu irmãozinho só casou com ela para conseguir mantê-la no país, já que ela recebeu ordem de deportação -os pais deles olhavam boquiabertos para o detetive- ele só se importa com esse maldito caso.

— O que você disse à ela? Usou nossa família como chantagem emocional?

— Eu a fiz entender que ficando aqui ela estaria colocando a vida de todos em risco.

— E deu a brilhante idéia dela fugir. Agora é que ela está segura mesmo não é?

— Entre colocá-la sozinha em risco ou envolver nossa família, prefiro colocá-la em riso sozinha.

Sherlock se aproximou alguns passos do irmão. Ele apontou de forma ameaçadora para Mycroft e disse:

— Eu só dou um aviso para você Mycroft, não se meta com a minha esposa.

Depois disso ele deu meia volta e foi buscar algumas lanternas no armário. Todos olhavam para o Holmes mais velhos, sustentando um semblante de reprovação pelo que fizera. Sherlock voltou à sala e pegou uma das lanternas deixando o restante no sofá. Ele saiu varanda afora com a lanterna na mão. “Onde você vai?” Gritou John, “vou atrás da minha esposa”, respondeu Sherlock. “Espere querido! Vamos ajudar você”. Mycroft olhou surpreso para a mãe e perguntou:

— Vocês vão atrás dela?

— Claro que sim, não importa quem ela seja. É uma boa moça e está correndo perigo. E você vai comigo -disse a mãe pegando Mycroft pela orelha- Watson e meu marido vão procurá-la na estação de metrô daqui de perto. Eu, Mycroft e Mary vamos pela estrada principal, ver se a achamos no caminho.

— E o Sherlock? -perguntou Watson

— Pelo que estou vendo daqui ele foi procurar no bosque. Vamos agora! antes que ela se distancie mais.

Os dois grupos saíram de carro, deixando a casa vazia.

***

O barulho do último carro que saíra da propriedade dos Holmes já estava longe. O silêncio desceu sobre a casa. Emanuelle aguçou seus ouvidos. Não havia ninguém. Todos haviam saído à sua procura, e agora como ela ouvira onde todos foram ela sabia que caminho evitar. Ela silenciosamente abriu a porta do guarda-roupa antigo do quarto de Sherlock, saindo de dentro dele. Ela tirou também uma mochila onde havia algumas provisões temporárias, inclusive os documentos que pegara com Mycroft. Como o antigo quarto de Sherlock era no térreo, ela abriu a janela e pulou para fora, aterrissando na neve fofa, fechando a janela em seguida. Ela se acocorou, nada ouviu. A lua brilhava com toda força no céu, iluminando o caminho na neve. Ela ajeitou a mochila nas costas e então correu rapidamente em direção ao bosque. Seu coração estava acelerado, o ar gelado balançava seus cabelos enquanto corria. Entretanto ao se afastar apenas alguns metros da casa, ela sentiu algo agarrando em seu tornozelo, derrubando-a na neve. Ao levantar a perna ela viu que era um laço que a prendeu. Ela caiu numa armadilha escondida na neve. Ela sentou-se para tirar o laço, quando ouviu atrás de si uma voz familiar, a fazendo estremer e ruborizar de vergonha ao mesmo tempo.

— Sabe, eu não sabia que você era tão boba ao ponto de dar ouvidos ao que Mycroft disse.

Emanuelle não se virou, permanecendo sentada na mesma posição. Sherlock se aproximou e se abaixou em frente à ela, cortando o laço que prendia seu pé. Ele levantou a mulher. Ela se limpou da neve. E subitamente correu novamente em direção ao bosque. Sherlock a agarrou pela cintura, a arrastando de volta. Ela se debatia e gritava. Sherlock a soltou e ela virando-se para ele, disse já derramando lágrimas:

—Já chega Sherlock. Eu não vou levar mais isso para frente. Não vou pôr sua família em risco.

—Eles não sabem que você está aqui Manu, está segura, todos estamos. Por isso que te trouxe pra cá.

