Feliz Dia Dos Pais

Feliz Dia Dos Pais, Aaron Hotchner


Sabe o que mais interessante em se estar de férias? Você não ter a mínima ideia de que dia da semana é!! Ehehe, eu amo isso. Amo poder me levantar na hora que eu quero, amo poder ficar sem pentear o cabelo e, acima de tudo, amo não ter meu celular apitando a cada segundo me dizendo que hoje eu tenho aula disso, aula daquilo.

Porém, hoje, é diferente. É domingo. É o segundo domingo de agosto e eu estou me levantando às quatro e meia da manhã.

Estranho, né? Mas é para uma boa causa. Meu pai vai desembarcar dentro de duas horas e meia e eu quero estar lá para recebê-lo. Assim, tive que por o celular para despertar à essa hora da madrugada... melhor era nem ter dormido, porém não ia valer a pena encarar o meu pai com cara de maratonista de série!

Me arrumei e quarenta minutos depois, estava dentro do carro em direção ao aeroporto. Graças aos céus, meus pais já confiavam o carro em mim... desde que fosse câmbio manual, afinal, ninguém quer receber a notícia de que euzinha entrei com carro e tudo dentro de outra farmácia!

Dei a volta na imensa área de estacionamento do Aeroporto Internacional de Dulles – levei mais tempo procurando uma vaga para parar o carro do que para chegar até aqui dá para acreditar?! – e tive que caminhar horrores até a entrada.

Já no saguão, conferi o painel de chegadas, o voo vindo de Zurique, chegaria em cinquenta minutos. Tempo mais do que suficiente para que eu pegasse um suquinho para acalmar o meu estômago furioso que ameaçava me devorar.

Comprei meu suco e me sentei nas cadeiras perto das portas que vem das esteiras de bagagem. E já disse que adoro ver estas portas? Não? Mas eu adoro!

Adoro ver a cara de cansado do pessoal que chega arrastando suas enormes malas através das portas. Adoro ver o reencontro das famílias depois de longas férias ou talvez de uma viagem de negócios ou porque trabalham foram e só veem para o país de tempos e tempos. Gosto de ver as crianças correndo em direção aos seus pais, com os braços estendidos para receberem seus abraços. Gosto de ouvir os gritinhos de “mamãe!” “papai!”. Gosto de ver os casais se reencontrando. Alguns são mais extrovertidos e sempre dão aquele beijo de cinema na frente de todos, outros, mais tímidos, apenas se dão as mãos. e tem sempre aqueles que jamais precisam de palavras, apenas se olham nos olhos e conversam assim. Estes são meus favoritos. E eu já vi tudo! Em todos esses anos que venho ao aeroporto para buscar meu pai ou meus pais, às vezes, já vi de pedido de casamento surpresa até a duas crianças vestidas de dinossauros esperando pela avó que saiu devidamente trajada pelas portas. Eu ri alto nesse dia.

Eu já fui a bebê desesperada pelo pai. Já fui a garotinha que saia correndo com os braços estendidos, pronta para pular no colo do papai, já foi a adolescente curiosa pelo presente, já fui até aquela que dá o beijo de cinema, quando Chris chegou no natal passado. Hoje eu sou a filha esperando pelo pai, com um copo de suco e outro de café nas mãos. Nada de cenas extrovertidas ou memoráveis. Isso, claro, se eu não levar nenhum tombo! Comigo nunca se sabe.

O painel me informa que o voo acabou de aterrissar. Vai levar quase trinta minutos para que meu passe pelas portas. Por mais que ele mostre seu distintivo do FBI, suas malas jamais são liberadas com a mesma rapidez que ele. Assim, eu consigo até imaginar a cena, meu pai, de terno (sim, ele viaja assim!!!!), parado, com os braços cruzados, esperando as malas virem preguiçosamente pela esteira, enquanto ele verifica o relógio a cada trinta segundos. E como ele nunca tem sorte, suas malas são sempre as últimas e ele fica passando o tempo perfilando cada um dos passageiros que para perto dele. Uma vez ele achou um terrorista, foi o assunto do mês nos corredores do FBI. Sim, o Diretor Hotchner, esperando suas malas, perfilou um passageiro e descobriu que ele era um terrorista. Conclusão da história: o homem foi preso carregando não sei quantos quilos de explosivo e meu pai foi o herói! Eu amo contar essa história para todo mundo!

