Flawless

26. Pelo menos ela não tem que cantar no coral


Quando Spencer e Andrew chegaram à Foxy, o lugar já estava lotado. A fila para o estacionamento tinha uns vinte carros, pessoas sem convite se aglomeravam ao redor da entrada, e a tenda principal estava repleta de gente nas mesas, junto ao bar e na pista de dança.

Enquanto Andrew abria caminho até a mesa de drinques, Spencer checou o celular de novo. Nenhuma chamada de Wren ainda. Ela andou pelo chão de mármore do salão, perguntando a si mesma por que estava ali. Andrew havia passado para apanhá-la, e apesar de toda a ansiedade, Spencer tinha colocado as habilidades da aula de teatro em prática e enganado a família, fazendo todos pensarem que eles eram um casal — dando em Andrew um beijinho perto da boca quando o vira, graciosamente aceitando suas flores, posando para uma foto com o rosto encostado ao dele. Andrew parecera alegremente constrangido, o que contribuíra ainda mais para a farsa.

Agora ele não tinha mais utilidade para ela, mas, infelizmente, ele não sabia disso. Andrew apresentava Spencer a todos — pessoas que ambos conheciam — como sua namorada. O que ela realmente queria fazer era ir para um lugar silencioso e pensar. Precisava descobrir o que aquele policial, Wilden, sabia, e o que não sabia. Se Toby fosse A e o assassino de Ali, ele não estaria conversando com a polícia. Mas e se Toby não fosse A... e A tivesse contado algo à polícia?

— Eu acho que aqui tem um caraoquê. — Andrew apontou para o palco. De fato, uma menina estava berrando "I Will Survive". — Quer cantar?

— Acho que não — respondeu Spencer, ansiosa, brincando com o botão do corpete. Ela olhou ao redor pela quinquagésima vez, procurando as velhas amigas, esperando que elas aparecessem. Sentia que devia avisá-las sobre Toby e sobre os policiais. A havia dito para não fazer aquilo, mas podia tentar um código.

— Bom, talvez você queira cantar uma comigo? — insistiu Andrew.

Spencer voltou-se para ele. Andrew parecia um dos labradores de sua família, implorando por migalhas da mesa.

— Eu não acabei de dizer que não quero?

— Ah. — Andrew brincou com a gravata. — Desculpe.

No final, ela concordou em cantar, nos vocais de apoio, "Dirrty", de Christina Aguilera — incrível que o certinho Andrew escolhesse cantar aquela música — porque era mais fácil assim. Agora, Mona Vanderwaal e Celeste sei-lá-o-sobrenome-dela — ela frequentava a escola Quaker — estavam no palco cantando "Total Eclipse of the Heart". Elas já pareciam um pouco tontas, uma segurando o braço da outra para manter o equilíbrio, e repetidamente derrubando as pequenas bolsas de veludo no chão.

— Nós vamos cantar muito melhor que elas — disse Andrew. Ele estava perto demais. Spencer sentia seu hálito quente, cheirando a chiclete de menta, e se irritou. A respiração pesada de Wren em seu pescoço era uma coisa, mas Andrew era bem diferente. Se ela não apanhasse algum ar imediatamente, podia desmaiar.

— Já volto — murmurou ela para Andrew e saiu correndo em direção à porta.

Assim que passou pelas portas francesas do terraço, seu telefone vibrou. Ela se assustou.

Quando olhou para o mostrador, seu coração deu um pulo. Wren.

—Você está bem? — quis saber Spencer. — Eu estava tão preocupada!

—Você deixou doze mensagens — respondeu Wren.— O que está acontecendo?

Spencer podia sentir a tensão se esvair dela, e seus ombros relaxando.

— Eu... não tive notícias suas, e pensei... por que você não checou sua caixa postal?

Wren limpou a garganta, parecendo um pouco desconfortável.

— Eu estava ocupado, só isso.

— Mas eu pensei que você estava...

