Resolvi deixar os problemas e consequencias de lado nessa semana.

Peguei a estrada com a música alta e logo, sem perceber, comecei a cantar junto. A viagem não era longa, uma hora e meia mais ou menos.

A paisagem deserta da estrada mudou e eu me vi algumas casinhas simples e pequenas aqui e ali. A abundância de flores e plantas tornava o lugar um dos mais bonitos que eu já tinha visto. Não parecia real, parecia uma vila de contos de fadas onde problemas não existem.

Estacionei o carro em frente ao jardim do meu chalé. Tinha um bonito e grande jardim, um pouco abandonado, mas eu cuidava disso. Gostava de plantas. Era uma casinha pequena, com paredes de madeira de cor vermelha. A pintura estava desgastada e acho que isso dava um charme especial para a construção. Abri a porta, que rangeu. Achei o interruptor e acendi a luz. A sala tinha dois sofás, um tapete redondo entre eles e um rack vazio. A cortina da janela estava suja e amassada. Tinha também uma porta, que dava para o banheiro, e um portal, que ia para a cozinha. Na cozinha havia uma pequena pia, uma geladeira minúscula e bem velha e um fogão tão velho quanto. No meio do cômodo havia uma mesa de madeira pequena e três cadeiras. Também tinha uma janela e duas portas: uma para o quarto e outra para o quintal.

Entrei no quarto e deixei minha mala em cima da cama de casal. Abri a janela com um pouco de dificuldade, fazendo isso com todas as outras do chalé. Troquei de roupa e limpei um pouco a casa; estava há muito tempo fechada e o pó era tanto que tornava difícil a respiração. Depois disso peguei o carro e dirigi até o mercado mais perto, que ficava a uns 20 minutos do chalé, voltei pra casa, comi alguma coisa e deitei no sofá. Acabei adormecendo, mas fui acordado pelo meu celular tocando no quarto.

''Alô.''

''Ryan? Por que você sumiu, eu fiquei preocupado, eu...''

''Calma! Eu só tô viajando por uns dias.''

''Pra onde você foi? Estou indo pra aí.''

''Não, não precisa vir.''

''Mas você...''

''Você mesmo disse que não é minha mãe nem meu pai. Não se preocupa, eu consigo cuidar de mim mesmo.''

Suspirou do outro lado e se deu por vencido.

''Tudo bem.''

''Tchau, Brendon.''

''Tchau, RyRo.''

Desliguei o celular e joguei no fundo da mala. Foda-se, ninguém importante ligaria mesmo.

Vesti minha sunga e um calção e fui pra praia, que era bem em frente ao chalé. Sem pressa, andei até o mar. Estremeci quando a água gelada tocou meus pés. Fui entrando devagar e logo o nível da água estava em meu peito. Mergulhei algumas vezes mas voltei cedo para o chalé; o sal e o sol juntos começavam a queimar minha pele.

Entrei debaixo do chuveiro. Era velho e pouco potente, então a água que saía era pouca e um pouco gelada, o que me fez me apressar no banho. Mesmo assim, o toque da água doce em meu corpo era relaxante.

Sequei-me e enrolei-me na toalha. Fui para o quarto e vesti apenas uma cueca. Deitei no sofá da sala, desejando que essa semana não acabasse nunca.

Adormeci logo em seguida.

A noite peguei meu violão e voltei pra praia, mas dessa vez fiquei apenas na areia. Levei meu caderno também; a praia era um lugar lindo e bastante inspirador.

The men all played along to marching drums and boy did they have fun behind the sea they sang, 'So our matching legs are marching clocks and we’re all too small to talk to God, yes, we’re all too smart to talk to God'

Mas o paraíso é impossível e o inferno sempre daria um jeito de me achar alguma hora. A semana passou rápido e logo quarta-feira já tinha chegado, e eu precisava voltar pra casa.

Com um suspiro comecei a arrumar minha mala, por no carro e fechar a casa e em meia hora eu já estava na estrada.

Antes de ir para meu próprio apartamento precisava passar na casa de Pete para deixar a chave do chalé.

Toquei a campainha, tremendo um pouco. Wentz atendeu com um sorriso grande e sarcástico.

''Hey, Ryan!''

''Tá aqui a chave.''

Ele pegou a chave que estendi pra ele. Me virei para ir embora mas ele pegou em meu ombro com a mão forte e determinada.

''Calma, por que a pressa?'' se aproximou do meu ouvido e sussurrou ''Eu quero uma parte do pagamento agora''. Com um puxão forte me levou pra dentro da casa, fechou a porta e me empurrou contra ela.

Beijou meu pescoço violentamente mas eu empurrei ele pra longe.

''Eu disse só sexo. Vamos logo com isso, eu quero ir embora.'' disse, com um olhar de nojo pra ele e para a casa.

''Tudo bem, só estava tentando deixar as coisas mais prazeirosas pra você.'' revirou os olhos.

