Fate / Chain Reaction

Vítimas do passado: Calmaria


Desperto com um som estranho, similar a um ronco abafado, abro os olhos e estou num lugar branco, em alguns segundos percebo que é um hospital. Numa poltrona adiante estava o meu marido, meu querido John, dormindo profundamente com um braço e uma perna imobilizada. Ele era loiro de olhos castanho escuros, seu rosto de feições um pouco quadradas tinham alguns curativos. Não acreditava que ele estivesse dormido naquela poltrona, ele era alto e por isso com certeza está desconfortável, ainda mais naquelas condições acidentado, mas a sua personalidade teimosa provavelmente me diz que ele deve ter insistido para ficar ali. A notícia de que nosso hotel se fora já deve ter chegado ao conhecimento de todos.

— O hotel... — Neste instante lembranças da noite anterior voltaram a minha mente, um desespero cresceu no meu peito e eu queria saber se estava tudo bem com a minha criança. Fiz menção de levantar quando que como por instinto ele acorda.

— Eva?... Você acordou meu amor! — Ele acorda com um susto e se levanta com toda dificuldade e vem para mais perto — Que susto você me deu, ontem eu vi pela televisão o grande incêndio e que as imediações do shopping foram todas destruídas! — Ele se jogou em cima de mim, pelo menos a cabeça — Achei que tinha perdido vocês dois — um choro um pouco escandaloso se iniciou logo em seguida, apesar de ser um homem aparentemente duro, John era uma manteiga derretida por dentro.

— John, o bebê... O bebê está bem? — Afastei sua cabeça.

— Sim querida, vocês dois chegaram intactos aqui no hospital, mas o que você fazia tão longe do hotel? — Ele secava as lágrimas com o braço saudável, se sentando devidamente na cama — Por acaso...

Antes dele terminar, entraram um médico e um homem vestido com um terno escuro.

— Nossa futura mamãe se sente melhor? — Perguntou o médico de maneira gentil e fazendo pequenos exames como medir minha pressão.

— Sim, eu me sentindo bem, mas está tudo realmente bem com o bebê?

— Está sim, fizemos exames e ele está perfeitamente saudável — Enquanto ele examinava meus pulmões, eu deixei escapar uma lágrima de felicidade, eu ainda estava grávida e pelo que podia sentir não mais estava sob influência da maldição — mas seu marido passou muito mal ontem a noite, quase tivemos que sedá-lo ou ele iria até o local do acidente, até que por volta das seis uma ambulância a trouxe para o hospital após alguns moradores a encontrarem caída no chão.

— Desculpe interromper doutor — o homem que acompanhava o médico finalmente se pronunciou — eu sou o detetive Takamura — fez uma pequena reverencia para mim e meu marido e mostrou o distintivo — e desejo conversar com a Srª Deborah, pois ao que parece ela é uma das pouquíssimas vítimas a sobreviver ao desastre, por favor podem nos deixar a sós? — Se dirigiu aos outros dois no quarto.

— Posso sim, a senhora aqui possivelmente só sofreu uma queda de pressão e desmaiou — dando pequenos tapas no meu ombro.

O médico se retirou auxiliando meu marido a andar, o investigador tinha um bigode preto, era um pouco careca e tinha um ar de urgência. Não podia contar nada do que aconteceu, tudo que eu queria era poder sair do Japão, provavelmente ocorreu algo muito grave nesta cidade e possivelmente virão muito agentes da Igreja e da Associação de todos os lados apagar ou deturpar evidencias.

— Muito bem senhora, poderia me contar o que fazia tão longe do seu hotel naquele parque, tarde da noite?

— Bem, eu estava um pouco estressada e pequei um taxi para dar uma volta pela cidade de tarde, fui até o parque e lá fui abordada por três sujeitos, eles roubaram meus pertences e fugiram, foi quando comecei a passar mal e desmaiei — precisava pensar rápido, não podia deixá-lo me pressionar, comecei a chorar copiosamente.

— Acalme-se senhora, apenas queria saber as circunstancias do ocorrido — ele me entregou um lenço.

— Mas afinal o que aconteceu com o nosso hotel? — Perguntei dissimulada.

— Todo o perímetro do shopping de Fuyuk, incluindo o seu hotel, foram atingidos por um grande incêndio, tudo foi destruído e basicamente não houve sobreviventes.

— Que horror!! Mas como isso aconteceu??

— Não se sabe ainda, ainda estamos investigando as causas, então a senhora não sabe de nada do que aconteceu?

— Não eu não sei, eu sai por volta das cinco horas e fiquei passeando pela cidade, até terminar naquele parque — comecei a chorar novamente — quer dizer que por muito pouco eu e meu bebê não morremos queimados?

— Ao que tudo indica sim, apesar de ter sido uma fatalidade, isto a protegeu a senhora de uma catástrofe maior, se acalme que está tudo bem agora — colocando uma mão no meu ombro.

Ele se retirou e disse que se eu quisesse poderia fazer uma queixa na delegacia depois, o que eu recusei, dando a desculpa de que tudo que nós queríamos era ir embora o mais breve possível, na verdade nosso voo estava agendado para ali dois dias, pois só o que nos retinha aqui era o acidente de meu marido. Quando ele desapareceu eu pude respirar aliviada, algo estava estranho com aquele homem, mas em breve isso não mais importaria. Depois de alguns minutos, meu marido voltou com seus passos vagarosos arrastando a perna, fechando a porta e sentando na poltrona.

— Querida, voltando a minha pergunta, por acaso foi alguma coisa relacionada a magia?

— Sim querido, quero deixar esta cidade o mais rápido possível pra esquecer o que passei.

John sabia que eu era uma maga, mas isso nunca interferiu em nosso relacionamento, justamente porque meu comportamento não era asqueroso como do resto da minha ex-família. Contei a ele tudo que aconteceu e como milagrosamente escapei, ele decididamente disse que ligaria pra embaixada para providenciar meus documentos, ainda naquela semana nós voltaríamos para os Estados Unidos. Apesar dele perguntar, eu não quis confessar uma preocupação. Eu tomei apenas uma dose da Geleia Real, em tese ela deveria ser capaz de dissipar qualquer maldição ou ferimento, mas o problema é que eu estava grávida, o remédio foi divido entre mim e meu filho, como as abelhas rainhas partilham com seus ovos. Mas será que metade seria suficiente para extirpar de vez o problema?

Observei o pequeno frasco que continha menos de uma dose, poderia tomá-lo agora e talvez minhas chances estivessem asseguradas. Mas algo me dizia que eu deveria esperar, ou era uma dose completa ou nada. Então que seja meu filho a tomar a dose completa.

Saindo do hospital estava o detetive Takamura, ele atravessou a rua ao encontro de outro homem de terno que parecia esperá-lo.

— Então, ela sabe de alguma coisa?

Takamura acendeu um cigarro — não, ela saiu antes que tudo acontecesse, não precisamos alterar suas memórias. Não havia nada de especial nela também, vamos que temos muitas outras possíveis testemunhas pra visitar...

Os dois entraram em um carro e se distanciaram do hospital.