Beijos

Para sua infelicidade, Hans a seguira. Pelo canto do olho ela observava sua figura imponente caminhando por entre as pessoas. Sua confiança estava abalada.

– Elsa – A voz grave e quente como chocolate derretido a despertou de seus devaneios. – É ele, não é...?

A jovem mordeu os lábios e assentiu imediatamente notando os músculos se enrijecerem no braço de Flynn.

– Amor, nós não temos mais nada. Não precisa ficar com ciúmes. Relaxe.

– Bem, você não ficou muito relaxada quando ele se aproximou. Ainda sente algo por ele, floco de neve?

Os olhos dele iam fundos em sua alma, e o apelido carinhoso só piorou a situação.

– Podemos falar sobre isso em outro momento? – Ao ver que ele não estava com vontade de deixar pra lá, ela pressionou. – Por favor?

O ruivo com as costeletas chegara até eles. Sorriu de canto para Elsa, ignorando o moreno.

– Eu tinha me esquecido como você pode ser mal-educada quando quer.

Ele riu conspirativamente, mas ela não correspondeu. Estava de braços cruzados, em clara posição defensiva.

Os olhos verdes dele a observaram por mais alguns momentos e então ele soltou um suspiro.

– Esta bem, esta bem, vou te deixar em paz pela noite. Mas não pense que vou desistir de você assim tão fácil, minha rainha.

Como ele se atrevia, depois de tudo que ele a fizera passar? Ele havia desistido dela.

Dizendo isso, ele ergueu o queixo da jovem e saiu, andando calmo. Flynn começou a andar na direção do outro, mas Elsa o impediu, e depois gritou alto o suficiente para que algumas cabeças se virassem em sua direção:

– Não presuma Hans. Eu desisti de você, e estou felicíssima com minha escolha!

E então puxou Flynn para um beijo apressado e cheio de desejo. O moreno, depois de recuperar-se do susto, fechou os olhos e amparou a cabeça dele em suas mãos grandes.

O ruivo bufou, e caminhou para longe, com as mãos nos bolsos.

Quando se separaram, Elsa tinha a respiração ofegante e Rider, um sorriso bobo nos lábios.

– Bem, isso foi intenso. – Ela riu com seu comentário e lhe deu um tapa devagar. Ainda assim, sabia que não tinha escapado da conversa mais tarde.

Do outro lado da festa, comendo espetinhos, Merida e Dingwal conversavam animada, a garota segurando um grande urso marrom que o loiro ganhara para ela.

De súbito, seus olhos se desviaram para um canto, próximo às arvores. Soluço estava lá, uma das pernas encostadas no tronco, uma das mãos na cintura da namorada. Mas os olhos, os olhos estavam grudados nela, olhando diretamente em suas íris azuis.

Movida por um impulso desconhecido e perigoso, ela puxou Dingwal pela camisa larga do Star Wars que ele usava e o beijou. Um selinho, simples e rápido.

O garoto estava estupefato, mas sorriu tímido ao ver o rosto vermelho de Merida.

– Me desculpe. Eu não sei o que deu em mim, eu só...

– Eu sei. – Ele respondeu, naquela sua voz lenta e tranquila. Quase como se não estivesse falando com ela. – Você fez isso para irritar Soluço, o magricelo ali. Mas não se preocupe o beijo não foi ruim.

A ruiva não pode deixar de rir com o comentário. Afastou para as profundezas de sua mente o garoto de selvagens olhos verdes e voltou a conversar sobre Detona Ralph, um filme que ela achara incrível, enquanto que o loiro não gostara.

– Mas o mundo interno dos videogames é incrivelmente bem bolado. A estação central e tudo mais.

– Sim, mas continua sendo um filme de mulhersinha. Muito estilizado e colorido...

– Sem chance!

A discussão continuava e Soluço ainda não se recuperara do choque de ver o amor de sua vida, sim, ele finalmente compreendera isso. Ele a amava, mas tudo era complicado demais, se beijar com o garoto de cabelos arrepiados.

Estava muito, muito zangado, como nunca havia se sentido em sua vida. E, por mais que tentasse prestar atenção as palavras de Astrid, sua mente continuava flutuando para longe, repetindo a cena que rompia seu coração uma e outra vez.

Entrementes, Rapunzel estava dando uma bronca nos dois garotos por brigarem. Ela estava tão nervosa que as bochechas estavam ficando vermelhas.

