Acordei com a forte intensidade da luz em minha face. O sol da manhã me alertava que era a hora de levantar. Apesar disso, um frio inoportuno me prendia à cama. Levantei desorientado, enrolado em minha fina coberta. Fui direto para o banheiro, onde tomei um rápido banho n'água gelada. De volta ao meu quarto, tomei meu café da manhã extremamente simples. Esta era a minha casa. Um quarto e um banheiro apertado deixados para mim por meus pais que haviam morrido por este país, ao menos pelo que fiquei sabendo.

Terminei minha demorada despedida da casa, peguei minha mochila com um conjunto de roupas, toalha, escova de dentes e uma fotografia dos meus pais ainda jovens. Calçei meus sapatos e sai. Ainda dei uma última olhada rápida para a casa enquanto a trancava e rumei meu caminho. Pude ouvir alguns cochichos e comentários indiscretos vindo dos habitantes da vila. "Vai tarde"; "Não era sem tempo"; "Filho daqueles loucos"; "Ele representava tudo que há de corrupto" desse nível em diante.

Meus pais podem não terem sido as melhores pessoas para se conviver, tão pouco bons pais, mas ainda sim morreram pelo país e eu, o que mais deveria odiá-los, não consigo entender o motivo das pessoa os odiarem tanto, nem de me odiarem. Parti da vila com absoluta certeza do que estava fazendo. Hoje, eu vou me alistar, tentarei com todas as minhas forças passar nesse exame organizado pelo reino.

Meu local de destino, O Campo dos Aprendizes de Midgard, não era tão distante da minha vila. Era algo em torno das dez horas quando eu cheguei. A sala de espera estava lotada, deveria ter cerca de duzentas pessoas ali. Garotos e garotas entre seus doze a dezoito anos de idade. Muitos deles se destacavam pelos variados cortes e cores de cabelo, mas todos eles tinham o mesmo olhar. Estavam todos empolgados e ansiosos.

O recrutamento para aprendiz é uma etapa obrigatória para todos aqueles que querem lutar pelo país e se tornar aventureiros. Apesar disso, esse recrutamento só acontece uma vez ao ano, com variações de época. E, como muitos dizem, existe uma enorme taxa de reprovação. Quando um grande relógio de parede marcou 10:30, um instrutor entrou na sala, sério. Ele nos informou dos inúmeros riscos da vida de aventureiro e do teste em si, além também, das vantagens. Ninguém, apesar dos contras, desistiu, aqueles olhares não eram brincadeira, todos estavam dispostos a fazer o necessário para conseguir o que quer que quisessem. Depois disso, um a um, fomos chamados.

"Salém Hexenwald!" fui um dos últimos candidatos a ser chamado. Passei por um corredor estreito até uma sala pequena onde eles me prepararam para o teste. Pegaram minhas vestes e trocaram por trajes de aprendiz, um eu vesti e o outro guardei em uma espécie de bolsa mágica que servia para guardar os itens sem necessidade de muito espaço ou força física para carregá-los. Por fim, foi me dado uma Moeda Estelar de Ouro que servia para guardar toda quantia de dinheiro ganha em nossas missões como aventureiro ou de qualquer outra forma.

Assim que prendi meus longos cabelos negros em um rabo de cavalo, segui para a próxima sala, um cúbiculo um pouco maior do que onde eu estava, com um arsenal completo de adagas em diferentes tamanhos. Nesta sala, empunhei algumas até que o instrutor gostasse da sinergia entre o tamanho e peso da adaga comigo. Acabei por ficar com uma pequena porém pesada. Por fim, prossegui para um enorme campo a céu aberto, onde ocorreriam as avaliações.

Me juntei aos outros participantes e aguardamos os últimos candidatos chegarem portando seus trajes e adagas de aprendiz. Só então, um outro instrutor, muito mais amigável, apareceu e nos deu dicas de combate, também nos orientou com algumas táticas úteis para derrotar os monstros que habitavam o campo, entregou-nos por fim um guia para iniciantes.

Em suma, os monstros eram:

*Fabres A, espécie de lagarta verde claro de pêlos que mais pareciam espinhos compridos e finos;

*Pupa, Casúlos resistentes derivados dos fabres;

*Creamy, borboletas evoluídas das pupas de fabres;

*Poring, um monstro gelatinoso cor-de-rosa que gosta de engolir os itens que estão pelo chão;

*Drops, um monstro parecido com o Poring, porém de coloração alaranjada;

*Picky, uma espécie de pintinho que ainda tinha a casca do ovo como um capacete;

*Condor, aves magras e de pescoço com pele caída;

*Lunáticos, um coelho de tamanho pequeno com longos pêlos brancos dando-lhe uma aparência esférica;

*Salgueiro, Criatura em forma de um tronco seco, como um ente.

