Feliz Dia Dos Pais

Feliz Dia Dos Pais, Leroy Jethro Gibbs


E aqui estávamos novamente. Outro dia dos pais.... essa é uma data complicada. Ao mesmo tempo em que quero agradar papai de todas as maneiras, tenho medo de ultrapassar uma fronteira muito tênue, as memórias de Kelly.

É claro que nós dois já conversamos sobre ela inúmeras vezes, Kelly e Shannon não são um tabu dentro dessa casa, jamais foram. Eu fiquei sabendo que tinha uma irmã mais velha logo na minha primeira semana aqui dentro. Papai fez questão de me contar que tinha uma filha. Eu perguntei onde ela estava e ele me levou para vê-la. Eu não lembro exatamente da minha reação, mas até hoje me lembro do choque de saber que papai tinha perdido a filha e não só ela, a esposa também.

Mas se tinha um dia em que trazer o nome de Kelly era basicamente proibido era hoje. No Dia dos Pais. Uma vez fiz isso, não foi por mal, disse que do céu, Kelly também mandava um abraço para ele, eu havia sonhado com ela, ou com quem eu acho que era ela, só a conheci por fotos, afinal. Porém, quando acabei de dizer isso, papai tensionou no meu abraço e desceu para o porão. Não o vi pelo resto do dia e jamais toquei no nome dela neste dia. Mesmo que de vez em quando eu sonhe com ela para amanhecer esse dia.

Só que dessa vez, tinha que ser diferente. Todo ano papai tenta ao máximo esquecer que ele a perdeu e eu acho tão injusto! Pois ao se recusar em lembrar da filha maia velha nesse dia, ele deixa de viver as de viver as boas lembranças que teve ao lado dele e eu não me conformo com isso.

Nas últimas semanas, ou melhor, eu passei metade do verão enfiada no sótão procurando coisas bem específicas, mais precisamente, tudo o que podia sobre a “minha irmã mais velha”. Vasculhei todas as caixas, até que achei a que procurava.

Álbuns de fotografia que me indicavam o passado feliz e em família de papai. Ele, Shannon e Kelly, assim como algumas fitas, que pareciam ser de vídeo. Eu nem fazia ideia se ainda existiam equipamentos para reproduzir aquilo, contudo eu estava disposta a andar a cidade inteira atrás de algum lugar que pudesse ter. E foi quando eu tomei a decisão que poderia ser boa ou ruim, dependendo de como papai aceitaria o que fosse ver.

Eu busquei na internet lugares onde poderia remasterizar as fitas ou ter o equipamento que eu precisava para poder assisti-las e toda vez que papai chegava perto de mim, eu mudava a página do navegador para a de Harvard e falava que estava buscando por meu dormitório, mesmo sabendo que o assunto “Liz vai para a Faculdade” mexia com ele.

Achei um lugar que poderia tratar as fotos que encontrei. Com elas prontas, passei a remontar o álbum. Dona Shannon tinha colocado cada foto com a sua devida data, assim, foi fácil remontar cada uma delas.

Não vou negar, não foi fácil. Eu não pude digitalizar as fotos e fazer um álbum virtual, apesar de ter guardado todas elas em um pendrive e em uma pasta na minha nuvem pessoal. Assim, tive que organizar foto por foto e colá-las no álbum novo que tinha comprado, tendo o cuidado de não tirar nada da ordem.

Era interessante ver o passado de papai. Ele novinho. Ver o sorriso tão diferente do sorriso de hoje, sem a sombra da dor da perda que ele tinha no rosto. Ele realmente amou de verdade aquelas duas. Não que ele não me ame ou ame a minha mãe. Ele nos ama, eu tenho pela certeza disso. Mas era um amor diferente, mais leve. Era um Leroy Jethro Gibbs diferente também.

Com o álbum quase pronto, eu tinha outro problema. Os vídeos. É claro que eu poderia pedir para Abby ou Tim fazer isso para mim, sei que Abbs era bem capaz de achar o equipamento necessário para isso. Mas eu não queria envolvÊ-los. Não mesmo. Esse passado do meu pai é muito dele para ter tanta gente vendo, comentando.

Foi na internet que achei um lugar. Tive que atravessar D.C. e torcer para não ser assaltada e que o lugar fosse ao menos um lugar onde eu pudesse entrar sem ser presa. Apesar de não ser em um bairro muito bom, o dono da loja era uma simpatia. Adorei conversar com ele enquanto ele pegava as fitas VHS, as convertia e tratava as imagens para 4K. Meu pai não saberia a diferença disso, mas era notável a mudança na qualidade da imagem. Se ele me deixasse passar esse vídeo na nossa TV... aquela tela imensa, em 4k.... seria como se ele estivesse vendo as duas novamente.

Senhor Phillips, o dono da loja onde eu estava, me disse que já tinha remasterizado filmes em Hollywood, e cansou de fazer isso para os estúdios, queria poder fazer isso com histórias de verdade. Eu o agradeci de coração por isso, pois ele não fazia ideia do bem que ele faria para o meu pai.