– Nunca mais façam isso, compreenderam? – Ela disse, apontando um dedo reprovador para os dois garotos, envergonhados e arrependidos, que assentiram, com olhinhos de piedade. – Ok.

Bunny sorriu um pouco. A garota não parecia, mas era muito assustadora.

– E Jack. – Por um insano momento, o albino achou que ela iria voltar a festa com ele, e então poderiam dançar, como ele estava querendo durante a noite inteira. – Volte para o seu par. É rude deixa-la esperando

A amargura na voz dela era visível, mas não tão dolorosa quando sua expressão triste.

Ela pegou o pulso de Coelhão, e já estava saindo, quando Jack inflou o peito e gritou.

– ESTA BEM ENTÃO, se é assim que quer!

Quando Punzie virou-se, com os olhos verdes cheios de lagrimas, ele já estava distante.

– Esta bem, é isso mesmo o que eu quero! – Ela gritou para as costas dele, observando seu cabelo cintilar mais forte que a lua.

Ela precisou de toda sua força de vontade para não deixar as lágrimas rolarem. Respirou fundo e seguiu Bunny ate uma apresentação de acrobatas que estava acontecendo num palco montado no centro do festival.

Mulheres, homens e crianças saltavam e contorciam-se com seus corpos incrivelmente flexíveis enquanto um senhor de barba rala e cabelos brancos fofos fazia malabarismo com pinos de boliche em chamas.

– ANNA! – Um grito causou sobressaltos na maioria dos expectadores. Elsa vinha correndo, com um homem robusto e loiro ao seu lado.

Com um salto elaborando, e quase matando do coração quem estava perto do palco, uma garota de cabelos alaranjados com uma mecha branca pulou ao encontro da irmã.

– Elsa! – As duas se abraçara, mas a mais velha parecia estar muito brava por algum motivo.

– Pensei que estava na França, estudando. – Ela disse com um olhar sugestivo.

– Mas eu estava. – Ela respondeu sorridente, baixando a cabeça logo em seguida. – Só que não aguentei ficar longe de vocês por muito tempo.

Seus olhos deslizaram ate o loiro e ela corou.

– Oi Kristoff.

– Oi minha linda. – Ela a tirou do chão e girou a garota pequena.

Depois das apresentações, mais algumas palavras severas de Elsa, e Anna explicando que só viera com a trupe para a apresentação, e que estariam voltando no dia seguinte, ela voltou para a finalização do numero.

Soluço acompanhou Astrid ate em casa depois da festa e se despediu com um beijo nos lábios. A namorada não percebeu que ele estava distante e frio, o que o fez suspirar, aliviado.

A viagem de volta foi complicada. Jack insistia em levar Fada com eles no carro, mas Rapunzel disse que, se ela fosse Coelhão também iria, afinal, era justo.

Por fim, os três jovens vizinhos resolveram ir com a galera do circo, que os ofereceu carona em troca de um lugar para relaxar e nadar no dia seguinte.

Jack suspirou, colocou as mãos nos bolsos e falou desdenhoso:

– Se você não fosse tão insuportável loirinha, talvez eu pudesse aproveitar o restinho de noite na companhia mais que maravilhosa da Tooth.

Punzie ferveu. Seus olhos estavam arregalados diante da audácia do garoto. Ainda que, com aquele gorro caindo na testa, deixando amostra alguns fios de cabelo prateados era difícil canalizar sua raiva.

– Ah, me desculpe por poupar meus olhos de mais uma sessão de agarração e amasso com a senhorita “corpo escultural”. – Ela despejou a maior quantidade de sarcasmo que pode em suas palavras.

Merida se mexeu, desconfortável. Ambos estavam magoados, ela sabia, mas nenhum iria admitir. E ela já estava cansada de ouvir os insultos e as indiretas.

Ao chegar a casa, passando pelo caminho de pedregulhos, ela se assustou com um braço cruzado por cima de seu colo.

– O-o que esta fazendo? – Ela perguntou, odiando-se por gaguejar.

– Desculpe, só queria sair de uma vez. – Soluço respondeu sua expressão encoberta pela escuridão da madrugada. – Aqueles dois estão soltando faíscas.

Ela abriu a porta devagar, tentando fazer seus dedos pararem de tremer.

A noite tinha chegado ao fim, mas os problemas estavam só começando.

– É. Definitivamente foi uma festa, interessante. – Flynn completou, entrando na casa com uma expressão nada boa.

:::::