Capitulo 3

Wakka

De longe, ele ouvia o som de gaivotas voando pelo céu. O corpo de Tidus parou em uma parte rasa, e sentia areia em seus pés e mãos, ele estava deitado boiando naquele mar. Ele acordou subitamente tossindo por um punhado de agua salgada em sua boca, levou as mãos ao rosto para tentar seca-lo, e balançou seus cabelos loiros fazendo voar varias gotas de água por ai. Ele olhou para cima e fora surpreendido com um céu extremamente azul e com um grande sol brilhando em seu rosto.

– Como os dias em Zanarkand... – ele pensou, se sentindo um pouco em casa.

De repente, uma coisa familiar lhe atingiu em cheio sua cabeça. Ele se virou para ver e de longe, viu pessoas numa praia, eram em torno de 6, e todas pareciam vestidas com um uniforme. Logo a coisa que o atingiu caiu em suas mãos.

– Uma bola de Blitzball! – ele a agarrou e se certificou, finalmente algo que ele reconhecia desde que tudo aquilo começou.

– Hey! Você está bem? – um dos que estavam na praia gritou, tinha um topete ruivo bem alto então era fácil reconhece-lo de longe.

Tidus gritou para eles de retorno balançando os braços e ate se jogou ao mar, estava feliz, eles pareciam entendê-lo. Ele mergulhou o tanto que dava e depois voltou a toda velocidade dando uma cabeçada na bola jogando-a para cima, então saltou e jogou seu corpo para frente chutando a bola no ar com bastante força, ele percebeu que aquilo era bem mais fácil de fazer embaixo d’água. A bola foi de encontro à praia em tamanha velocidade que nenhum deles conseguiram agarra-la, então voou para outro lugar. O homem de topete ruivo olhou para ele com olhos brilhando dando uma risadinha.

Tidus nadou até eles, e quando se aproximou, os membros do time o rodeou e o homem de topete ruivo, que aparentava ser o capitão do time, se virou para ele, de braços cruzados, para falar.

– O que você acha de tentar este chute outra vez? – perguntou tranquilo.

Ele acenou que sim com a cabeça, e então lhe jogaram outra bola. Ele se concentrou para fazer isso em terra firme, e depois de alguns instantes, executou os mesmo movimentos numa perfeição ainda maior, não era atoa que ele era a estrela do melhor time de Blitz do mundo... Na terra dele.

Os outros ficaram espantados ao ver aquilo tão de perto, tudo indicava que eram amadores, Tidus julgou.

– Você não é amador, para que time você joga?

– Para o time de Zanarkand! – Tidus respondeu na maior naturalidade, enquanto o outro ficou um tanto quanto surpreso.

Os outros cochichavam entre si, e só então Tidus percebeu sua burrada.

– Espere, que time? – o homem de topete vermelho falou, tentando entendê-lo.

– Eu disse... Não, esqueça isso – Tidus levou as mãos ao rosto – Eu estive... Ah... Muito perto de Sin, e minha cabeça está toda confusa, então eu não sei que lugar é este, nem de onde eu vim.

– Então a toxina do Sin o pegou – Ele, ainda de braços cruzados, disse de um jeito que acalmou a Tidus e aos outros presentes, ele parecia ser um cara legal – E você ainda está vivo? Adorado seja Yevon! – ele e os outros fizeram um gesto familiar a Tidus, mas ele agora não se lembrava de onde tinha visto aquilo – Eu sou Wakka, treinador e o capitão dos Besaid Aurochs! – ele pausou um pouco vendo Tidus passar a mão pela barriga – o que? Está com fome? Vamos voltar para a vila, eu pego algo para você.

Ele adentrou por um atalho naquela mata densa de litoral, e Tidus rapidamente o seguiu.

– Acho que posso confiar em você – disse Tidus em voz baixa, Wakka se virou para ele e o perguntou o que ele tinha dito; então Tidus respondeu: – É verdade, não é? Zanarkand foi mesmo destruída? Há mil anos? Então, agora é somente uma grande pilha de escombros, não é?

