Final Fantasy X-3 - Os Hinos

Capítulo 16 - Para Sempre


Paine entrou no estádio e, calmamente, dirigiu-se para a banca priviligiada. O estádio estava completamente vazio, por isso Paine aproveitou para ver o obra de arte que tinham criado para jogos de Blitzball.

Quando entrou para os assentos “priviligiados” viu Yuna, em pé, a olhar para baixo como se estivessem lá pessoas.

– Yuna. – chamou Paine, vendo Yuna a levantar a cabeça – Estás bem?

Yuna virou-se e olhou para a amiga. – Porque é que perguntas isso?

– Estás com o teu kimono. – respondeu Paine – Disseste que não ias usá-lo a não ser quando visitasses os Templos.

Yuna suspirou e virou-se.

– Passei cerca de 16 anos a trabalhar para me tornar uma Invocadora, a preparar-me para morrer. Dizia que tinha orgulho de me ter tornado uma Invocadora, tal como o meu pai. – disse Yuna, olhando para a mão – Isso estava errado. Foram o que vocês disseram. Tornei-me mais forte depois de guardar este kimono que me tornava fraca. Mas isso também é errado.

– O que é que estás a dizer? – perguntou Paine, um pouco confusa.

– Mesmo que todos tenham seguido em frente, nunca podemos esquecer o nosso passado. – Yuna sorriu – E, para dizer a verdade, tenho bastante orgulho em ser uma Invocadora, porque esforcei-me para chegar lá.

– Aquilo que aconteceu nas Farplanes foi assim tão chocante? – perguntou Paine – O que é que aquela Yunalesca te disse?

– Então a Rikku já te contou. – Yuna virou-se para Paine outra vez – Como é que sabias que eu ia estar aqui?

– Já passamos por muita coisa aqui. – respondeu Paine – Mas foi um tiro no escuro.

– Sabes o que é que ele disse quando iamos para Zanarkand? – perguntou Yuna, rindo-se um pouco – Ele continuava a dizer que podia viver onde quisesse depois de derrotar o Sin e que íamos fazer todo o tipo de coisas que pudemos fazer durante a digressão. Com aquela energia toda, ninguém teve coragem de quebrar os sonhos dele e dizer que eu ia morrer quando invocasse o Aeon Final. Com a mesma energia, mesmo depois de saber, ele pediu-me para desistir de tudo e ir com ele para a Zanarkand que nunca dormia.

– Ele disse mesmo isso? – Paine riu-se também – Não é uma criança?

– Foi o que o Wakka disse quando ele disse que queria derrotar o Sin mas não queria que eu morresse. – disse Yuna – Criança. “Quando alguém quer tudo, acaba sem nada”. Acho que foi o que a Lulu disse. Mas ele conseguiu tudo o que disse que queria…

– Yuna…o que é que a Yunalesca te disse? – perguntou Paine, um pouco preocupada.

– Sabias que o Tidus não precisa de entrar nos Templos para eu ter de volta o aeon? – perguntou Yuna, sem responder à pergunta de Paine – Basta ele estar ao meu lado e eu posso invocar quem quiser. A fé disse-me que, tal como a minha outra metade, eu estava destinada a salvar aquele que amo à segunda tentativa. Mas a Lenne só salvou o Shuyin quando estavam os dois mortos.

– Então, estás assim por causa do que a Lenne e a Yunalesca te disseram nas Farplanes. Também deve ser por isso que não estás a dizer coisa com coisa. – concluiu Paine – Mas porquê a roupa? Tu és uma Gulwing. Já não tens de te vestir assim.

– Eu sou uma Invocadora que tentou fugir às responsabilidade para com Spira. – corrigiu Yuna, fazendo Paine franzir as sobrancelhas.

– Mas que raio! Tu mataste o Sin e trouxeste a Calma Eterna! – exclamou Paine – O que é que Spira pode pedir mais!?

– Uma Invocadora Suprema viva. – respondeu Yuna, chocando Paine.

Algumas horas antes nas Farplanes

Chocando todos os presentes com a sua presença, Yunalesca pousou um pé na plataforma e depois olhou em volta enquanto se endireitava. A presença dela era avassaladora e talveza a razão por Lenne não a ter trazido antes.

Yuna ainda conseguia ver algum rancor nos olhos de Yunalesca, mas já parecia mais calma. No entanto, quando olhou para Yuna, uma mistura de confusão e desapontamento apareceram na sua expreção.

– Tu és a Yuna, não és? – perguntou Yunalesca, chocando Yuna.

– Sim. – respondeu Yuna, um pouco ofendida – Não se lembra de mim?