As portas se abriram, creio que já são passageiros do voo dele. E lá vai a garotinha abraçar a mãe. Uma senhora caminha até o marido. Os dois se beijam. Já são bem idosos e não sei o porquê é uma cena que eu vejo os meus pais fazendo daqui há muitos anos. Crianças correndo para seus parentes. Amores se reencontrando.

Epa! Eu conheço aquela carranca!! As malas dele devem ter sido as últimas de novo!!

Caminho até perto de uma pilastra. Ele sabe que eu vim buscá-lo e vai me encontrar em um piscar de olhos, mesmo que eu não esteja no meio do povão! E não deu outra. A pessoa de quem eu herdei meus olhos acabou de me achar, abro um sorriso e levanto o copo de café, isso parece animar o taciturno diretor do FBI um pouco.

— Oi pai!!! – Dei um abraço nele assim que ele chegou perto de mim. – Bom dia! Teve um bom voo.

Antes de me responder, ele toma um generoso gole de café.

— Bom dia, filha! Achei que você acabaria dormindo e sua mãe viria me pegar! – Ele diz depois de me dar um beijo na testa.

— Sem essa! Fiz uma promessa! Estou de pé desde às quatro e meia!! – Abro um sorriso vencedor, nem eu acreditava que poderia me levantar tão cedo. – E só mais uma coisinha: FELIZ DIA DOS PAIS!!!! – Dei outro abraço nele. Dessa vez um daqueles de urso. E bem, desastres acontecem e o café dele parou no chão. – Eita.... Prometo compensar. Vamos tomar café em uma lanchonete, porque sei que a mamãe tá morta para o mundo, chegou de madrugada de um caso depois de cinco dias! – Falei e peguei a mala dele e sai puxando aeroporto a fora.

— Onde está o carro? – Papai quis saber.

— Lá onde Judas perdeu as calças.... e pode ir tirando esse paletó porque vamos andar um bocado e está calor pra caramba!! – Levantei minha cabeça para indicar o sol que mal tinha nascido e já estava torrando o mundo.

— Por que você nunca estaciona perto da entrada, Elena?

— Mas pai!! – Reclamei. – Eu saí cedo, cheguei com folga até o aeroporto, mas parece que nunca consigo uma vaga boa. Tenho que começar a tentar ser mais positiva e por os ensinamos de “O Segredo” em prática! – Falei brincando.

— Como se livros de autoajuda fossem resolver o seu problema, filha! – Ele entrou no clima.

— Tá vendo, se nem o senhor acredita no meu potencial de ser positiva, como vou encontrar uma vaga perto da porta?

— Elena, só caminhe.

Revirei meus olhos. Pelo caminho cruzamos com famílias chegando de viagem, indo para a viagem. O contraste era doloroso, quem estava chegando estava bronzeado, alegre, cheio de malas que não fecharam direito e carregando incontáveis baias de bichinhos – que tinha criança é claro. Agora quem estava indo... estavam em uma brancura que dava gosto. Todos eles com aquele típico bronzeado de escritório.

— Chegamos!!! – Apontei para o carro. Meu pai não disse nada. – Que foi?

— Achei que você tinha deixado o carro na garagem de casa, Elena!

— Credo! Dê algum crédito para a sua filha, ela levantou cedo para estar aqui!

Abri o porta-malas e papai colocou as malas lá dentro.

— Muito bem, agora as chaves! – Ele me pediu.

— Nem pensar! O senhor viajou por mais de doze horas. Está cansado. É um perigo dirigir desse jeito! Vai para o banco do carona!! – Empurrei papai para o lado do carona e abri a porta. Com uma mesura, pedi que ele entrasse. Alguém que estava passando perto de nós soltou uma sonora gargalhada da cena.

— Elena... – papai me advertiu. Fingi que não ouvi e fechei a porta. Dando a volta correndo em frente ao carro, e parando no meio do caminho para fazer uma dancinha da vitória. Sim, eu estava querendo morrer, só pode!

Do aeroporto até a lanchonete preferida de papai, foram trinta minutos. Trinta minutos com meu pai meu pai reclamando da forma como eu dirijo e de como gastou uma semana da vida dele fora do país para nada.

