Talya acordou mais uma vez na cama de pedra. Ainda não havia nascido sol, mas tinha o pressentimento que algo estava mal. Na casa do preto e branco o mundo parecia diferente. Talvez porque Bravos não era Dorne.

Ela nascera como uma princesa de Dorne, sobrinha de uma Rainha, filha de uma Lannister. Tinha orgulho em quem era. Ela não se lembrava de estar com a Rainha Myriah, mas sabia que ela e a mãe haviam sido grandes amigas e companheiras. No entanto tudo mudara, quando o teimoso do pai arranjou a ideia de ela se casar com um lorde qualquer do Norte. Por favor, ela era calor, fogo, não gelo! Não podia suportar a ideia de viajar para o fim do mundo. Por isso fugiu, era a sua única escapatória. Obviamente que tivera a ajuda do primo Aerion. Ele era o mais novo dos filhos de Myriah e fora mandado para a Cidadela, mas não chegou a formar um único elo, fugiu imediatamente para Lançasolar. Apesar de tudo, não foi uma ideia muito inteligente da parte dele.

Talya permitiu-se sorrir, o primeiro sorriso em quatro anos. Só ele a sabia fazer sorrir, o seu jeito fácil de lidar com as pessoas e com as situações do dia-a-dia, o seu sorriso deslumbrante, o brilho nos seus olhos violetas eram características que não deixavam uma mulher indiferente. Desejava que o pai a tivesse prometido a ele e não a um ranhoso do Norte. Ele sim ambos eram calor. Apesar de todas as vezes que discutiam, ele entendia-a, ele percebia que ela não deveria ser julgada por ser mulher. Aerion sabia que era capaz de derrotar qualquer um, desde que tivesse uma lança na mão. O pai acabara por admitir que ela era capaz de igualar Oberyn Martell, a víbora vermelha.

- Rapariga, tenho mais um para ti! – Informou o rosto severo.

Talya levantou-se rapidamente escondendo o sorriso tão rápido como um raio. Desta vez ele trazia-lhe Haerys Noratys, o homem que a tentou violar e que a roubou. Como ela desejava ver aquela cara outra vez. Trazia a adaga de aço valiriano nas mãos, quando estava a apenas um passo do homem perguntou:

- Ultimas palavras?

- Clemência. Tenho informações valiosas. – O homem chorava, mas nenhum inimigo seu deveria sobreviver para contar a história.

Com um gesto rápido cortou-lhe a garganta, a adaga deslizou pela pele e músculo como se fosse água e de seguida encontrava-se já na sua bainha. Talvez pudesse ter sido misericordiosa, mas ele era um inimigo. E um inimigo deve morrer, não a andar a espalhar histórias de como a temível Talya Martell o poupara. Deveria ser impiedosa se não queria ser violada e morta, tal como Elia Martell fora.

Elia era a sua Martell favorita, sempre a viu como a mulher forte que ela fora. Aguentou a desonra do marido, raptando outra mulher e ter um filho bastardo com ela. Viu o filho Aegon morrer a sua frente e foi violada pela Montanha, e depois morta. Ninguém deveria sofrer tanto. No entanto, nunca chorou, não na frente de ninguém.

Talya trocou de roupa, ajeitou os caracóis negros e foi dar uma volta por Bravos. Não era uma cidade bela, pelo contrário, tinha ruas sinuosas e perigosas, nas quais estavam sempre cadáveres. Pobres homens e mulheres que disseram ou fizeram algo errado, talvez tenham andado com uma espada ou talvez fossem muito belas. Naquele lugar cada atitude, cada palavra, era uma linha ténue entre a vida e a morte. Mas ela não o temia sabia que era capaz de derrotar qualquer um que a desafiasse, não era por ser mulher que seria fraca. Ela poderia ser tão forte como qualquer homem, talvez até mais.

Talya seria capaz de matar qualquer um que se atravessasse no caminho dela. Ela tinha de admitir era muito irritadiça, explodia ao mínimo toque e as pessoas de Bravos perceberam isso depressa. Desde que chegara deparara-se com costumes minimamente estúpidos aos seus olhos e fez inimigos. Tantos inimigos que não seria capaz de enumerar a todos. Alguns eram homens, outras mulheres, uns porque se desejavam deitar-se com ela, outros por ela ser muito bela, ou muito rica, ou bem-nascida. Mas eles aprenderam, oh, se aprenderam que ela não era piedosa com os seus inimigos.

A leoa Martell olhou os cabelos, estavam de novo demasiado grandes. Tinha de se lembrar de os cortar assim que chegasse a Casa do preto e do branco. Quando parou é que finalmente se apercebeu que estava nas docas. Talya observou as centenas de barcos, até que um prendeu a sua atenção. Asa de Prata uma magnifica galé, que a trouxera até ali.

- Só ireis voltar a ver a minha Asa quando o Príncipe a mandar chamar. – O capitão do navio dissera naquele dia.

Talya quase que desmaiava. Seria apenas coincidência ou Aerion realmente a mandara chamar?