– Lembro-me de uma Invocadora parecida contigo me ter enviado para aqui. – respondeu Yunalesca, envergonhando Yuna – Desististe de ser quem és, ou estás só em negação?

– Se é por causa da roupa…

– Não tem nada a ver com a roupa. – garantiu Yunalesca, interrompendo Yuna – Os teus olhos estão apagados.

– Apagados? – Yuna viu Lenne desviar a cabeça – Como assim?

– Estás morta. – respondeu Yunalesca, assustando Yuna – Aquela pessoa que conheci em Zanarkand está morta.

Actualmente

– Morta? – perguntou Paine – O que é que ela quis dizer?

– Quando fui a Zanarkand naquele dia, eu confrontei-a. – explicou Yuna – Disse-lhe que tudo o que ela nos estava a dizer e no que ela acreditava era mentira. Agora já nem consigo fazer isso com o Tidus…confrontá-lo, dizer-lhe que isto tudo é uma mentira. Acho que era isso que ela queria dizer.

– “Uma Invocadora Suprema viva”. – disse Paine – Disseste isso por causa do que a Yunalesca te disse?

– Mas é verdade. – disse Yuna – Eu sou uma Invocadora morta.

– Mas és uma Gulwing! – disse Paine, dando um passo em frente – Não faz mal se a Invocadora estiver morta!

– Eu disse! – gritou Yuna, surpreendendo Paine – Naquela altura, eu disse para nunca esquecermos tudo o que perdemos! – ela esticou os braços – Mas, mal ele apareceu, eu esqueci-me! Do Sir Auron! Do Sir Jecht! Das fés! Dos meus pais!

– O que é que isso tem a ver!? – exclamou Paine.

– Foi preciso saber que ele podia desaparecer outra vez para me lembrar. – murmurou Yuna, olhando para o chão – Eu quero ser uma Gulwing. Livre para fazer o que quiser. Mas também quero ser uma Invocadora e isso, vem com várias correntes invisiveis que não me deixam ser livre como uma Gulwing.

– Porque é que queres tanto voltar a ser uma Invocadora cheia de responsabilidades e deveres? – perguntou Paine.

Oito anos atrás em Besaid

– Yuna, reconsidera. – pediu Lulu.

– Não. – murmurou Yuna, com a cabeça baixa – Eu quero ser uma Invocadora e salvar Spira.

– Vão haver sempre mais pessoas com vontade de salvar Spira! – exclamou Wakka – Não tens de ser tu!

– Yuna, tu sabes o que acontece quando acabares a peregrinação, não sabes? – perguntou Lulu.

Yuna anuiu com a cabeça.

– Ser uma Invocadora é um privilégio dado aos filhos de Yevon. – disse Yuna, surpreendendo Lulu e Wakka – Seguir os passos do meu pai…também é um privilégio. Mas, acima de tudo… - Yuna sorriu e pegou no seu bastão – Saber que vou estar conectada com toda Spira e que vou poder acabar com o sofrimento de todos, nem que seja por três anos, esse é o maior privilégio de todos.

Lulu olhou para a pequena Yuna de dez anos e começou a chorar.

– Yuna. – Wakka aproximou-se, com as lágrimas nos olhos e pousou uma mão no pequeno ombro dela – Quando te tornares numa Invocadora, danos a honra de sermos teus guardiões.

Yuna anuiu com a cabeça de novo.

– Eu quero que a minha seja uma jornada cheia de sorrisos. – disse Yuna, sorrindo ela própria quando viu Wakka a começar a chorar – Não se preocupem, ser Invocadora sempre foi o meu sonho.

Actualmente

– Conhecer várias pessoas por todo o mundo e conseguir a ajuda de cada fé com a minha própria força e convicção. Esse sempre foi o meu sonho. – concluiu Yuna – Foi o que eu disse à Lulu e ao Wakka quando eles tentaram dissuadir-me.

– Mas já fizeste isso tudo e ainda mais. – disse Paine – Já não realizaste o teu sonho.

– O meu sonho sempre foi ser uma Invocadora. Tornar-me uma Invocadora Suprema foi um privilégio que eu nunca consegui imaginar. – disse Yuna – Tenho de admitir que quebrar as correntes e ser livre foi bom, mas o meu sonho não mudou.

– Os Invocadores já não existem. – lembrou Paine – Tens de encontrar outro sonho.

– Os Invocadores ainda existem. – disse Yuna.

Algumas horas antes

– Mas é claro que os Invocadores ainda existem. – disse Yunalesca, quando Yuna disse o contrário – Não te iludas ao pensar que, lá por não existir Sin, Spira já não precisa de Invocadores. Invocadores são mais do que ferramentas que Yevon usa para derrotar o Sin. São modelos para todos os cidadões de Spira. Se já se esqueceram disso, temo pelo futuro de Spira.