A certa altura, eu estava vendo um vídeo de papai e Kelly brincando no quintal da casa, era possível ouvir a risada de Shannon, que gravava tudo, quando Sra. Phillips me disse:

— Sua irmã era muito bonita, mas vocês duas tem quantos anos de diferença?

— Bem... ela não é minha irmã de verdade. Eu sou adotada. Kelly e Shannon, a dona dessa risada, morreram em 1991. Eu estou tentando mostrar para o meu pai que ele não tem que enterrar essas memórias com elas. Que esses momentos têm que viver. Não sei se vai dar certo, mas estou tentando.

— E por que isso, Senhorita?

— Eu vou para faculdade em setembro. Meu pai tem sido difícil em aceitar esse fato. Já falou que eu o estou abandonando. Sei que ele não fala por mal, mas quero mostrar para ele que por mais que eu esteja longe, eu ainda estou aqui... ainda temos um ao outro.... e quanto as duas garotas originais, bem elas, elas também estarão sempre aqui, nas memórias dele.

— Não é todo mundo que pensa nisso. – Ele me disse.

— Deve ser porque nem todo mundo teve uma segunda chance. Eu tive. Por isso sou tão grata. – Fui sincera.

Outro vídeo passava na tela do computador e eu me peguei viajando, se Kelly não tivesse sido tirada de papai, o que ela estaria fazendo? Será que teria se casado? Já seria mãe? Como papai iria reagir a esses eventos? E foi com um nó na garganta que eu percebi, que Kelly estivesse aqui, Shannon também estaria, papai não teria se juntado ao NCIS. Não teria virado agente, conhecido minha mãe, que ainda era a minha tia... não seria ele que teria investigado a morte de meus pais... onde eu estaria se as duas estivessem aqui?!

Balancei a minha cabeça para me livrar dessa linha de raciocínio, mas o aperto no peito continuava. Era tão injusto que para ter o que eu tenho hoje, alguém teve que morrer.

Mais uma hora e meia e todos os vídeos tinham sido remasterizados e estavam além da perfeição. Paguei e agradeci ao Sr. Phillips.

Teoricamente meus presentes estavam prontos. Eu poderia agora só comprar uma coisa boba, para o dia não passar em branco. Voltei para casa, tentando bolar uma ideia para fazer com que papai visse os vídeos. Não achei nenhuma que não envolvesse tecnologia.

Vai ter que ser com bom e confiável notebook.

Faltando uma semana para o dia dos pais, papai resolveu que não estava conversando comigo, falou um monte de coisas sobre eu o estar abandonando e mentindo que iria voltar. Mamãe tentou conversar com ele, mas tudo acabou em briga.

— Ótimo! Era tudo o que precisava! – Falei para ninguém em particular, estava sozinha em casa e estava no porão, papai tinha começado a fazer o pedido de Victoria, uma casa de bonecas, e sempre que ele não estava em casa, eu descia para ajudar com o que eu sabia fazer, é claro que ele notava isso, mas nunca tocou no assunto.

Assim, eu estava falando sozinha e não notei que a lixa estava péssima. Fui procurar uma nova quando me deparei com uma caixa que não tinha o nível de poeira das demais. Era mais, nova, pelo menos ali dentro do porão, eu nunca a tinha visto ali.

Minha curiosidade me venceu, cheguei pertinho da pilha onde ela estava apoiada e a peguei com cuidado, o papelão parecia frágil.

Tirei-a do meio das demais e voltei com ela para a mesa no centro do porão. Tinha algo ali, algo pesado.

Abri a caixa e me deparei com a miniatura de um veleiro feita em madeira e muito parecida com aquelas caras miniaturas que vendem no shopping, a única diferença era que este não estava em vidro nenhum e estava todo empoeirado.

Tirei o belo veleiro de dentro da caixa para poder ver melhor os detalhes, nestes quase treze anos que estou nessa casa eu já ajudei papai a construir uns quatro barcos, sendo que somente o último, o Jenny era que tinha sobrevivido e estava ancorado na marina, assim, eu sabia um pouquinho sobre barcos e poderia opinar sobre esse aqui. Olhei os mínimos detalhes e parei no nome.

Chickadee.

Achei um nome engraçadinho para um barco. Geralmente eles têm nomes de pessoas ou de outras coisas sem noção. E Chickadee era fofo.

Coloquei o veleiro com cuidado entre duas prateleiras da casa de bonecas de Vic e continuei a futicar na caixa. Lá dentro, ainda tinha um bilhete. O papel estava amarelado, e a tinta da caneta um tanto borrada, indicando o tempo que fora escrito. Trouxe para a luz e a primeira coisa que notei foi que a letra era definitivamente feminina. E com um pouco de esforço, vi o que estava escrito.

E lembre-se, Leroy, a água nunca se esquece.

Tinha uma data e uma assinatura que eu não conseguia ver.

Leroy... eu só me lembro de duas pessoas chamando papai de Leroy.... Diane, que faz isso para irritá-lo e de vovô Jack e só de pensar nele, me deu uma saudade...

