Final Fantasy XV - Another Tale

Ano 756 da Era Moderna, 19 de Outubro - Parte 2


— “Tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe, não é mesmo?” – Tenha dito Cindy, ao se juntar a mim. Estava olhando para a cidade de Lestallum que só estava distante por um desfiladeiro com segredos e criaturas que precedem as Guerras Astrais. Seria tão fácil ter uma ponte que cortasse direto para a cidade, mas se fosse o caso não estaríamos aqui. Concordei com Cindy e cheguei mencionar que o desfiladeiro mais parecia um lugar esculpido pelos os deuses do que um atrito violento entre eles.

— “Estamos falando de uma cicatriz de uma guerra passada. Aqui pode ser um ótimo ponto turístico hoje, mas no passado foi um cataclisma que mudou toda Eos.” – Jenica se aproximava de nós, enquanto se envolvia em nossa conversa.

— “E os demônios de hoje também serão uma memória do passado em um futuro distante.” – Dizia Cindy dando sua atenção a Jenica, enquanto colocava seu boné em sua cabeça. - E quem sabe as mudanças que irão trazer?

— “Só espero que não uma segunda Niflheim. Que por si só, já é uma segunda Solheim.” – Respondeu amargamente Yura, prosseguindo em cortar a breve conversa. – “Agora, temos uma escolta a concluir. Senhorita Cindy, você dirige seu caminhão, enquanto nós te escoltamos pela vanguarda.”

— “Certo...” – Dizia Cindy ao voltar para seu caminhão. Jenica apenas suspira resmungando bem baixo do porquê Yura ser assim.

A escolta tinha começado sem sinal de qualquer problema. Luca parecia entediada com isso, sua cara mostrava que ela ansiava por ação. No entanto, apesar de querer também experimentar um pouco de adrenalina para me aquecer nesse mundo onde a luz do sol é uma raridade, desejava ter ao menos uma missão que corresse bem sem quaisquer empecilhos.

- “Vocês estão escutando isso?” – Questionou Jenica enquanto não tirava os olhos da estrada e mão do volante.

— “Isso o q...” – Luca já estava entusiasmada, demonstrado pelo tom mais alto de sua fala, mas logo foi interrompida por um “shh!” rude de Yura.

Não tinha notado o barulho até segundos depois escutar um zumbido, que foi ficando exponencialmente mais alto.

— “Jenica, pare o carro.” – Dizia Yura, com seu tom estoico.

— “Merda!” – Vociferou Jenica ao ver o mesmo que todos nós, um enxame de Abelhas-Assassinas.

O enxame chegou ao nosso carro em questão de segundos. Pareciam pedras enormes batendo no carro, dado que esse tipo de abelha tinha um tamanho de um gato adulto. Uma das abelhas conseguiu atravessar seu ferrão pelo vidro frontal do nosso carro.

— “Magias de fogo e ataques a distância, pessoal! - Jenica já abria a porta do carro soltando chamas por uma de suas mãos, afastando o enxame suficiente para sairmos pelas portas esquerdas do carro.

Não tinha magias de fogo, mas conseguia atirar minhas adagas e materializar elas de volta quando necessário, além é claro das magias de pulso. Luca tinha duas shurikens grandes e se teleportava paras as abelhas, enfrentando-as cara a cara. Yura, foi nosso escudo, levantando barreiras assim que o enxame ousa-se atacar em conjunto. Elas eram rápidas, e desviavam rápido, era mais um combate de agilidade em que nós tentávamos ser mais ágeis que os insetos, afinal, ninguém queria tomar uma ferroada de um inseto chamado “Abelha-Assassina”.

— “Cuidado!” – Gritou Cindy.

Em seguida vinha uma nuvem verde-acinzentada, que fedia a enxofre, mas que efetivamente matava as abelhas em volta. Não sabemos quantas caíram, mas o suficiente para as restantes escaparem. Ao olharmos para atrás, estava Cindy, segurando com suas duas mãos uma espécie de máquina-arma.

— “Fiz essa belezinha a algum tempo atrás com a tecnologia Magitek do império. Mas um amigo disse que não precisaria dela então peguei-a de volta. Ainda bem que veio a calhar.” – Dizia ela com uma risada pretensiosa ainda que merecida.

— “Uau...” – Foi minha reação e de Jenica.

— “Posso ter uma também, por favor?” – Dizia Luca entusiasmada, já tocando na arma em todos os cantos. Cindy rapidamente mudou a arma de lado, distanciando-a de Luca.

