Fate / Chain Reaction

O Começo do Grande Festival - Parte 2


Mansão Santiago, 3h para o início da guerra

— Alto! Vocês não tem permissão para sair da mansão! — Avisou o chefe da segurança no portão se interpondo no caminho de Arya e Ivair.

— É mesmo? E quem disse? — Disse a garota rindo.

— Ordens diretas do Sr. Santiago.

— Depois resolvemos com ele, agora pode abrir passagem — disse a garota juntando os braços e piscando os dois olhos — por favor?

— Não, ordens são ordens, agora voltem para a mansão! — Respondeu o segurança de forma ríspida.

— Bem, sou convidada e não prisioneira, eu e meu amigo vamos dar um passeio e ninguém vai impedir — disse se aproximando do segurança — ou você vai se opor igual fez quando eu quis entrar? — Disse em tom desafiador, o homem deu um passo atrás.

O chefe da segurança talvez nunca mais pudesse esquecer a forma com que ele e seus homens foram subjugados por aquela garotinha, de aparência tão inofensiva, na primeira vez em que se viram. Ele tinha um ódio crescente por sua imagem por causa da humilhação, mas também um igual pânico de estar no mesmo ambiente que ela confrontando-a. Havia o desejo de revanche e, talvez, este fosse o momento, mas seu instinto de sobrevivência só o fez abrir passagem para os dois.

— Pois bem vão, mas saibam que alertarei o Sr. Henrique sobre isto — disse de cabeça baixa serrando os punhos com raiva.

— Faça como achar melhor... Venha Ivain! Quero aproveitar o festival antes dos fogos! — Quase arrastando o rapaz pelo braço.

— Arya!! Eu não sou um cãozinho pra vo... — Protestou, mas foi interrompido por uma arrancada dela.

O segurança correu pelos jardins da propriedade e subiu as escadas rapidamente, poderia usar o rádio, mas temia que lhe fosse ordenado perseguição e queria ter certeza de não alcançar os dois se isto acontecesse. Encontrou o jovem Antônio sentado na sacada mexendo no celular, não era usual reportar coisas importantes a ele, mas viu uma oportunidade de alguma complacência e quis aproveitar.

— Senhor Antônio! Que bom encontrá-lo! Onde está seu pai? — Disse um pouco ofegante.

— Ele está no banho e vai demorar, aconteceu alguma coisa? — Perguntou o herdeiro levantando o olhar do celular.

— A pirra... Quero dizer, a jovem dama e o brasileiro saíram sem permissão, não tive como contê-los!

— Imagino que não tenha tido, mas porque tanta preocupação? Deixe que vão — voltando seus olhos para o celular novamente.

— Mas vosso pai ordenou que ninguém saísse!

— Até parece que aquela garota obedece alguém — riu-se — meu pai já devia saber disto.

— Então o que devo fazer? Seu pai vai me demitir por isso, senhor.

— Nada, deixe que eu falo com ele, não se preocupe que não havia nada que você pudesse fazer, só as opções entre deixá-los passar ou abrir uma vaga para chefe da segurança... — Isto incomodou o segurança, mas ele se deu por satisfeito.

Longe dali já na estrada, Ivair e Arya tomaram um táxi rumo ao festival. A jovem loira mal conseguia disfarçar a empolgação no trajeto e até permitiu que o motorista ficasse com o troco.

— Não entendo por que este súbito desejo de ir ao festival, faltam poucas horas pro início da guerra! — Disse Ivair de maneira discreta devido à quantidade de pessoas que trafegavam.

— E por que você acha que estou tão empolgada? Mas primeiro quero aproveitar o festival e, quem sabe, encontrar algum ratinho tentando se camuflar na multidão fugindo do conflito inicial! — Disse pomposamente, avistando uma barraca de salgados típicos “quentes” — Ivair, você gosta de pimenta?

— No Norte do Brasil é muito comum comermos pimenta, por quê?

— Te desafio a comer mais do que eu esses Totopos pimentados! — Reparando no rapaz revirando o olhar — vamos não seja chato, você precisa comer se quiser ter energia pra mais tarde!

