Flawless

34. Vê? No fundo, Hanna é realmente uma boa menina


A primeira coisa que Hanna ouviu na manhã de domingo foi alguém cantando uma música de Elvis Costello chamada "Alison".

"Aaaaalison, I know this world is KILLING you!": Alison, sei que este mundo está te matando. Era um cara, com uma voz estridente e irritante como um cortador de grama cantando. Hanna jogou as cobertas para longe. Seria a TV? Seria alguém lá fora?

Quando se levantou, sua cabeça parecia cheia de algodão-doce. Ela viu a jaqueta Chloé que tinha usado na noite passada jogada em cima de sua cadeira, e a lembrança de tudo voltou numa enxurrada.

Depois de a mãe tê-la buscado no Four Seasons, elas voltaram para casa num silêncio sepulcral. Quando pararam na entrada, a sra. Marin puxou o freio de mão do Lexus e correu desconjuntada para dentro de casa, trôpega de raiva. Quando Hanna se aproximou, a mãe bateu a porta na cara dela, com um estrondo forte. Hanna ficou para trás, chocada.Tudo bem, então, ela revelara o pior aspecto de suas habilidades maternais, o que provavelmente não tinha sido uma boa tática. Mas a mãe estava mesmo trancando-a lá fora?

Hanna bateu na porta, e a sra. Marin abriu uma fresta. Suas sobrancelhas estavam franzidas.

— Ah, desculpe, você quer entrar?

— S-Sim — piou Hanna.

Sua mãe gargalhou.

—Você está realmente querendo me insultar e me desrespeitar na frente do seu pai, mas não é orgulhosa demais para morar aqui?

Hanna tinha tentado balbuciar um pedido de desculpas, mas a mãe foi embora, pisando com força. Entretanto, deixou a porta aberta. Hanna pegou Dot e correu para o seu quarto, traumatizada demais até para chorar.

Ohhhhhhh, Aaaaalison... I know this world is KILLLing YOU!

Hanna foi até a porta nas pontas dos pés. A cantoria vinha de dentro de casa. Suas pernas começaram a tremer. Somente um louco seria idiota o suficiente pra cantar aquela música em Rosewood nesse momento. A polícia poderia prender alguém só por cantarolá-la em público.

Seria Toby?

Ela endireitou a camisola amarela e entrou na sala. Na mesma hora, a porta do banheiro se abriu e de lá saiu um cara.

Hanna tampou a boca com a mão. O cara estava com uma toalha — sua toalha fofa da Pottery Barn — enrolada na cintura. Seus cabelos escuros estavam arrepiados. Um grito silencioso ficou preso na garganta de Hanna.

E aí, ele se virou e a encarou. Hanna deu um passo para trás. Era Darren Wilden. O policial Darren Wilden.

— Ei. — Ele estacou. — Hanna.

Era difícil não admirar seu abdome perfeito. Ele, definitivamente, não era o tipo de policial que comia rosquinhas.

— Por que você está cantando isso? — perguntou ela finalmente.

Wilden parecia envergonhado.

— Às vezes, não percebo que estou cantando.

— Eu achei que você... — Hanna parou de falar.

O que diabos Wilden estava fazendo ali? Mas aí ela se deu conta. Claro. Sua mãe. Ela passou a mão no cabelo, embora isso não a acalmasse. E se tivesse sido Toby? a que ela poderia ter feito? Provavelmente, estaria morta.

—Você... você precisa usar aqui? —Wilden apontou para o banheiro cheio de vapor. — Sua mãe está no dela.

Hanna estava muito chocada para responder. Então, antes de saber exatamente o que estava fazendo, desembuchou.

— Eu tenho uma coisa pra contar. Uma coisa importante.

— Como? — Uma gota de água caiu de um fio de cabelo de Wilden direto no chão.

— Eu acho que sei de umas coisas sobre... sobre quem matou Alison DiLaurentis.

