Filho Da Guerra: Um caso De Andrey Z.

Capítulo 9 : Reagrupando os fatos.


-- Sabe Doutor lhe chamei aqui para podermos fazer um levantamento de tudo que temos até agora – Disse Andrey sentado na cadeira da biblioteca da mansão Petrovisk.

-- Andrey você poderia ter chamado o soldado, eu sou apenas um médico.

-- Deixe disso Dr. Donaldson, não seja modesto, tem se mostrado um agradável amigo, apesar de ter me acordado as 06h00min dessa manhã, é um excelente profissional.

-- Você é quem sabe, se quer minha ajuda, então ajudarei, sem problemas quanto a isso.

--Tudo bem então. Fiz uma lista de fatos e informações:

1º: Temos o Conde que era odiado por metade desse mundo, não gostava de seus funcionários, mas os pagava muito bem e sempre os manteve no emprego.

2º: Local do crime intacto, sem arrombamentos e violações, sem marcas nos muros, jardins sem plantas pisadas e o mais intrigante é que hoje chegaram até mim os resultados do analista canino, foi constatado um pequeno desgaste nos dentes de um dos cachorros do Conde, ou seja, ele mordeu alguém naquela noite, mas o DNA não foi possível de ser identificado.

3º: A brutalidade dos crimes, primeiro o do Conde que já dispensa comentários, sangue por todos os lados e pregar um homem na parede não é algo muito comum. Já o de Maria me parece interessante, cortar a língua até onde eu sei é um sinal de calar a boca, mas um beco num lugar totalmente avesso a vitima e escolhido justamente para encontrar o assassino, não entendo.

4º: Os suspeitos. Apesar do Conde ter inimigos por todo o mundo esse crime foi cometido por alguém com motivações particulares, isso explica o nível de crueldade aplicado. Os funcionários poderiam e podem ser fortes suspeitos, mas são muito neutros, não mostraram nenhum motivo pessoal e parecem ser muito sinceros no que falam, só há um problema: Tanto Charles quanto Maria tem ligações com a Suécia e não nos revelaram esse fato e o mais interessante é que isso nos da uma ligação entre os três empregados. Não seria estranho três empregados do mesmo país e cidade serem contratados pela mesma pessoa em datas diferentes? Mais do que isso, por que Patrícia mudou de nome ao chegar a Londres? E seu filho onde está? E por que nenhum dos três gosta de falar do seu passado?

-- Garoto vá com calma. São muitas perguntas em tão pouco tempo. E muitas dessas coisas eu nem sabia, pelo visto você andou investigando – Disse Donaldson espantado.

-- Desculpe Doutor, é que vi necessidade de ir esclarecer algumas informações, mas acabei me enchendo ainda mais de dúvidas.

-- Acho os funcionários muito simples e honestos, pelo menos Charles e Patrícia que são mais velhos, e você me disse hoje ainda lá no beco que eles estavam jogando buraco na hora dos assassinatos e temos testemunhas para confirmar isso.

-- Você tem razão. As pessoas não podem estar em dois lugares ao mesmo tempo. Mas agora me vem um dado importante na cabeça, Charles e Patrícia disseram que jogaram até as 02h00min na casa dos vizinhos, e o senhor me disse que o assassinato foi cometido entre as 02h00min e as 03h00min, poderia então ser possível que ambos ainda se encontrassem com Maria após o jogo.

-- Negativo Andrey, isso é impossível. Não há como se chegar em 1 hora da Rua Medison até o local do crime, de maneira nenhuma eles poderiam ter se deslocado de onde estavam até lá.

-- Isso nos coloca em uma situação ainda mais difícil Doutor, já que não temos suspeitos, não temos provas, mas temos um assassino.

-- Acalme-se Andrey, por tudo que já vi sei que aparecerá alguma coisa que nos faça chegar até o assassino ou assassina é claro.

-- Desculpem senhores, mas o soldado está aqui, posso deixa-lo entrar? – Disse a empregada abrindo a porta.

-- Oh!É claro, mande-o entrar – Respondeu Andrey.

-- Você mandou chama-lo Andrey? – Perguntou Donaldson.

-- Não, me espanta a visita também.

-- Com licença Andrey, me desculpe aparecer sem avisar antes, é que trouxe uns papéis da Scotland Yard para que você assine como sabe o Capitão Petrovisk o deixou responsável pelo caso e a burocracia nesses casos é muito chata, são só alguns documentos para autenticar sua participação como detetive auxiliar no caso – Falava o soldado na frente de Andrey segurando uma pasta repleta de papéis.