— Estou vendo que você quer me matar antes mesmo de tudo começar, não é? Mas vou te mostrar que isso daqui não é nada perto das que temos lá no Pará... Não vai ser assim que você vai me tirar da corrida do Graal! — Pagando uma tigela cheia e se pondo a comer junto de sua “adversária”.

E assim se seguiu as horas, com os dois correndo de um lado para o outro competindo. Para a profunda irritação de Arya, Ivair parecia derrotá-la em quase todos os jogos presentes na festa e nos desafios que ela elaborava a todo momento. No primeiro inclusive ele chegou a terminar os Totopos da garota, pois a mesma acabou sucumbindo a ardência mexicana e quase virou uma garrafa inteira de refrigerante de uma vez.

— Você está trapaceando Ivair! Sua descendência latina está te dando vantagem! — Bateu o pé.

— Brasileiros não tem muito a ver com mexicanos e francamente... Não acredito que tiro ao alvo tenha muita influência de descendência! — Retrucou rindo. Arya ficou emburrada por alguns segundos, até que reparou em algo incomum: Ivair estava sorrindo. Por alguma razão ela esqueceu que estava brava e também sorriu, estava feliz com o seu até... Talvez novo amigo?

Os dois finalmente caminharam para a multidão que se aglomerava em uma fonte para ver mais de perto os fogos. A garota suspirou enquanto se apoiava em uma grade.

— Pena que não encontramos ninguém, para onde poderão ter ido? — Disse Arya em um muchocho.

— Na minha opinião eles aproveitarão a zona oeste ou sul para se manterem afastados e evitar testemunhas.

— É muito grande pra vasculhar tudo, que droga... — Suspirou mais uma vez.

— Se pudesse chutar em qual das duas regiões, muito provavelmente há algum deles instalados formalmente na cidade nas regiões oeste ou leste e, como o leste está cheio, os que querem atacar os que estão em suas bases provavelmente irão ao oeste.

— E por que não no sul? — Indagou a garota.

— Por que nem todos querem agir logo de primeira e marcando uma “luta” no sul, Assassin por exemplo se for prudente esperará uma oportunidade para pegar alguém em combates posteriores ou enfraquecido — concluiu.

— E o que estamos esperando? Não vou perder por nada o começo de tudo! Quero eu mesma ser a primeira a eliminar um desses mágicos de Las Vegas! — Disse se enchendo de energia novamente — Mas primeiro preciso de um doce..

— Hã? — Perguntou o rapaz não entendo.

— Nervosismo! Como doces quando sinto que vou lutar — disse reiniciando a corrida pelas ruas.

Novamente pegaram um táxi rumo ao Oeste da cidade, deixando de lado a oportunidade de ver os fogos. O taxista correu bastante, pois não queria perder o show. Na verdade o mesmo estava se negando a ir logo naquele momento, mas foi intimidado pela garota “assustadora”. Em cerca de vinte minutos o motorista praticamente os largou no seu destino e partiu de volta ao leste. Os dois se puseram a caminhar pelas ruas desertas do oeste, com muitas casas e prédios de baixo gabarito do lado mais simples da cidade, enquanto Arya mordia uma maçã do amor.

— Sabe, não precisamos ter tanta pressa, podemos seguir o roteiro do velho e agir com mais cautela — disse Ivair com as mãos na nuca enquanto andavam.

— Não vim à guerra para brincar de reality show, dane-se a cautela, eu não tenho medo! Ou... Você tem? — Disse provocando-o.

— Não, não tenho — respondeu de forma calma — mas também não costumo pegar um trabalho de forma precipitada, além do mais... Sempre me subestimam, por isso perdem.

— É mesmo? Então você é um magus killer “coitadinho” com um Ás na manga?

— Os “magos de primeira linhagem” se acham superiores, por isso chegam todos pomposos em minha frente, fazem discursos sobre como sou inferior... Depois imploram pela vida enquanto eu os finalizo — disse calmamente e mudou a expressão para confiante — quer saber? Acho que tem razão, conhecendo ou não vai acontecer o mesmo de sempre, talvez tudo isso acabe antes mesmo de começar.

