Acordei mais cedo e corri para tomar banho. Vesti uma calça jeans e coloquei um cinto para prende-la já que ela estava mais larga. Vesti uma camiseta cinza claro gola v e peguei um moletom marrom. Calcei minha bota de caubói e desci as escadas correndo.
Dirigi até a casa da Nora. Entrei na casa e encontrei Nora e Blyte na cozinha. Larguei a mochila no chão enquanto Nora corria na minha direção. Nos abraçamos fortemente.
— Nem consigo acreditar. - Falei. - É tão bom ver você de novo.
— Quer chá querida? - Blyte perguntou.
— Obrigada. Eu aceito. - Falei.
— E eu posso ir à escola? - Nora perguntou.
— A escola pode esperar. - Blyte respondeu.
— Até quando?
— Não sei. Uma semana, eu acho. Ou duas. Até que você esteja se sentindo de volta ao normal.
— Acho que é bom saber que tenho uma ou duas semanas para voltar ao normal.
— Nora...
— Não importa que não consiga lembrar de nada dos cinco meses que se passaram. Não importa que a partir de agora cada vez que vejo um estranho me olhando no meio da multidão vou me perguntar se é ele. Melhor ainda, minha amnésia está em todos os noticiários e ele deve estar rindo. Ele sabe que eu não posso identificá-lo. E acho que deve ser confortável isso porque todos os testes de Dr. Howlett indicam que estou bem, muito bem. Provavelmente nada de ruim me aconteceu durante aquelas semanas. Talvez eu possa mesmo fazer-me acreditar que estava tomando sol em Cancun. Ei, isso pode ter acontecido. Talvez o meu sequestrador queria se diferenciar da maioria. Fazer o inesperado e mimar sua vítima. A verdade pode levar anos. Nunca pode acontecer. Mas definitivamente não vai acontecer se eu continuar por aqui assistindo novelas e evitando a vida. Estou indo para a escola hoje, fim da história.
— Escola? - Blyte a encarou deixando os morangos de lado.
— De acordo com o calendário na parede, é nove de setembro. A escola começou há dois dias. - Nora falou e Blyte pressionou os lábios.
— Eu percebo isso.
— Desde que a escola começou não deveria estar lá?
— Sim, eventualmente.
— Desde quando você tolera evasão escolar?
— Não quero dizer-lhe como executar a sua vida, mas acho que você precisa diminuir o ritmo.
— Diminuir o ritmo? Não me lembro de qualquer coisa desde os últimos meses da minha vida. Eu não vou diminuir o ritmo e deixar as coisas ainda mais deslizando fora do meu alcance. A única maneira que encontrei para me sentir melhor sobre o que aconteceu era clamar por minha vida. Vou para a escola. E então vou sair com Vee para comer uns donuts, ou qualquer junk food que ela desejasse hoje. E então voltaria para casa e faria minha lição de casa. E então iria dormir ouvindo os discos antigos de papai. Há tanta coisa que não sei mais. A única maneira de sobreviver a isso era me apegar ao que sei.
— Muita coisa mudou enquanto você estava fora...
— Você acha que não sabia disso? Confie em mim, eu entendo. E estou com medo. Sei que não posso voltar e isso me apavora. Mas ao mesmo tempo...
— Hank Millar e eu estamos namorando.
Me afoguei com o chá. Por que não poderia ter ido direto para a escola?
— Desculpe, o quê? - Nora falou encarando de mim para Blyte.
— Aconteceu enquanto você estava fora.
— Hank Millar?
— Ele é divorciado agora.
— Divorciado?
— Todos os dias intermináveis de não saber onde você estava, se você estivesse mesmo viva, ele era tudo que eu tinha, Nora.
— O pai de Marcie?
— Nós namoramos. No ensino médio e faculdade. Antes de conhecer seu pai.
— Você e Hank Millar?
— Eu sei que você vai tentar julgá-lo com base no seu parecer de Marcie, mas ele é realmente um cara muito doce. Amável, generoso e romântico. - Ela sorriu depois corou.
Enruguei o nariz sabendo que ele não era tudo aquilo.
— Certo. - Nora agarrou uma banana e meu braço me guiando para fora da casa.
