Fastio

Aquele que se proclama o Rei


Hao não esboça nenhuma reação que não pareça o conformismo de quem já viveu demais. De quem se entrega à tristeza e à melancolia.

Talvez ele sinta isso tudo.

— Diga onde meu irmão está e eu irei com você.
— Primeiro eu quero ter certeza de que não tentará nada. Mande embora o Grande Espírito. Ou nunca mais verá seu irmão ou essa criança.

Yoh está vivo. Será que Hao sempre soube disso? Ou ao menos ele sabe que seu espírito permanece inteiro em algum lugar. Sua inteira metade.

Sinto quando o poder o Grande Espírito se vai. O corpo de Hao parece frágil e fraco como uma mortalha sem ele. Sem nenhuma proteção.

Mal tenho tempo para pensar quando o espírito maligno se apossa de Hao. Men cai desmaiado no chão. Olho-o de canto. Ele parece bem.

— Hao? - chamo baixinho. Uma gargalhada esganiçada ecoa de seus lábios.
— AGORA EU SOU O REI! EU GOVERNAREI O MUNDO! - exclama. - Mas antes…

Ele pega uma navalha afiada dos pertences de Men e a passa lentamente pelo braço de Hao até abrir um talho sangrento. Sinto um arrepio, o ímpeto de reagir, mas me seguro. Não até saber onde Yoh está.