— Mas não aconteceu nada de interessante? Nem um barraco para animar a galera?

Foi aí que papai começou a rir.

— Não, Elena, nada. E só você pode pensar que vai acontecer algum barraco em uma reunião internacional de agências de investigação.

— Sonhar não paga imposto, vai que algum diretor descobre que a esposa está de caso com o diretor de uma outra agência!! Imagina a loucura!!

Papai me mandou me concentrar nas ruas e usar a minha imaginação para escrever um livro.

Eu escrevendo um livro... talvez uma fanfic, mas livro... nem mesmo. Se bem... olha eu poderia consertar muito final de série injusto nesse mundo... Acho que vou começar com o final de Hawaii Five-0...

Chegamos na lanchonete e, depois de acharmos um bom lugar pra nos sentar, fizemos nossos pedidos.

— Para que tanto açúcar a essa hora, Elena?

— Pai, eu a mamãe vamos cozinhar. Não espere que o almoço saia antes das duas da tarde, que é mais fácil vermos o Papa dançando lambada do que isso acontecer!

— Você e sua mãe vão cozinhar?

— Hum-hum!

— Renovamos o seguro anti-incêndio nesse ano?

— Juro que não sei, pai. Ei!! Isso é injusto. Nós nunca colocamos fogo na casa!!

— Realmente, em casa, não. Mas em um restaurante...

— Desnecessário isso, papai. E o senhor sabe!!!

— Vindo de você, Elena. Eu espero qualquer coisa!

— Não vou falar nada porque é dia dos pais e não quero o senhor chateado. – Falei dando uma mordida no meu waffle com sorvete.

— Eu só vou acreditar nas suas palavras, Elena, quando o almoço estiver servido e a casa inteira.

— Ah! Falando em casa inteira. Jack vai. E vai levar a Lara. Disse que tem algo para contar. Passei a semana inteira pentelhando e não descobri nada. Nem tia PG descobriu... não deve ser nada importante, mas mesmo assim estou com a pulga atrás da orelha. – Falei sem mais nem menos. – Ele não será transferido, nem nada, né?

— E se ele for? Você está indo para a faculdade, Elena, não vai ficar muito por perto.

— É só porque não gosto de pensar de Jack longe... sei lá, parece estranho... e se algo acontecer com ele? Como vamos chegar a tempo? Pode ser que seja urgente! - Comecei a me desesperar com a cena, meu irmão ferido em algum lugar distante, e nós não conseguimos chegar a tempo...

— Elena, seu irmão não está sendo transferido. Agora pare de imaginar cenários onde ele se ponha em perigo.

— Ufa... ainda bem.

O restante do café foi em silêncio. E logo depois que eu paguei – sim, eu paguei, é dia dos Pais, ora!! – Fomos para casa.

Já na entrada, deu para ver que Jack já tinha chegado. E antes mesmo que eu desligasse o carro, ele abriu a porta e já gritou:

— Achei que iria precisar pedir para a Garcia localizar vocês dois em algum hospital! Com a Lena dirigindo é sempre bom esperar pelo pior! – Ele disse rindo e veio na nossa direção, digo na direção de papai. E para por fim ao comentário idiota, na hora que ele passou atrás do carro eu apertei o botão para abrir o porta-malas. A tampa bateu bem no braço dele, já deixando uma marca bem vermelha.

— Elena! – Jack reclamou.

— Bom dia, irmãozão!! Não te ensinaram na autoescola é que perigo passar tão perto assim de qualquer carro? – Perguntei o mais inocentemente que consegui.

Jack me ignorou e foi até papai. Deu um abraço nele e desejou um feliz dia dos pais.

— Sua irmã quase está dando um ataque querendo saber o que você tem para contar. – Papai comentou. Eu fingi que eu não era o assunto e descarreguei o carro.

— Hei, Jack. Malas. Anda. Você é forte o suficiente para levá-las.

Jack ia me dando um tapa atrás da cabeça, quando ouvimos mamãe:

— Vocês ainda vão demorar muito aí fora? Estou precisando de ajuda!

— Ela precisa de ajuda para não por fogo na cozinha. – Papai brincou.

— Mãe! O pai disse que a senhora quer por fogo na cozinha!! – Dei uma fofoqueira.