De todos eles, somente os Fabres A eram agressivos, porém, eram os mais fracos do campo. Assim que terminado de entregar os guias, fomos liberados. Cada um correu em cima de algum Instrutor de Campo presente para conseguirem suas missões. Caminhei lentamente até um paladino tranquilo que assobiava sentado ao lado da porta por onde vim, perto de uma macieira.

"Com licença" - iniciei a conversa - "O que devo fazer?". Ele me mandou matar um poring que passava ali perto. Infelizmente, foi algo complicado. Primeiramente, o bicho era pequeno e baixo demais até para mim. Segundo, eu não tinha experiência em combate e nem sabia manusear a pesada adaga direito. Terceiro, um motivo particular, eu tinha uma péssima coordenação motora.

Quando, por fim, o acertei, ele ficou furioso. Saltou em minha direção e me acertou uma cabeçada no ombro. Cambaleei para o lado oposto e assim que me virei, ele já vinha agitado em minha direção para mais um golpe. Apressado, coloquei a adaga entre nós para me defender. Para a minha sorte, ele veio com tudo em direção na minha adaga que o perfurou. Instantaneamente, ele explodiu, alguns itens caíram no chão e outros Porings já vinham para engolí-los. Catei-os rápido e guardei na bolsa, voltei para falar com o paladino e ele trocou minha adaga por um punhal, muito mais afiado e leve.

Segui caminho até um homem que estava para a direita. Ignorei completamente sua aparência suspeita escondido embaixo de uma capa escura e que parecia ser evitado por todos os outros que tinham bom senso. Eu, porém, não tinha. "Bom dia, senhor". Ele, por outro lado, apenas revirou os olhos e me entregou um pequeno pergaminho contendo algumas informações. Minha missão era para coletar 1 Trevo de Quatro Folhas que poderiam ser obtidos derrotando lunáticos.

Enquanto eu seguia minha busca pelos lunáticos, encontrei um garoto alto lutando contra um Salgueiro e, infelizmente, perdendo. O monstro avançou sobre ele e deferiu um soco de esquerda, arremessando o garroto a cerca de 1 metro para o lado. Corri na direção do Salgueiro e finquei o punhal em suas costas. Em cólera, ele me bateu com seu cotovelo de madeira e me derrubou. Virou-se logo em seguida e se preparou para me golpear outra vez. Em milésemos de segundo, pensei que este seria meu fim. Mas, era a vez do garoto retribuir o favor. Com um último golpe, a criatura explodiu, alguns de seus itens caíram em cima de mim.

O mais alto extendeu a mão para mim, um sorriso amigável que combinava perfeitamente com seus olhos verdes. "Obrigado pela ajuda" - disse me ajudando a levantar. "Igualmente". "Meu come é Cédric Dupont, o que acha de formar um grupo comigo?" - ele ainda mantinha aquele sorriso no rosto que inspirava certa confiança. Acabei por concordar. Assenti que sim com um gesto de cabeça e, no mesmo instante, um bracelete apareceu em meu pulso magicamente. Havia algo escrito nele {Cédric's Party}, era o nome do nosso grupo, dado pelo líder, no caso, o Cédric. Eu havia visto no guia para aprendizes que ganhei.

–Fale perto do bracelete e, não importa a distância, quem for do nosso grupo poderá ouvir - Ele murmurou baixinho ao pulso, porém escutei nitidamente.

–Tudo bem, farei isso. - Repeti seu movimento.

"Realmente agradeço a sua ajuda, a essa hora eu poderia estar morto ou desclassificado. Posso saber seu nome?" - Cédric ainda usava a adaga inicial. "Salém Hexenwald" - respondi incerto - "Acho que você não deveria lutar contra um Salgueiro tão cedo" - prossegui - "Ah, e fale com aquele paladino sentado próximo a porta, em uma missão bem simples, ele te dará um punhal bem mais afiado e útil que essa adaga". Nos despedimos brevemente e ele, seguindo meu conselho, foi falar com o paladino. Prossegui até um campo próximo de algumas árvores e encontrei vários Lunáticos. Derrotei-os facilmente em 3 golpes cada após um pouco de prática, porém, consegui vários outros itens antes do Trevo de Quatro Folhas.

