Final Fantasy X-3 - Os Hinos

Capítulo 15 - A terceira fé


– Então!? – protestou Tidus, enquanto um dos guardas de Bevelle o inspecionava – Já me tiraram a espada. Não tenho mais nada. Onde é que está o Baralai! Eu vim aqui para falar com ele!

– Não é assim tão fácil. – resmungou um dos guardas.

– Se não é assim tão fácil, quero ir embora. – disse Tidus – Afinal, vim para aqui de boa-vontade e devo poder ir embora quando quiser.

– Claro que podes. – Baralai apareceu, surpreendendo Tidus e os guardas, que se afastaram de Tidus imediatamente – Mas teres vindo aqui de boa-vontade é uma coisa maravilhosa. Aposto que a Yuna-sama não sabe disto.

– Não a quero meter nisto. – murmurou Tidus.

– Tens razão. Ela já passou por demasiado. Vem comigo. – disse Baralai, começando a caminhar – A Yuna fez para que não visses mas, quando deixaram Zanarkand ontem, todos os pyreflies deixaram a cidade e entraram no teu corpo.

– O quê? – perguntou Tidus, chocado.

– É verdade. – disse Baralai – Também fiquei chocado. Por isso, quando cheguei aqui, juntei os membros mais sábios e começamos a falar.

– Descobriram alguma coisa? – perguntou Tidus, um pouco assustado, um pouco curioso.

– Sim. Chamamos alguns Invocadores “reformados” que conhecemos e é verdade que a Yuna é a única que consegue usar as invocações. – disse Baralai, continuando a andar, com Tidus atrás dele – Não achas estranho? Por exemplo, só se voltou a ouvir o Hino das Fés em dois Templos e os Invocadores que foram até lá para tentar obter o aeon de volta, não conseguiram. Porquê só nesses dois Templos? E porquê só a Yuna?

– Também gostava de saber. – murmurou Tidus.

– Então eu lembrei-me do que o Isaaru me disse. – continuou Baralai, parando em frente ao Templo de Bevelle – Ele disse que a Yuna tinha desenvolvido uma técnica para impedir que os “não-enviados” fossem enviados.

– Porque é que ela faria isso? – perguntou Tidus, parando ao mesmo tempo que Baralai.

– Também não percebi a principio. – confessou Baralai – Mas tinha os membros mais sábios a pensar comigo. Por isso chegamos à conclusão que está tudo ligado contigo, de alguma maneira. Agora só temos de confirmar.

– Porque é que tem a ver comigo? – perguntou Tidus, enquanto Baralai abria a porta do Templo silêncioso – Eu não sou um “não-enviado”.

– Então o que és? – perguntou Baralai – O que é que eras antes de teres desaparecido durante dois anos?

– O que é que preciso de fazer para confirmarem as vossas suposições? – perguntou Tidus, mudando de assunto.

– Primeiro… - respondeu Baralai – Tu entraste nos dois Templos onde se voltou a ouvir o Hino das Fés?

– Hmm….acho que sim. – respondeu Tidus – Porquê?

– Segundo… - continuou Baralai – Podes entrar neste Templo?

– Claro, porque não? – sem medo, Tidus entrou no Templo e, instantaneamente, o Hino das Fés substituiu o silêncio – O que é que se passou?

Baralai ia responder mas apressou-se a chamar os guardas quando Tidus desmaiou e pyreflies começaram a sair dele e a rodeá-lo.

Depois da visita emotiva às Fareplaines, Yuna voltou a Besaid para ver se Tidus já tinha voltado, mas não foi grande surpresa quando confirmou que ele não estava lá.

Lenne tinha razão. Tidus tinha ido a Bevelle procurar respostas.

– Ele já está lá.

Yuna olhou para baixo e viu a pequena fé ao seu lado.

– O que é que estás aqui a fazer? – perguntou Yuna, vendo a cara triste da fé – Pensei que não ias aparecer durante uns tempos depois do que aconteceu nas Fareplaines.

– Peço desculpa, Yuna. – disse a fé, olhando para o chão – Parece que, quanto mais forte é um aeon, maior é o impacto no sonho.

– O que é que queres dizer? – perguntou Yuna, assustada.

Ele olhou para cima. – Agora sou teu. Usa-me como quiseres.

Os gritos ouviam-se por todo o lado, enquanto Zanarkand era destruída por Sin. Já deviam saber que não podiam construir muita técnologia num só sitio, mas tinham-no feito na mesma.

Claro que tinha de ser no dia do jogo, quando as pessoas reuniam-se todas no mesmo sitio.

Quando um dos ataques do Sin acertou no estádio, Tidus pensou mesmo que ia morrer.