— Lá vai a queridinha da mamãe fazer fofoca! – Jack me deu um chute na canela.

Eu retruquei com outro chute e com essa brincadeira de criança birrenta entramos.

Deixei meu pai e minha mãe matando a saudade na sala e fui cumprimentar Lara. Minha cunhada não tem pai, e sua mãe geralmente passa esse dia com o irmão dela que já é casado e tem um filho.

— Oi, Lara!! Não reparta. Você já sabe que ninguém dentro dessa casa é normal, né? – Dei um abraço nela.

— É eu já sei, Lena! – Ela me respondeu. E o sorriso que ela tinha, me dizia que tinha algo a mais por ali.... O que era?

— Elena, vai logo lavar essa mão e trocar essa roupa, você vai me ajudar com o almoço hoje. – Mamãe deu a ordem e ai de mim se não cumprir.

— Me dá quinze minutos. Tenho que ligar para o meu sogro e desejar um feliz dia dos pais para ele. Vai ser rapidinho!! – Disse já subindo as escadas.

Com a minha obrigação de nora já cumprida. Desci as escadas para ajudar no almoço.

Papai poderia estar morrendo de medo de tudo dar errado. Mal sabia ele nós duas já tínhamos feito o ensaio do almoço. Na quinta-feira ela chegou do FBI e nós duas testamos a receita. Só para via de dúvidas, compramos um extintor de incêndio, já que a carne tinha que ser flambada. A primeira pegou fogo, e tacamos extintor na cozinha. Sem danos, só na panela, que nenhuma de nós se importou em jogar fora. Já a segunda, terceira e quarta tentativas deram certo. E é por isso que estamos confiantes de que nada vai dar errado hoje.

E assim, exatamente ao meio dia, depois de ouvirmos todas as piadas sobre estarmos matando todos de fome, o almoço foi para a mesa. Importante dizer que ninguém se queimou, não queimamos nada – nem o pano de prato – todos os pratos estão no ponto e, o mais importante: nada pegou fogo!! Mamãe e eu somos duas chefs!!

Antes de começarmos a comer, entreguei meu presente a meu pai, Não era nada grande, mas ele pareceu adorar as duas novas gravatas italianas que comprei e o par de abotoaduras personalizadas com as iniciais dele. Jack também deu o seu presente. Achei estranho. Eram três presentes. Um ele disse que era dele – uma camisa dos Spurs; - o outro de Lara – ela foi mais certeira e deu uma camisa social, Deus sabe quantas esse homem usa por semana! - ; o terceiro eu não entendi. Fiquei boiando igual a uma sonsa. Mas mamãe pareceu entender antes mesmo de papai, pois ela tinha um sorriso enorme no rosto.

Papai abriu a terceira caixa. Era a maior delas. Tirou lá de dentro uma bola de basquete. - Jack deveria estar ficando maluco. É a única explicação que encontro. – E tinha um bilhete junto. Papai leu. Leu de novo. Mamãe saiu do lugar dela e apoiou o rosto no ombro dele para ler o que estava escrito. Depois saiu e foi abraçar Jack e Lara. Foi aí que papai abriu um sorriso que eu nunca vira e foi abraçar Jack também.

E eu continuava boiando...

— Bem.. alguém se importa de compartilhar? – Perguntei enquanto os quatro pareciam estar dentro de uma bolha particular de alegria.

Papai me estendeu o bilhete que tinha dentro da caixa com a bola de basquete.

Para o melhor vovô do mundo. Que um dia vai brincar de arremessar comigo.

Eu caí sentada na cadeira. E os quatro olharam para mim,

Jack vai ser pai. Lara está grávida. Meu pai vai ser avô. Minha mãe avó por correspondência. E eu...

CARA EU TENHO 17 ANOS E VOU SER CHAMADA DE TIA?!!! Que mundo é esse onde garotas de 17 anos são chamadas de tia??

— Elena, você não vai falar nada? – Papai me perguntou.

— C...Claro!! – Me levantei e fui até o meu irmão e Lara, dando um abraço em cada um e os devidos parabéns.

Era meio surreal que meu irmão fosse ser pai... Jack sempre seria o mala sem alça que vivia me perturbando... eu não conseguia vê-lo no papel de pai!!