Acabei por fazer mais um esforço para ler, consegui ver quem tinha escrito o bilhetinho, mas não a data.

Mamãe

— A mãe do papai?! Ele nunca falou dela! – Me sentei na cadeira mais próxima e fiquei pensando. Eu nem sabia no nome da Mãe do papai! Eu sabia que ela existia ou ele não estaria aqui, mas saber dela, em detalhes? Nunca.

Será que o Chickadee era em homenagem a ela? Seria ela a Chickadee?

Porque se fosse... Agora toda essa construção de barcos faz sentido!

A água jamais esquece! Se a água não esquece, coloque o nome da pessoa ali que você jamais esquecerá também!! A memória dela pela eternidade!!

Céus!! E o que a vovó está fazendo dentro de uma caixa empoeirada?

Não pensou duas vezes, guardei a caixa vazia no lugar dela, peguei o barco e o bilhete e saí correndo de casa!! Eu tinha pouco tempo!! Muito pouco tempo!!

Como eu não tenho carro, tive que me contentar com o UBER mesmo. Eu sabia onde tinha uma loja de restauração eu só não sabia se eles seriam capazes de me entregar a tempo o Chickadee. Aquele barco lindo não merecia ficar esquecido e empoeirado no porão.

— Oi!! Tudo bem? – Perguntei aflita para o atendente, que não era muito mais velho que eu.

— Tudo, está precisando de alguma coisa, moça?

— Liz, pode me chamar de Liz. E sim, estou. De duas na verdade. Preciso que restaurem esse barco. E depois de restaurado, o coloquem em uma caixa de vidro, sob um pedestal de madeira, onde os dizeres deste bilhete devem estar gravados. Tem como fazer isso? – Perguntei aflita.

O rapaz me olhou como se eu fosse louca.

— Você fez isso?

— Não. É do meu pai. História longa, mas esse barco tem o apelido da minha vó! – Falei.

— Bom, - Ele pegou o barco e o analisou – tem como fazer o que você pediu. Mas vai levar tempo.

— Moço... – Li o nome dele na etiqueta da roupa. – Stephen, preciso para domingo. Diz que dá para fazer... é um presente para o dia dos pais.

— Na urgência é mais caro!

— Não tem problema! Eu pago!!

— Pode buscar no sábado?

— Perfeito!! Pego aqui no sábado. Pago agora ou quando vier buscar?

— Metade agora, metade quando estiver pronto.

Nem pisquei quando entreguei o dinheiro.

Quem diria que, sem querer, iria acabar encontrando o motivo que levou papai a fazer os barcos...

— Bem... agora, são dois presentes que podem ou não serem perfeitos... preciso de outra coisa... Mas o que?

Rodei pelas ruas ali perto, era uma área de comércio e tinha um pouco de tudo. Foi quando meus olhos foram atraídos para uma loja que vendia artigos de caça.... Tinha grandes chances de ter algo ali....

Entrei e me vi passeando perto do balcão de facas e canivetes. Até que um me chamou atenção. Um canivete suíço, muito parecido com um enferrujado que eu já tinha visto papai ficar encarando alguns meses atrás.

Nem pensei duas vezes, quando o dono da loja chegou perto de mim, com um olhar desconfiado, me perguntando como poderia me ajudar. Eu só apontei para o canivete.

— Quantos anos você tem? – Ele me perguntou antes de me entregar o canivete.

— Dezoito e minha carteira de identidade não é falsa. – Me vi explicando.

Ele acreditou em mim. E começou a dissertar sobre as qualidades do objeto. Eu não estava entendendo nada. Só queria saber uma coisa.

— Mas o senhor tem certeza de que é bom mesmo? – Perguntei ao vendedor.

— Tenho sim, senhorita. Ele não vai te deixar na mão.

— Não é para mim, é para o meu pai!

— Ele vai gostar, não tem melhor do que este.

— Posso pedir um favor? – Tornei a questionar ao entregar o canivete ao vendedor.

— Mas é claro, minha jovem.

— Tem como gravar essa frase – Escrevi a frase em um papel – na lâmina?

— Sim, aguarde só um minuto.

Não levou quinze e eu voltava para casa, certa de que tinha feito tudo o que precisava para que papai tenha o melhor dos dias.

No sábado à tarde, tive que pedir para mamãe o carro emprestado. As coisas tinham voltado ao normal em casa, tudo estava bem. Até quando, eu não fazia ideia, mas hoje eu tinha outra preocupação...

— Posso saber para que, mocinha? – Ela levantou a cabeça do relatório que lia e me encarou por cima dos óculos de aros vermelhos com cristais.

Olhei de um lado para outro e depois de ter certeza de que meu pai não estava por perto.

— Buscar o presente de papai. Ficou pronto. – Informei.

Mamãe me estudou por um tempo.

— Quantos presentes você comprou para o seu pai? – Juro que ouvi ciuminho bem disfarçado ali.

— Comprar mesmo, um. Os outros três foram uma espécie de reforma com faça você mesmo.

— Quatro?!

Dei de ombros... Mas a Jenny Shepard não pareceu muito feliz por ter ganhado um presente a menos que o marido no dia das mães.