– Zanarkand foi destruída pelo Sin, há muito muito tempo atrás. Foi aí que o sonho e todos nós morremos…uma ou duas décadas antes de a Lady Yunalesca nascer. Na altura, não havia Invocadores nem aeons. As pessoas tentavam evitar o Sin ao não construir muita técnologia ou ao espalharem a população por Spira. Mas, no fim, o Sin atacava sempre e Zanarkand era uma das cidade com mais técnologia de Spira. – explicou a fé, enquanto Yuna tentava contactar Brother para a levar a Bevelle – Zanarkand, sendo uma das cidades principais de Spira, foi reconstruida, depois desse ataque. Levou anos a ficar como era antes. Zanarkand foi novamente destruída durante a guerra entre Zanarkand e Bevelle. Depois dessa, ninguém se preocupou em reconstruir Zanarkand. As almas que morreram lá ficaram lá. Na verdade, o Vegnagun foi construído por Zanarkand numa tentativa de matar o Sin.

– Porquê a lição de história, agora? – perguntou Yuna, depois de conseguir persuadir Brother a levá-la a Bevelle.

– Porque tens de compreender, Yuna, que o Tidus nunca chegou a saber o que era um “Invocador” na sua vida passada. – disse a fé – Por isso, se chegar o momento em que tu lhe dizes que és uma Invocadora e ele te perguntar o que é isso, tens de estar preparada. Se a Yunalesca não te disser o que é que tens de fazer para ele deixar de ser um sonho e um “não-enviado”, tens de estar preparada para lhe explicares tudo desde o principio.

– Espera… - disse Yuna – A Lenne nasceu antes da Lady Yunalesca?

– Sim. – confirmou a fé – Na altura já haviam Invocadores, mas nenhum deles tinha descoberto uma maneira de derrotar o Sin. Lenne, sendo uma das Invocadoras mais talentosas da altura, esperavam-se grandes coisas dela, até a guerra chegar e ela morrer. Depois disso, em Bevelle, nasceu a Lady Yunalesca, a primeira Invocadora a conseguir matar o Sin.

– Isso é…eu pensava que a Lady Yunalesca tinha sido a primeira Invocadora e não a primeira Invocadora a matar o Sin. – confessou Yuna.

– Não. – disse a fé – Houve muitas tentativas e falhanços antes disso. Para além de dotada, a Lady Yunalesca era extremamente sábia. Mas, quando descobriu como poderia derrotar o Sin, escondeu-o até o seu amado descobrir.

– Enquanto crescia, ouvi várias vezes que o meu pai tinha-me nomeado Yuna em honra da Lady Yunalesca. – disse Yuna – Para além disso, o meu pai tinha sido um Invocador Supremos. Era um grande peso. As pessoas esperavam grandes coisas vindas de mim, como esperavam da Lenne, acho eu. E tal como a Yunalesca, eu escondi a maneira de derrotar o Sin do meu amado.

– Então descobriste que és igual a duas das mais dotadas Invocadoras que já existiram. – disse a fé – Chegaste a alguma conclusão?

– As duas sacrificaram-se com os seus amados. – respondeu Yuna – É isso que devo fazer?

– Chegaste à conclusão errada. – disse a fé – Tu já passaste pelo que elas passaram há dois anos. Elas tentaram salvar os seus amados mas falharam, tal como tu falhaste da primeira vez. Mas a tua outra metade…

– A Lenne. – interrompeu Yuna – A Lenne conseguiu “salvar” o seu amado da segunda vez.

– E então qual é a conclusão? – perguntou a fé, outra vez.

– Eu tenho de salvar o Tidus. – respondeu Yuna, fazendo a fé sorrir.

– Não dependas de ninguém. – continuou a fé – Como Invocadora, encontra uma maneira de salvar o teu amado.

Quando aterraram em Bevelle, a fé desapareceu.

Tidus acordou e apercebeu-se que estava deitado numa cama. A olhar o tecto, sorriu e pensou que tinha sido só um sonho.

Levantou-se e levou uma mão à cabeça. Tinha ido a Bevelle para ver o Baralai e depois…

De repente, ouviu pessoas a gritar e abriu os olhos imediatamente. O sonho ainda estava vívido na sua mente. Seria melhor tomar um pouco de ar fresco.

– Tidus. – Baralai entrou quando Tidus estava prestes a sair – Estás bem? Quando entraste no Templo desmaiaste.

– O Templo? – perguntou Tidus – Ah, certo.

Mais flashbacks passaram pela sua cabeça. Destruição por todo o lado, crianças a chorar…Sin.

– O Sin. – murmurou Tidus.

– O quê? – perguntou Baralai – A Yuna destruiu o Sin há dois anos. Estás bem?