Mas meu pai conseguia, e estava feliz, feliz até demais em saber que seria avô!

A conversa do almoço girou em torno da criança não nascida – eu estava em choque ainda, por isso fiquei só olhando enquanto palavras como enjoos matinais, ultrassons, exames de sangue, berços, fraldas, eram despejadas aos milhares. E só voltei a falar alguma coisa quando Jack disse:

— Vamos esperar para nos casar. Vamos esperar que o bebê esteja com quase um ano, assim ele ou ela vai poder entrar na igreja carregando as alianças, com a devida ajuda da titia Elena.

Sim, foi a expressão: titia Elena que me trouxe para esse mundo.

— Não!! Não!! Eu não vou ser chamada de tia por ninguém!! Eu não tenho nem 20 anos. Não quero ser chamada de tia, titia, dinda qualquer outra coisa. Me faz me sentir velha. Uma velha de cabelos brancos e encalhada!! Pelo amor de Deus, não me venha com essa de titia!! – Pus para fora sem pensar.

E eu soube na hora que tinha falado demais, só de ver a expressão de meu pai e de minha mãe.

Mas Jack e Lara?! Eles começaram a rir. Alto!

— Eu te falei Jack que ela iria reagir assim! Me deve cem dólares! – Lara disse entre as gargalhadas.

Meu pai encarou a nora. Minha mãe também. Eu estava petrificada de pé ao lado da mesa.

— Poxa, Lena, achei que você iria começar a chorar, iria gritar e arremessar alguma coisa, por não ser mais a bebê da casa. Mas nunca imaginei que você iria se sentir velha por ser chamada de t..

— NÃO REPITA ESSA PALAVRA! E quem te deu o direito de apostar como seria a minha reação? – Perguntei.

Foi Lara quem me respondeu:

— Porque eu surtei quando meu irmão disse que seria pai. Mais ou menos como você... acontece que eu terminei batendo nele. – Ela terminou corando um pouco.

— Eu ainda estou considerando se vou fazer isso. – Disse sem emoção alguma.

— Você estava em choque até alguns minutos atrás, Lena, não vai bater em mim agora.

Jack tinha razão. Eu não ia bater nele.

— Bem... pense você tem sete meses para se acostumar com a palavra titia. E com dinda também, já que você será a madrinha.

— Uhm.. Jack, querido. Vá devagar com as notícias. – Minha mãe começou a me defender. – Ou é bem capaz de terminarmos o dia tendo que levar Elena para ser internada na ala psiquiátrica. – Ela não estava me defendendo nada.

— Não tem graça, mamãe! – Falei. Tentei buscar ajuda em meu pai, mas ele estava além de feliz com a notícia.

— Mas é claro que tem. Achei que você só daria uma crise dessas quando chegasse aos trinta anos. – Ela continuou.

— Eu ainda aposto nos vinte e cinco, Em. Elena vai dar uma crise de meia idade aos vinte cinco ou quando ela ver o primeiro fio de cabelo branco na cabeça. – Papai disse.

É estavam todos contra mim nesse dia. Resolvi ignorar as conversar e voltei ao meu almoço.

O restante do domingo passou tranquilo. Comemos nossa sobremesa e depois ficamos vendo um filme da teve. Eu já tinha visto, mas não quis dar os spoilers de “Luta Por Justiça” para nenhum deles, eu tenho consciência do quanto spoilers são chatos.

Quando eu estava quase esquecendo que daqui a alguns meses terá uma criança me chamando de titia, ou dinda, Jack fazia questão de me lembrar. Por fim, ele perturbou tanto que eu decidi deixar a sala por alguns minutos.

No caminho até o meu quarto, acabei por tropeçar na escada e cair de joelhos. Jack viu e começou a gargalhar. Tentei ignorá-lo e sai xingando em russo. Mamãe escutou e me deu um sermão.

Uma hora o dia melhora, quando ele terminar, é claro!

Estava murmurando a minha falta de sorte no segundo andar, quando a voz de papai me assustou:

— Já parou com o ataque de meia idade? – Ele estava parado na porta do meu quarto.

— Não é ataque de meia idade... só é... estranho. Eu ainda não consigo imaginar o Jack sendo pai! – Fui sincera.

