Fastio
A culpa que o consome
Estou equilibrando uma bandeja com chá à porta do quarto quando escuto a voz de Hao pleitear:
— Como pôde trair ela, otouto?! – Há raiva em seu tom e o calor que sai pela fresta da porta entreaberta é o prólogo para um desastre.
— Eu não planejei isso. Nunca quis magoá-la. – Estou prestes a intervir na discussão, quando Hao prossegue:
— Mas magoou. E abandonou o seu filho. Tudo porque achou que o mundo precisava mais de você. Que aquelas pessoas precisavam mais. Eu sou o maldito Shaman King. Não você.
Hao respira fundo e a temperatura no quarto cai.
— Gomene, nii-chan. – Yoh parece um cachorro abandonado e ferido. – Sei que está sobrecarregado. Sei que sozinho é difícil.
— Isso está em você, Yoh. Essa culpa. – Hao aponta para ele. – Escolheu abandoná-la e sua família por uma paixão qualquer. Por um mundo que não pode ser salvo. Os humanos o condenaram.
— Para tudo há um jeito. – Yoh sorri. — Cuide bem dela, nii-chan.
Engulo em seco, sentindo as mãos trêmulas quando Yoh ergue os olhos em minha direção, cheios de lágrimas e culpa.
“Eu sinto muito.”
Aquela memória me atravessa como uma espada. Eu não entro no quarto
com o chá.
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