O momento dos dois foi interrompido por sentirem um poder pulsar ao longe, muito provavelmente era o uso de mana em escala considerável. Arya abriu um sorriso de orelha a orelha.

— Boa sorte Ivair, quero eu mesma enfrentar você e seu Lancer em um combate mano-a-mano. Você é o único que tem o meu respeito aqui, mas quero que tenha cuidado...

— Com o que além de você? — Brincou o rapaz.

— Tem alguém te esperando lá fora, mesmo que as chances de você me derrotar sejam nulas, não seria nada legal pra Melany se você morresse tão cedo...

O rapaz ficou surpreso e quase esboçou um sorriso — fique tranquila, garanto que estarei aqui quando isto acabar.

Os dois apressaram o passo até começarem a correr instintivamente em direção ao que estavam procurando tão avidamente. Logo depois da curva, no que parecia ser uma praça para os moradores locais, encontraram duas pessoas. Um trajava vestes azuis e era loiro, estava no chão, o outro era moreno e usava roupas leves como se fosse um turista, além de estar cercado de pequenas pedras luminosas, mais ao fundo um homem de armadura com uma espada e uma figura alta e encapuzada se encaravam. Arya naturalmente se adiantou anunciando sua presença.

— Ei vocês dois! Já começaram com a verdadeira festa sem nós?!

O jovem moreno voltou seu olhar para os dois, surpreso e o loiro se recompôs com certa dificuldade e também se virou. Ela então prosseguiu.

— Rodamos meia cidade, mas você estava certo Ivair, com certeza algum deles não resistiria a este lado vazio para um começo precoce! — Disse a garota dando um soco no ombro do companheiro, que a olhou de maneira feia, surpreso com a atitude.

E continuou — Mas a culpa é sua por parar pra ir no banheiro, se não teríamos chegado a tempo pro começo!

— Minha culpa?! Mas foi você que estava distraída se esbaldando no festival até que eu te lembrasse do porque saiu de casa! — Respondeu o indígena esfregando o braço.

— Não importa, só estou feliz porque vou bater em alguns aprendizes de Mister-M... — disse dando uma última mordida na maçã e atirando no lixo próximo.

— Quem são vocês? — Disse Aleksia aos recém-chegados — devem ser os representantes da mansão, não?

Querendo ou não o Ejnar estava preocupado, uma luta de dois oponentes contra um logo depois dele gastar tanta mana lhe parecia demais, isto se não piorasse e o Archibald se juntasse a eles. Era uma opção viável se retirar.

— Se quiser ver assim... Mas vou me apresentar: Eu sou Arya Toshiro dos Ó Riagáin e este daqui — Ivair fez menção de abrir a boca para se apresentar, mas foi rudemente interrompido — é Ivair Blackwood representante dos Holstein, embora não seja um membro legítimo está quebrando um galho...

Em outra situação Aleksia riria de tamanha energia vinda da garota, mas permaneceu sério diante de tamanho comportamento e se pronunciou — sou Aleksia Von Ejnar, representante de Estray.

— Nossa que legal! Uma vez tentei entrar em Estray, mas me recusaram por eu ser “energética demais”... — Ela pareceu pensativa, quando mudou abruptamente — bom, espero que esteja satisfeito, pois não gosto muito de introduções — disse agora impacientemente a garota.

Ela então abriu um recipiente cilíndrico que estava em seu bolso, liberando uma massa cinzenta que expandiu para fora do vasilhame mas não o deixando, dando forma rapidamente a uma lâmina de katana, sendo o que o continha o seu cabo ou tsuba. Aleksia estranhou um mago brandir uma arma branca, por acaso ela pretendia atacá-lo frontalmente? Ouviu-se então a voz do Archibald que até então estava calado por estar confuso com a situação.

— E-esperem! Eu sou Haimirich Archibald, representante da Torre do Relógio, porque atacar assim tão repentinamente?

— Por que essa é a graça, eu e meu amigo aqui não somos do tipo que ataca por trás, vamos para cima com tudo! Tem alguma coisa contra loirinho? Imagino que tenha, já que parecia levar uma surra — alfinetou.