Emanuelle chorava, limpou o rosto com o dorso da mão e disse:

—Eu sonho com eles todas as noites sabia? Eu sonho com o rosto de todos que morreram pela mão do Hukm Allah.

A jovem escondeu o rosto entre as mãos. Sherlock se aproximou, colocando suas mãos nos ombros dela. Ela se desvencilhou dele e disse:

—Por favor Holmes, pare de agir comigo assim. Pare de agir como se gostasse de mim. Se me quer por perto para resolução do caso eu fico e aceito, mas não use esse recurso emocional. Isso acaba comigo.

Sherlock deu dois passos para trás, dizendo incrédulo:

—É isso mesmo que você pensa de mim?

—É a única alternativa que eu acho lógica. Porque alguém como você gostaria de mim? Na verdade, como é que alguém como você pode ter sentimentos?

Sherlock não respondeu, ele estava olhando para o chão. Então ele levantou os olhos cor cristal, e olhou a jovem nos olhos, e disse:

—Eu me pergunto a mesma coisa -Emanuelle olhou para ele com um semblante confuso- desde o primeiro dia que pus os olhos em você, senti algo diferente. Não conseguia te ler, e isso me perturbou, mas aos poucos começou a me fascinar.

—Você nunca me disse nada -comentou atônita.

— Eu estava tão assustado quanto você. Droga, eu nunca senti isso antes! E depois que James deu aquele tiro em seu pescoço eu tive a certeza que havia algo de errado comigo. Mas quando eu beijei você…-Sherlock se aproximava dela- eu soube o que era, soube que, de alguma forma e sem nenhuma explicação lógica eu comecei a sentir algo muito forte por você... Eu te amo.

A jovem levou a mão a boca. Ela estremeceu ao ouvir aquela frase. Não havia dúvidas que o detetive estava sendo sincero. A mente dela, de repente, ficou dividida. O medo a dizia para correr, mas ela não queria correr, ela queria ficar. Ela sabia que também sentia algo forte por Sherlock, algo que nunca sentiu antes. Algo que ela tentava reprimir, mas era mais forte do que ela. Sherlock então continuou:

—E eu sei que você também sente algo por mim. Posso ver em seus olhos.

—Isso não é verdade -disse trêmula e hesitante, sua voz falhava- está enganado.

Sherlock se aproximou ainda mais e envolveu os seus braços na cintura da jovem, a abraçando forte. Ele aproximou seu rosto do rosto da moça, e disse no seu tom grave de voz:

—Se não é verdade, se estou enganado, me peça pra eu te soltar e eu nunca mais toco nesse assunto novamente.

Emanuelle olhava para os olhos cor cristal do homem que a abraçava. Ela sentiu seu coração disparar, seu estômago flutuava em sua barriga. Ela sentia o calor emanar do homem, a aquecendo. Emanuelle balançou sua cabeça negativamente, "não... não quero pedir isso" disse Emanuelle. Ela não era mais capaz de lutar contra aquilo. Ela queria estar ali, queria ama-lo, queria dar evasão à esse sentimento tão sublime que surgiu em seu coração. Sherlock então avançou seu rosto contra o dela e seus lábios se encostaram. Emanuelle respondeu o beijando, fazendo ele a mesma coisa. Enquanto estavam envolvidos nesse momento sublime, Sherlock retirou uma das mãos da cintura da mulher e pegou em seu bolso do sobretudo uma seringa com sedativo dentro. Seu plano era simples: distrair Emanuelle com o beijo, e injetar o sedativo nela, fazendo-a desacordar, podendo mantê-la em segurança em casa. Mas não foi bem assim que aconteceu. Sherlock envolveu-se naquele momento, e não queria interrompê-lo. A mão dele aos poucos folgou a seringa, até que ela caiu na neve, o detetive desistiu do plano. Ele retornou a abraça-la com força, envolvendo-se ainda mais com Emanuelle.