Voltei até aonde o senhor encapuzado estava e, para minha frustração, ele não estava lá. Olhei por alto procurando-o mas ele não estava em canto algum. Desanimado, olhei para o céu, algo passou voando rápido demais para que eu conseguisse identificar o que era, vi outra coisa que me foi bem mais útil, estava começando a anoitecer. Antes, porém, do véu da noite cobrir por completo o Campo dos Aprendizes, corri até o paladino. "Garoto esperto, de fato foi boa ideia não caçar a noite. Muitos entram em grandes perigos ou são desqualificados nas noites, principalmente na primeira." - ele insinuou para que eu me sentasse ao seu lado e foi o que fiz. "Acho que eu poderia esbarrar em algum monstro e o irritar" - ele riu e instintivamente lembrei de algo.

–Melhor não caçar a noite, venha até o paladino - Sussurei ao bracelete - Pode acabar enfurecendo outro Salgueiro.

Cédric concordou e seguiu meu conselho novamente. Instantes depois ele apareceu e se sentou ao meu lado. Peguei algumas cenouras que consegui dos Lunaticos, Cédric nos oferecem Garrafas com água, estas que ele conseguiu de Porings. Convidamos o paladino para se juntar a nós e ele o fez, animado. Um jantar simples, que eu já estava acostumado, porém rico. Conversamos bastante, Cédric é filho de um feiticeiro e de uma arcana e estava confuso a respeito do caminho de quem ele seguiria. "E você, Salém, que caminho deseja seguir?" - Cédric perguntou curioso. "Um alquimista, como meus pais foram, quero muito entendê-los" - pensei que ele havia deixado passar, mas logo perguntou - "Foram?". "Sim, morreram no ano passado, foi assim que decidi me alistar".

O paladino que estava um pouco aéreo ganhou interesse na conversa e logo se viu me perguntando quanto aos nomes dos meus pais. "Joshua e Maria Hexenwald". "Hexenwald?!" - um senhor apareceu do nada e exclamou, assutando a todos nós. "Você!" - eu disse me pondo de pé em um pulo - "Passei quase quatro horas caçando Lunáticos e quando finalmente consegui o Trevo e voltei até onde você estava, você havia sumido!". Ele ignorou o que eu disse, inicialmente. "Você é filho dos Hexenwald?" - coçou a barba mais pensando do que aguardando resposta. "Sou sim, por quê? Você os conheceu?" - deixei a raiva passar. "Se conheci? Bem, eu era amigo deles antes do que fizeram, mas isso é impossivel..."

"Hã? Como assim, o que eles fizeram?" - eu perdi o chão por um momento, teria sido algo terrivel ou eles simplesmente haviam brigado ou coisa do tipo? O senhor assumiu um tom sério e uma cara de poucos amigos - "Maria era infertil..." - ele pensou um pouco antes de prosseguir - "Então, eles obtiveram sucesso...". "No que?" - me adiantei em perguntar quase gritando. "Em você, seus pais buscavam algo entre a ciencia e a magia negra, como eles morreram?" - infelizmente, repondi que não fazia a menor ideia, apenas que me disseram ter sido pelo país. Era muita informação. Magia negra? fiquei sabendo que meus pais morreram na semana de meu aniversário de 15 anos, teria sido minha culpa? Me afastei uns dois metros do grupo e mergulhei em pensamentos dolorosos. Nem notei quando adormeci.

Fui acordado por um empolgado Cédric. Olhei em volta e nada do senhor encapuzado. "Quem era ele?" - perguntei por alto, mas era óbvio que a pergunta fora direcionado ao paladino que me respondeu de imediato - "Um arcano ancião, nem deveria fazer parte dos instrutores, deve ter ficado curioso quanto aos novatos, em todo o caso, ele me pediu para que verificasse sua missão para ele". Entreguei o Trevo de Quatro Folhas para o paladino e em troca, ele me deu um colar mágico. "Pegue, Rodolfo disse que pertenceu a sua mãe, Maria". Cédric me ajudou a colocá-lo em volta do meu pescoço. A jóia ametista brilhou e instantaneamente, senti como se algum conhecimento que eu não tinha fora me dado, só não sabia o que.

Eu e meu primeiro amigo nos despedimos do paladino e corremos até uma caçadora com longos cabelos tão loiros quanto os de Cédric que brilhavam na mesma cor que a luz do sol. Ela nos indicou a pegar 20 Garras de Ave e 5 Plumas de Ave que poderiam ser derrubador por Pickys e Condores. Ela também nos alertou que os condores, aves agourentas, ajudam aliados de sua espécie e geralmente voam em bando. Cédric estava animado, mas, ainda sim, precavido. Matamos rapidamente os Pickys. Já o Condor, esperavamos ele se afastar dos aliados e atacavamos juntos frenéticamente. Tinhamos uma boa sinergia. Estavamos terminando a coleta quando um garoto passou correndo com 3 aves ao seu calcanhar. A intrutora correu em nossa direção, mas não daria tempo.

