Estrada para Nuevos Santos, 5 dias para o início da Guerra.

Aleksia olhava pela janela do táxi a paisagem um pouco desértica da estrada, ao seu lado estava Sir Percival curiosamente materializado. Ele trajava uma camisa de manga curta azul clara, uma bermuda castanho e calçava uma papete da mesma cor. O mesmo podia se dizer do jovem com a diferença da camisa cinza e a bermuda branca. Este parecia estar com calor embora o ar-condicionado do carro estivesse ligado, afinal do lado de fora devia fazer nada abaixo dos 40 graus pelo menos, já Saber olhava para a crescente cidade no seu campo de visão, imponentes prédios já eram vistos logo na recepção, indicando que uma densa selva de pedra se ergueu no deserto.

— Que calor! Acho que vou derreter antes disso tudo acabar — disse Aleksia.

— Vocês se acostumam! — Disse o taxista — sabe, aqui é como Las Vegas que foi erguida no meio do deserto, mas o hotel que vocês vão ficar tem boa refrigeração.

— Assim espero! — Comentou Aleksia com a pele rosada.

“Não poderia usar um encantamento para diminuir o calor, Mestre?”, perguntou mentalmente o cavaleiro.

“Você sabe que não Saber, vai levantar a nossa proteção contra espionagem comum”.

Como isto funciona? — Colocando o colar no pescoço que continha uma pequena pedra. Aleksia colocava o seu que continhas mais delas.

— Esses colares contém pequenas pedras rúnicas para afastar ou camuflar contra magias prejudiciais, forjei esta daqui — apontando para a de Saber — especialmente para que não possamos ser detectados por outros mestres, desde que você não use nenhum Fantasma Nobre ou entre em forma de espírito e que eu não use alguma forma de magia. Claro que se um de nossos adversários tiver alguma habilidade de Detecção ou para o Assassin, isto não será útil.

O cavaleiro observava que cada uma das pedras possuía um círculo formado por palavras rúnicas, talhadas quase que cirurgicamente num espaço tão pequeno e continham um símbolo atribuído a sua função.

Muito engenhoso mesmo assim meu Senhor! Entrar despercebido é o melhor meio para conhecer o campo de batalha.

É o mínimo que posso fazer para nos preparar para o território desconhecido, pelo menos para o período de reconhecimento, você não precisa das outras pedras já que tem resistência mágica rank B.

Já no quarto do hotel da ala oeste da cidade, distrito 3, que era mais simples porém com boa vista para o centro comercial, Aleksia olha pela janela a grande cidade perto do anoitecer, realmente era grandiosa com seus cassinos, boates e casas de show, tudo muito iluminado por letreiros chamativos. Mas algo lhe preocupava e Saber que analisava o mapa da cidade percebeu.

— Algo lhe inquieta meu senhor?

— Você percebeu a barreira na qual passamos ao vir para cá?

— Notei, provavelmente é a mesma que afastava Mestres e Servos da cidade.

— Correto, mas ela não deveria estar mais lá e está incomodamente densa na minha opinião — disse o jovem tocando o vidro da janela.

— Qual a sua opinião então?

— Que ela não é só uma barreira, é uma gaiola, assim que o prazo terminar ela vai se fechar nos prendendo aqui, até pelo menos o fim do conflito — disse Aleksia de forma sombria.

— Não me importo com isso, nós não fugiremos a batalha, que venham todos que se opõe a nossa busca ao Graal! — Erguendo o mapa enrolado como se fosse uma espada.

O rapaz riu da pose heroica de seu servo, ao menos ele conseguia encarar tudo aquilo com otimismo e determinação, como todo cavaleiro do velho código.

Hospital St. Lazarus , 2 dias e 13h para o prazo final.