— “É melhor não tocar numa arma que você não conhece. Mas quem sabe não vemos o que pode ser feito para você quando chegarmos a Lestallum?”

— “Eu sei que quando chegarmos lá precisaremos de um banho.” – Dizia Yura enquanto abanava com sua mão, incomodado com um cheiro que dê certo irritava os pulmões e olhos.

— “Um dia invento um veneno cheiro de lavanda e amora só para você.” – Retrucou Cindy, fazendo com que Luca e Jenica segurassem o riso, enquanto Yura voltava ao carro sem nenhuma palavra.

A segunda parte da viagem não foi tão agradável, com todos cheirando a gamba morto e um buraco bem visível no vidro carro, vi que vamos ouvir muito de alguém. Jenica desacelerou o carro, prestando atenção a uma caminhonete na estrada.

— “Parece ser recente.” – Dizia a ela ao investigar o que poderia ter acontecido.

Escutamos alguns grunhidos e começaram a surgir algumas criaturas. As criaturas viram as luzes de nossos veículos e ao invés de se assustarem, deram toda a sua atenção aos veículos. Começaram a correr em direção de nosso carro, se curvando e virando “bolas”. A carapaça delas parecia ser pesada, dado como nos remexíamos ao momento do choque. Parecia que elas intencionalmente queriam derrubá-lo.

— “Bulettes!” – Dizia Luca. – “Já enfrentei algumas onde eu morava. Mas nunca vi elas serem agressivas assim.”

— “Se não pararmos elas agora, elas vão tombar esse carro!” – Yura já saia do carro, materializando uma Katana.

— “Evitem os avanços deles se não quiserem ossos quebrados! Ataquem eles pelas laterais e foquem nas articulações, onde eles não têm casco!” – Alertou Luca, enquanto saiamos do carro.

Desviar das criaturas não era difícil, apesar da ofensiva inusitada delas, não possuíam tanta mobilidade, mas as garras e dentes eram tão fatais quanto sua carapaça. Não tínhamos muito problema em matá-las, e sim em tomar noção do envolta para evitar ataques desavisados.

Uma delas chegou a avançar em mim com seu formato de bola giratória, não daria tempo então inconscientemente soltei um pulso, repetindo a situação da primeira vez que soltei o feitiço contra o Wyvern. Não somente interrompi o avanço do animal como também o deixei de costa sob o chão. Totalmente vulnerável e impossibilitado de virar-se de volta, assim como uma tartaruga. Luca fez o favor de finalizá-lo.

A luta foi rápida, a aparência grosseira e dura dos Bulettes os faziam parecerem intimidadores, e talvez se não fosse pelos conselhos de Luca, a batalha poderia ter durado mais, com um resultado menos favorável.

Estávamos prontos para partir, mas havia algo que me incomodava, eu tentava encontrar rastros ou algum indício em relação aos sobreviventes.

— “Iustitia, precisamos ir!” – Disse Jenica.

— “E quanto a eles?!” – Questionei, ao apontar para a caminhonete capotada. – “Eles ainda podem estar por aqui e precisando de nossa ajuda.”

— “Eu também estou preocupada com isso, mas precisamos nos ater a missão.”

— “São civis, Jenica!”

— “E nós somos Lâminas! Nosso dever é fazer escolhas duras e difíceis... Para o bem maior e evitar que esse episódio se repita.”

Fechei meus punhos, engolindo minhas angústia e raiva. – “Até que ponto seria esse sacrifício?”

Jenica não chegou a responder, ou porque não tinha uma resposta para isso, ou devido a Cindy estar buzinando atrás da gente. Voltamos, com minhas ressalvas, ao carro.

Nessa vez a viagem foi mais silenciosa, não somente pelo o que aconteceu, mas também que havia um certo pressentimento de que ainda teria mais.

— “Certo, agora é só virar aqui e estaremos no portão logo.” – Avisou Jenica.

Esperava alguma armadilha ou surpresa na virada, como de costume em filmes de suspense. Mas não havia nada, a não ser árvores e mais árvores. Já era possível ver o portão, Jenica acelerou um pouco para não perdermos tempo.

— “O que é aquilo saindo do arbusto?” – Dizia Yura ao se levantar um pouco do assento para ver melhor. Uma criatura, saia da mata para a estrada, era um felino enorme e amarelado com pintas marrons quase pretas, e um par de bigodes indistinguíveis.