À medida que provavam do sabor do beijo um do outro, o desejo de aproximação era cada vez mais ardente em seus corações. O detetive a suspendeu do chão, e Emanuelle inclinando-se colocou suas mãos sobre o rosto de Sherlock, o beijando ardentemente. Sherlock a carregou de volta para a casa. Sendo assim, a lua e as estrelas testemunharam a união de um casal ligado, antes pelos papéis, mas agora pelo coração. E naquela fatídica noite, os dois tornaram-se uma só carne, e o casamento fora devidamente concretizado.

***

Avise a todos para voltarem. Emanuelle está em casa-SH”. Watson leu a mensagem em seu celular e avisou ao pai de Holmes para dar meia volta, enquanto Watson já discava para Mary.

Sherlock estava sentado no seu quarto, numa poltrona perto da cama. Ele observava Emanuelle dormir. Ela estava deitada de bruços dormindo, com as costas descobertas, sendo iluminada pela forte luz da lua que entrava naquele quarto. A mulher tinha nas costas várias cicatrizes de chicotadas, provavelmente adquiridas durante sua difícil infância. Sherlock estava sem camisa e sem sapatos. Ao ver aquelas marcas nas costas dela, ele passou a mão pelo seu abdômen, tocando uma cicatriz antiga de um caso que ele se envolveu. Ele ouviu um barulho de motor de carro se aproximando. Watson desceu do carro e entrou correndo dentro de casa enquanto o senhor Holmes estacionava. Ele entrou chamando por Sherlock, passou pelo corredor e foi até o antigo quarto do detetive. Quando Watson apareceu na porta, ele viu Sherlock se levantando da cadeira, fazendo sinal de silêncio para John. O detetive se aproximou de Emanuelle e cobriu suas costas com o edredom, beijando-a no rosto em seguida. Watson ficou boquiaberto com o que viu. O detetive viu que o amigo estava a ponto de surtar na porta então saiu do quarto em pleno silêncio, recolhendo seu casaco e sua camisa do chão, fechando a porta em seguida. Watson sussurrava para o amigo, enquanto caminhava para a sala.

—Holmes, vocês dois... vocês...quer dizer, vocês estão…

— Desembucha Watson.

— Vocês... Ela está na sua cama, e você está sem camisa…

John estava claramente nervoso e sem jeito para perguntar o que Sherlock já sabia. O detetive deu um discreto sorriso e disse para o colega enquanto vestia a camisa:

—Eu e Emanuelle somos casados John, é normal casais casados fazerem isso. Deveria saber, você tem uma filha.

John riu da situação e de sua própria vergonha em tratar esse assunto com seu amigo. Watson então sorriu, e bateu no ombro de Holmes comentando: “seja bem vindo ao mundo dos casados”. Sherlock respondeu rindo da situação. John observou o semblante do amigo, ele realmente parecia estar feliz. Sherlock alfinetou Watson, dizendo em tom brincalhão:

—Espero que eu não fique tão lento quanto você ficou depois que se casou.

— Até parece que essa aliança no dedo vai te impedir de se meter em confusão.

O telefone do detetive tocou. Ele olhou o número de identificação e comentou “falando em confusão” antes de atender. Era Lestrade.

—Sherlock falando.

— Holmes, o resultado do mapeamento chegou. Detectamos uma radiação importante, proveniente de Kemble, uma das aldeias de Cotswold. O lugar é uma fazenda com criação de ovelhas, à margem do rio Tâmisa. Pegamos eles.

O semblante de Sherlock mudou com a informação. O detetive assumiu um olhar sombrio. Ele estava pronto para pôr fim à esse inferno à vida de sua esposa. Ele estava pronto para lutar. John reconhecia aquela expressão, ele então foi buscar a sua arma. Holmes disse para Lestrade:

—Onde você está?

— Na estrada para Cotswold.

— Antes de ir para Kemble venha buscar a mim e a John. Também quero ter o prazer de pegar esses desgraçados.

—Onde vocês estão?