Alguém batia na cabeça de Allan com algo pesado enquanto ele dormia profundamente, forçando-o a acordar para se proteger dos golpes. Seus olhos demoraram a focalizar o lugar branco e a figura do velho Clauss com uma muleta em sua direção. Ele estava vestido com uma roupa de hospital, assim como o próprio rapaz e o senhor tinha um curativo na cabeça.

— Hora de acordar dorminhoco! Os médicos falaram que você está bem, só estava sob efeito de alguma droga — disse o velho risonho.

As imagens voltaram todas à cabeça de Allan que saltou da cama — Tio, como você está? Você está bem?? — Se exaltando para ver como estava a cabeça do tio mais de perto.

— Silêncio! Quer chamar atenção de todo o hospital? Eu estou bem, olha — apontando para um grande curativo branco — fora a dor de cabeça, eles só conseguiram alguns pontos. A morte terá de caprichar mais na quantidade de bandidos para levar este velho rambo aqui!

O rapaz sentou na cama aliviado e começou a rir da gracinha do velho, mas voltou a ficar sério quando olhou para a palma de sua mão se recordando de outro detalhe importante.

— Espera, eu lembro de ter convocado um servo! Onde ele está?

O velho fez um “shiu” com o dedo e falou bem baixo, quase como um sussurro entre os dentes.

— Ele disse que precisava visitar um lugar aqui perto e que era para você chamá-lo quando acordasse!

— Que lugar?

— Ele não me disse, agora me diga: Que raio de servo é aquele que você arrumou? — Perguntou o velho com uma expressão de indignação.

Allan pensou mais sobre a noite passada, recordando a figura que apareceu.

— Ele me disse que era um Rider antes deu desmaiar, mas eu perdi as rédeas de Hipólito e não sei como consegui convocar um servo sem um catalisador... — Allan respondeu pensativo — foi ele quem nos trouxe aqui?

— Não exatamente, ele preferiu nos deixar para que a emergência nos levasse, quando acordei ele falou comigo. A polícia já esteve aqui também para falar do incêndio e eu acusei três ladrões, eles tentaram roubar as estatuas e outros objetos sacros que tinham séculos de história. Foi então que você interveio e eles quiseram nos matar queimados, mas morreram no nosso lugar carbonizados.

O padre lembrou mais uma vez que sua igreja queimou quase que por inteira, entristecendo. Allan abraçou seu tio como ato de consolo

— Calma tio, vamos recuperar sua igreja...

— Foi uma perda dura... Mas eu não posso me apegar a coisas materiais, o importante é que estamos ambos vivos e saudáveis.

Os dois ficaram um tempo em silêncio, até que o rapaz percebeu uma falha na informação do senhor.

— Espera, três? E os outros dois? — Perguntou assustado o jovem.

— Que outros dois?

— Os que me pegaram lá fora quando eu estava levando o senhor pras abelhas, eles usaram um tranquilizante e quando iriamos lutar, o meu servo apareceu...

— Isso ele não me disse — respondeu o velho.

— Será que devo chamá-lo agora? — Sua dúvida foi respondida com a enfermeira entrando no quarto. Ela vestia o uniforme branco padrão e tinha os cabelos negros presos em um coque, era também um pouco gordinha.

— Graças a Deus vejo que os dois já estão de pé! Mas o senhor deveria estar deitado padre Clauss, foi uma pancada forte na cabeça! — Disse a enfermeira conduzindo o padre até a cama.

— Eu já estou bem minha filha, quando vou poder sair daqui Abgail? — Ela era uma velha devota de sua igreja.

— E eu? — Disse Allan.

— Só quando o médico liberar padre, levamos um susto e tanto com aquela tentativa de roubo, como são ousados esses bandidos! — Se virando para o rapaz — Você meu jovem corajoso, vai poder ir hoje mesmo, o médico só dará uma olhada mas você está muito bem — disse pomposamente — obrigado por ser tão valente e salvar nosso querido padre!

Allan ficou sem jeito quando ela veio beijar sua bochecha.