– Há muito tempo, existiam em Spira, muitas cidades. Grandes cidades que usavam Machina – Maquinas – que funcionavam para elas. – ele explicou – As pessoas jogavam e descansavam o dia todo, enquanto deixavam as maquinas fazerem o seu trabalho. E então, olhe, dê uma olhada. – ele apontou para a ilha – Sin veio e destruiu as cidades de Machina, e Zanarkand era uma delas. E sim, isso foi há uns mil anos atrás, como você disse.

Tidus o olhou, lembrando-se vagamente como sua cidade era. Wakka tinha razão, as maquinas faziam todo o trabalho.

– Se me perguntar – Wakka continuou – Sin é o nosso castigo, por deixar as coisas saírem do controle – ele pausou por um instante – entretanto, eu não gosto desta ideia, de que nós temos de sofrer por pecados de nossos antepassados. Claro, temos sempre que nos arrependermos de nossos pecados! Isso é importante! É só que, às vezes é difícil de levar a vida adiante, com tudo isto.

– É como Rikku falou – Tidus pensou, refletindo – Wakka e Rikku não podem ambos estar mentindo, podem?

Wakka subitamente gargalhou, e Tidus parou de pensar, levemente assustado e o olhou, depois desviou o olhar novamente.

– Mas você, você é do time de Zanarkand... Isso é ótimo – Tidus sentiu o braço de Wakka atravessar-lhe o pescoço amigavelmente – Eu não digo que este time nunca tenha existido, ok?

Tidus deu um sorrisinho com o canto da boca, estava apreciando a tentativa de Wakka de tentar lhe animar... Mas naquele momento ele só poderia pensar em uma coisa:

– Tudo que aconteceu a mim – ele pensou – Tudo... Começou com Sin. Talvez se eu encontrar-me com Sin outra vez, eu possa ir para casa! Por agora, eu somente preciso sobreviver até este dia vir, não importa onde ou quando eu estiver... É difícil não pensar sobre o meu lar, mas eu estou começando a me sentir melhor... Um pouquinho melhor, pelo menos.

Quando saiu de seus pensamentos, viu que Wakka já estava adentrando o atalho de antes, quase o deixando para trás. Tidus correu de encontro a ele, que estava parado na beirada de um pequeno penhasco e a 10 metros abaixo um lago, tão azul como Tidus jamais vira em Zanarkand.

Wakka dava passos despercebidos para trás enquanto Tidus observava toda a beleza do ambiente, e de repente, ele deu um empurrãozinho nas costas de Tidus, que se desequilibrou e caiu no lago, e logo após, pulou também.

– Hey! Isso não foi nada engraçado!

Wakka mergulhou e passou por Tidus, dando-lhe um pequeno sorriso. Ele tinha o folego de um jogador. Tidus mergulhou junto dele e nadou bem rápido, e os dois foram apostando corridas até o final de toda a extensão d’água. Tidus já estava começando uma pequena amizade, o que era bom, ele não lhe odiava como aqueles outros.

Chegando perto da borda, Wakka agarrou o pé de Tidus e depois soltou e subiu para a superfície.

– Quer me dizer algo? – perguntou Tidus.

– Eu tenho um favor a lhe pedir.

– Já sei, você me quer no seu time, certo? – Tidus acertou em cheio.

– Um grande torneio de Blitzball está por vir. – ele disse – Todos os times de Spira irão participar. É tão grande, eu acho que alguém possa vir a te reconhecer lá! E então, você poderia voltar a seu time antigo. – Tidus o olhou como se estivesse receoso – Vamos, vai ser divertido!

– Ok! Eu irei – ele riu discretamente e começou a nadar de novo até chegar à costa

– Cara! Nosso time vai arrebentar! – Wakka estava animado, logo voltou a nadar também.