Vou te poupar dos detalhes sujos dessa parte, até porque eu vomitaria se relembrasse tudo.

Antes de sair da casa ele me parou no corredor.

''Volte amanhã.''

Mostrei o dedo enquanto abria a porta.

''É sério, Ross. Eu já disse que não quero estragar um rostinho tão bonito.''

Bati a porta e corri para o carro. As lágrimas caíram involuntariamente assim que fechei a porta; me sentia sujo, como nunca tinha me sentido antes.

Quando cheguei em casa Brendon dormia em seu quarto. Guardei minhas coisas e tomei um banho para retirar qualquer vestígio de Pete Wentz de mim. Saí do banheiro, deitei no sofá e liguei a tv. Tentei me distrair ao máximo, tentei não pensar no acordo que tinha com Pete, que teria de ser torturado assim duas vezes por semana por um mês. E que a próxima vez seria amanhã.

Brendon acordou pouco tempo depois.

''Ryan!'' pulou no sofá comigo, me abraçando. Sorri fraquinho, não conseguindo conter as lágrimas. ''O que foi?''

A preocupação inundava sua voz e seus olhos.

''Nada.'' tentei secar as lágrimas, mas elas não paravam de cair.

''Eu não vou te perder de novo, Ryan. O que aconteceu?''

Achei que não teria problemas se contasse pra ele sobre o acordo. Eu não deixaria ele descobrir tudo sozinho, só ia deixar as coisas piores.

''Ok, só me promete que não vai se meter?''

''Não.''

''Argh, eu te odeio por isso. Tudo bem, mas eu vou te impedir de se meter mesmo assim, não quero que nada aconteça contigo. Bom, essa semana eu pra praia, naquele chalé que a gente foi há uns anos atrás. Lembra do sr. Wentz, o dono? Ele morreu, e o filho dele ficou com tudo. Como eu não tinha dinheiro pra pagar, ele propôs um acordo e eu não tive como recusar.''

''Que acordo?''

''Eu...'' suspirei e fechei os olhos; a vergonha não me deixava encarar Brendon ''Eu tenho que transar com ele, duas vezes por semana, por um mês.'' as lágrimas caíram mais ainda e eu comecei a soluçar. Brendonme abraçou, deixando-me esconder meu rosto em seu pescoço.

''Onde esse filho da puta mora?''

''Não, você não vai lá. Você não vai brigar com ele, não...''

''E se eu pagar?'' me interrompeu.

''Não! Você já tá pagando o aluguel e todas as contas, não posso pedir mais nada pra você.''

''Não importa quantas contas eu esteja pagando, eu posso conversar com o pessoal do prédio e atrasar um pouco o aluguel, eu vejo se Spencer ou Z pode me emprestar dinheiro, qualquer coisa, mas eu não quero te ver sofrendo por estar nas mãos daquele cara.''

Me acalmei e me soltei do abraço, deixando ele se deitar do meu lado no sofá.

''Mesmo assim, eu não vou te deixar pagar tudo sozinho, é egoísmo demais. Vou procurar um trabalho amanhã. E ver quanto Pete quer.''

''Não é melhor ligar pra ele?''

''Eu faço isso amanhã, ok?''

''Tudo bem, então. Vou te deixar descansando.'' deu um beijo em minha testa e se levantou.

''Brendon?'' disse, fazendo ele virar-se pra mim. ''Fica comigo hoje? Não quero ficar sozinho.'' sabia que se ficasse sozinho, Pete voltaria a minha memória e eu não podia permitir que ele me torturasse dessa maneira. Brendon sorriu devagar e balançou a cabeça.

''Tá. Eu já venho pra ficar com você.''

Foi para o quarto e começou a conversar com alguém. Prestei atenção no que ele falava.

''Oi, Sarah. Não vai dar pra você vir aqui hoje. É, eu tenho que... e se for? Ele é meu melhor amigo e não tá bem, não posso abandonar ele. ... Caralho, para de ser egoísta, o mundo não gira em torno de você! ... Foda-se. Quer saber, não precisa me ligar de volta. ... Ah não, não começa com esse drama de novo, pelo amor de deus. ... Legal, faça esse favor pro mundo e se mate. Vai se foder.'' desligou o telefone, abriu a porta e voltou pra sala.

''Problemas?'' perguntei, me sentindo culpado pelo namoro dele não estar dando certo, mesmo eu odiando profundamente o fato de ele ter uma namorada.

''Não mais.'' sorriu grande e se deitou comigo. Me abraçou por trás protetoramente, me fazendo encostar a cabeça em seu peito. Tentei disfarçar o sorriso bobo que apareceu em meus lábios.

Ficamos ali a tarde inteira assistindo tv. Nenhum de nós falava nada, mas não importava, apenas a presença dele ali me acalmava e nem os pensamentos sobre Pete me tirariam isso.