—Estamos em Cotswold, vou lhe dizer o endereço.

***

Kemble é uma pequena aldeia no distrito de Cotswold. Fazendas, construções e um antigo Hangar fazem a atração do local. Lestrade estava acompanhado de uma grande equipe das forças especiais. O inspetor, o detetive e o médico arquitetavam um plano antes de chegar na fazenda.

A propriedade era grande. Vastas colinas cobertas pela neve decoravam o lugar. Alguns arbustos e árvores pequenas rodeavam a propriedade. As ovelhas estavam recolhidas no curral, devido ao frio daquela madrugada. Um casarão de pedra acoplado à um galpão eram as únicas construções do lugar. Logo o sol nasceria. Sherlock deveria ser rápido, se não a luz do dia nascente o denunciaria. Havia alguns vigias na porta da frente da casa, o detetive então resolveu entrar pelos fundos dela. Havia somente um homem guardando a porta. Sherlock jogou uma pequena pedra, chamando a atenção do guarda. Ele pegou sua arma e foi em direção ao arbusto de onde veio o barulho. Com um movimento rápido, Sherlock saltou de trás do arbusto cheio de neve e dominou o homem. Sherlock pegou a arma dele e entrou na casa. Tudo estava muito silencioso e escuro. Havia um grande salão, sem móveis. Apenas com algumas cadeiras e uma grande mesa central que ficava de frente à uma janela grande, permitindo o que restava da luz na lua naquela madrugada iluminar os papéis espalhados na mesa. A escadaria levava aos quartos dos fugitivos. Sherlock foi até a mesa observar os papéis lá espalhados conferir se havia algo de importante. Para a surpresa do detetive, ele reconheceu um aparelho que estava em cima da mesa. O eletroeletrônico preto fosco com alguns arranhões. Ele viu seu próprio notebook ali. Ele deduziu que devem ter pego quando ele veio para Cotswold. Sherlock abriu o computador e viu que estava aberto na pasta onde estava o documento que ele apagou. O documento que ensinava a construção da bomba e a tabela com as quantidades de urânio que deveriam usar. “Eu queria ver a cara deles quando perceberam que o documento sumiu” sussurrou o detetive para si mesmo. “Não foi muito boa, pode ter certeza”. Sherlock virou-se ao ouvir a voz de Carl. O terrorista saiu das sombras, acompanhado de cinco homens à sua esquerda e cinco à direta. Todos estavam bem armados, alguns com fuzis e outros com espingardas, todas apontavam para o detetive. Sherlock aguçou mais a vista e pôde ver sombras saindo dos quartos. Todos os fugitivos saíram de seus aposentos e viam a cena. Alguns do andar de cima, outros do térreo, mas estavam todos ali. Carl se aproximou, de forma ameaçadora. Ele levava nos dedos um encaixe de metal, que Holmes reconheceu ser um soco inglês. Carl parou perto do detetive.

—Finalmente tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente sr Holmes.

—Igualmente. Você parece mais intimidador pelo telefone.

—E você parece mais esperto nos jornais. O que veio fazer aqui?

—Estava por perto e resolvi fazer uma visitinha.

—Que bom, me poupou de ter que ir atrás de você ou da egípcia.

—Porque?

—Preciso de uma informação. Onde está a tabela?

—Que tabela?

O lábio de Carl estremeceu em um tique nervoso. Ele se aproximou mais e de repente esmurrou Holmes com o soco inglês, levando o detetive ao chão. Sherlock cuspiu sangue no tapete, enquanto tentava se levantar. Carl o agarrou pelos cabelos e falou bem próximo ao rosto do detetive, entredentes.

—Você sabe bem do que estou falando seu miserável. A tabela de urânio, onde está?

—Destruída. Vocês nunca terão acesso à ela.

Carl soltou os cachos de Holmes. Ele se afastou dois passos e disse mais para o público do que para o próprio detetive.

—Sabe, você não é nada esperto como dizem. Veio aqui sozinho e sem nenhuma moeda de troca pela sua vida. Você é um completo idiota.