— O quê? — disse Wren, meio rindo. — Caído na sarjeta? Ora, vamos, Spence. — Mas... — Spencer fez uma pausa, tentando achar um jeito de explicar. — É que eu tive uma sensação estranha.

— Bom, eu estou bem. — Wren fez uma pausa. — Você está bem?

— Estou. — Spencer abriu um leve sorriso. — Quero dizer, estou aqui nesta festa ridícula, com meu parceiro ridículo, e preferia estar com você, mas me sinto muito melhor agora. Estou feliz por você estar bem.

Quando desligou, estava tão aliviada que queria correr e beijar qualquer pessoa no terraço — como Adriana Peoples, a garota da escola católica que estava sentada na estátua de Dionísio, fumando um cigarro de cravo. Ou Liam Olsen, o jogador de hóquei que estava agarrando uma menina. Ou Andrew Campbell, que estava parado atrás dela, parecendo chateado e inútil. Quando o cérebro de Spencer registrou que Andrew era, bem, Andrew, seu estômago se contraiu.

— Hum, oi — disse ela, apressada. — Há quanto tempo... há quanto tempo você está aqui?

Pela expressão desolada no rosto de Andrew, Spencer percebeu que ele estava ali por tempo suficiente.

— Ouça — suspirou ela. Era melhor cortar o mal pela raiz. — A verdade, Andrew, é que eu espero que você não pense que vai acontecer alguma coisa entre a gente. Eu tenho namorado.

Primeiro, Andrew pareceu espantado. Depois, magoado; então, envergonhado; e, por fim, furioso. As emoções passaram tão rápido pelo rosto dele que era como assistir a um pôr do sol em câmera acelerada.

— Eu sei. — Ele apontou para o Sidekick dela. — Eu ouvi a conversa.

É claro que ouviu.

— Sinto muito — respondeu Spencer. — Mas eu...

Andrew levantou a mão para interrompê-la.

— Então, por que convidar a mim, e não a ele? Ele é algum cara que os seus pais não querem que você namore? Daí, você vem comigo, pensando que pode enganá-los?

— Não — disse Spencer depressa, sentindo-se incomodada. Ela era tão transparente assim, ou Andrew era simplesmente um bom adivinhador? — É... é difícil de explicar. Eu pensei que a gente pudesse se divertir. Eu não quis magoar você.

Um cacho de cabelos caiu sobre os olhos de Andrew.

— Pois eu caí direitinho. — Ele correu para a porta.

— Andrew! — gritou Spencer. — Espere! — Enquanto ela o observava desaparecer na multidão de garotos, uma sensação gelada e desconfortável a invadiu. Ela, definitivamente, havia escolhido o garoto errado para fingir ser seu namorado. Teria sido melhor ter ido à festa com Ryan Vreeland, que estava no armário; ou Thayer Anderson, interessado demais em basquete para levar qualquer garota a sério.

Ela correu para a tenda principal e olhou ao redor; devia, pelo menos, pedir desculpas a Andrew. O lugar inteiro estava iluminado por velas, de modo que era difícil encontrar alguém.. Ela conseguia identificar Noel e a garota da escola Quaker na pista de dança, bebendo da garrafinha de uísque. Naomi Zeigler e James Freed estavam no palco, cantando uma música da Avril Lavigne que Spencer não suportava. Mason Byers e Devon Arliss estavam se beijando.

Kirsten Cullen e Bethany Wells cochichavam em um canto.

— Andrew? — chamou ela.

Então, Spencer notou Emily do outro lado do salão. Ela usava um vestido tomara que caia cor-de-rosa e tinha uma pashmina no mesmo tom sobre os ombros. Spencer deu alguns passos na direção de Emily, mas, então, percebeu o parceiro dela parado ao seu lado, a mão em seu braço. Assim que Spencer apertou os olhos para ver melhor, o rapaz virou a cabeça e a notou. Ele tinha olhos azul-escuros, a mesma cor que ela havia visto em seu sonho.

Spencer engasgou e recuou.

Eu vou aparecer quando você menos esperar.

Era Toby.