Juntei a mochila do chão rapidamente.
— Podemos falar sobre isso? - Blyte nos seguiu. - Você pode pelo menos me ouvir?
— Parece que estou um pouco atrasada para a festa vamos-falar-sobre-isso.
— Nora!
— O quê? - Nora rebateu virando para ela. - O que você quer que diga? Que eu estou feliz por você? Eu não estou. Usávamos os Millars para nos divertir. Costumávamos fazer piada desse problema de comportamento da Marcie que foi envenenamento por mercúrio devido a todos os frutos do mar que sua família come. E agora você está saindo com ele?
— Sim, ele. Marcie não.
— É tudo a mesma coisa para mim! Você esperou até que a tinta sobre os papéis do divórcio estivesse seca? Ou fez a sua jogada enquanto ele ainda estava casado com a mãe de Marcie, porque três meses é muito rápido.
— Não tenho que responder isso! Isto é porque você acha que estou traindo seu pai? Acredite em mim, eu já me torturei o suficiente, questionando se nada menos do que a eternidade é muito cedo para seguir em frente. Mas ele teria querido que eu fosse feliz. Ele não gostaria que eu vivesse sentindo pena de mim mesma para sempre.
— Será que Marcie sabe?
— O quê? Não. Eu não acho que Hank lhe disse ainda.
— Estou atrasada para a escola. Onde estão as minhas chaves?
— Eles devem estar aí.
— A minha chave da casa está. Onde está a chave do Fiat? - Nora perguntou e Blyte apertou a ponta do nariz.
— Vendi o Fiat.
— Vendeu? Perdão? O que mais? O que mais você vendeu enquanto eu estive fora?
— Eu o vendi antes de você desaparecer.
— Isso é verdade. - Falei.
Nora abriu a porta e puxou meu braço para sairmos.
— De quem é esse carro? - Nora perguntou olhando o conversível branco.
— Seu.
— O que quer dizer, meu?
— Scott Parnell deu a você.
— Quem?
— Sua família se mudou de volta à cidade no início do verão.
— Scott? O menino da minha classe do jardim de infância? Que se mudou para Portland anos atrás? - Blyte assentiu. - Por que ele iria me dar um carro?
— Nunca tive a chance de perguntar. Você desapareceu na noite em que ele apareceu.
— Perdi a noite que Scott misteriosamente doou um carro para mim? Que não partiu de qualquer alarme? Não há nada de normal sobre um cara adolescente dando um carro para uma garota que ele mal conhece e não tem visto nos últimos anos. Alguma coisa sobre isso não está certo. Talvez, talvez o carro seja uma evidência de alguma coisa e ele necessitou se livrar dele. O que passava pela sua mente?
— A polícia revistou o carro. Eles questionaram o proprietário anterior. Mas acho que o Detetive Basso tinha descartado o envolvimento de Scott depois de ouvir o seu lado dos eventos da noite. Você teria sido baleada antes de desaparecer e por isso Detetive Basso originalmente pensou que Scott era o atirador você disse a ele que não era...
— Tiro? - Nora balançou a cabeça. - O que quer dizer tiro? - Blyte fechou os olhos.
— Com uma arma.
— O quê?
— No parque de diversões de Delfos. Eu odeio sequer pensar nisso. Eu estava fora da cidade quando comecei a ligar. Não posso voltar no tempo. Não vi você de novo e eu não lamentava nada mais em minha vida. Antes de desaparecer você disse para Detetive Basso que um homem chamado Rixon atirou em você na casa divertida. Disse que Scott estava lá também e Rixon também atirou nele. A polícia procurou Rixon, mas era como se ele tivesse desaparecido. Detetive Basso estava convencido de que Rixon não era mesmo o nome verdadeiro do atirador.
— Onde foi que eu levei um tiro?
— O ombro do teu lado esquerdo. O tiro foi de raspão, atingindo apenas um músculo. Nós somos muito, muito sortudas. - Nora puxou a blusa para baixo. - A polícia passou semanas procurando Rixon. Eles leram seu diário, mas você arrancou várias páginas e não encontrou seu nome no resto. Eles perguntaram a Vee, mas ela negou ter ouvido esse nome. Ele não estava nos registros na escola. Não havia registro dele no DMV...