— Tudo bem, pegue o carro. Você sabe onde estão as chaves e eu vou olhar o hodômetro! – Me avisou.

— Muito obrigada!! – Entrei no escritório e dei um beijo na bochecha de mamãe.

— Interesseira! – Ela soltou para a minha reação.

Desci correndo as escadas e abri a porta antes que pegasse a chave. Antes de chegar no carro, pude ouvir papai gritando:

— Onde ela está indo, Jen?

— Ao que parece, Jethro, você vai ganhar mais presentes do que eu!

Eu sabia que ela estava com ciúmes. Teria que ser bem criativa no Natal.

Com meia hora fui e voltei. O Chickadee estava lindamente seguro na sua caixa de vidro, e tinha ficado perfeito.

Antes de entrar, me certifiquei de que o dono do presente não estivesse por perto, ele não estava. Assim, subi para meu quarto, mamãe estava me encarando com a sobrancelha levantada quando passei com o barco.

— Depois explico. – Respondi à sua pergunta muda e ela fez um barulho estranho e murmurou algo como:

— Mas é a garotinha do papai mesmo.

Mas é ciumenta essa minha mãe!!

Tinha acabado de esconder o presente no meio dos meus sapatos, quando ouvi papai bater na porta.

— Não vai me ajudar com os preparativos para amanhã?

Eu levei tanto susto que acabei batendo a cabeça em uma prateleira.

— Vai quebrar o chifre desse jeito! – Ele disse sorrindo.

— Muito engraçado, papai. Já estou descendo, me deixa só trocar de roupa.

Ele me deixou sozinha e foi perturbar a minha mãe.

— E você, Jen, já acabou de dar o ataque de ciúmes?

Lá vamos nós para a segunda lista das “10 coisas que odeio em você”.

Me troquei o mais rápido que consegui e arrastei meu pai para fora, antes que mamãe fizesse algo.

Para falar bem da verdade, não tinha muito o que fazer, era só organizar as mesas do lado de fora e garantir que as crianças tivessem espaço suficiente para correrem pelo gramado. O restante tinha que ser ajeitado no Domingo pela manhã.

E o domingo chegou mais rápido do que um piscar de olhos. Eu nem tinha aberto os olhos direito e a campainha já tocava.

Nem precisei descer para saber que era Abbs. Ela sempre é a primeira a chegar e chegou gritando:

— Feliz Dia dos Pais, Pai! – Sim, esse era o único dia do ano que Abby chamava o pai substituto dela de pai. Eu sempre achei fofo, e papai sempre ficou sem graça.

Resolvi que era hora de me levantar, ou daqui a pouco Tony chegava e mandava Tali vir brincar de pula-pula em cima de mim. Arrumei meu quarto, e deixei uns travesseiros em cima da cama, tão certo quanto dois mais dois são quatro, as crianças vão parar aqui para tirarem um cochilo.

Desci com o presente na mão, papai ainda estava tomando café, mamãe estava na cozinha e Abby estava borboletando entre os dois, falando dez mil palavras por minuto.

— Feliz Dia dos Pais, papai!! – Dei um abraço em seus ombros e um beijo na sua cabeça. Depois entreguei o presente. Antes que pudesse me levantar, ouvi o obturador de uma câmera.

— Abbs, eu sei que você tirou uma foto!

— Devia ter colocado o telefone no silencioso!

— Com certeza!! Bom dia!! – Falei e ela veio esmagar as minhas costelas em um abraço.

— Bom dia, Jibblet!!

— Bom dia, mamãe. – Dei um abraço e um beijo em mamãe e prestei atenção em meu pai.

Ao lado dela já tinha um papel preto estampado com caveirinhas, com certeza o presente de Abby. Pelo que vi, qualquer coisa para ser usada na construção dos barcos. E agora ele encarava o canivete que eu havia dado.

Minha mãe também tinha visto o canivete e me puxou de lado.

— Onde você achou aquele canivete?

— Eu comprei, por quê?

— É idêntico a um com uma história envolvendo a Kelly. – Disse baixinho.

Eu encarei meu pai. Ele parecia absorto na gravação da lâmina.

— O que tem lá? – Mamãe quis saber.

— A frase que vira e mexe falamos. – Respondi com um sorriso.

Ela entendeu o recado e voltamos para a cozinha. Com pouco papai se levantou da cadeira e veio me abraçar, agradecendo o presente.

— Que isso, pai.... não foi nada! – Fiquei toda sem graça.

Ele ia falar algo, mas o restante da equipe chegou, com seus devidos filhos, e a casa ficou lotada.

Nem tínhamos acendido a churrasqueira e John, Morgan, Tali e Victória já estavam correndo pelo quintal. Tony, Tim e Jimmy estavam vigiando as crias, mas nem precisava, Abby estava por ali, perto deles como a melhor tia do mundo. Delilah, Ziva e Breena estavam ajudando mamãe. Enquanto eu era o coringa. Estava indo e voltando com as coisas entre o quintal e a cozinha, e papai e Ducky conversavam. Ellie e Nick chegaram um pouco mais tarde.