Haimirich se remoeu por dentro, mas sorriu em resposta — não! Estava oferecendo para meu colega aqui uma aliança, mas ele recusou... Por isso infelizmente terei de cooperar com outras pessoas, então estou interessado em cooperar com a mansão, o que acham? — disse gentilmente. Aleksia sentiu asco pelo que Haimirich estava tentando fazer e resmungou um “rato”. Mas para a surpresa dos dois, Arya começou a rir, mas quando responderia, ouviu-se a voz de Ivair interrompendo desta vez Arya.

— Desculpe, mas já estamos com aliados demais do nosso lado, mais um e abriríamos um clubinho e não uma guerra — disse seriamente, mas com um leve tom de sarcasmo.

— Assino embaixo! Mas não gosto de perdedores, por isso Ivair você fica com o loiro aqui, eu fico com o que parece ser o vencedor — seus olhos brilharam e ela se pôs em posição de combate, como se fosse uma legítima samurai — vejo que carregas um número impressionante de pedras rúnicas, é uma magia bem complexa de se administrar em grande quantidade devo admitir, vejamos o quanto você sabe!

Saber então se colocou entre os dois.

— Não deixarei que ninguém chegue ao meu senhor! — Até então o cavaleiro parecia ter sido ignorado pela garota, que se provou verdadeiro pelo espanto da mesma.

— Um Saber!? Quase me esqueci de você! Seria muito legal lutar com um, mas nem eu sou tão louca assim, por isso: Berserker! — nas costas de Arya uma névoa arroxeada se formou, seguida de um som de algo muito pesado se chocando contra o chão. Uma sombra gigantesca se projetou por ela vinda uma figura robusta, mais alta até mesmo que Assassin, empunhando um grande machado de lâmina dupla de haste longa.

— Cuide do cavaleiro aqui enquanto eu resolvo com o donozinho dele aqui — o gigante urrou e avançou para cima de Saber e Aleksia, brandindo seu machado com os dois braços.

Saber agiu rapidamente se pondo em frente ao gigante incisivamente, travando o golpe de Berserker com os antebraços, parecia fazer um esforço descomunal pelas veias saltadas no rosto. Poderia contra-atacar pois ele estava vulnerável, mas estava colocando todas as suas forças para segurar o insano. Aleksia se afastou o máximo que pode.

— M-mestre não posso lutar com você por perto! — Saber disse entre dentes, saltando para trás levemente a direita, o golpe se seguiu e o chão foi destroçado pelo golpe. As ordens de Berserker eram para aniquilar Saber, então o mesmo se pôs a afastar para proteger o mestre, cuidaria do oponente em uma distância segura igual feito com Assassin. Sua ideia estava correta pois quando começou a correr, Berserker urrou e o seguiu a passos pesados e igualmente rápidos.

Haimirich que também se afastara para o lado de seu servo, teve um abrupto pensamento: “É a oportunidade perfeita! Tomarei os selos com Assassin enquanto Saber está ocupado”, fez então um gesto para seu servo que se mantinha alerta aos seus comandos e compreendeu rapidamente, mas se deteram ao ouvirem uma voz pelas costas.

— Eu não viraria as costas para mim “Torre” — disse Ivair, que intimamente pensou: “De qualquer forma as coisas não vão ficar convidativas quando o grandão começar a quebrar o parque” — você com toda a certeza quer pegar o branquinho ali desprevenido, mas ele é o alvo dela e acredite, não vai querer estar no lugar dele. Lancer cuide de nosso outro amigo aqui!

Uma névoa avermelhada se seguiu e um homem negro surgiu a partir dela empunhando uma lança e montado um cavalo marrom de aparência comum sem sela. Trajava um poncho maltratado mas grosso e uma calça grossa e larga, conhecida como chiripá, e, por fim, uma faixa vermelha na cabeça.

O Archibald definitivamente não gostou da intromissão, sua pretensão voltara quando percebeu a nova chance que surgiu para os seus antigos planos — um Rider? Pela aparência dele e a sua provavelmente não são conhecidos — sua habilidade de análise como mestre logo foi aplicada — espere... Riding B? Então é um Lancer — riu, uma montaria a cavalo comum não seria suficiente para rivalizar a agilidade de Assassin.