— Eu rasguei as páginas do meu diário?
— Você se lembra onde colocou as páginas? Ou o que eles diziam? - Nora balançou a cabeça negando.
— Rixon era um fantasma, Nora. E onde quer que esteja ele levou todas as respostas com ele.
— Não posso aceitar isso. - Nora falou. - E sobre Scott? O que ele disse quando o detetive Basso o questionou?
— Detetive Basso colocou toda sua energia para caçar Rixon. Eu acho que ele nunca falou com Scott. A última vez que falei com Lynn Parnell, Scott havia se mudado. Acho que ele está em New Hampshire agora vendendo controle de pragas.
— Só isso? Nunca o detetive Basso tentou rastrear Scott e ouvir seu lado?
— Estou certa de que ele tinha uma razão para não falar com Scott.
— Estou certa disso também. Como talvez por ele ser incompetente?
— Você deve dar uma chance ao Detetive Basso, você veria que ele é realmente muito forte. Ele é muito bom em seu trabalho.
— E agora?
— Nós fazemos a única coisa que podemos. O nosso melhor para seguir em frente.
— Se você ver Scott, certifique-se de chamá-lo para que eu possa agradecer-lhe o carro. Logo depois de eu lhe perguntar por que me deu, em primeiro lugar. Talvez você e o detetive Basso estejam convencidos de que ele é inocente, mas muitas coisas sobre a sua história não estão claras.
— Nora...
— Posso pegar a chave? - Um breve momento se passou até Byte entregar a chave a Nora.
— Tenha cuidado.
— Oh, não se preocupe. A única coisa que estou em perigo é de fazer de mim mesma uma tola. Sabe de qualquer outra pessoa que eu poderia encontrar hoje e não reconhecer? Felizmente, eu me lembro do caminho para a escola. E você olha para isso. - Nora abrindo a porta do carro. - O Volkswagen é de cinco marchas. Coisa boa que eu aprendi a dirigir de cinco marchas pré-amnésia.
— Eu sei que agora não é o melhor momento, mas fomos convidadas para jantar esta noite.
— Nós temos?
— Hank gostaria de nos levar para Coopersmith. Para comemorar seu retorno. O convite inclui você, Nikki.
— Eu passo. - Falei.
— Que gentileza a dele. - Nora resmungou ligando o carro.
— Ele está tentando... Ele está tentando muito para fazer sua parte.
— E você? Você está tentando fazer o seu trabalho? Porque eu vou na frente. Se ele ficar, eu vou. Agora, se você me dá licença, tenho que descobrir como viver minha vida novamente.
Segui para o meu carro e dirigi até a escola. Nora vinha me seguindo. Sabia que ela queria fazer perguntas.
— Qual foi o teu testemunho? - Nora perguntou assim que desci do carro.
— Eu estava com meu namorado...
— Namorado. Você tem um namorado?
— Eu tinha. - Respondi. - Recebi a ligação do que tinha acontecido no Delphic. Cheguei a conhecer Rixon antes dele te atacar. Mas não sei para onde ele foi. Ninguém sabe. É como se ele nunca tivesse existido. E sobre Scott. Acho que Detetive Basso o interrogou. Não sei. Nunca mais o vi desde aquele dia.
— Por que ele me daria um carro?
— Talvez por que ele tinha uma queda/penhasco por você?
— Scott gostava de mim?
— Olha, vocês acho que trocaram alguns beijos em um noite, mas eu não sei. Não vi direito e você nunca entrou no assunto comigo.
— O que aconteceu aquele dia?
— Eu fiquei com você no hospital depois fomos levada para casa. Eu deixei você e fui para a minha casa na fazenda.
— Por que você me deixou sozinha?
— Você queria conversar com sua mãe. Era uma conversa não muito amigável e você me pediu para sair.
— Que conversa eu teria com ela?
— A mesma que ela tentou ter com você hoje de manhã.
— Sobre Hank?
— Sim. Você estava achando que ela estava namorando ele.
— Mas ele era casado.
— Sim. E é por isso que a conversa não seria amigável.
Estava me contorcendo por dentro. Estava mentindo para ela.
Mentindo sobre o passado dela.
E aquilo doía tanto.