Não consegui dormir depois daquela noite. Os meus pensamentos não sossegaram por um segundo e o que eu mais fiz foi pensar sem chegar a nenhuma conclusão que me convencesse. Tenho quase certeza de que estou ficando louca graças a Amara e o seu misterioso desaparecimento. Além dos casos envolvendo Amara, eu não conseguia parar de pensar no ser alto que vi na floresta e no meu pesadelo. Ele era real ou não? Eu estou ficando maluca ou algo do tipo, já que estou vendo coisas que vão além da realidade?

Perguntas, perguntas, perguntas. E, como sempre, nenhuma resposta. Seria mais fácil se ela estivesse aqui para responder. Mas isso criaria mais perguntas ainda.

— Senhorita Lee. — Chamou alguém atrás de mim. Quando vi era Steve, o policial que me acompanhou ontem até a delegacia. O que será que ele quer dessa vez?

— Aconteceu alguma coisa? — Perguntei. Olhei para ver se Dennis estava com ele mas não o vi. Ele também não estava no carro.

— Sim, terá que vir comigo até a delegacia. — Respondeu ele. Seus cabelos estavam molhados e seus olhos verdes tinham um certo brilho que os deixavam mais bonitos ainda. Bem, ele era bonito.

— É sobre Amara? — O segui até o carro e entrei, observando-o enquanto sentava no banco do motorista. Ele me olhou, parecendo feliz. Que estranho...

— Sim, é sobre ela. — Ele deu um sorriso e começou a dirigir. — Então, quantos anos tem?

— Amara? Ela tinha dezesseis, eu acho...

— Não, estou perguntando a sua idade. — Riu ele, sem tirar os olhos da estrada. Olhei para as minhas mãos e suspirei.

— Tenho quase dezesseis. Faltam alguns meses para o meu aniversário mas não pretendo fazer alguma festa. Não gosto de comemorar o meu aniversário, aliás... — Odeio datas comemorativas. Nenhuma delas significa nada para mim, nem mesmo o natal. Da última vez que comemorei o meu aniversário, ninguém foi. Convidei várias pessoas mas nenhuma apareceu. Me senti tão mal que destruí toda a decoração da festa. Isso foi há cinco anos.

— Também não gosto muito de comemorar o meu aniversário. Prefiro ficar sozinho e tomar uma cerveja com meu parceiro. — Disse Steve.

— Falando nisso, onde está Dennis? Decidiu comer amendoim na delegacia? — Perguntei, olhando pela janela para evitar o olhar dele.

— Ele está de folga hoje. É aniversário do filho dele. — Arregalei os olhos e virei na direção dele.

— Ele tem um filho!? — Eu estava surpresa. Aquilo era estranho de se ouvir... Pensei que ele era jovem demais para ter uma esposa e um primogênito.

— Sim, uma adorável criança de três anos. — Respondeu Steve, rindo. Dei de ombros e continuei observando a janela da viatura. Mesmo com as casas e prédios na frente, consegui ver a Floresta Sem Fim. Que vontade de entrar lá e ver o que ela esconde...mas tenho medo de me perder e morrer. Não quero que todos procurem o meu corpo e achem que desapareci por causa de Amara.

Meu coração acelerou quando passamos em frente a delegacia e não paramos. Olhei para Steve e ele não se mexeu. Seu rosto estava inexpressível e seus olhos fixos na estrada. Ele estava me assustando. Eu estava assustada.

— Steve, já passamos a delegacia. — Falei. Ele não se moveu, apenas continuou dirigindo. Me desesperei ainda mais por dentro e afundei no banco, observando a estrada em que passávamos. Passamos pelo mercado, pelo parque, até mesmo pela casa de Amara — onde eu achei que pararíamos mas estava enganada. Para onde estávamos indo, afinal?

Quando estávamos longe da minha casa e da cidade inteira, Steve parou ao carro ao lado de uma pequena cabana de madeira, que estava desgastando com o tempo. As janelas estavam tampadas com madeira e o teto com buracos enormes, como se estivesse caindo aos poucos. A porta estava pichada, assim como as paredes externas.

Atrás da cabana, pude ver uma cerca preta pontiaguda cercada pelas árvores do que parecia ser o começo da Floresta Sem Fim. Oh, Céus. Espero que não entremos lá. Se o fizermos, vamos nos perder com certeza.