Depois de chegarem à costa, Wakka caminhou à frente e Tidus somente o seguiu, passaram por um pequeno morro com estrada de terra, e rochas e barrancos os cercavam, Tidus não se lembrava da ultima vez que esteve em um lugar assim. Chegaram ao topo daquele morro e Tidus viu que ali era bem alto. A borda estava cercada e ali havia um monumento esquisito (para Tidus) de pedra.

– Ali foi onde eu nasci – Wakka apontou para uma pequena vila no pé do monte, aparentemente pequena – Eu comecei a treinar Blitz quando tinha 5, e me juntei aos Aurochs quando tinha 13... Há 10 anos... 10 anos! E nós nunca vencemos um jogo. – ele pareceu irritado, também pudera – Bem, depois deste ultimo torneio, eu irei sair, o time parece estar bem.

Wakka andou em um ritmo um pouco mais desacelerado, por uma ladeira extensa de estrada de terra que dava direto a vila.

– Depois de sair – ele continuou – Eu pego um novo emprego, sabe? Mas, toda vez que minha mente começa a se desviar, eu penso sobre Blitz.

– 10 anos sem nenhuma vitória faz isto – Tidus acrescentou sarcasticamente.

– Nada disso! Nosso ultimo jogo foi uma grande chance! Mas algo acontecia, e eu não conseguia me focar, minha mente parecia cheia.

– Boa desculpa! – Tidus deu uma risada – Então, você quer ganhar o próximo torneio, certo? Jogue com tudo. – Wakka cerrou os punhos e acenou que sim determinadamente – Então, qual o nosso objetivo?

– Eu não me importo como nós vamos fazer, enquanto nós jogarmos com nosso melhor. Se jogarmos com tudo e nos divertirmos, eu poderei ir embora feliz.

– não, não, não, não! – Tidus falou ensinando para Wakka seus ideais – Quando eu digo: “Qual nosso objetivo” você diz: “Vitoria!” – Wakka o encarou como se tivesse aderindo a isso – Quando você joga Blitzball, você joga para vencer.

– Vitoria? Serio? – Tidus acenou que sim – Então, Vitoria! – eles gargalharam, e continuaram o caminho, agora um pouco mais rápido.

Chegando perto dos portões do vilarejo, um adolescente de cabelos completamente vermelhos o cumprimentou.

– Ah! O que veio do mar – ele estava acompanhado por um garoto um pouco menor que ele, que disse:

– Vá com cuidado, há monstros pela estrada hoje. – ele alertou.

– Depois de sobreviver a um encontro com Sin, seria uma pena se algo de ruim lhe acontecesse – acrescentou o de cabelos vermelhos.

Logo depois disso, eles correram até a vila.

– quem eram eles? – Tidus perguntou

– Luzzu e Gatta, eles são Cruzados.

– Eles são o que?

– Você esqueceu-se disto também? – Wakka parecia surpreso, Tidus olhou para baixo como se estivesse pedindo desculpas – Bem, desculpe, vou lhe ajudar com isso.

– Okay, em retorno, garantirei que nosso time vença o campeonato.

– Certo – Wakka se animou – e, sobre os Cruzados, você pode perguntar a eles na vila, lá eles têm um pequeno alojamento.

Tidus acenou que sim com a cabeça, e depois, entraram na vila.

– Vila Besaid! – Wakka deu um tapinha nas costas de Tidus.

– Eles têm alguma comida aqui?

– Claro, vá à minha casa ali depois – ele apontou para um pequeno alojamento, afinal, toda aquela vila era repleta de barracas trabalhadas – mas, primeiro, dê uma olhada no lugar.

