Quando Zoro o viu pela primeira vez, Sanji estava coberto de faixas que cobriam as feridas e sobre o olho esquerdo havia um tapa-olho. Segundo o senhor de bigodes trançados que se intitulava ser seu pai, Sanji atraía espíritos ruins. A postura tímida e que evitava de encarar os seus olhos castanhos, fez-lhe sentir pena pela primeira vez na vida.

O pai de Zoro percebeu que seu filho sentira empatia e imaginou que seria bom Sanji passar as férias de verão ao seu lado, porque diferente dele, Zoro atraía espíritos bons.

— É bem provável que ele poderá proteger Sanji. — Disse Mihawk, pai de Zoro, sentado no tatame da casa japonesa, oferecendo um chá a Zeff, pai de Sanji.

Zeff pegou a xícara e deu uma olhada através da porta de correr, curioso com o que aquelas duas crianças estavam conversando. — Sanji nunca teve amigos.

Mihawk riu. — Nem Zoro.

— Sério?

— As crianças o estranham por poder ver coisas que ninguém vê.

— Entendo, ser médium deve ser tão difícil quanto aquele que sofre maldições...

Do outro lado do jardim arborizado, sentavam-se Zoro e Sanji sobre um tronco de uma árvore.

— Então, são os espíritos que te machucam? — Concluiu Zoro, piscando seus olhos inocentes.

— Não sei. Eu não os vejo, mas algo me puxa. — Respondeu Sanji, ajeitando a faixa que desenrolava ou evitando ao máximo para não olhar Zoro, que por sua vez estranhava estar numa conversa sem trocas de olhares.

— Hm... deve ser a sua aura. — Respondeu, ajeitando o kimono um pouco grande para o seu corpo.

— O que é isso?

— É o que pode atrair os espíritos, eu tenho uma também, mas eles não me fazem maldades e não são feios como aquele ali. — Apontou com o dedo para o espírito que estava alguns passos distantes deles.

Sanji piscou os olhos e direcionou o rosto para onde apontava, mas não viu nada. — V-você consegue vê-los?

— Sim.

Um pânico tomou o corpo de Sanji, mas Zoro segurou sua mão antes que passasse a correr em direção ao seu pai.

— Tá tudo bem, ele não gosta de mim e por isso não vai chegar perto se você estiver ao meu lado.

Sanji respirava fundo e voltou a olhar para onde Zoro apontou. — Ele é muito feio?

— Não se preocupe, ele não vai chegar perto.

— Não é isso, já entendi que ele não gosta de você. Mas não sente medo?

— Não, já me acostumei.

Sanji percebeu que eles ainda estavam de mãos dadas e depois de ouvir a resposta daquele garotinho de cabelos esverdeados — lembrava-o um marimo — e que muito provavelmente tinha sua idade, ele as apertou mais firme, enlaçando-as ainda mais, pois, pela primeira vez, sentiu pena de alguém que não fosse a si mesmo.

As bochechas de Zoro coraram com o toque e ele deixou escapar um sorriso. — Obrigado.

Sanji também passou a sorrir, sentia-se finalmente acolhido e seu corpo queimava de empolgação. Zoro sentia o mesmo e por isso continuava a sorrir, fazendo parecer que conhecia o sobrancelha enrolada há muito tempo, talvez na outra vida. Sorriam como se não fossem duas crianças introvertidas, o espírito se desintegrou.