Steve saiu do carro e bateu a porta com força. Ouvi ele abrindo o porta-malas e tirando alguma coisa de lá. Fiquei paralisada quando fechou o porta-malas e vi pelo retrovisor que ele segurava uma arma. Parecia uma pistola com algo comprido na frente; um silenciador?

Ele abriu a porta da viatura e me puxou pelo braço, me jogando no chão logo em seguida. Quase bati a cabeça no chão mas me equilibrei com as mãos. Meus joelho estava doendo um pouco. Aquilo não era um problema tão grande, então não liguei muito para a dor.

— Levante. — Disse Steve. O ignorei. — LEVANTE-SE AGORA! — Demorei um pouco para levantar e fiquei desconfortável quando ele juntou as minhas mãos e colocou as algemas. Estava nervosa e com medo do que poderia acontecer. O que ele irá fazer comigo?

— Aonde estamos indo? — Perguntei enquanto Steve me empurrava para dentro da floresta. Ele ainda segurava a arma e andava rapidamente, como se estivesse querendo fugir de algo. Seu rosto estava calmo e sereno, mas seus olhos pareciam buracos negros, vazios como pedra, fixos no caminho à frente. Como todas as outras vezes que eu perguntei, ele me ignorou.

Depois de andar por mais dez minutos, paramos ao lado de uma enorme árvore com a madeira diferente das outras. Enquanto as demais árvores eram com os troncos escuros e úmidos, aquela única árvore tinha a madeira mais clara, quase branca, e parecia ter sido plantada recentemente mesmo sendo maior que a maioria. Suas folhas eram mais claras também e não vi nenhuma caída pelo chão ao redor da árvore. Era como se fosse de plástico.

— Uau. — Murmurei, não conseguindo tirar os olhos das folhas no topo.

— É linda, não é? — Perguntou Steve, se aproximando. Me arrepiei quando percebi que ele estava perto demais. — Quando a vi, lembrei de você. Branca como a neve, nova e em folha...sem nenhum arranhão. — Ele beijou o meu pescoço mas dei uma cotovelada em seu estômago e tentei correr. Falhei quando tropecei em alguma coisa e bati a minha cabeça na árvore. Aposto que foi uma raiz que não reparei antes...

— Você não vai escapar tão fácil assim. — Disse ele, me puxando para si. Ele acariciou o meu rosto e encostou a sua testa na minha. — Devia me agradecer por não ter morrido...ainda. — Suas últimas palavras fizeram o meu coração acelerar e minha respiração falhar. Eu vou morrer. Não importava se era daqui a pouco ou ao fim do dia. Eu vou morrer hoje. E o meu assassino será o policial que, por um momento, achei que podia confiar.

— Se eu conseguir escapar, vou te processar. — Falei. Steve riu e me pressionou contra a árvore.

— Acha mesmo que vai conseguir escapar? — Ele deu um sorriso lindo e radiante mas ao mesmo tempo nojento. — Só conseguirá passar por mim se me matar. — Ele começou a gargalhar e pegou a arma que havia caído no chão graças a minha cotovelada em seu estômago. — Bem, acho que nós sabemos muito bem quem irá vencer, não é?

Steve me beijou à força e começou a passar a mão sem a arma pelo meu corpo. Me debati, tentando me livrar dele mas era impossível. Ele era muito maior que eu e o medo me travava. Não conseguia ser forte pelo menos uma vez? Não, não era tão fácil. Nunca foi.

Ele estava quase tirando a minha blusa quando ouvimos um barulho vindo de uma árvore ali perto. Pude ver um casaco branco atrás da árvore mas não consegui ver nada mais. Steve saiu de cima de mim e se levantou, indo até a árvore. Prendi a respiração quando ele olhou atrás da árvore e deu de ombros, voltando-se para mim. Estava prestes a dizer algo, mas uma faca cortou o seu pescoço em um movimento rápido, fazendo sangue jorrar por toda aquela árvore. Me assustei e comecei a recuar, indo para trás da árvore branca. Não sabia se a pessoa com a faca tinha me visto mas não me importei. Me escondi mesmo assim.

Fiquei em silêncio, esperando alguma coisa acontecer. Não ouvi passos nem nada, apenas o silêncio. Logo depois tudo ficou escuro.