— Com toda certeza — o Blackwood sorriu pois começou a ser subestimado.

— Assassin cuidará dele com toda certeza, com esses status base tão pobres nem vale a pena cumprir meu anseio por um novo servo — e estalou os dedos.

O servo traiçoeiro disparou uma adaga de maneira tão rápida que mal foi possível vê-lo se movendo, acertaria em cheio Ivair se Lancer não a desvia-se a tempo.

“Avalie seu combate Assassin, talvez possamos cumprir nosso objetivo de outras formas, mas mate-o se atestar inutilidade”, o representante da Torre passou a informação ao servo.

Os dois servos se encararam e tomaram distancia para seu próprio embate, com Lancer perseguindo Assassin de perto que se dirigiu as casas onde tinha vantagem. Os dois mestres se distanciaram de Arya e Aleksia em direção a rua adjacente a praça, apesar do contato visual ainda ser possível entre as duplas. Haimirich mantinha a concentração, liberando discretamente ferrite para reestabelecer a conexão com o ferro ao seu redor. Logo ele encontrou os postes de iluminação que circundavam a rua.

— Não imaginava encontrar um nativo como um mestre, além claro da própria família Santiago, você por acaso tem alguma ligação com eles? — Perguntou o Archibald.

— Não, nem mesmo sou do México, sou do Brasil — respondeu Ivair de forma neutra.

— Ainda mais como babá de uma garotinha irritante...

— Também não imaginava, mas porque não diz pessoalmente para ela se sobreviver?

— E quem disse que ela vai ganhar de um mago da Associação? — Gargalhou — mas vejo que você já percebeu que não tem muita chance!

— Não, só pensei em te manter vivo tempo suficiente para repetir isto pessoalmente na cara dela, se você tiver coragem — Ivair abriu um pequeno sorriso provocativo.

Neste momento as feições de Haimirich ficaram duras e alguns postes começaram a se retorcer, estourando as lâmpadas e deixando o ambiente mais escuro, embora houvesse lua no céu para ajudar a iluminar. Um deles se arrancou do solo e como uma marreta investiu para Ivair, que apesar de surpreso não se moveu e a estrutura recaiu sobre ele pesadamente, o esmagando com um som pesado.

Após a poeira baixar, Haimirich sorriu satisfeito — 'Tsk', coitado, um latino nunca teria nenhuma chance mesmo — e começou a caminhar de volta a praça.

— Interessante, é algum tipo de telecinese? — Uma voz familiar o chamou de volta.

Haimirich voltou seu olhar rapidamente para Ivair que estava sentado em cima de um muro iluminado por um poste que foi mantido inteiro, deixando o representante da Torre assombrado.

— Mas... Não é possível... Inate Time Control? — disse espantado.

— Não, nem me dei o trabalho de desviar — disse Ivair se virando para o local onde o poste supostamente o esmagou.

Algo saia debaixo dos escombros e do grande pedaço de metal estacado, uma massa que parecia ter uma estrutura entre o limiar de gelatinoso e fluído. Sua aparência era similar a água límpida, mas foi se tornando cinzenta, similar ao asfalto, a medida que foi saindo do solo e se reagrupando. Ao fim de se aglutinar deu forma a algo que lembrava Ivair sem muitos detalhes, como a falta do rosto por exemplo. O loiro percebeu no que estava se metendo e não gostou nem um pouco, mais postes foram arrancados e ele os atirou no Ivair sentado no muro e na cópia a sua frente, mas estranhamente nenhum dos dois desviou do impacto.

Novamente ele assistiu a massa saindo dos escombros e tomando a forma de um Ivair imperfeito de cor cinzenta, similar ao chão em que estavam. Não havia como fazer cópias tão perfeitas de uma pessoa, não uma usando um único material com tamanho leque de imitação, exceto...

— E-ether! — Um pequeno tremor era audível na voz do Archibald — mas isso é impossível, é similar...

— A primeira magia? — Surpreendeu-se novamente o “Torre” com um terceiro Ivair, porém imperfeito contando só com a boca, se aproximando pelas costas de Haimirich.