— É um desastre que tenhamos perdido a nossa amada igreja, justo agora que conseguimos finalizar as reformas que lutamos anos! — Disse a enfermeira indo abraçar o velho.

— Todos nós sentimos Abgail Mas Jesus não precisava de um teto para professar suas palavras, não é? — disse durante o abraço — minha filha, que horas são, por favor? — Perguntou o idoso.

— São 11h, daqui meia hora serviremos o almoço.

— Pode nos deixar a sós até lá? Gostaria de fazer uma oração especial com meu sobrinho-neto antes de comer, agradecendo nosso senhor pelo milagre concedido — disse o padre com uma cara triste — você poderia garantir que não sejamos incomodados?

— Mas é claro padre! Chamem se precisar — disse se retirando com pressa.

O padre levantou e foi até a porta, colocando o ouvido para checar o exterior, trancando-a em seguida.

— Pode chamá-lo agora — disse para o neto mudando o aspecto. Allan achava engraçado como o tio agia de forma engraçada, como se fosse um agente secreto.

— Certo... — Allan respirou fundo ficando sério.

“Rider? Você está aí?”, não sabia exatamente se era assim que a comunicação servo-mestre funcionava.

O servo apareceu em meio ao quarto, usava as mesmas vestes incomuns da noite passada. Mas desta vez ele retirou o capacete, revelando os cabelos negros curtos e olhos azuis. Seu rosto era de uma pele branca e não aparentava ter mais de dezesseis ou dezessete anos, ele olhava de uma forma neutra para seu mestre, como se o analisasse por completo.

Nuevos Santos, Jardins da Mansão Santiago, 1 dia e 15 h para o início do conflito

Antônio se dirigia até o centro do jardim da mansão, era um dos lugares mais bem cuidados de toda mansão, já que o intenso calor exigia um cuidado extra principalmente com espécies exóticas. Muito bem arborizado, abrigava algumas espécies animais que foram trazidas especialmente para completar o cenário de paraíso. Ele estava muito irritado com seu pai que insistia que ele devia ser mais perspicaz com sua Serva, por ter notado o seu olhar um pouco embasbacado para Circe.

— Pai, isso não é perigoso para a Caster?

— É claro que não! Você sabe que as habilidades dela são ideais para isso, ela só precisará de tempo para se adaptar ao sistema diferente de magia antiga maia.

— Mas mesmo assim eu me preocupo — disse coçando a cabeça — e se for demais pra ela?

— Ela é uma poderosa feiticeira do tempo dos deuses, é claro que não é demais! — Ele começou a olhar de maneira desconfiada para o filho — por acaso você não está começando a ficar balançado pela bruxa, não é? Preciso lembrá-lo que ela enganava marinheiros e os transformava em animais?

— Claro que não! Sei muito bem quem ela é, não precisa me lembrar a todo momento. Só me preocupo, afinal ter um servo é essencial para chegar ao final do conflito!

— Pois espero mesmo que saiba, não vou deixar você colocar tudo a perder depois de 20 anos de trabalho!

Ele caminhava com raiva pela grama quando encontra Caster com alguns pássaros. Ela parecia conversar com alguns deles, até que se assusta quando percebe sua presença e as aves saem voando.

— Mestre! N-Não sabia que estava aí... Perdão por não estar em forma de espírito — se erguendo nervosa.

— Não, tudo bem Caster, falta pouco tempo mesmo até que a Guerra comece — fazendo um gesto para que ela se sentasse.

— Tudo bem mesmo? É que seu pai foi muito claro em suas ordens.

— Seu Mestre sou eu, se eu digo que está tudo bem é porque está! — Disse um pouco exasperado, a dama baixou a cabeça. Pra contornar o clima ruim, ele resolveu mudar de assunto.

— Vejo que você gosta mesmo de animais.

— Sim, o senhor deve saber que em meu palácio haviam muitos deles além de outros animais, são ótimas companhias — disse sorrindo.

