Todos os dias era a mesma coisa: De manhã, Brendon chegava e eu estava acordado compondo. Almoçávamos juntos, dormíamos de tarde e de noite ele ia trabalhar, e eu ficava em casa, voltando a compor.

Ás vezes eu tocava no quarto, isolado de tudo e todos, ás vezes eu ia pra sala quando estava cansado de encarar meu guarda-roupa a noite inteira, mas na maioria das vezes eu ia para o terraço do prédio, sentado em um dos poucos bancos, perto das flores e cantando com a lua e as estrelas.

Nessa noite eu estava particularmente inspirado. Já era a segunda música que eu compunha e admito que o céu estrelado e a lua cheia brilhando no céu ajudavam.

Depois de escrever o refrão, joguei a caneta em cima do caderno e toquei algumas notas aleatórias. Olhei para a rua. Mesmo a noite, a cidade não parava: filas de carros estacionados e vários andando, alguns buzinando, um cachorro latindo aqui e ali ás vezes. Eu gostava disso, do barulho da cidade, de saber que eu não estou sozinho nesse mundo, saber que existe mais loucos pensando, cantando e tocando por aí. Mas apesar disso, eu precisava de um tempo de tudo. Do barulho, dos carros, ficar um tempo longe de tudo e todos, em um lugar perdido e solitário no meio do nada.

Lembrei de quando, há uns poucos anos atrás, tinha ido a uma praia deserta com alguns amigos. Foi uma boa semana, quatro garotos em um chalé na praia, com bebidas e cigarros e música. Claro, a pequena casinha ficou destruída depois disso. Tivemos que trabalhar por 3 meses o dia inteiro pra pagar todos os danos para o proprietário, mas pagamos. Quem sabe eu ainda tinha o telefone daquele senhor, eu poderia voltar pra lá por uns dias, seria bom pra mim.

Peguei minhas coisas e voltei para o apartamento. Baguncei ainda mais meu quarto, procurando pelo papel que eu tinha anotado o telefone daquele senhor. Eu tinha certeza que estava ali, lembro que a faxineira que Brendon um dia contratou juntou todos os papéis que estavam na cama e jogou dentro do guarda-roupa e foi nessa época que a gente tinha acabado de voltar de lá.

Depois de uns vinte minutos procurando, achei o papel. Estava rasgado nas pontas, amassado e sujo, mas ainda dava pra ler o número e o nome que eu tinha escrito.

Disquei o número e torci pra não terem se mudado.

''Alô.'' uma voz masculina jovem atendeu.

''Alô. Por favor, o senhor Wentz está?''

''Ah. Sinto informar mas ele faleceu há uma semana. Quem é?''

''Ryan Ross. Ahn... o que aconteceu com aquele chalé na praia que ele tinha?''

''Ainda está lá. Vou alugar para pagar algumas dívidas que ele deixou.''

''Desculpe, mas quem é?''

''Meu nome é Pete Wentz, sou filho do 'senhor Wentz'.''

Eu me lembrava dele. Pete parecia ser legal, mas nunca conversei muito com ele.

''Sinto muito por sua perda. Por quanto vai alugar o chalé?''

Pouco tempo depois fechamos negócio. Eu pegararia a chave no dia seguinte na casa de Pete e iria direto pra lá.

Eu só não tinha a menor ideia de como pagar, já que não estava mais trabalhando, mas daria um jeito nisso depois.

Decidi dormir um pouco. Tinha perdido toda a criatividade e vontade de continuar escrevendo aquela música, depois eu terminaria. Deitei na cama, em cima de um monte de roupas e objetos e fechei os olhos. Demorei um pouco mas consegui cair no sono.

Acordei com o barulho de alguém na cozinha. Era Brendon, que tinha acabado de chegar, fazendo café.

''Eu te acordei né? Desculpa.''

''Sem problemas, eu precisava mesmo acordar.''

''Por que?''

''Preciso sair.'' não disse mais nada além disso. Tomei um gole de café e fui tomar banho. Depois de fazer minha higiene pessoal e me trocar, fiz minha mala e fui para a sala, onde Bden cochilava no sofá com a tv ligada.

Sorri ao ver seu rosto angelical em paz. Escrevi um breve bilhete, dizendo que tinha ido viajar e que voltava em uma semana, e deixei no balcão da cozinha. Dei um beijo em sua testa antes de sair.

Dirigi até o outro lado da cidade, pra casa de Pete. Não era uma vizinhança muito legal. As casas eram amontoadas e escuras, as pessoas eram mal encaradas. Eu tentava evitar ir ali mas não tinha opção dessa vez. Tudo bem, eram apenas por alguns minutos.

Estacionei na frente da casa de Pete, uma construção pequena, com as paredes sujas e um telhado baixo.

''Oi.'' disse com um sorriso.

''Oi. Sou Ryan Ross, vim pegar a chave do chalé.''

''Ah, claro. Entre.'' disse, dando espaço entre a porta. A sala era pequena, com vários posteres, vinis e instrumentos musicais na parede. Tinha uma poltrona, um sofá pequeno e uma tv. ''Por favor, não repare na bagunça e nem na casa. É tudo temporário.'' sorriu.

''Tudo bem.''

''Sente-se.'' sentei no sofá e ele na poltrona.

''Então, está tudo certo, você vai pra lá hoje e volta daqui a uma semana?''

''Isso.''

''Okay. Só uma coisa que esquecemos de conversar, o preço. Quando você vai pagar?''

Me mexi desconfortável.

''Então... eu perdi meu emprego esses dias então acho que vou demorar um pouco pra...''

''Eu não disse que precisava ser em dinheiro.''

''O que você quer?'' ele demorou um pouco antes de responder.

''Gostei de você, Ryan Ross. Vou fazer a dívida mais barata. Sexo, duas vezes por semana, por um mês depois que você voltar.''

Olhei em descrença, mas de qualquer jeito, eu não conseguia ver outra opção. Sua expressão era determinada e um pouco descontraída e até mesmo divertida. Hesitei bastante, mas acabei cedendo.

''Tudo bem, é só sexo.'' disse, virando os olhos.

''Claro, só sexo. Ah, e tenha certeza de cumprir isso direitinho logo quando voltar, não gostaria de estragar um rostinho tão bonito.'' sorriu sarcasticamente.

Saí de lá com um pouco de medo. O que Pete Wentz era capaz de fazer comigo se eu não ''pagasse'' minha dívida? O que ele queria dizer com isso? E por que diabos ele queria sexo justo comigo? Afinal, ele deve ter negócio com tantos outros caras, muito mais bonitos e legais que eu. E eu nunca tinha falado realmente com ele antes disso.

Eu só tive certeza de uma coisa: minha vida depois dessa semana seria um inferno.