Foi legal, depois de um tempo quando todos já tinham se acertado e já tinha carne assando, Tony chegou perto de papai e começou a conversar com ele, com pouco veio Ziva e Tali. Tali estendeu os braços e entregou um presente para papai, o chamando de vovô. Papai ficou sem graça, mas não tanto quando Tony e Ziva o chamaram de pai e o agradeceu por sempre os apoiarem. Logo depois foram Tim, Delilah e os gêmeos e novamente ele foi chamado de pai e de vovô.

Mamãe e eu vimos a cena de longe. Não querendo interromper e muito menos estragá-la. Depois disso, era a minha deixa. Se no dia das mães eu passo na casa de cada uma das mamães da equipe para dar uma lembrancinha, não seria diferente com os pais, né? Assim, aproveitei que estavam contando um caso que eu já tinha ouvido e me esgueirei para dentro. Fui até o meu quarto, peguei os presentes e desci. Os de papai eu coloquei no porão. Era um lugar mais seguro. Configurei o computador e bastava que ele levantasse a tampa e o primeiro vídeo começaria. Já o álbum ficou ao lado do notebook. Era a escolha dele qual ele veria primeiro. O Chickadee ficou no meu quarto... eu teria que testar o ambiente antes de aparecer com ele.

Voltei para a cozinha e equilibrando os quatro presentes restantes, passei para o jardim. Tony mal tinha me visto e já foi soltando:

— Achei que não ia ganhar presente esse ano!

— Não se anime, não sou sua filha, não tenho obrigação, mas tenho o coração mole e te comprei uma lembrancinha. – Eu falei ao colocar os presentes em cima da mesa.

O primeiro que entreguei foi de Ducky! Afinal, meu avô postiço merece ser paparicado primeiro. E ele adorou o livro, finalmente achei um que ele não tinha lido!!

Depois parti para o Gremlim da Autópsia. Jimmy fica feliz até se você der a ele uma bala, ele é um eterno feliz, mas eu gosto de caprichar nos presentes dele, sempre dou algo que seja personalizado e ele adora, como hoje.... eu não resisti quando eu vi esse avental de cozinheiro.

— Como você sabia que eu estava atrás de um, Lizzy? – Ele me perguntou sorrindo. – Ainda mais nesse ano que vou cozinhar um perugato...

— Desde que não tenha nenhuma foto sua com um peru nas mãos eu vou ficar feliz. – Nick disse da mesa.

Eu tive que rir, a foto de Jimmy segurando um peru pelas pernas é a coisa mais hilária e traumática que alguém pode ver...

Depois de Jimmy, veio Tim. Eu deixei Tony por último e, como eu sabia que ele faria, ele começou a reclamar.

— E para você, Tim. – Entreguei o presente dele.

— Eu te disse, Delilah que eu ia jogar essa trilogia!! – Ele mostrou a trilogia do “Kill With Kindness” que ele tanto estava procurando.

— Ei... me chama para o seu bando que eu quero jogar também! – Ellie gritou.

E por último....

— Agora o mais importante vai receber o presente.... – Tony disse e foi subindo os degraus como se viesse ganhar um Oscar.

Lógico que papai não deixou barato o comentário e sentou a mão na cabeça dele.

— O segundo mais importante, Chefe. É claro que você é o primeiro!!

Todos começamos a ri.

Entreguei, fingindo não estar muita animada, o presente de Tony. Era mais ou menos sincronizado com o que Ziva tinha comprado.

— Qual é Pimentinha. Ânimo aí. – Ele falou.

Dei um abraço de urso no meu agente preferido e ele ficou mais feliz. Mais desesperado que uma criança em manhã de Natal, Tony abriu a caixa. E a camisa e gravata de grife combinavam perfeitamente com o terno que eu sabia que ele tinha ganhado.

— Vocês estão me preparando para o que?

— Para quando você for assumir a MCRT no final do ano. – Papai falou da churrasqueira.

— Como é Chefe?

Eu já sabia disso. Papai e mamãe vinham falando de aposentadoria há um tempo.

— Eu saio em dezembro, Tony. A equipe será sua, e ao que parece essas duas já estão te preparando para o seu primeiro dia!

Tony ficou alguns segundos calados. E depois olhou para cada uma, para ter certeza de que não era uma pegadinha.

— Chefe... – Ele disse incerto.

— Já tá mais do que na hora de parar, DiNozzo. E fim de assunto. Vamos voltar para o churrasco.

A notícia tinha sido dada, o pessoal tinha quatro meses para se acostumar com ela.

Depois dos presentes, o restante do almoço foi aquela confusão gostosa que se tem quando a família se reunia.

Ducky contava milhares de caso, Abbs brincando com as crianças e, a certa altura, me sobrou a churrasqueira, quando Tali e Victória cismaram que o vovô Gibbs tinha que brincar com elas.

Depois do almoço, fomos jogar pôquer enquanto as crianças tiravam um cochilo. E aonde elas se amontoaram? Dentro do meu quarto!!! Minha cama ficou puro barro!