— Imagino...— Disse retribuindo o sorriso e olhando para o horizonte, mesmo assim voltou ao semblante preocupado.

— Mestre, algo o incomoda? — Perguntou a maga preocupada.

— Caster... Posso lhe fazer uma pergunta?

— Claro Mestre, o que deseja saber?

— É verdade que você transformava os visitantes de sua ilha em animais? — Perguntou, ela baixou a cabeça e ficou vermelha.

— Só os que mereciam... Pelo menos no começo... — Envolveu os braços em si mesma, como um abraço e olhava para o chão — à minha ilha sempre vieram mal feitores que desembarcavam apenas pra se aproveitar e abusar de minha hospitalidade. Sabe... — Disse olhando em seus olhos um pouco séria — no passado os marinheiros e os vários pseudo-heróis não eram muito íntegros como proclamava, viravam feras depois de tanto tempo em alto-mar e queriam extravasar suas frustrações nos que eram indefesos. Muitas mulheres de camponeses dos arquipélagos sofriam com a devassidão dos homens do mar e eu como conhecedora das artes místicas podia me defender, mas só o que a história conta é o que interessava aos homens. Eu os transformava pois como animais eles encontravam a paz para os seus corações conturbados, aplacando a fúria bestial que assombrava suas almas. Mas eu saí de controle...

Caster desviou o olhar novamente, Antônio percebia sua tristeza por relembrar um passado tão duro.

Ela continuou — então eu passei a atacar qualquer um que chegasse a ilha, até que meus caminhos cruzaram o de Ulisses, um herói que resistiu a mim e me fez recobrar a sanidade quase que por força... Arrependo-me dos meus atos, mas não posso fazer nada para mudar a imagem de vilã — se levantou — caso não se oponha, vou voltar a forma de espírito, até logo mestre — e desapareceu.

— Não espera, Caster! — Mas era tarde — droga, por que tenho que ser tão idiota — batendo no banco.

Nuevos Santos, Distrito 6 em uma casa de classe média, 2 dias e 6h para o início da Guerra

— O que faz aqui Loren?? — Disse Haimirich surpreso por ver sua esposa no hall de entrada.

— O que acha que vim fazer aqui Haimirich? Turismo? — Com a mão na cintura — bem que gostaria, mas eu estou aqui para garantir que nosso pequeno “negócio” dê certo.

— Mas eu disse que não queria você envolvida nisso! Pode ser perigoso!

— Um homem da equipe mandada para os Estados Unidos entrou em contato ontem, o alvo conseguiu fugir.

— Merda! — O rapaz bateu no batente da escada — eu preciso urgentemente de um novo servo, principalmente pelo que Assassin vem captando desta cidade...

— Haimirich, adoraria ouvir mais sobre seus reportes, mas minhas coisas não vão subir sozinhas — indicando as várias malas e equipamentos.

— Você não está pensando que eu vou carregar isso tudo lá pra cima não é? E onde estão seus homens? — Perguntou o rapaz tentando evadir.

— Não pude trazer mais, os outros estão no oriente médio, só tenho o que já estava aqui sondando o local. Se seu servo estiver por perto ordene que ele o faça, pois eu estou muito cansada — se espreguiçando e subindo a escada para o segundo andar.

Extremamente irritado e resmungando, Haimirich começou a juntar as coisas. Assassin ainda estava vasculhando a cidade, não poderia pedir para que ele saísse do foco da missão para esta tarefa enfadonha, pegou as malas mais pesadas e começou a subir para o andar dos quartos. Nessa hora lamentava não poder ter ido para um hotel de luxo, mas era imprescindível manter a discrição, já que notou assim que chegou que a cidade era um tanto quanto suspeita. Pressentindo o perigo ele teve de engolir um pouco de seus brios em favor da segurança e preferiu uma indicação mais modesta, onde o agente de Loren estava instalado. Após finalizado ele se reuniu a Loren que estava sentada girando a cadeira.