Sherlock riu de forma desafiadora para Carl, enquanto sangue escorria de sua boca. Holmes disse então:

—E quem disse que estou sozinho? -um barulho foi ouvido de fora da casa, todos se agitaram. Carl olhava em volta, procurando a fonte do ruído. Sherlock continuou a falar, fazendo Carl se voltar a ele- eu só precisava chamar a atenção de um bando de idiotas, só precisei ser a isca.

Nesse momento, dezenas de homens das forças especiais entraram armados pela porta dianteira e traseira do casarão. Os fugitivos começaram a trocar tiros contra os policiais. Sherlock pulou para cima de Carl, levando-o ao chão. Sherlock desferiu uma série de socos contra o rosto do homem. Mas por um deslize do detetive, Carl conseguiu chutá-lo, correndo em direção ao vão que ligava a casa ao galpão. Sherlock viu o homem disparando para o corredor, indo atrás dele, deixando para trás uma confusão de tiros, gritos e prisões. Ao entrar no galpão o detetive se deparou com uma série de caixas pretas empilhadas. Eram as pesadas caixas que os mendigos tinham visto sendo colocadas nos táxis. O detetive caminhou silenciosamente entre elas, aguçando os ouvidos para achar Carl. Uma pilha atrás do detetive foi empurrada em sua direção, Sherlock quando percebeu pulou para o lado rolando no chão. O detetive ainda estava no chão quando foi atingido por um chute certeiro de Carl, rolando violentamente para o outro lado. O homem encaixou a soqueira em suas mãos e partiu para cima de Holmes. Sherlock esperou até o momento certo e chutou o estômago do homem. Carl praguejou dando alguns passos para trás. Holmes se levantou e correu para cima dele, passando o braço ao redor de seu pescoço, o sufocando. Carl se debatia como podia, tentava acertar o rosto do detetive, sem sucesso. O homem então tirou um canivete do cinto, enfiando a lâmina do ombro do detetive. Sherlock soltou o homem grunhindo de dor. O homem se desvencilhou rapidamente e socou três vezes as costelas de Sherlock com a soqueira. O detetive se contorceu e Carl finalizou acertando-lhe o rosto com a arma de metal. Sherlock caiu de costas no chão, zonzo pela violência dos ataques. O homem retirou a lâmina do ombro do detetive, fazendo uma grande quantidade de sangue jorrar e manchar tanto o chão quanto a camisa do detetive. Carl se abaixou e com as fortes mãos apertava o pescoço de Holmes, suspendendo-o do chão. Sherlock tentou chutá-lo, mas ele desviou, batendo violentamente a cabeça do detetive contra a parede. Usando o impulso da parede o detetive chutou o tórax de Carl, fazendo ele dar para trás, largando o pescoço de Sherlock. Holmes caiu de joelhos , dando grandes goles de ar. Quando ele levantou o rosto à procura de Carl não o achou. Ele se levantou e procurou pelo homem. Sherlock segurava o ombro ferido, andando pelas caixas. De um canto escuro Carl saltou por trás de Sherlock, agarrando os cabelos negros dele e encostando a amolada lâmina em seu pescoço. Sherlock afastava o braço de Carl, mas ele empurrava mais a lâmina contra o pescoço dele. Sherlock estava em desvantagem, sua força estava limitada por causa de seu ombro. Carl empurrava com mais força a lâmina, ao ponto de Holmes já senti-la cortando sua pele, fazendo escorrer sangue quente pelo seu pescoço. Holmes estava cansando, logo ele não teria mais força contra aquele ex-militar em fúria. Entretanto, um barulho ensurdecedor invadiu aquele ambiente. Carl afrouxou a força contra o pescoço de Holmes e logo em seguida desmoronou ao lado do detetive com os olhos arregalados. Ao olhar para trás ele viu Watson com a arma em punho, cujo cano estava fumaçando. O detetive ofegante, levantou-se cambaleante. Watson foi até ele, dando-lhe apoio. Sherlock colocou o braço não ferido sobre o ombro do amigo, e caminharam para fora daquele corredor de caixas. “Obrigada”, disse Sherlock com bastante dor. “Tenho que devolver você vivo para Emanuelle, se não ela me mata”, disse Watson, ao que Sherlock respondeu “essa frase é minha” com um sorriso seguido de um gemido de dor.