— Talvez, é apenas uma coisinha que nós magos do “terceiro mundo” preparamos — disse um quarto Ivair, também imperfeito.

O terror era visível em Haimirich, clones feitos com Ether era a última coisa que ele pensava enfrentar. No entanto, ele não desistiria tão fácil, manipular quatro cópias era demais para sustentar, bastava forçar que elas se desgastassem. As grades de uma casa se agitaram seguindo os gestos das mãos de Haimirich, retirando-se e se dividindo em duas, englobando duas das cópias e esmagando-as em uma explosão, similar a cimento sendo destroçado por uma marreta. Imediatamente as outras duas cópias investiram contra ele, mas foram surpreendidas por grades de bicicletas que as acertaram, destruindo suas formas. Aos poucos elas tentaram se recompor, mas o metal se retorcia as destruindo mais. Enfim pararam.

Casas da proximidade da praça, Primeiro Dia da Guerra 00:40

Assassin usava as casas e prédios de baixo gabarito para fugir a Lancer, que insistia em persegui-lo pelos telhados e terraços, investindo frequentemente contra o Hassan sem muito sucesso.

“Pelo visto o Espírito Heroico por trás do Lancer não é muito impressionante, a essa altura com o Saber já cogitaria usar Zabaniya como último recurso”. Decidiu então investir para terminar de uma vez e retornar ao seu mestre o quanto antes, mas o guerreiro apesar de rude conseguia se manter na defensiva.

— Lancer, estou estranhando sua falta de habilidade — zombou — eu já deveria estar recuado se fosse um legítimo representante das lanças, mas não é o caso — e avançou, desferindo um corte que passou próximo a garganta do oponente, que esquivou e revidou com uma estocada.

— Ocê não precisa se conter zabaneiro, vosmecê vai cair hoje! — Respondeu o negro avançando.

Assassin desviou o ataque e conseguiu causar um corte na perna esquerda de Lancer que começou a sangrar, o mesmo não se abalou nem um pouco, parecendo estar acostumado com feridas graves. O encapuzado tentou desferir um golpe final mas foi repelido com violência contra uma parede, não conseguia compreender mesmo assim como estava levando vantagem no combate próximo a um dos Três Cavaleiros.

— Você é insistente Lancer, mas não é digno do esforço de preservá-lo, por isso não perderei mais tempo com você — Assassin ergueu o braço direito e recitou — Zabaniya: Stasis Break!

O braço de Assassin então vibrou em uma aura amarelada e esticou se prolongando em direção a Lancer, o mesmo tentou perfurar a mão antes que a mesma chegasse a ele, mas a mesma transpassou a arma e tocou o tronco do guerreiro. Imediatamente o lanceiro parou de se mover, como se tivesse sido congelado, nem mesmo sua pupila dilatava.

Este era o seu Fantasma Nobre de Assassin, uma das diversas versões de Zabaniya, cuja propriedade era a de paralisar completamente o alvo em que fosse usada com um simples toque das mãos. A paralisia afetava inclusive os órgãos internos e qualquer atividade do corpo, causando morte instantânea.

— A classe Lancer não possui sorte mesmo — comentou Assassin enquanto Lancer desaparecia em uma fina poeira dourada após se tornar praticamente uma estátua.

O servo vencedor já pretendia retornar ao seu mestre, o plano de tomar Saber deveria continuar a todo custo, pois nem todos os participantes deveriam ser tão fracos. Torcia também para que Loren estivesse viva, apesar das circunstâncias dizerem que não, pois ainda havia o risco dele ser substituído por outro servo e, com certeza, ele não contribuiria com o próprio descarte.

Quando ele foi dar meia volta, um barulho em suas costas lhe chamou a atenção, foi apenas o tempo de desviar de uma lança que passou muito próxima a sua cabeça. Ele se pôs em posição de combate para seu possível atacante, quando espantado viu Lancer o encarando com feições duras. Mas não parecia ser bem o Lancer que ele acabou de enfrentar, apesar de trajar as mesmas vestes e a mesma arma.