Tidus observou o lugar, não era nada grande, e não tinha mais que 7 barracas, espalhadas a borda da rua central. Depois das casas, no centro da rua havia uma fonte, e depois da fonte, um templo bem grande de pedra. E parecia maior que a própria vila

– Vamos ver... – Wakka pensou alto – acho que o alojamento dos Cruzados é aquela ali – ele apontou para uma depois da dele – Luzzu e o Gatta geralmente estão lá – apontou para uma barraca um pouco mais distante, do outro lado da rua, um pouco maior que as outras.

– Certo, venha até aqui – Tidus estava com o olhar perdido na vila, mas fora chamado por Wakka – Okay, você se lembra da reza, certo?

– Eu não me lembro...

– Ah cara! Isso é como, o básico dos básicos sabe? Certo, vou te mostrar – ele deu dois passos para trás e repetiu o mesmo movimento com os braços que havia feito anteriormente na praia. – então, agora você, tente fazer – Tidus tentou imitá-lo, com um movimento parecido, mas um pouco deformado – Hey, nada mal... Agora vá se apresentar para os invocadores do templo.

Wakka saiu para a sua barraca, e Tidus se dirigiu ao templo. No caminho, acabou se lembrando de onde vira aquele movimento... O movimento tradicional para o Blitzball, a Reza de sorte para o time do esporte.

Tidus se dirigiu ao templo como Wakka disse, passou por um longo corredor aberto e entrou na igreja. (antes disso, ele visitou a barraca dos Cruzados, mas isto é outra historia). O templo era uma coisa que Tidus achara estranho, um lugar sombrio iluminado somente por tochas nas paredes, e estatuas de pessoas importantes por todo lado. Havia uma passagem central com bancos pequeno dos lados e a passagem era coberta por um tapete vermelho extenso e de cores mortas. Pessoas rezavam por todos os lados, nos bancos e ajoelhadas aos pés das estatuas. Tidus caminhou devagar, olhando e observando tudo em volta. E então, ele compreendeu o quanto aquele mundo era diferente de sua cidade...

Na frente do tapete em que Tidus estava caminhando, não havia um altar, e sim uma grande escadaria, bastante extensa, e no fim uma porta, e aos lados desta escada, havia duas salas. Ele caminhou até uma estatua que estava ao lado da escadaria, e que parecia ser a maior do lugar. Parou aos pés dela a observando, e um dos sacerdotes daquele templo veio para falar com ele, chegando sem mesmo Tidus o perceber.

– Dez anos se passaram desde que Lorde Braska se tornou um invocador – ele começou, aparentemente estava falando do homem esculpido a sua frente – E, finalmente, nós recebemos uma estatua dele para nosso templo.

– O que é um invocador? – Tidus perguntou inocente. Percebeu que todos do templo voltaram olhares para ele, ficou rapidamente envergonhado e disse: – Desculpe, eu... Eu estive muito perto de Sin... Sabe a toxina... Eu – fora interrompido pelo sacerdote, que fizera a reza para ele, sendo acompanhado por todos os outros, maravilhados por ele ter sobrevivido ao monstro.

Ele acha engraçado ter que dar a mesma desculpa toda vez, engraçado e um pouco sádico...

– Os invocadores são praticantes de uma arte sagrada, feita para proteger os seguidores de Yevon – continuou o sacerdote – Somente a pequena minoria é escolhida para ser um invocador, eles chamam entidades de grande poder para ajuda-los: os Aeons. Os Aeons ouvem nossas preces, e vêm até nós, eles são a benção de Yevon.

Tidus então chegou à conclusão que os invocadores são pessoas de grande respeito, precisará tomar cuidado em suas próximas falas sobre este assunto.

Ele se apressou para sair daquele lugar, dava-lhe calafrios.

Dirigiu-se até a casa de Wakka para seu esperado lanche, mas quando chegou lá, não havia nenhum, ele já tinha comido tudo. Tidus cruzou os braços e deitou-se na cama dele por rebeldia, Wakka o deixou dormir enquanto preparava um lanche para o novo amigo. Tidus virou a cabeça para o lado e murmurou algumas coisas, depois dormiu.