Como uma boa nora, eu liguei para o meu sogro para lhe desejar um feliz dia dos pais, Sean fez o mesmo, e meu pai pareceu aceitar que, ao menos, ele era educado.

A galera só foi embora depois que escureceu, isso porque Delilah lembrou que todos tinham que trabalhar na segunda-feira cedo, senão, eu tinha certeza de que todos teriam acampado por aqui.

Uma última rodada de abraços e Ducky prometeu que antes que eu fosse para Massachusetts, ainda iriamos nos reunir.

E assim foi o dia dos pais.

Eu e mamãe, depois de arrumarmos, tudo estávamos sentadas na sala, cada uma com seu livro, papai estava vendo TV, ou fingindo ver, quando ele notou que a luz do porão estava acessa.

— Alguma das crianças deve ter acendido... – Comentou ao se levantar.

Ele já estava fora de vista, e mamãe levantou a sobrancelha na minha direção:

— Devo me preocupar com o que tem lá embaixo?

— Espero que não. – Falei e me levantei.

— E vai aonde?

— Pegar o presente que não poderia ficar dando sopa com tanta criança por perto. – Respondi ao subir as escadas.

Desci logo depois com a caixa de vidro. Mamãe pediu para ver. Ela fez o mesmo exame que eu fiz e depois de abrir um sorriso, me devolveu.

— Isso explica muita coisa. Ou melhor, explica tudo. – Disse.

— Não explica? – Abri um sorriso.

— Agora vá lá e entregue isso para ele. – Ela me enxotou da sala.

Fiz meu caminho até o porão e parei no alto da escada. Papai estava vendo o álbum que eu tinha montado....

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Não vou dizer que não achei estranho o fato de Liz não ter se voluntariado para vir apagar a luz, mas também, quando aquela lá começa a ler um livro é difícil que pare por qualquer motivo. Assim, vendo que Jen também não tinha movido um músculo, vim apagar a luz.

Só por precaução, dei uma olhada do alto da escada para ver se nenhuma das crianças tinha entrado ali e deixado algo para trás. As crianças não tinham entrado, mas alguém sim.

Desci para ver o que estava em cima da minha bancada e me surpreendi ao constatar que era o notebook de Liz e o embrulho que ela carregava na quarta-feira à tarde quando chegou em casa.

Sem saber o que tinha que fazer, ia pegando o computador quando notei o post it:

É só abrir a tampa.

Era a letra de Liz. O que ela tinha aprontado dessa vez?

Fiz o que ela tinha escrito e levantei a tampa do notebook.

Outro post it.

É só apertar a barra de espaço (a maior tecla do teclado, papai! : ))

Eu sabia qual era, ela não precisava explicar. Apertei o espaço e a tela passou de preta para uma cena que eu conhecia. Era o quintal dessa mesma casa. Com pouco pude ouvir uma gargalhada que não ouvia há muito tempo. A gargalhada de Kelly, acompanhada da de Shannon. E logo uma garotinha de cabelos castanhos e olhos azuis apareceu na tela e eu fui transportado para o passado.

Não sei quantos minutos eu fiquei ali, só sei que quando o último vídeo acabou, eu estava sorrindo. Tinha tanto tempo que eu me recusava a ver essas cenas, que hoje, ali, na tela daquele computador, parecia que as estava vendo pela primeira vez.

Como que em transe, tornei a repassar os vídeos, um por um, dessa vez eu sabia o que me esperava, então me permiti voltar a viver cada um daqueles momentos que dividi com a minha filha.

Ia rever tudo pela terceira vez quando a minha mão esbarrou na caixa que estava ao lado do notebook. Fechei a tampa do computador, não querendo que os vídeos que estavam ali se perdessem e me concentrei no outro “presente”.

Diferente desse que Liz teve que usar de tecnologia para que eu visse, o que estava na minha mão me remetia à época das fotos reveladas, que tínhamos que esperar até que o filme fosse todo gasto para saber como as fotos tinham saído.

Abri a capa do álbum e logo na contracapa tinha uma mensagem:

Certas lembranças merecem ser revividas para sempre.

E eu não fazia ideia do que me esperava quando olhei para a primeira foto. Na verdade, estava começando a me perguntar onde Lizzy tinha conseguido essas fotos e como ela tinha conseguido restaurá-las e restaurar os vídeos para que passassem no computador.

E logo na primeira foto, fui assaltado por lembranças. Voltei à Stillwater e à estação de trem onde conheci Shannon.

E não parou por aí, minha vida a partir daquele momento estava ali, quase toda ela, até o dia em que embarquei para o Golfo. Era 1991. Depois um salto, era 1997 e eu me lembro daquela noite e daquela equipe, ali, tendo um bar no fundo, estavam Will, Stan, Ducky, Jen e eu. A primeira equipe que liderei – era o Liz tinha escrito abaixo da foto.

Outras fotos foram montando o quebra-cabeça que virou a minha vida. O ano era 98, eu sabia o que tinha acontecido ali, quando vi a foto. Depois 1999 e a Europa. Vários lugares até Paris. 2000 e logo a primeira foto que eu vi foi uma tirada no primeiro dia de Abby no laboratório, Tony já estava na equipe também.

