Flawless

27. Aria está disponível apenas sob prescrição médica


Aria encostou-se no balcão do bar da Foxy e pediu uma xícara de café puro. A tenda estava tão lotada que a costura de seu vestido de bolinhas já estava ensopada de suor. E ela só havia che-gado há vinte minutos.

— Oi. — O irmão dela se aproximou. Ele usava o mesmo terno cinza que vestiu no funeral de Ali, e sapatos pretos engraxados que pertenciam a Byron.

— Oi — guinchou Aria, surpresa. — Eu... eu não sabia que você vinha. — Quando ela saiu do banho para se arrumar, a casa estava vazia. Confusa, por um momento ela pensara que sua família a havia abandonado.

— É, eu vim com... — Mike se virou e apontou para uma moça magra e pálida, que Aria reconheceu da festa de Noel Kahn, na semana anterior. — Bonita, não é?

— É.— Aria virou o café em três goles e notou que suas mãos estavam tremendo. Aquela era a quarta xícara que ela tomava em uma hora.

— Então, cadê o Sean? — perguntou Mike. — Foi com ele que você veio, não foi?

Todo mundo está comentando.

— Está? — perguntou Aria, com sinceridade.

— Está. Vocês são o novo casal do momento.

Aria não sabia se ria ou chorava. Ela podia imaginar algumas das garotas da Rosewood Day fofocando sobre ela e Sean.

— Eu não sei onde ele está.

— Por quê? a casalzinho do momento já se separou?

— Não... — A verdade era que Aria estava meio que se escondendo de Sean.

Na noite anterior, depois que Meredith dissera a Aria que ela e Byron estavam apaixonados, ela havia corrido de volta para Sean e se desmanchado em lágrimas. Nunca, em um milhão de anos, ela havia esperado que Meredith dissesse aquilo. Agora que Aria sabia a verdade, se sentia impotente. Sua família estava condenada. Por dez minutos, ela uivara no ombro de Sean: O que é que eu vou fazeeeeeer? Sean a acalmou o suficiente para levá-la para casa, e até mesmo a acompanhou ao seu quarto, colocando-a na cama e deixando o bichinho de pelúcia favorito dela, Pigtunia, no travesseiro a seu lado.

Logo que Sean saiu, Aria jogou as cobertas para longe e andou pela casa. Ela olhou para o quarto principal. A mãe estava lá, dormindo tranquilamente... sozinha. Mas Aria não podia acordá-la. Quando Aria despertou novamente, algumas horas depois, foi ao quarto principal de novo, preparando-se para simplesmente jazer o que devia ser jeito, mas, desta vez, Byron estava na cama, ao lado de Ella. Ele estava deitado de lado, com o braço por cima do ombro da esposa. Por que alguém dormiria abraçado a uma pessoa quando estava apaixonado por outra? De manhã, quando Aria acordou, após uma única hora de sono, seus olhos estavam inchados, e uma série de pequenas brotoejas vermelhas haviam estourado em sua pele. Ela sentia como se estivesse de ressaca e, quando se lembrou dos acontecimentos da noite, se escondeu debaixo do edredom, envergonhada. Sean a havia colocado na cama. Ela havia fungado no ombro dele. Ela havia uivado como uma pessoa insana. Que melhor modo de perder

o cara de quem você gosta, além de babar nele todo? Quando Sean a apanhou para a Foxy — incrível que tivesse aparecido —, ele imediatamente quis conversar sobre a noite anterior, mas ela evitou o assunto, dizendo que estava se sentindo muito melhor. Sean olhou para ela de modo estranho, mas era inteligente o suficiente para não fazer perguntas. E, desde de então, ela estava fugindo dele.

Mike se apoiou contra o balcão de madeira do bar da Foxy, balançando a cabeça quando o DJ começou a tocar Franz Ferdinand. Havia um sorrisinho satisfeito em seu rosto —Aria sabia que ele se sentia o máximo por ter conseguido um convite para a Foxy, já que estava apenas no segundo ano. Mas ela era irmã dele, por isso podia enxergar a tristeza e a dor por baixo da superfície. Era como na vez em que eles eram pequenos e brincavam na piscina comunitária, e os amigos de Mike o chamaram de gay porque seu calção de banho branco tinha ficado cor-de-rosa na lavagem. Mike tentara aguentar firme, entretanto, mais tarde, durante o treino de natação dos adultos, Aria o encontrara chorando escondido perto da piscina infantil. Ela queria dizer alguma coisa para fazer com que ele se sentisse melhor. Sobre o quanto ela sentia pelo que estava prestes a contar a Ella — Aria contaria tudo à mãe naquela noite, quando chegasse em casa, sem desculpas — e que nada daquilo era culpa dele, e que se a família deles se desintegrasse, tudo ainda ficaria bem. De algum jeito.

Mas ela sabia o que aconteceria se tentasse. Mike simplesmente fugiria.

Aria pegou mais café e saiu do bar. Ela só precisava de movimento.

— Aria — chamou uma voz atrás dela. Ela se virou. Sean estava a cerca de dois metros de distância, perto de uma das mesas. Ele parecia chateado.