***

O dia amanheceu, e prometia ser um dia bem frio. As nuvens acinzentaram os céus, prometendo neve o dia todo. Sentado na ambulância fazendo os curativos e a limpeza dos cortes, estava Holmes e ele ouvia Lestrade de pé, do lado de fora da ambulância. Eles conseguiram deter os foragidos. Boa parte morreu no confronto, como Carl, e outra foi presa. Lestrade continuou:

— Nós não achamos o chefe. Ele continua foragido.

—Acharam alguma coisa?

— Sim. Armas, documentos falsos, produtos químicos e o produto radioativo. Aquelas caixas pretas no galpão, estavam repletas de urânio. Não achamos a bomba que eles pretendiam explodir o país, mas como agora temos posse de toda reserva deles, não podem fazer mais nada. Mas...no fundo da fazenda, havia um pier para o rio Tâmisa. Nele haviam várias lanchas pequenas enfileiradas, mas havia um espaço maior entre uma lancha e outra, provavelmente está faltando uma delas.

— Eles podem ter fugido durante a abordagem na casa.

— Eu acho que não -Lestrade puxou o celular e mostrou a foto do local para o detetive. Sherlock olhou para o celular e comentou:

— Sem óleo na água. Devem ter saído há mais de quatro horas antes de chegarmos.

— Avisamos a todas as cidades e vilas da beira do Tâmisa da presença de fugitivos. A polícia está em total alerta nesses locais, e temos homens agora percorrendo em lanchas todo o rio atrás do chefe do Hukm Allah.

Sherlock acenou com a cabeça, olhando para o chão da ambulância. Seus pensamentos estavam longe. Lestrade respirou aliviado. Olhando para o horizonte. Depois de um tempo em silêncio, Lestrade comentou:

— Ah, e parabéns pelo casório Holmes -disse, apontando para a aliança na mão do detetive- tenho certeza que você e Emanuelle se darão muito bem.

— Como sabia que era ela?

— E quem mais poderia ser?

Holmes deu um sorriso discreto. Então, saindo da ambulância, o detetive disse para Lestrade:

— Então leve a mim e a Watson de volta para nossas esposas.

***

Emanuelle estava angustiada no terraço. Desde que soubera do senhor Holmes que Sherlock saiu para prender os fugitivos, o coração da moça não sossegou. Ela não tomou café e não saiu da varanda. Vez por outra seu coração apertava e ela derramava algumas lágrimas. Então de repente, um barulho de carro na estrada fez o coração da moça saltar. Lestrade entrou com o carro na propriedade, parando alguns metros da casa. A neve caía de forma suave, enganchando nos cabelos daqueles que estavam debaixo dela. Algumas portas do carro se abriram. Ao ver Sherlock saindo por uma delas, Emanuelle desceu as escadas, andando rápido em direção à ele. Sherlock estava usando uma tipóia por causa do ombro ferido, e havia um curativo grande em seu pescoço, como também alguns hematomas em seu rosto. A jovem se aproximou e delicadamente tocou com a ponta dos dedos dos hematomas do rosto dele. “O que aconteceu com você?” disse Emanuelle com a voz trêmula. Sherlock pegou a mão que ela estava tocando em seu rosto e a beijou. Comentando em seguida “acabou. Finalmente acabou”. Emanuelle o abraçou e Sherlock usando sua mão sadia levantou o rosto da moça em direção ao seu, e a beijou. A neve caía e ficava presa no cabelos de ambos, e aquela manhã de Natal começou com um grande presente para os dois. A presença um do outro.