E os anos foram passando. 2001...2002...2003 a equipe aumentou, chegou Kate e McGee. 2004...2005... e a volta de Jen a chegada de Ziva. As duas que reviraram tudo de ponta cabeça. Os anos passam, e as fotos do que eu tenho certeza, Abby chamaria de momentos em família vão aparecendo. Então é 2013, e a foto que Abby sempre tirou nos Natais tem uma adição, uma garotinha ruiva de olhos verdes. Resolvi ignorar o cachorro e a gata que estavam presentes também. E logo na foto seguinte, já no ano de 2014, vem, talvez, a lembrança mais forte. O Baile de Pai e Filha e a volta em definitivo de Jen à família. Dali para a frente, foram várias fotos, de momentos tão parecidos e ao mesmo tempo tão diferentes aos que estavam dispostos nas primeiras páginas. E a única coisa que os ligava era: uma família.

Passei foto por foto, me lembrando do que aconteceu, meu casamento dom Jenny, que era para ter sido segredo, e no final todo mundo apareceu no cartório. O casamento de Tony e Ziva, o nascimento de Victória. A viagem de férias para o Hawaii. O nascimento de Tali, a chegada de Torres à equipe. O casamento de Tim, a chegada dos gêmeos. E em cada imagem era possível ver, não só como a família foi crescendo, mas o tempo passando e significando algo.

Vi que as páginas estavam acabando, e cheguei na última parte. Três listas estavam coladas ali, as mesmas listas que Jen e eu tínhamos escrito nessa última semana. E, então, eu vi a última foto. Essa não tinha sido tirada há muito tempo. Na verdade, foi tirada na última quarta-feira quando chamei as meninas para jantar, depois de toda a confusão com a lista das 10 coisas que odeio em você. Ali estávamos nós três, devidamente arrumados para sair, Lis tinha insistido em tirar a foto, me perguntei o motivo, ela disse que não tinha.

Mas tinha.

Era para colocar ali.

Só que eu queria colocar essa foto e mais algumas que tiramos hoje em cima da minha mesa. Pois, como ela tinha dito, algumas lembranças merecem ser revividas.

Parei para observar algumas fotos de novo. Finalmente entendendo o que Liz quis dizer. Tem coisa que não vale a pena ser enterrada. Não mesmo.

— Eu só me pergunto por que que ela não me entregou isso mais cedo? Por que ela deixou aqui embaixo para que eu visse sozinho? – Murmurei.

Liz tinha tido trabalho para juntar tudo isso. Não foi algo que ela fez de um dia para outro. Ainda mais com as fotos de Shannon e Kelly estando tão novas... Minha menina tinha conseguido de novo. Me surpreendeu quando eu achei que seria impossível que ela pudesse.

Estava a ponto de chamá-la, e quando me virei na direção da escada, eis que Liz estava sentada no alto, com os braços envolta dos joelhos e o queixo apoiado em uma caixa que estava em seu colo.

- Eu espero não ter ultrapassado nenhuma fronteira. – Me disse em um sussurro.

Caminhei até o pé da escada para encará-la. É claro que ela não tinha. Ela tinha simplesmente me mostrado o que eu estava perdendo ao ter medo de lembrar dos momentos felizes.

Eu passei tanto tempo me culpando pelo que tinha acontecido, que acabei me esquecendo que tanto Shannon quanto Kelly precisavam ser lembradas pelos bons momentos vividos em família e não com uma carga de culpa tão grande quanto costumo fazer. E precisou que uma garota de 18 anos me mostrasse isso. Por Deus, eu queria dizer algo a ela, mas não encontrava as palavras certas.

— E isso aí? – Apontei para a caixa de vidro, com um laço azul. Com a luz fraca do porão, pude notar que tinha algo ali dentro, mas não consegui distinguir as formas.

Vi Liz ficar sem graça e pude jurar que ela tinha ficado vermelha.

— Eu tropecei nele sem querer. Mas com menos de cinco minutos, eu entendi muita coisa. – Ela me disse e se levantou para continuar a descer a escada.

Só fui ver o que estava dentro daquela caixa quando minha filha me entregou. E, se Liz tinha me mostrado memórias de mais da metade da minha vida naqueles vídeos e nas fotos do álbum, agora ela tinha me mostrado a minha vida inteira, pois quando eu peguei a caixa de vidro e vi o que estava cuidadosamente colocado lá, eu voltei a ser criança e me lembrei de quando meu pai entregou esse mesmo barco para minha mãe, como um pedido de desculpas.

Era o barco que fora nomeado com o apelido de minha mãe.

Era o Chickadee.

— É bonito demais, importante demais, para ficar dentro de uma caixa de papelão, pai. – Liz me disse sem graça.

Eu me vi admirando os detalhes, sem falar nada. Ainda assombrado com o tanto que Liz tinha feito. Ela, por sua vez, estava parada ao pé da escada e mordia o lábio, nervosa. Decidi por falar algo, mas parei no meio do caminho. Pois minha atenção foi tomada pela inscrição entalhada na madeira onde o barco tinha sido apoiado.