Em pânico, Aria colocou o café na mesa e saiu correndo em direção ao banheiro feminino. Uma de suas sandálias escapou de seu pé. Enfiando-a de volta depressa, ela continuou correndo, mas terminou encurralada por uma parede de gente. Ela tentou abrir caminho a cotoveladas, mas ninguém se mexeu.

— Ei. — Sean estava bem do lado dela.

— Ah — gritou Aria por sobre a música, tentando agir normalmente. — Oi.

Sean tomou Aria pelo braço e a levou para o estacionamento, que era o único lugar vazio na Foxy. Sean pegou as chaves com o manobrista. Ele ajudou Aria a entrar no carro e dirigiu até um local deserto, um pouco mais abaixo da estrada.

— O que está havendo com você? — exigiu saber ele.

— Nada. —Aria olhou pela janela. — Estou bem.

— Não, não está. Você parece... um zumbi. Está me assustando.

— Eu só... — Aria brincou com sua pulseira de pérolas, rolando-a para cima e para baixo no braço. — Eu não sei. Eu não quero aborrecer você.

— Por quê?

Ela deu de ombros.

— Porque você não quer ouvir isso.Você deve pensar que eu sou completamente doida.

Tipo, sinistramente obcecada pelos meus pais. Eu só consigo falar nisso.

— Bem... é verdade. Mas... quer dizer...

— Eu não ficaria zangada — interrompeu ela —, se você quisesse ir dançar com outras garotas e tudo.Tem umas garotas bem bonitas aqui.

Sean piscou, o rosto pálido.

— Mas eu não quero dançar com mais ninguém.

Eles ficaram quietos. Dava para ouvir a música de Kanye West, "Gold Digger", vindo da tenda.

—Você está pensando em seus pais? — perguntou Sean, baixinho.

Ela assentiu.

— Acho que sim. Eu tenho que contar tudo para a minha mãe hoje.

— Por que é que você tem que contar a ela?

— Porque... — Aria não podia contar a ele sobre A. — Tem que ser eu. Isso não pode continuar assim.

Sean suspirou.

—Você coloca muita pressão em si mesma. Não dá pra tirar uma noite de folga? No começo, Aria ficou na defensiva, mas depois relaxou.

— Eu realmente acho que você deve voltar para lá, Sean. Você não devia me deixar estragar a sua noite.

—Aria...— Sean deixou escapar um suspiro frustrado. — Pare com isso.

Aria fez uma careta.

— Eu só acho que a gente não vai dar certo.

— Por quê?

— Porque... — Ela fez uma pausa, tentando descobrir o que queria dizer. Porque ela não era a típica garota de Rosewood? Porque o que quer que Sean admirasse nela, havia muito mais a respeito de sua pessoa para não admirar? Ela se sentia como algum daqueles remédios maravilhosos que são sempre anunciadas na TV O narrador lê parágrafos e mais parágrafos sobre como o remédio ajuda milhões de pessoas, mas, bem no finalzinho do comercial, ele diz bem baixinho que os efeitos colaterais incluem palpitações cardíacas e diarreia. No caso dela, seria algo do tipo: Garota legal, inteligente... mas a história familiar pode resultar em surtos psicóticos e, de vez em quando, ela pode fungar bem na sua camisa cara.

Sean pôs a mão cuidadosamente sobre a de Aria.

— Se você está com medo de que eu tenha ficado assustado com a noite passada, está enganada. Eu gosto de você de verdade. Acho que gosto ainda mais por causa da noite passada. Lágrimas encheram os olhos de Aria.

— Sério?

— Sério.

Ele apertou a testa contra a dela. Aria prendeu a respiração. Finalmente, seus lábios se tocaram. E de novo. Com mais força, desta vez.

Aria apertou a boca contra a dele e segurou-o pela nuca, puxando-o para mais perto. O corpo dele era tão quente e seguro. Sean correu as mãos pela cintura de Aria. De repente, eles estavam mordendo os lábios um do outro, as mãos subindo e descendo pelas costas um do outro. Então, se separaram por um instante, com a respiração pesada e se olharam nos olhos. Eles se agarraram de novo. Sean puxou o zíper do vestido de Aria. Ele tirou o paletó e atirou-o no banco de trás, e ela atacou os botões da camisa dele. Ela beijou as lindas orelhas de Sean e enfiou as mãos por dentro da camisa dele, arrastando-as pela pele macia. Ela envolveu a cintura dele com as mãos da melhor forma possível, o corpo em um ângulo estranho no banco apertado do Audi. Sean abaixou o banco do carro, levantou Aria e a apertou contra si. A espinha dela batia contra o volante.

Ela arqueou o pescoço enquanto Sean beijava sua garganta. Quando Aria abriu os olhos, viu alguma coisa — um pedaço de papel amarelo sob o limpador do para-brisas. Primeiro, pensou que fosse algum tipo de anúncio — talvez, algum garoto fazendo propaganda de uma festa depois da Foxy —, mas, então, notou as palavras grandes, arredondadas, escritas de forma descuidada com hidrocor preto.

Não esqueça! Ao bater da meia-noite!

Ela se afastou de Sean rapidamente.

— O que foi? — perguntou ele.

Ela apontou para a nota, as mãos tremendo.

—Você escreveu aquilo? — Era uma pergunta estúpida. Ela já sabia a resposta.