Mira acordou com uma terrível dor de cabeça, dormia no meio de dois lobos gigantes Grandine e Nébula. Voltara a sonhar com a morte do tio. Lá estava ele de novo com os cabelos negros desordenados, os olhos cinzentos gélidos como sempre e armadura negra a brilhar à primeira luz do dia. Ele viera para vê-la e acabara morto por sua causa. Mira ainda se lembrava perfeitamente de como o selvagem de cabelo metade castanho metade dourado lhe perfurara o peito com uma lança. Lembrava-se dos dois dentes de ouro do homem e a maneira como sorriu quando a viu escondida atrás dos arbustos, mas não lhe fez nada, simplesmente se foi embora com os restantes companheiros.

Lágrimas desceram dos seus olhos púrpura e correram pelas suas bochechas rosadas. Nébula que foi como uma mãe para ela lambeu-lhe as lágrimas. Mira acariciou-lhe o pelo junto das orelhas e encostou a cara ao seu focinho.

- Está tudo bem. – Garantiu ela á loba cujos olhos de ouro-derretido faiscaram. – Vai ficar tudo bem, não precisas de te preocupar.

Eragon o dragão das escamas azuis voou até ao seu ombro, enquanto Daenerys das escamas prateadas se aninhou no seu colo. Ela acariciou cada um dos dragões e depois levantou-se. De súbito o vento soprou furiosamente vindo de oeste. Mira ouviu com atenção cada sinal que a natureza lhe dava. Um grupo de homens se aproximava.

- Vamos partir imediatamente. – Falou ela aos companheiros. – Ficamos aqui por demasiado tempo.

Os lobos levantaram-se e tomaram as suas posições de caminhada. Alguns caminhavam ao lado dela e dos seus dragões, outros atrás, alguns á frente e os poucos restantes eram batedores. Mira imaginava que Daenerys Targaryen, Mãe de Dragões se sentira assim quando marchara com os seus libertados, os Imaculados e os Dothraky. Um dia ela seria como Daenerys, tão forte, bela e poderosa quanto ela. Danya tivera dois irmãos, mas Mira só tinha uma meia-irmã, Scarlett uma verdadeira Stark e não uma bastarda. Mas Scarlett também não era Targaryen, pois a sua mãe foi Helena Arryn e não Knighwalker Targaryen, uma prima do rei.

Mira sentia muito a falta da mãe, apesar de não saber se estava morta, também não sabia se estava viva, o que era igualmente frustrante. Um dos seus maiores desejos era que a mãe estivesse viva e que pudesse voltar estar com ela. Uma beijada pelo fogo não deveria ter sorte? Mira era beijada pelo fogo mas era a pessoa mais azarenta que ela própria conhecia. A dor consumia de novo o seu peito como se fosse fogo vivo.

Tomou a forma de gato, que tanto lhe agradava e correu livremente na frente da sua hoste de lobos. Quando estava na sua forma animal nunca pensava muito nas coisas que a sua forma humana pensava, nem da mesma forma. Era diferente, tudo era diferente, os cheiros, os sons, os sentimentos, tudo! Por isso quando não se queria martirizar com a vida tornava-se em gato. Era como se libertasse de umas correntes que a mantinham presa ao chão e de repente pudesse voar. Por mais que quisesse explicar essa sensação a alguém era inútil. Em primeiro lugar não tinha humanos a quem explicar e em segundo lugar quando tentava explicar aos dragões ou aos lobos eles simplesmente não entendiam, o que era incrivelmente frustrante.

Voltou a transformar-se em humano e entrou em choque quando se apercebeu que não notara a aproximação dos humanos que havia sentido á pouco. O que fariam agora? Um confronto era inevitável, mas que deveria ela fazer? Transformar-se em gato e fugir para um lugar seguro enquanto os seus soldados, os seus companheiros eram dizimados por humanos selvagens? Ou permanecer e lutar como Daenerys Targaryen com certeza faria?