Papai pediu licença e entrou no quarto, se sentando do meu lado na cama e me disse:

— Seu tio Sean falou a mesma coisa quando eu dei a notícia de que Jack estava a caminho. Mas quando ele nasceu, foi o primeiro a visitá-lo na maternidade. Certas notícias chocam de primeira, mas eu sei que você vai se acostumar com ela. E vai ser uma tia e tanto.

— Não. O senhor não acredita que eu vou ser “uma tia e tanto”. Não mesmo.

— Elena. Você vai fazer a pior e melhor tia que alguém pode ter. Você vai endoidecer seu irmão com o que vai ensinar para aquela criança. Disso eu tenho certeza. E eu até quero que você dê bastante dor de cabeça para o seu irmão nesse ponto. E isso fica entre nós.

Eu só soube rir. Ainda era inacreditável o que eu estava ouvindo.

— Espero que não estejam falando de mim pelas costas. – Jack apareceu.

— Não. Imagina. Por que eu falaria de você dentro do santuário do meu quarto, Jack Hotchner? – Desconversei.

— Elena, eu conheço esse seu sorriso.

— E espero que esteja te dando calafrios! – Eu respondi.

Jack deu uma risada e avisou que já estava indo.

Descemos para nos despedir. Mamãe deu mil e uma recomendações para Lara, e pediu atualizações diárias do neto ou neta. Papai abraçou Jack mais uma vez e disse que se precisassem era só me chamarem, eu estava à toa mesmo.

Os dois se foram, mas o assunto ainda foi o mesmo. Mamãe começou a falar que precisavam arrumar um quarto para o bebê na nossa casa, que Lara tinha que passar os primeiros meses aqui para que fosse auxiliada. Eu me sentei no sofá e escutei os dois conversando. Papai, em um gesto automático me abraçou pelos ombros e eu fiquei ali, com a cabeça apoiada no ombro, enquanto os dois discutiam tudo o que ia mudar com a chegada do neto. E, depois de ver como os dois estavam felizes, eu acabei me sentindo bem.

Sabe que virar tia até que não era tão ruim assim?

Eu não estaria muito por perto. Sabia que meus pais ficariam sozinhos nessa casa imensa por muito tempo. A chegada dessa criança era uma benção e foi em boa hora. Agora eu não precisava me preocupar se os dois estariam muito sozinhos aqui dentro, pois eu tenho certeza de que eles nem notariam isso, afinal, um bebê toma muito do tempo de qualquer pessoa. E tenho certeza de que, mesmo Jack clamando que ele é o pai, que Lara é a mãe, papai e mamãe não vão deixá-los fazer algo.

Meus pais já tinham em que focarem quando eu fosse viver a minha vida.

Me ajeitei no abraço do meu pai e fiquei ouvindo e observando os dois, eles estavam animados, com os olhos brilhando e sorrisos no rosto. Fiquei feliz por eles.

Depois de fazerem uma aposta se era menino ou menina. Eu não opinei, não fazia diferença para mim. Mamãe subiu para contar para minhas tias que seria avó. Agora que essa criança iria virar a fofoca do mês no FBI. Eu e papai ficamos na sala. Estava começando “A Incrível História de Adaline” e eu comecei a assistir, pela centésima vez.

Papai ficou calado do meu lado, não sei se assistia ao filme ou não, até que à certa altura, notei que ele começou a me cutucar no braço.

— O que foi, papai? – Perguntei me desviando do filme.

— Não vai ver, você parece que gosta desse filme. – Ele apontou para a TV.

— Já vi esse filme umas cinco vezes, quase sei as falas de cor. O que o senhor quer falar comigo? – Me sentei virada para ele e logo saí de seua braço.

— Então, em trinta dias....

E aí estava. E eu achando que ele já tinha se esquecido.

— Sim... Faculdade.

— Calma assim?

Engoli em seco.

— Sim... todo mundo vai para a universidade, certo?

— Se quiser ter uma carreira, sim.

— E não é como se eu estivesse encarando a universidade tendo 13 anos como o Tio Spenc, né? – Brinquei.

— Não, você é bem mais velha que ele era.

— Papai!! – Chiei.

Ele chegou perto de mim e olhou bem para o topo da minha cabeça.

— Que foi? – Perguntei preocupada, será que eu tinha caspa? Tinha lavado mal cabelo? Será que algum passarinho tinha me feito de privada?

