Corda

A noite passou e manha nasceu cinzenta e sem graça, mostrando a cara como se dissesse que preferia ter ficado na cama. Ou seja lá o lugar onde ela permanecia.

Soluço foi o primeiro a acordar, espreguiçando os braços acima da cabeça, em uma tentativa falha de esticar-se e aumentar sua altura mais alguns milímetros.

Resmungou como um dragão sonolento enquanto se dirigia para o banheiro. Quando estava terminando o café, Rapunzel desceu, olhando-o desconfiada.

– De pé tão cedo? – Sua voz soou rouca e suas sobrancelhas estavam assimétricas, mostrando o quanto estava intrigada.

– Tenho que resolver algo.

A resposta simples e determinada dele a deixou sem palavras. E com a curiosidade acesa logo cedo.

– Dia horrível. – Ela falou, observando a janela grande e tomando um copo de suco de goiaba.

Depois que todos haviam acordado, Flynn, devo acrescentar, com um balde de agua fria, literalmente, eles se sentaram na grama do lado de fora. Alguns minutos e uma partida de domino depois, Elsa e o namorado entraram para conversar.

Soluço saiu também, dizendo que ia á cidade.

Pela primeira vez, Merida não fez nenhum comentário engraçadinho. Ao invés disso, teve uma ideia brilhante.

– Ei Punzie, vamos resgatar sua escova de cabelos preciosa? – Ela questionou, pronunciando a palavra preciosa com floreios e biquinhos.

A loira lhe dirigiu um olhar severo, mas concordou. Seria uma aventura voltar ao lugar onde quase caíra para a morte. O lugar onde Jack quase a beijara.

– Ok, vamos logo.

Jack, que entreouvira a conversa estava preparando-se para se esgueirar e segui-las, quando uma voz tilintante chamou seu nome, fazendo os músculos no corpo de Rapunzel se enrijecer, mesmo que ela já estivesse á uma boa distancia.

A ruiva fez uma careta. E ele xingou.

– Oii Jacksinho. – Fada apertou suas bochechas com um sorriso radiante. – Quer dar um passeio pela propriedade?

– Claro, por que não? – Ele sorriu, sem graça. Apesar da pergunta retorica, ele queria que ela se lembrasse de algum compromisso e desse um motivo qualquer para acabar com o passeio.

Quando ele se virou para o lugar onde Rapunzel tinha estado escutando a conversa, ela já não estava mais lá.

Alguns metros adiante, Merida escutava pacientemente as reclamações da amiga.

– E quando ele esta com ela, ele esquece que existimos. Fica com os olhos grudados nas, nas curvas daquela garota. Fala serio!

Ela pisava o chão com tanta força que a ruiva teve pena da terra e das folhas que eram esmagadas.

Chegaram ao lugar onde Rapunzel tinha escorregado, e, como que por um milagre, a escova continuava lá, cintilando dourada na luz fraca que passava por entre as nuvens.

– Oh, lá esta ela!

As duas, usando uma corda e muita força da parte de Merida conseguiram balançar Rapunzel ate lá e a garota agarrou o cabo prateado.

– Conseguimos!! – As amigas comemoraram saltando e se abraçando. Rindo como crianças que acabavam de vencer um desafio.

Merida de repente disparou em direção a casa sem dar mais explicações. Rapunzel levou um tempo para sair do choque e começou a seguir a amiga, correndo um pouco.

Estava andando rapidamente quando algo a fez parar. Vozes.

Jack Frost e Tooth. Ela grunhiu, fechando os punhos. Espiou por entre algumas arvores, o coração batendo forte no peito por medo de ser descoberta bisbilhotando.

A morena de cabelos tingidos estava se inclinado para Jack, fechando os olhos de um lilás hipnotizante e direcionando seus lábios para os dele.

Rapunzel sentiu agonia e lagrimas, sua saliva se tornou amarga e desespero tomou conta de seu corpo. Tudo o que mais desejava era interromper aquela atirada, mas algo lhe dizia que isso seria errado.

Ela era a escolha dele afinal.

Mas o que viu a seguir mudou completamente seus pensamentos.

Jack a empurrou para longe, uma expressão irritada em suas faces pálidas.

– Não. Eu não vou fazer isso.

As duas garotas na floresta estavam estupefatas. A loira quase explodindo de felicidade e a outra de raiva.

– Como assim?! Pensei que gostasse de mim, Jack.

– Olha Fada, você é simpática divertida, mas meu, meu...

Ele fez uma longa e agoniante pausa e por fim completou.

– Meu coração pertence a outra.

O coração de Rapunzel latiu ainda mais forte. Ela achou que o som poderia ecoar e reverbar nas folhas e delatar sua presença. Tapou bem a boca para não gritar.

– E quem, exatamente seria essa outra? – Tooth demandou, cruzando os braços e batendo um pé contra o chão.

– Rapunzel. – Dessa vez ele não pestanejou. Não hesitou. As palavras fluíram para fora com facilidade incrível e maravilhosa. – Me desculpe, é só que, eu não quero beijar ninguém mais que não seja ela.

E, simples assim, ele saiu, andando com as mãos nos bolsos, deixando uma Fada incrédula parada no meio das arvores.

Quando ela fez menção de segui-lo, porem, Rapunzel entrou em ação.

Minha vez, repetiu para si mesma.

Saiu de trás da arvore, segurando a corda que continuava em suas mãos delicadas.

– Mas o que você... – Com força extraordinária, a loirinha a empurrou contra um tronco de arvores grosso e apertou a corda ao redor da barriga da vizinha.

A garota esperneava, mas Rapunzel era muito mais forte do que aparentava. Quando finalmente terminou de dar as voltas e amarra-la com habilidade incrível, se aproximou do rosto de Tooth e ergueu um dedo.

– Agora, nunca mais volte a se aproximar do Jack. Capitche?

A outra xingou, chutou, mas Punzie já estava andando, correndo para longe em direção ao seu albino criador de problemas favorito.

– Ei, você não pode me deixar aqui, me solte!!

O resquício de sua voz estridente foi só o que restou nos ouvidos de Punzie enquanto seus cabelos dançavam em suas costas.

Ele já estava na saída da floresta, parecia estar prestando atenção em algum som. Oops.

A loirinha pulou em suas costas com toda a velocidade e lhe deu um enorme beijo na bochecha.

Jack não conseguiu sustentar os dois e eles acabaram caindo.

Já no chão, Punzie seguia rindo, de olhos fechados, mas Jack se detivera. Ele estava sobre ela, os rostos juntos demais.

– Me responde, o que, o que você sente por mim Punzie? – Sua expressão era torturada. – Por favor, me fale a verdade.

Ela parou de rir, colocou sua mão em concha no rosto dele, o que o fez fechar os olhos em um misto de dor e felicidade.

– Meu coração pertence a você, Jack. Sempre pertenceu, meu floco de neve.

Sincronia. Sincronia de corações, sorrisos, abraços. Ele começou a beija-la por todo o rosto, estalando os lábios finos em todas as partes com pele, menos nos lábios.

– E o meu a você, mina flor dourada.

Ele a teria pedido em namoro naquele instante, mas uma voz irada os interrompeu.

Soluço passou correndo, como o um jato pela entrada da floresta em direção a casa.

Alguns metros atrás um borrão loiro o seguia, aparentemente muito irritado.

– Pelo jeito ele resolveu os problemas dele, não? – Jack perguntou, um sorriso maroto cruzando seus lábios.

:::::