– Sim. – disse Tidus, tentando separar as memórias do sonho – Então, já descobriste alguma coisa?

– Já. – respondeu Baralai – Mas ainda não te posso dizer nada. Eu volto já, descansa mais um bocado.

Tidus franziu as sobrancelhas quando Baralai saiu, encolheu os ombros e sentou-se outra vez na cama.

– Não podes dizer-lhe nada. – pediu Yuna, sentada em frente a Baralai – Ele vai desaparecer, se o fizeres.

– Desaparecer? – perguntou Baralai, confuso – Como assim?

Yuna suspirou e contou-lhe tudo.

– Um sonho? – Baralai anuiu com a cabeça – Então é por isso.

– Quando salvei Spira do Vegnagun e do Shuyin, uma fé veio ter comigo e perguntou se eu tinha saudades dele. Ele disse que ia fazer de tudo para o trazer de volta. – continuou Yuna, pondo uma mão no peito – Ele voltou, com a ajuda das fés. Elas estão dentro dele. O que não um humano, mas sim um “não-enviado”, já que ele morreu há muito muito tempo atrás, em Zanarkand.

– Durante a guerra? – perguntou Baralai, curioso.

– Antes. – respondeu Yuna – Muito antes. Antes de haverem Invocadores.

– O quê!? – perguntou Baralai, chocado – Do primeiro ataque do Sin a Zanarkand.

Yuna anuiu com a cabeça. – Esse mesmo.

– Isso é espantoso! – exclamou Baralai – Bevelle não tem quase registos nenhuns dessa época. Podemos aprender muito com ele!

– Ele morreu lá. – lembrou Yuna – Se começares a falar disso, em frente dele, ele vai lembrar-se da própria morte.

– Yuna, neste momento, Bevelle só tem dois usos para ele. – disse Baralai, sinceramente – Perguntar-lhe o que aconteceu detalhadamente na época em que ele morreu, ou levá-lo a todos os Templos de Spira para trazer os aeons de volta. Caso contrário, não tenho outra opção a não ser considerá-lo um simples “não-enviado” e pedir a um Invocador para “enviá-lo”.

– Podes vir comigo, Baralai? – pediu Yuna, levantando-se.

Yuna concordou em ir numa das naves de Bevelle, já que tinha sido ela a pedir a Baralai para acompanhá-la às Fareplanes.

Apesar de estar um pouco baralhado, Baralai seguiu-a pelas escadas acima e ficou à espera, enquanto a via a fechar os olhos. Quando Lenne apareceu em frente a ela, rodeada de pyreflies, ele abriu a boca.

Yuna abriu os olhos e virou-se para Baralai.

– Vejo que trouxeste alguém contigo, agora. – comentou Lenne, olhando para Baralai, com calma – O que é que se passa? O sonho já chegou a Bevelle?

– Acho que conheces a Lenne. – disse Yuna, para Baralai, que continuava petrificado – Lenne, este é o novo chefe da Ordem de Yu Yevon.

– Oh. – a expressão de Lenne mudou. Baralai conseguiu ver um pouco de raiva e ressentimendo na cara dela – O que é que ele está a fazer aqui? Porque é que o trouxeste?

– É NOVA Ordem de Yu Yevon. – corrigiu Baralai.

– É a mesma coisa. – disse Lenne – Yuna?

– Eu só queria que lhe dissesses como também queres que eu “envie” o Tidus. – pediu Yuna.

– O sonho? – perguntou Lenne, vendo Yuna anuir com a cabeça – Sim. Claro que deves “enviá-lo”. Ele é um “não-enviado”, no final de contas.

– Foi o que eu disse, Yuna. – disse Baralai, contente por ter a mesma opinião que Lenne.

– Mas ele é importante para ti. – disse Lenne, contrariando o que tinha acabado de dizer – Eu posso dizer-te que o dever de Invocadora vem antes dos teus desejos pessoais, mas não sou o melhor exemplo. Se há alguma maneira de ele deixar de ser um “não-enviado”, acho que devias fazer isso.

– Mas não há! – exclamou Baralai.

– Mas há. – disse Lenne calmamente – A Lady Yunalesca disse-me ela própria.

– Lady…o quê!? – Baralai olhou para Yuna – O que é que se passa?

– A Lenne está a ajudar-me a virar o jogo. – explicou Yuna – No principio, estava um bocado hesitante mas, quando a Lenne aceitou ajudar-me e disse-me que a Lady Yunalesca sabia de uma maneira…não posso deixar que ele desapareça antes de tentar de tudo. Desta vez, tenho de salvá-lo.

Quando Lenne a ouviu dizer aquilo, sorriu.