– Lenne? – Yuna olhou para a sua outra metade, à procura de apoio.

– Porque é que não passamos para o “não-enviado”? – propôs Lenne, deixando Yuna de boca aberta – A Lady Yunalesca disse que sabia de uma maneira para trazer o morto de volta.

– Ah, sim! Na verdade, depois de pensar mais um pouco, existem duas maneiras. – disse Yunalesca, obtendo a atenção de Yuna – Podes contar-lhe tudo; sobre a sua vida passada, sobre como ele morreu e esperar que a vontade dele seja forte o suficiente para ele querer ficar contigo em vez de se esquecer do tempo que passou como teu guardião.

– Isso seria demasiado perigoso – disse Yuna, abanando a cabeça.

– Tens razão. Terias de enviá-lo se ele se esquecesse do tempo contigo. – concordou Yunalesca – Terias de confiar na força de vontade dele.

– Qual é a segunda opção? – perguntou Yuna.

– Estava à espera que aceitasses a primeira. – disse Yunalesca – Mas…a escuridão da morte pode desaparecer quando confrontada com a luz da vida.

– O que é que quer dizer? – perguntou Yuna, confusa.

Yunalesca aproximou-se de Yuna e pousou gentilmente a mão na barriga de Yuna.

– Um bebé. A luz mais pura que o mundo já viu. – explicou Yunalesca, surpreendendo Lenne e Yuna – A sua luz iria dessipar a luz da morte que paira em volta do “não-enviado” e dar-lhe vida.

– Um bebé? – quando Yunalesca se afastou, Yuna levou a sua mão à barriga – Tenho de dar à luz um bebé? Parece uma opção bem mais segura do que a primeira.

– Parece, não parece? Mas, no segundo em que o “não-enviado” segurasse o bebé nos seus braços, seria o segundo em que o bebé perderia a sua vida. – disse Yunalesca, vendo Yuna de boca aberta – Uma troca. A vida do bebé para dar vida ao “não-enviado”. E agora? Ainda pensas que a segunda opção é a mais segura?

Yuna olhou para Lenne, para Baralai e depois para Yunalesca. Deu um passo atrás e depois saiu da sala a correr.

– Acho que vamos conhecer o “não-enviado” não tarda. – comentou Lenne.

– Tens a certeza que ela não escolherá a segunda opção? – perguntou Yunalesca.

Lenne fechou os olhos e abanou a cabeça.

Actualmente

Paine encontrava-se de boca aberta, a olhar para Yuna.

– Como é que eu posso sacrificar um bebé por causa dos desejos pessoais? – perguntou Yuna, olhando para Paine, à procura de uma resposta – Entre as duas opções, não seria a primeira a melhor. Também não acho que o Tidus gostaria da ideia de sacrificar o seu próprio bebé.

– Então, o que é que vais fazer? – perguntou Paine, sem saber o que mais dizer.

Yuna pegou no bastão que tinha ao seu lado e olhou com convicção para Paine.

– Vou ser uma Invocadora…como sempre sonhei.

Entretando, Tidus, que tinha sido esquecido e deixado em Bevelle, percorria a grande biblioteca pertencente à Nova Ordem de Yu Yevon. Quando um livro lhe chamou a atenção, ele parou, pegou nele, sentou-se, soprou, levantando uma nuvem de pó e abriu o livro. “Calimidades em Zanarkand”.

– O Sin…parecia não gostar muito de Zanarkand. – murmurou Tidus, sorrindo – Surpreendentemente, a Ordem não parece saber muito sobre o primeiro ataque.

Tidus franziu as sobrancelhas quando leu que se pensava que ainda não existiam Invocadores na altura e que o ataque parecia ter ocorrido num dia importante…onde muitas pessoas se juntavam.

Ele estreitou os olhos e começou a ouvir gritos na sua cabeça, outra vez. Dor. Alguém a falar com ele…ou sobre ele.

“Tem de se manter acordado! Vamos levá-lo para um sitio seguro!”

“Ele está a perder muito sangue! O Sin! O Sin está a vir para aqui!”

“Peço imensa desculpa!”

Passos apressados. Eles estavam a fugir. A deixá-lo para trás. Sozinho.

Mas ele não queria ficar sozinho.

“Então…não como guardião. Mas quero-o por perto.”

Tinha sido a primeira vez que alguém tinha-lhe dito que o queria por perto só porque sim.

“Obrigada por ficares comigo até ao fim.”

Também tinha sido a primeira vez que alguém lhe tinha agredecido pela sua companhia. E ele prometera a Yuna…

– Não até ao fim. – murmurou Tidus, fechando o livro com força, afastando os gritos da sua cabeça – Para sempre.