Papai chegou mais perto ainda e soltou:

— Isso aqui é um cabelo branco? – Ele perguntou levantando uma mecha do meu cabelo.

— Ah, não!! Não!! Não!!! – Gritei e fui até o espelho mais próximo, olhei, olhei e não vi nada.

Quando voltei para a sala, mais brava do que nunca, papai ria.

— Não tem graça! – Fiz um bico e me joguei no sofá, a cena no filme era exatamente a que Adaline vê um cabelo branco na cabeça.

Papai chamou a minha atenção.

— Ainda dá tempo de trocar de faculdade. Por que não Harvard? É muito melhor que Yale. E Liz vai para lá.

Mamãe sibilou algo em francês do segundo andar. Ela claramente não concordava com o que ele havia dito sobre Harvard ser melhor do que Yale.

— Vamos combinar o seguinte, pai? Meninos em Harvard. Meninas em Yale. Essa é a regra dessa casa.

Mamãe gritou:

— Concordo com Elena! Agora pare de tentar virar a cabeça de sua filha Aaron!

— Ouviu a sua esposa, ela é bem capaz de te por para dormir no sofá, Diretor Hotchner!! – Brinquei e dei um beijo de boa noite em meu pai. – Até amanhã, papai!!

— Boa noite, filha. – Ele disse na minha direção. E depois continuou. – Eu só estou checando para ver se ela tem certeza, Em.

— Aaron, já conversamos sobre isso.

Harvard X Yale, um assunto que jamais morria na minha casa.

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Depois de uma semana afastado de sua sala no FBI, o Diretor Aaron Hotcher chegou cedo, mas cedo do que de costume, pois ele tinha certeza de que havia trabalho e mais trabalho acumulado em sua mesa.

E não deu outra, assim que entrou em sua sala, viu as pilhas de relatórios lhe esperando. E, também, deu de cara com algumas mudanças. Para a grande maioria não seria nada, seria só um porta-retrato fora do lugar, um outro novo ali. Mas para o Todo Poderoso Diretor, isso significava uma outra realidade.

E ele tinha certeza de que Elena havia passado na sala dele.

Hotchner deu a volta na sua mesa, ignorando temporariamente as pilas de relatórios e olhou para a estante que fica atrás de sua mesa, o porta-retratos que antes ficava ao lado do seu computador tinha sido colocado ali, o que significava que havia um novo no lugar deste.

Assim, se virou para sua mesa e notou a nova foto que agora está ali. Em uma moldura sóbria, combinando com a decoração do restante da sala, ele viu a foto. Presentes nela estão Emily, Elena, Chris, Jack, Lara e ele próprio. Abriu um sorriso se lembrando de quando a foto foi tirada.

Era o dia das finais do basquete universitário. O quadrangular final, disputado em Georgetown teve a presença das universidades de Columbia, Harvard, UCLA e Nova Orleans. A Finalíssima foi entre UCLA e Harvard. Desnecessário dizer que Elena torceu desesperadamente pela UCLA e pelo namorado, já ele e Jack apoiaram até o último segundo de jogo – e a última cesta! – sua alma mater. No fim, deu Harvard. E ele não cansou de pegar no pé do genro, a quem, ele jamais admitiria em voz alta, estava começando a se afeiçoar – até porque o garoto mal vinha até D.C. e com Elena com prazo certo para ir para Yale, as visitas ficariam ainda mais raras.

Rindo, ao se lembrar do dia, ligou seu computador e deixou que o sistema se iniciasse depois de digitar todas as senhas de segurança e sua atenção foi tomada pelos arquivos que estavam em sua mesa, arrumados em ordem prioritário.

Ele se esqueceu do computar e começou a ler as anotações, só se lembrando de olhar seus e-mails quando este acabou de entrar em descanso de tela.

Foi aí que ele parou, o verdadeiro presente de Elena não foram a gravata e as abotoaduras personalizadas com suas iniciais. Isso ela fez só para constar, para que o Domingo do Dia Dos Pais não passasse em branco.