— Pronto terminei — se apoiando nos joelhos, cansado — mais alguma coisa, “madame”? — Disse com ironia.

— Queria uma água, mas deixa que eu pego depois, primeiro as novidades — disse colocando os pés na mesa.

Nesse momento Assassin se materializa, a fazendo cair para trás com o susto. Haimirich riu, mas parou assim que viu seu olhar de raiva e foi ajudá-la a se recompor.

— Perfeito, ninguém melhor que ele para informar — Disse o Mestre apoiando a moça para levantar — Assassin, diga a Loren o status da missão.

O servo então se virou para a moça — Consegui identificar os Mestres, mas seus Servos estão muito bem ocultos para qualquer tentativa de identificar pelo menos suas classes. Um dos Mestres está usando algum artifício que oculta sua presença e a do servo, talvez até o senhor não pudesse notá-los se passassem ao mesmo lado. Mas estou preocupado com os três que estão reunidos na mansão Santiago, ao que tudo indica estão com uma aliança.

— Eu conclui que devem ser as três famílias: Santiago, Hostein e Ó Riagáin... — Disse Haimirich reiterando — eu já presumia que estariam juntos, alguma pista de suas capacidades?

— Um dos Mestres é filho de Henrique, o milionário, enquanto os outros dois são um indígena e uma garota loira — o servo fez uma pausa — De habilidades só pude verificar por conversas dos funcionários da segurança que estavam muito irritados, principalmente com a garota que ao que parece, causou muita destruição quando chegou.

— Não é de se esperar que estejam mantendo os servos ocultos, prevendo que você aproveitaria a semana pra espionar... — Observou Loren, que não estava mais tão inibida com Assassin quanto no começo, embora ainda tivesse certo receio dele.

Ela então se recordou dos outros — Assassin e quanto aos outros dois aleatórios? Alguma pista do desconhecido e o do Estados Unidos que chegará provavelmente em cima da hora?

— Não, não tenho nenhuma pista dos dois, é como se não tivessem chegado ainda.

— Bom, acho que com isso um deles pode ter desistido e o outro ainda vai chegar — disse a moça concluindo.

— Continue vasculhando, principalmente nos terminais de acesso à cidade, pode ir — disse o jovem Mestre, que o servo respondeu com uma pequena reverencia.

— Bom trabalho, Assassin — disse a moça, antes que ele desaparecesse.

O servo antes de sumir fez um pequeno aceno com a cabeça antes de sumir completamente.

— Você deveria se interessar mais pelo seu servo, interagir mais com ele, mesmo que não tenha sido o que desejava — disse Loren.

— E o que há pra saber? — Respondeu Haimirich cruzando os braços — é Hassan-i-Sabbah, apenas mais um que assumiu a posição do velho da montanha.

— Mesmo assim, demonstrar um pouco de reconhecimento é o mínimo para uma boa liderança.

Haimirich deu de ombros, mas logo sua mente se voltou para algo que ele retardara por certo tempo, apesar de todo o seu impeto, não era fácil de tratar. Talvez fosse bom Loren estar lá, alguém para raciocinar junto a ele.

— Falta pouco para começar... Na sua opinião qual destes alvos é o mais vulnerável? — Perguntou o rapaz.

A moça mordeu o lábio inferior e juntou as mãos para apoiar o queixo, pensativa.

— O rapaz destacado me parece a presa mais fácil por enquanto, mas porque agir tão cedo assim?

— Porque não desisti da ideia de um novo servo, Assassin é perfeito para reconhecimento, aposto que temos mais vantagem em informação do que os outros, mas com três participantes aliando-se as coisas mudam de figura. Não há como atacar seguramente um dos três.

— Não seria melhor se aliar também a outro Mestre? — Disse Loren se inclinando para trás.