— N-não é possível! Mas eu acabei de te matar! — Disse espantado — é algum de seus Fantasmas Nobres que te trouxe de volta em uma nova encarnação?

— Vosmecê matou sim, infelizmente não possuímos habilidade pra lutar com alguém treinado pra ser tão traiçoeiro — Assassin estranhou o uso do plural — mas será que ocê tem mana pra usar Zabaniya em todos nós? — Disse Lancer em um tom mais alto com um sorriso.

Auras avermelhadas apareceram ao seu lado, ao total de cinco, depois dez e por último vinte, materializando guerreiros de pele negra e igualmente vestidos. Alguns olhavam Assassin de forma jocosa e riam, outros com feições duras de raiva. Com toda certeza se tratava de um pequeno grupo de soldados distintos, então este era o Fantasma Nobre de Lancer, um pequeno grupo de homens que podiam lutar juntos ou individualmente? Seja como fosse, as coisas não estavam nada boas para a sombra do Velho da Montanha.

Adjacências ao parque da Zona Oeste

O loiro ficou contente, descobriu o ponto fraco da técnica de Ivair, bastava só encontrar o verdadeiro. Gritou para o espaço, apesar de quase ser abafado pelos sons altos que vinham da outra dupla, as coisas não pareciam estar menos intensas por lá.

— Impressionante, mas muito fraca ao mesmo tempo! — Provocou o loiro, mas um filete de suor escorreu pelo rosto, o gasto de mana estava elevado.

— Também acho que percebi sua “telecinese”, ao que parece afeta apenas metal — novamente a voz de Ivair se ouviu — por isso não cometerei o erro de permitir que o ether assuma a forma de metal. Te parabenizo por evitar o ataque, mas controlar quatro formas humanoides com link com minha mente é difícil, então sinto te informar que eram apenas chamarizes.

Continuou — se puder me pegar, estou bem aqui, mas você morre agora — o material similar ao cimento ressurgiu de um dos pontos que Haimirich destruiu, mas deixou esta forma e voltou a ser um líquido semitransparente, possivelmente água. Haimirich retorceu o poste, mas ela simplesmente passou como se fosse água por grades. Ele correu se distanciando e se voltou para Ivair, mesmo não sabendo que era o verdadeiro e usou a grade de bicicleta para atacar. Desta vez Ivair desviou se abaixando, enquanto a grade se chocou contra um muro, com toda certeza era o original!

Mas quando pensou em atacar novamente, algo envolveu o seu corpo rapidamente, a água o cobriu até o pescoço e converteu-se novamente em cimento, deixando-o como uma estátua. Ela não era tão rápida assim! Não havia como se libertar, suas mãos estavam imobilizadas completamente. Ele se debatia inutilmente, enquanto Ivair se aproximava a passos lentos.

— Já encontrei magos que me deram muito mais trabalho, você teria muito mais sucesso se tivesse um controle mais apurado do metal, mas de tão prepotente não escolhe nem o ambiente adequado. Se estivéssemos em um estacionamento por exemplo as coisas seriam muito piores para mim, mas um parque? — Disse o Blackwood com uma expressão de desagrado, mas retornando a ficar sério — enfim, a guerra termina para você aqui meu caro Archibald.

Haimirich sentiu a sombra da morte se aproximando, ele nunca achou que as coisas dariam tão erradas logo no primeiro momento. Ele não se arrependia, como um “mago da nobreza” ele devia encarar seus adversários valorosos de frente, mas perder para um qualquer? Uma partícula da substância cinzenta estava flutuando sobre a mão de Ivair e tomou a forma de seta, possivelmente ele seria executado com um disparo da mesma.

O loiro fechou os olhos, uma imagem inesperada surgiu em sua mente:

“Loren, sinto ter falhado com nosso objetivo”.

Apenas aguardava o seu fim, quando ouviu um disparo. Ao abrir os olhos, deparou-se com Ivair caído ao chão. Próximo a ele estava uma moça recoberta de arranhões e machucados, portando uma pistola.

— Francamente, se eu soubesse que teria de fazer tudo nunca teria entrado nesta — disse Loren sorridente.