A água nunca esquece.

Me virei sem falar nada e puxei Liz para um abraço. Precisou de muitos anos para que alguém realmente entendesse o motivo por trás dos barcos, sem que eu tivesse que contar. Até desconfiava que Jen ainda não soubesse, porém, tinha certeza de que ela entenderia sem que ninguém falasse, bastasse que lesse a inscrição.

— Eu não fui longe demais, fui? – Minha menina tornou a perguntar incerta, diante da minha reação.

— Não filha. Não foi. Eu diria que só você poderia entender tudo isso. Você, de todas as pessoas, é a única que poderia me mostrar o que eu estava perdendo, o que estava deixando de ver, porque você é a única que me entende quanto a isso, filha. – Respondi e dei um beijo em sua testa.

— Eu agi por impulso e só fui parar para pensar no que tudo isso...

Eu a calei. Ela me olhou assustada

— Tudo isso aqui, filha, me trouxe, nos trouxe, até esse momento. E eu só tenho que te agradecer.

Liz se acalmou e voltando a ser ela mesma, simplesmente me perguntou.

— E onde o senhor vai colocar o Chickadee?

— Acho que sua mãe vai gostar de fazer uma pequena redecoração na sala para que ele fique em um bom lugar.

Liz abriu um sorriso.

— Isso ela vai mesmo!

— Por acaso eu ouvi alguém falando de mim aí embaixo? – Jen chegou no alto da escada.

— Tenho um trabalho para você, Jen.

— Conte-me uma novidade, Jethro. – Ela me respondeu colocando as mãos na cintura.

Subi as escadas até ela e segurando o Chickadee com uma mão e a puxando com a outra, a levei até a sala de TV, explicando o que queria.

— Liz, traga esse álbum e esse notebook, também. – Falei.

— Como se precisasse pedir. – Ouvi a Ruivinha dizendo e depois escutei seus passos na escada.

Com pouco nós três estávamos na sala. Jen já concentrada em como iria abrir espaço na estande para o barco.

— Ainda tem isso. – Mostrei o álbum que Liz havia feito.

Jen levantou uma sobrancelha. E, antes que ela falasse mais alguma coisa, lhe entreguei o álbum.

Ela se sentou no sofá e começou a folheá-lo. Diante de algumas fotos não disse nada, apenas ficou admirando, em outras ela abria um sorriso e murmurava, eu me lembro desse dia. Quando terminou de ver, olhou na minha direção e apenas disse:

— Lugar de destaque para esse aqui também, aposto.

— Com certeza!

— Bem... vamos ter que tirar isso e isso. Acho que posso levar os livros para o meu escritório, se você não se importar, Jethro... – Ela começou a falar.

Liz se jogou no sofá, ainda com o notebook nas mãos e ficou observando a mãe conversar com ela mesma.

— Não repara, filha. Sua mãe é maluca assim mesmo. – Dei um peteleco no nariz dela e minha garota começou a gargalhar.

— Eu ouvi isso, Jethro!

Me sentei ao lado de Liz e deixamos Jen pensando em como iria reorganizar a sala.

— E filha, você não se importaria de me passar esse notebook, se importaria?

Liz olhou para mim abismada.

— O senhor quer esse notebook? – Ela bateu o dedo na tampa do aparelho para enfatizar a ideia.

— Sim, e vou precisar de algumas aulas de como essa coisa funciona. Afinal, preciso aprender como se liga pelo FaceTime ou Skype ou sei lá como vocês chamam essas coisas, se quiser se te ver quando você for estudar fora.

Liz me olhou além de espantada.

— O senhor vai mesmo me chamar pelo FaceTime?

— Mas é claro, não posso ficar dependendo da sua mãe... ainda mais se ela começar a murmurar sozinha como agora.

Só que Jen estava parada, me encarando, igual a filha. Decidi por ignorar a encarada.

— Acha que dá tempo de você me ensinar como isso funciona?

Liz pulou e me abraçou:

— Mas é claro que dá, papai!!! E eu posso te ajudar com outras coisas, como os vídeos!! – Ela se empolgou. E depois começou a me puxar do sofá para me levar para sala. – Anda, não podemos perder tempo!!

Jen me olhou e sem entender o que estava acontecendo teve que perguntar:

— Mas, por que essa mudança, Jethro?

— Você viu as fotos, Jen. Leu a inscrição no barco. Não quero perder isso também. Liz ir para faculdade não significa que ela vai nos deixar para sempre. Ela vai voltar. Mas eu não quero perder o que ela vai ter para me contar por minha culpa.

Minha filha voltou pulando, me abraçou de novo e, sorrindo, olhou para a mãe.

— É Lizzy. Você é fez um milagre! – Jen comentou rindo.

Não era um milagre. Às vezes alguém tem que dar um choque de realidade para que você perceba o que está perdendo. E a certeza que eu tinha era, eu não desperdiçaria essa segunda chance.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.