— Naturalmente eu deveria ir ao "Estray", mas não é mais uma opção, então não confiarei em nenhum outro mago qualquer. Roubaremos o servo de um dos três "avulsos" antes que eles possam ter contato entre si.

Quarto da Mansão Santiago, 3 dias e 3 h

Um garoto ruivo entrava em um alçapão um pouco apertado no chão, quanto uma mulher que o guiava tocou sua cabeça.

— Filho, fique aí embaixo e não faça nenhum barulho! Eles não podem saber que você está aqui! — Disse a mulher com urgência.

— Mãe entra aqui também! Você não pode ficar aí fora!! — disse o garoto choroso.

— Não tem espaço querido — dando um beijo em sua testa e fechando a tampa — faça o que fizer, permaneça quieto e com os olhos e ouvido fechados — ela tinha lágrimas nos olhos, mas em poucos segundos houve um barulho na porta e a mesma foi arrancada das dobradiças e trancas.

O garoto desobedeceu a mãe e acabou assistindo pelas frestas da tampa, um homem jogar sua mãe no chão, sob os gritos de "TEM MAIS ALGUÉM AQUI??" e logo depois na insistência dela de negar e com pedidos de clemencia, houve um barulho de lâmina se chocando contra algo macio. A criança testemunhou a tudo apenas com a boca fechada pelas mãos em choque, logo depois que tudo acabou, ele saiu de seu esconderijo vagarosamente vendo toda a destruição em sua casa e o corpo de sua mãe cuja cabeça foi separada do corpo. Um sentimento de ódio avassalador cresceu dentro do seu peito.

As imagens mudaram com uma névoa, mas o sentimento de ódio era o mesmo, mas agora o menino estava sob a forma de um homem que intimidaria até a um urso de tão grande e intimidador, girando um machado enorme sob o som de gritos de homens que cruzavam o seu caminho. Este caminho que era o das batalhas e guerras e os sons de desespero vinham dos inimigos enfileirados, que inconscientemente esperavam pela morte.

Mais uma batalha acontecia e o gigante saíra vitorioso de novo com inúmeros méritos pelas baixas do inimigo, em trunfo especial estava o comandante inimigo que bateu em retirada humilhado. Quando retornava para o acampamento para comemorar, especialmente junto ao seu irmão que era Rei e mentor da batalha, o homem só encontrou destruição. Ele largou sua pesada arma no chão e correu desesperado, mas ao chegar à tenda do seu irmão, só encontrou o corpo sem vida. Porém para o seu completo desespero, igualmente no passado, a cabeça estava separada do corpo.

— Brodir... NÃO!! — O homem urrou de dor e a velha chama do ódio, temporariamente saciada pela ultima batalha, reascendeu mais forte do que nunca em seu coração. Ele correu em direção ao acampamento do inimigo, não pediu reforço nenhum, mas os homens remanescentes o seguiram. Como um tornado ele varreu todas as defesas que se opuseram a sua passagem, até chegar ao comandante inimigo.

Não podia se chamar isso de confronto final, pois o comandante adversário fora derrubado facilmente, mas não deixado para morrer com facilidade. Horas de tortura se seguiram, até que o horrível fim se deu ao infeliz adversário. Com seu crânio foi feita uma taça, que o próprio guerreiro usava para beber vinho.

Todavia, jamais foi aplacada a tristeza do coração do gigante, mesmo com a vingança contra o responsável pela morte de seu irmão ou pelos anos de combate contra o povo algoz de sua mãe.

Jamais...

Arya despertou soluçando do seu terrível sonho, lágrimas corriam sem parar do seus olhos e um sentimento de revolta ainda estava em seu peito. Mas isso foi diminuindo aos poucos e ela compreendeu o que acabou de acontecer.

"Berserker... Você nunca encontrou a paz?", mais uma lágrima correu dos seus olhos. Ela foi se acalmando mais, não imaginava que uma das partes de ter um insano como Servo envolvia compartilhar todo o seu sofrimento que levou a loucura, se bem que isto podia valer para todos os outros seis mestres.