-- Sem problemas soldado, o Capitão já havia me alertado sobre esses documentos, sente-se, por favor, bebe alguma coisa?

-- Não, obrigado.Não bebo álcool.

-- Sabe soldado, lá na Rússia nos bebemos muito, é quase sagrado e nos esquenta, já que faz muito frio por lá.

-- Nada pessoal, mas acho que a bebida tira a razão do homem, não tem nada como fazer as coisas lucidamente – Comentou o soldado seriamente.

-- Como queira, mas que esquenta isso esquenta. Ah propósito, já que está aqui me deixe esclarecer algumas dúvidas. Fiquei sabendo que foi da guarda pessoal do Conde, o que achava dele?

-- Quer mesmo saber? Ao contrario de todos eu gostei de trabalhar para o finado, ele era forte, não se abalava com as acusações, pelo contrario, se fortalecia, fabricava armas e apoiava os Nazistas, qual o problema? Cada um apoia o que melhor lhe convém. Ele não era o melhor dos patrões é verdade, mal olhava em minha cara, mas não posso reclamar do salário que era muito bom, mas recebi a proposta do Capitão Petrovisk e claro não pude recusar, estar aqui é a realização de um sonho.

-- Percebeu algo de estranho enquanto trabalho para o Conde? Ameaças, atentados ou coisas do tipo?

--Olha Andrey, diariamente isso acontecia, mas o Conde não levava isso a sério, as cartas ele amassava e jogava na lareira e quanto a agressão física, ninguém nunca encostou no Conde.

-- Tem um palpite para o assassino? – Perguntou o médico.

-- Ah Dr. Donaldson para mim foi àquela mesma empregadinha que foi encontrada morta hoje, qual era o nome dela mesmo? Maria! Sempre andando na espreita, me olhando com cara de poucos amigos, não confiava nela.

-- E os outros empregados?

-- Patrícia e Charles são maravilhosos, sempre me trataram muito bem, dedicados e inofensivos, acredite.

-- Desculpe tomar seu tempo soldado, mas sabe como é, estou iniciando e acho que em um caso desses toda informação é necessária e você como um homem da lei poderia melhor do que ninguém ter notado algo que deixamos passar.

-- Estou às ordens, fique a vontade – Disse o soldado se levantando e caminhando até a porta.

-- Soldado está mancando? Aconteceu alguma coisa? – Perguntou Donaldson.

-- Ah, não é nada de mais, apenas torci o tornozelo fazendo exercícios.

-- Se quiser eu posso examinar.

-- Não! Não é preciso, é só uma torção, já fui ao médico estou bem. Já vou indo, passar bem. – Disse o soldado fechando a porta.

-- Hum, muito interessante – Pensou Andrey em voz alta.

-- O que é interessante? Posso saber? – Perguntou Donaldson.

-- Por enquanto não, mas logo saberá. Agora me deixe destacar alguns pontos que lembrei: Maria é uma suspeita em potencial, já que envenenava o Conde, o que quero saber é se uma coisa tem a ver com a outra. Se o assassino da faca é o mesmo do veneno.

-- Mas é quase óbvio que os dois têm ligações, se não porque Maria teria marcado um encontro com o assassino?

-- Talvez por saberem um do outro quisessem fazer chantagem.

-- Muito inteligente, é uma grande chance.

-- Doutor acho que esses próximos dias teremos que viajar um pouco, preciso esclarecer algumas coisas que começaram fora de Londres, está disponível?

-- Mas é claro, não tenho nada melhor a fazer mesmo.

-- Perfeito, só tenho que organizar algumas coisas, você sabe da dificuldade de sair do país em plena guerra, mas tenho alguns contatos e amanhã de tarde poderemos partir. A propósito prefere ir de navio, trem ou avião?

-- Avião, eu gosto de voar. Mas aonde vamos?

-- Vamos de trem a Winchester e de avião para Estocolmo.

-- Então eu já vou, tenho malas para arrumar.

-- Eu vou providenciar tudo e avisar Dona Helena e Alice, amanhã à tarde sairemos não se atrase.

Donaldson tomou um táxi enquanto Andrey passou toda a noite cuidando da viagem e dando satisfações a Helena e Alice. As 15h00min da tarde Dr. Donaldson e Andrey embarcavam no Expresso North West sentido Liverpool, onde pegariam uma carro até a pequena cidade de Winchester.