Wilden levantou uma das sobrancelhas.

— Quem?

Hanna lambeu os lábios.

— Toby Cavanaugh.

— Por que você acha isso?

— Eu... eu não posso contar por quê. Você tem que confiar na minha palavra.

Wilden franziu as sobrancelhas e se apoiou no batente da porta, ainda seminu. —Você vai ter que me contar um pouco mais do que isso. Você poderia estar tentando se vingar de um cara que te magoou.

Nesse caso eu teria dito Sean Ackard, pensou Hanna, amargamente. Ela não sabia o que fazer. Se contasse a Wilden sobre A Coisa com Jenna, seu pai a odiaria. Todos em Rosewood iam comentar. Ela e suas amigas iriam parar em um reformatório.

Mas não contar o segredo por causa do seu pai — e do restante de Rosewood — não fazia mais sentido. Toda sua vida estava destruída, e, além disso, era verdade que fora ela quem machucara Jenna. Naquela noite, pode ter sido um acidente, mas Hanna a machucara muitas vezes de propósito.

— Eu vou contar — disse ela, devagar. — Mas não quero mais ninguém envolvido.

Só... só eu, se alguém tiver que estar. Tudo bem?

Wilden levantou a mão.

— Não tem importância. Nós verificamos Toby quando Alison desapareceu. Ele tem um álibi perfeito. Não pode ter sido ele.

Hanna bufou.

— Ele tem um álibi? Quem?

— Eu não posso contar isso.—Wilden pareceu sério por um momento, mas aí os cantos de sua boca se curvaram para cima num sorriso. Ele apontou para as calças de flanela E&F com desenho de alce. —Você fica uma graça de pijaminha.

Hanna curvou os dedos dos pés no carpete. Ela sempre odiou a palavra pijaminha.

— Espera aí, você tem certeza de que Toby é inocente?

Wilden estava quase respondendo, mas seu radiocornunicador, que estava na beirada da pia do banheiro, fez uns barulhos e ele se virou para pegá-lo, mantendo a mão na toalha em volta da cintura.

— Casey?

— Apareceu outro corpo — respondeu uma voz entrecortada. — E é de ... —A transmissão transformou-se em estática.

O coração de Hanna estava galopando novamente. Outro corpo?

— Casey? —Wilden estava abotoando a camisa do uniforme. —Você pode repetir? Alô? — Mas só conseguiu barulhos de estática como resposta. Ele notou Hanna ainda parada ali.

—Vá para o seu quarto.

Hanna se eriçou. Que coragem a dele, de falar com ela como se fosse seu pai!

— E o outro corpo? — sussurrou ela.

Wilden pôs o rádio de volta no balcão, colocou as calças em um segundo, e tirou a toalha da parte de baixo, jogando-a no chão do mesmo modo que Hanna tinha feito tantas vezes. — Acalme-se — ordenou ele. Sua gentileza se fora. Ele pôs a arma no coldre e correu escada abaixo.

Hanna o seguiu. Spencer tinha ligado na noite passada para dizer que Emily estava bem — mas e se ela estivesse enganada?

— É o corpo de uma menina? Você sabe?

Wilden saiu quase correndo pela porta da frente. Na saída, perto do Lexus cor de champanhe da mãe, estava sua viatura. Polícia de Rosewood estava escrito em letras garrafais, na lateral. Hanna admirou-se. O carro teria estado lá durante a noite toda? Os vizinhos conseguiriam vê-lo da rua?

Hanna o seguiu até a viatura.

— Será que agora você pode me dizer de quem é o corpo?

Ele olhou em volta.

— Eu não posso contar isso para você.

— Mas... você não entende...

— Hanna —Wilden não a deixou terminar —, diga à sua mãe que eu telefono depois. — Ele entrou na viatura e ligou a sirene. Se antes os vizinhos não sabiam ao certo se ele estivera lá, agora eles tinham certeza.