Ela resolveu então caminhar para se distrair um pouco pela casa que já estava silenciosa, para quem sabe recobrar o sono. Quando que olhando para a entrada do térreo, notou Ivair sentado na varanda. Ele parecia observar alguma coisa, curiosa então se aproximou por trás dele vagarosamente, para que o rapaz não percebesse. Pode ver rapidamente um pingente relicário, que ele fechou imediatamente ao detectar sua presença.

— Quer alguma coisa Arya? — Perguntou o indígena de costas.

— Não nada, só estou um pouco sem sono — respondeu se aproximando — posso me sentar aqui? — Indicando uma cadeira ao lado.

O rapaz deu de ombros.

— Era uma foto dela não é?

— … — ele não esboçou reação.

— Não precisa me dizer, eu estou aqui a menos de uma semana e a cada dia que se aproxima da Guerra também fico um pouco nervosa, pensando sobre meus pais...

Ele a observou curioso — Por que está me dizendo isso? Não era você que não temia os outros adversários?

— E não temo, estou mais preocupada com meus "aliados" mesmo... Mas percebi que você é um pouco diferente dos outros dois lá — referindo-se aos Santiago com um aceno da cabeça — o velho não me engana com aquele discurso de embaixador da ONU e o filho é uma marionete — suspirou em uma pausa — você por outro lado parece ter outra motivação, não é?

Ivair demorou um pouco a responder e abriu o relicário de novo.

— O pai dela me prometeu que se eu cumprisse minha parte, ele permitiria que eu me casasse com ela — respondeu com pesar e logo depois raiva — a família dele está na pior desde que a crise financeira européia começou e resolveu usar a filha como penhor.

— É um pedido que me soa tirânico — opinou Arya torcendo os lábios — ele é quem? O dragão da donzela?

— Está mais pra boitatá, aquela cobra velha — riu descontraindo, Arya conhecia esta lenda, riu depois de alguns segundos.

— Posso ver a foto da sua garota, a Melany? — Disse se recordando do nome dela, o rapaz então lhe passou o relicário. Era uma foto pequena, mas era de uma moça de cabelos castanhos encaracolados e olhos verdes, no outro lado tinha uma foto dos dois juntos, ela realmente tinha um belo sorriso — Uou! Ela é bonita mesmo, ein? Agora sei porque você está aqui...

— Bom, não é só pela aparência, ela é muito educada e tímida, a conheci em 2008 quando fazia uma missão, como aprendiz de meu mestre, em nome dos Holtein — olhando para a garota — e você, o que faz aqui?

— Como disse ao ricasso, foi meu avô quem me pediu para vir, minha família não anda muito bem das pernas e ele temia não poder cumprir sua parte no “projeto”, então me chamaram na Rússia, onde estava de férias. Sabe... Ele não tinha mais muito tempo de vida.

— Não entendi, como assim?

— Ele morreu assim que me entregou os selos — disse se levantando e espreguiçando — sabe de uma coisa? O sono voltou, vou dormir. Boa noite — e se virou para a porta rapidamente.

— Boa noite... — Respondeu o rapaz olhando para ela.

Porém a garota se deteve no portal — Ivair... Posso te pedir uma coisa?

— Talvez, o que é?

— Tente ficar longe da Caster, pode ser? Sinto que ela é mais perigosa do que parece.

— Alguma razão pra essa desconfiança?

— Não, é que eu não gosto de mulheres bobinhas, me soa... Falso.

Ivair refletiu as palavras da menina e comentou — Sim eu senti uma coisa estranha ao olhar para ela, talvez uma de suas habilidades, mas sou um ótimo mago e muito familiarizado com o conto da Iara para cair de amores tão facilmente.

— Conto de quem??

— Sereias brasileiras...

Eles riram e Arya foi se deitar.