O presente dela estava passando pela tela de seu computador. Foto por foto. Desde o ultrassom de Jack, seu nascimento, até as primeiras aulas de futebol e a corrida de triatlo que ele participou tantos anos atrás. E no meio das memórias de Jack, veio as fotos do casamento dele com Emiliy e a trajetória da própria Elena, a foto do primeiro ultrassom veio acompanhada do som do coração dela batendo, e só de se lembrar desse dia, os olhos do grande Aaron Hotchner se encheram de água, depois vieram as fotos do nascimento, primeiro aniversário, vídeo dos primeiros passos, primeira palavra – ela falara papai – natais, ano-novo, quatro de julho, o aniversário de oito anos, quando as dicas foram espalhadas pela casa, as férias coletivas no Hawaii e a famigerada mesa de pôquer, uma foto que ele nunca tinha visto, mas que reconheceu, o treinamento casca grossa que Derek e Ziva deram para as equipes, tendo em vista como ela estava vermelha e um pouco inchada no rosto, devido à alergia com a tal da Hera-Venenosa, as aulas de direção e o dia em que Elena conseguiu a tão sonhada carteira de motorista. Os tombos, é claro, a foto dela com a perna engessada estava ali também. A formatura de Jack na faculdade e o ingresso dele no FBI, a família que a BAU era e, por fim, talvez a última foto que eles haviam tirado. Elena fora levá-lo até o aeroporto, insistira em ir dirigindo, no meio do caminho, os dois se viram no meio de um engarrafamento. Ficaram quase uma hora parados, sem ter por onde sair. Elena, doida como sempre, não se abalou. E depois de sincronizar o celular com o rádio do carro, pegou o aparelho e disse:

— Papai, chega aqui!

Ele lembra muito bem de achar que o sol escaldante do meio da tarde tinha feito algum mal para o cérebro da filha.

— Anda pai, vamos aproveitar que o dia tá bonito! – Ela disse e o puxou pelo braço. E de dentro do carro, tendo o céu azul do lado de fora como fundo, ela tirou uma selfie. E era essa selfie, tirada há quase uma semana, que fechava os slides de foto. Elena e ele, sorrindo para a câmera, no meio de um congestionamento.

Hotch ficou parado vendo a última foto e tentando pensar quando foi que Elena entrou no escritório dele e conseguiu ligar o computador, que era protegido por quatro senhas diferentes.

Claro que não precisou pensar muito. Emily deu o acesso que ela precisava ao prédio, e ele não duvidava que Penelope tinha hackeado as senhas e garantido que Elena pudesse fazer essa surpresa.

Antes que o slide voltasse para a primeira foto, a tela ficou preta, e uma mensagem, em letrar garrafais, dizia:

Para o melhor pai do mundo. Quem eu sei que, por mais que eu esteja apavorada, morta de medo de encarar a universidade no próximo mês, sempre estará do meu lado quando eu precisar, só basta que eu te chame.

Te amo, pai. Espero que essas fotos sirvam para aplacar a saudade que eu sei que o senhor já está sentindo, porque eu sei que elas serão o meu conforto quando eu sentir falta de casa.

Feliz Dia dos Pais!

Elena.

Hotch ficou tão surpreso com o inesperado e simples presente que não tinha notado que tinha alguém na porta.

— Toc toc. – Emily brincou quando notou o marido a olhando.

— Você sabia disso. – Ele acusou.

— Ela me pediu o acesso ao prédio, mas não sei o que ela fez. O que foi? – Sua esposa foi chegando perto da mesa, depois de fechar de porta.

Hotch deixou que as fotos passassem novamente. Quando ele deu por si, Emily tinha os olhos marejados.

— Ok, dessa vez ela conseguiu. Um presente sem nenhuma dor de cabeça! – Ela falou, tentando esconder o quanto ela tinha ficado emocionada, mas Aaron não se enganou e olhou para a esposa.

— Tudo bem. Me passa essas fotos depois, eu quero pôr no meu computador e no meu tablet e no meu celular. Porque eu não quero que a minha baixinha vá embora. – Ela falou chorando.

Os dois passaram os próximos trinta minutos ali, vendo as fotos, rindo das memórias dos filhos. Certos de que os próximos dias dos pais seriam ainda melhores, já que teriam o acréscimo do neto ou neta, bastava que Elena não aprontasse das dela, mas se ela aprontasse também, não teria problema, nada é tão característico da filha do que algo dando errado!!