Rhaenys Targaryen

O sol estava a nascer quando foi acordada por uma das aias. Dormia abraçada com o irmão gémeo, Aegon. Eram parecidos em personalidade mas divergiam completamente em aparência. Enquanto ela tinha uma aparência Targaryen ele era Martell. Aegon tinha pele bronzeada, a de Rhaenys era excessivamente pálida, ela tinha olhos de um tom claro de lavanda, ele tinha olhos de víbora tão negros como Drogon, Aegon tinha cabelos ruivos, ondulados pela altura dos ombos, enquanto a gémea tinha cabelos platinados, longos e lisos até à cintura.

Naquele dia resolveu vestir saias negras com bordados em vermelho e um corpete vermelho com dragões negros bordados. Colocou o colar de prata cujo pingente era um dragão feito de cristal. Fora-lhe oferecido pelo recém falecido pai, o Rei Daeron Targaryen, terceiro do seu nome, Daeron o grande, Rei dos Sete Reinos, dos Rhoynares, dos andálos e dos primeiros homens, Khal do mar dothraky, Rei da baía dos escravos, Senhor de Pedra do Dragão, Imperador da renascida Valiria e libertador de Asshai. Fora assassinado, ela sabia-o. E conhecia o culpado. Alguém que lhe era querido e próximo, mas não gostava de pensar nisso. Apesar de desejar desesperadamente o trono, ela amava o pai e nunca lhe faria mal, mas não se poderia dizer o mesmo dos irmãos, tirando, talvez, Visenya.

Avançava lentamente pelos corredores da fortaleza vermelha. De tempos em tempos passando os dedos longos e finos pelas pedras vermelhas. Espreitou por uma janela. Lá fora o tio Kádis vinha de para lá da Muralha, nunca o conhecera pessoalmente, apesar de lhe contarem histórias sobre ele.

- Sonhando, querida? - Perguntou a Rainha Anya, esboçando um sorriso solidário, mas de certa forma de deboche.

- Estava apenas distraida! - Respondeu friamente.

Viu Aerion, o meio-irmão a sair do seu quarto. Tal como ela vestia-se de vermelho e negro, mas um cinto de rosas douradas adornava-lhe a cintura. Apesar de Rhaenys ser a mais velha dos filhos de Daeron, tinha perfeita noção que não tinha hipóteses de ser Rainha, talvez, se Aegon se tornasse Rei a tomasse como consorte, e também a Visenya, para voltarem a montar os dragões e voar, conquistando o mundo, tornando-o num só.

No dia em que nasceram uma velha feiticeira previu que eles seriam Aegon e as irmãs renascidos, mas Rhaenys por vezes dúvida que o irmão fosse Aegon, na melhor das hipóteses ele seria Rhaenys. Aegon não era matéria para um Rei conquistador, preferia ouvir uma boa música, ler um bom livro a ter de pegar numa espada montar Meraxes e sair de encontro aos inimigos. Ele era assim e sabia-o e também sabia que eram as irmãs quem tinham força.

A força das mulheres. Uma vez um velho guarda da guarda da cidade, dissera-lhe que as mulheres eram mais perigosas do que os homens. As mulheres não esquecem, nem perdoam. Dissera ele. E Rhaenys não esquecia uns certos nobre iriam pagar pelo que fizeram ao Rei.

Continuou o seu caminho até ao exterior da fortaleza com os perturbantes pensamentos sobre os Targaryen. A familia valiriana tinha a mácula, e ela tinha medo de sofrer disso, mas guardava esperanças. Também era uma Martell. E um Martell também não esquece. Que a Rainha Anya se lembre disso porque quando tomar o meu trono ireis saber o que isso signifia. Oberyn Martell fora insubmisso, não curvado e não quebrado até que assassinaram a sua amada irmã Elia, mas depois ele recuperou e esperou, esperou mais de quinze anos para obter a sua vingança. Que a Rainha Dourada se lembre que o sangue de Oberyn também corria nas suas veias. Ela também poderia esperar, dias, e anos, mas obteria a sua vingança.

Respirou fundo para ignorar aqueles pensamentos. Forçou um sorriso amigável e endireitou as costas, compôs o vestido e caminhou calmamente de encontro ao tio. Tinha o porte fisico de um bárbaro, forte e alto, e algumas cicatrizes da guerra. Os seus cabelos eram uma confusão de cachos negros como a noite. Mas os seus olhos eram incrivelmente atraentes, de um belissimo azul cristalino, oscilando entre a tristeza e a cólera.

- Tio! - Cumprimentou atirando-se-lhe nos braços.

Ele apertou-a levemente contra o peito, com um certo desconforto. Quando se afastou viu que Aegon a olhava com ciúmes.

- Se precisardes de algo, não hisiteis em falar comigo. - Disse ela provocando o irmão.

Depois afastou-se com um sorriso tranquilo no rosto. Irritada por ter o cabelo preso, desfez a trança sem ninguém ver. De súbito Balerion voou furiosamente de encontro até Leo Waters arranhando-lhe a cara. Visenya gritou horrorisada, assim como as irmãzinhas de Rhaenys. A voar a grande velocidade apareceu então Vhagar começando a lutar furiosamente com o irmão. Para completar Meraxes foi apoiar o dragão negro contra Vhagar.

- Meraxes, para! - Gritou Aegon muito distante.

A visão de Rhaenys começou a escurecer. Dedos frios agarravam o seu peito. Os dedos do medo pensava que iria morrer. A última coisa que viu foi Visenya a correr de encontro ao rapaz mutilado.

De repente tudo parecia diferente, notou que olhava diretamente para ela própria, aquilo não era possivel. Asas verdes passaram à frente dos seus olhos e garras bronze penetraram as suas escamas verdes. Espera, escamas, asas? Oh, meus deuses, ela transformara-se em Balerion. Ela era uma warg.

O dragão branco atingiu o irmão com a sua cauda prateada. Ela apercebeu-se que também deveria lutar, quer dizer tudo começara por sua causa ou teria sido Balerion? Mordeu o irmão mais pequeno numa pata enquanto observa o tio Kádis a transportar o seu corpo humano para longe da confusão. Num emaranhado de caudas, espigões, garras e dentes, os três lutavam. Sem dúvida que não era justo. Vhagar era do tamanho de um gato enquanto ele era o maior. O branco agarrou o verde pela cauda fazendo-o virar-se o momento perfeito para ela atacar, ou seria ele? Não sabia ao certo se era Rhaenys ou Balerion mas sabia o que tinha de fazer, precisava de imobilizar o dragão menor.