Ano 756 da Era Moderna, 19 de Outubro - Parte 3

— Eu vejo... – Disse Monica, após Jenica entregar o relatório e relatar os eventos da missão em detalhes. – Não é comum de Garras-de-Sabre e Coeurls trabalharem juntos, na verdade isso é inimaginável, são dois predadores com hábitos e presas totalmente diferentes.

— Parecia que os animais estavam deliberadamente atacando seres humanos, e se coordenavam para tal. – Continuou Jenica.

— Me diga, Jenica. Esses animais ou alguns deles apresentavam sintomas da Praga Lunar?

— Exceto a agressividade contra humanos, nenhuma. Eles ainda sangravam vermelho, azul no caso das Abelhas-Assassinas. Nada daquele preto esmaltado dos demônios.

— Permissão para falar! – Solicitou Yura em alto e sério tom.

— Prossiga. – Disse Monica.

— Com o ecossistema mundial se degradando por conta da falta de sol, a cadeia alimentar está totalmente desregulada e suponho que os animais, assim como nós, estão tentando encontrar maneiras de sobreviver de maneiras consideradas não convencionais. – Elaborou Yura. Apesar de concordar com ele, não fazia mais de um mês desde que a noite começou a imperar sobre o dia. Se os animais já estão assim, tenho medo de como eles podem realizar se isso perdurar por mais tempo.

— Uma adaptação improvável... Irei coordenar operações com equipes de biólogos para verificar essa teoria. Agora, quanto ao carro... – A hora que todos imaginávamos e temíamos começou, apesar da escolta ter sido um sucesso na questão da Cindy e seu caminhão com meros riscos e restos de alguns dos animais. O nosso tinha amassos e um buraco grande o suficiente para não ignorar. As vezes agradeço por Monica ser uma líder mais assertiva que o rígido Cor. – Custara do salário de vocês. – Infelizmente, assertiva não é ser benevolente. – Dispensados.

Fiquei um pouco cabisbaixo com essa reunião, não pelos danos causados pelo carro, mas sim da forma como perdas de civis eram tratadas. Tinha interrompido Jenica enquanto ela relatava sobre a missão para falar dos civis e que deveríamos fazer algo em relações a eles. Monica deu basicamente a mesma resposta, apesar de ter prometido enviar uma equipe para averiguar a situação. Eu duvidava se eles chegariam a tempo, ou se até mesmo Monica daria essa ordem. Suponho que quando você passa anos de sua vida em um exército de uma nação em constante guerra, essas casualidades passam a ser trivialidades.

Fui caminhando para o dormitório, para descansar e tirar esse dia exaustivo do meu corpo, e esperançosamente, de minha cabeça. Jenica se encontrou com Cindy e foi acompanhando-a para a usina de energia. Yura e Luca partiram para caminhos diferentes.

— Espere um momento, jovem. – Disse um idoso magricelo com um boné com a marca “Hammerhead”, assim como o da Cindy. – Você estava na missão para ajudar minha neta, não?

— Sua ne...- Meu celebro já tinha ligado os pontos antes de terminar a pergunta. – Ah, sim eu estive nessa missão.

— Bom, esse velho homem agradece. Cindy é tudo que me restou nesse mundo agora. Uma neta de ser orgulhar, e uma que não gostaria de ver sofrer e muito menos perdê-la. Mas eu não estou aqui para te encher de tagarelices de um velho. – O velho virou-se e pegou algo de uma mesa, era uma lança, prata com adornos negros, perto de sua ponta havia uma espécie de anel com saídas voltadas para a ponta. – Eu quero dar isso para você, por ter salvado minha neta. Obrigado. – Ele se virava mais uma vez, nessa indo em direção para uma oficina improvisada. – E se precisar que eu conserte ou faça uma arma nova para você, é só vir aqui. O nome é Cid!

— Iustitia... – Disse baixinho, ainda com pensamento na cabeça e observando a lança nova. Não que faça diferença se ele tinha me ouvido, o velho já tinha se entrincheirado em sua oficina.

Deveria me sentir gratificado com um presente e o agradecimento, mas só podia imaginar se a situação fosse diferente. Se Cindy fosse a pessoa daquele caminhão capotado, se ele estaria grato com isso ao invés de chorar e xingar os Lâminas por não se preocuparem ou estarem lá para salvá-la. Hoje fiz uma família feliz, enquanto uma outra provavelmente está chorando pela perda de seus entes queridos.