O Couerl, começou a rugir, apesar de não ouvir nada, a criatura tinha chamado a atenção de vários Garras-de-Sabre, que surgiam a nossa frente.

— “Mais deles na retaguarda!” – Alertou Jenica ao olhar pelo retrovisor. Desacelerando o carro até parar.

— “Inacreditável!” – Reclamou Luca ao soltar o cinto de segurança e abrindo a porta do carro em seguida.

— “Luca e Iustitia! Vocês cuidam do Coeurl, usem ataques a distância e fiquem longe dele!” – Jenica focava nos Garras-de-Sabre da frente, materializando sua espada. – “Yura você cuida dos de trás!”

Yura apenas acenou e foi correndo em direção aos animais do fundo. Jenica começou a distrair os Garras-de-Sabre da frente para nos dar um caminho ao Coeurl. Avançamos e atiramos nossas armas contra ele, que por sua vez desviava com uma surpreendente sutileza para o seu tamanho. A criatura avançou em direção a Luca, ainda desviando de todos nossos ataques. A criatura chegou a levantar suas garras contra Luca, ela jogou uma última shuriken para sua direta e a usou para se teleportar. A criatura errou por pouco, e já avançava mais uma vez para a garota. Seu maior erro, no entanto, foi me deixar sua retaguarda livre para atacar. Soltei uma magia de pulso, que fez a criatura capotar sob Luca. O Couerl se levantou e recuou rapidamente, dando espaço para eu ajudar minha parceira.

— “Eu estou bem! Mas nossa, como esse bicho é pesado.” – Disse ela, se levantando rapidamente com a minha ajuda.

A criatura, já se preparava para avançar mais uma vez, nessa vez as pontas de seus bigodes estavam brilhando, um mal sinal. Jogávamos nossas armas mais uma vez, e novamente a criatura desviava de nossos ataques. Era impossível pegar uma brecha com uma criatura tão sagaz. Precisava de uma abertura e torci para que me fosse dado, mas ao invés de usar garras, ela girou e usou seus bigodes, os bigodes eram longos, tinham um comprimento maior que o da própria criatura. Com um alcance tão grande, eu usei meu teleporte e torci que Luca tenha feito o mesmo. A criatura nessa vez se distanciou, por alguma razão e decidiu se sentar. Seus bigodes começavam a reluzir e as estranhamente flutuar enquanto parecia criar fragmentos brilhantes em volta da criatura. Eu não sabia dizer o que era aquilo, mas não queria descobrir.

Sabíamos que o Coeurl iria desviar de nossos ataques, precisávamos de uma outra maneira de atingi-lo, uma que fosse rápida. Olhei para cima do bicho e elaborei uma estratégia. Avisei Luca para se preparar, soltei uma de minhas adagas e teleportei para um dos troncos das árvores. Logo depois de sair do teleporte soltei um feitiço de pulso sobre o tronco, na esperança que o derrubasse e caísse no animal abaixo. No entanto a criatura, levantou seus bigodes e rugiu mais uma vez, uma tempestade de relâmpagos formou em sua volta, que se eu não tivesse alguns metro em cima dele, teria sida vítima do ataque. Seu ataque pulverizou metade do tronco, deixando a outra metade queimada. O animal começava a correr mais uma vez.

— “Há!” - Luca conseguiu uma abertura, jogando sua shuriken e acertando a perna do animal.

A criatura capotava mais uma vez, e estava lutando para se levantar. Eu me sentia mal em matar animais, afinal diferente dos demônios, eles sentem como nós, e mais uma vez eu me questionava, se essa violência contra os animais, era mais um sacrifício a se fazer nesse mundo louco.

Joguei uma adaga, de onde imaginava ser o coração do animal, e teleportei para dar pressão ao corte, terminando a criatura sem mais dores e angústias do que o necessário. Seus bigodes pararam de se mexer, assim como sua respiração que se sessou. Desmaterializei minha arma e me virei para Jenica e Yura, que já estavam terminando os Garras-de-Sabre.

Terminamos a batalha e seguimos para os portões, Jenica buzinou, fazendo com que abrissem para prosseguirmos viagem. Não participei muito da conversa entusiasmada de Luca com as batalhas de hoje, com ela inclusive teorizando que as criaturas estavam “bizarramente agressiva” e que aquilo era o início da “revolução dos animais”. Se eu estivesse em bom humor, riria junto com Jenica. Mas no momento, só queria esquecer o dia de hoje.