Foi então que aconteceu. Impulsivamente, virei minhas mãos para o garoto de lisos cabelos castanhos até seu ombro e senti uma onda passar por mim. Pronunciei, ainda que automaticamente, aos gritos "[Heal]!". Um cansaço se apoderou de mim e fiquei desnorteado, cambaleei levemente antes de cair de joelho no chão. 1 minuto depois, voltei a mim. Cédric me tinha entre o braço, a caçadora e o garoto a minha frente, ambos agradeceram. "O-o que aconteceu ?" gaguejei levemente, mas todos ainda estavam com um pouco de dúvida. "Você salvou esse garoto, nem eu soube como até ver esse colar. É encantado com a essência das Vitatas, certo?". Não soube o que dizer, não sabia a resposta. Balancei a cabeça negativamente sem entender. Ela prosseguiu - "Esse encantamento permite o uso de uma habilidade de cura de baixo nível dos noviços, [Heal]" - deu uma pequena pausa para pensar - "Ainda sim, acho incrivel um aprendiz conseguir ter Mana suficiente para usar tal habilidade". "Mana?" - Questionei ainda perdido, mas dessa vez quem respondeu foi Cédric - "É a energia mágica de uma pessoa". "Exatamente" - Concordou a instrutora.

Assim que ela terminou a explicação, voltou para seu posto. Mas Cédric não deixou o garoto correr, ele mal teve tempo em pensar no que fazer antes de lhe ser cobrado a divida. O garoto, dois anos mais novo, ainda um pouco nervoso, aceitou sem exitar. Seu nome é Shandi Bornaih, o novo integrante do {Cédric's Party}, ele quer um dia se tornar um honroso guardião real. Terminamos juntos a missão. A caçadora, feliz de nos ver terminar vivos a sua missão, nos deu sandálias em troca que eram muito mais confortáveis que os sapatos de aprendiz. Cédric se animou com mais um integrante no grupo e, após calcular um pouco mentalmente, nos disse que precisávamos procurar mais 2 membros para o grupo.

Passamos o resto da tarde caçando Drops pois um dos instrutores, após ouvir Cédric falando algo a respeito, informou que esse monstro tem uma pequena chance de derrubar um Cajado ao morrer e Cédric realmente queria um. A decepção, porém, estampou-se na cara dele quando, no fim da tarde, após desistirmos de pegar o cajado, ao matarmos um Fabre A que passou no nosso caminho, conseguimos uma Maça. Por fim, voltamos até o paladino. Conversamos sobre a razão daquele campo. Ele nos contou que realizar missões nos garantia pontos que nos ajudaria na avaliação no fim da semana, daqui a 3 dias. Também nos informou que metade dos candidatos já haviam desistido ou sidos desclassificados. Quando fui dormir, ainda pude ouvir Shandi conversar empolgado com o paladino e, com permissão cética de Cédric, até chegou a a mandar uma solicitação para que o paladino se juntasse a nosso grupo. Ele, porém, não deu resposta. Não que eu tenha escutado, acabei por dormir.

Quando me levantei, Cédric conversava com um garoto que vestia roupas femininas de aprendiz. Conversando um pouco mais com o mesmo, descobrimos que o motivo para isso foi na hora em que estávamos sendo chamados, por ele ser o último, as roupas masculinas já haviam acabado. Seu nome é Taylor Grint. Nem se passou um minuto e nosso líder já o havia colocado no {Cédric's Party}. O garoto agradeceu fervorosamente por termos chamado-o ao grupo, todos os outros candidatos o acharam estranho pelas vestes e preferiram ignorá-lo e evitá-lo. Fizemos a missão do punhal com Shandi e com Taylor. "Taylor, eu ganhei dois, então, quero que fique com um" - Lhe entreguei o traje reserva de aprendiz que eu havia ganho. Ele me agradeceu e foi se trocar atrás de uma árvore ali perto. "Podia tê-lo deixado como estava, estava sendo engraçado até" - ouvi Cédric e Shandi brincando enquanto esperávamos.

Passamos o dia fazendo missões das mais variadas. Hora caçávamos, outra entregávamos cartas com mensagens secretas entre os instrutores e morríamos de curiosidade, até pensamos em abrir uma, mas desistimos. As mais chatas eram as de coleta, nos dava até vontade de desistir, tínhamos que arranjar os itens para cada um de nós do grupo enquanto as outras podiam fazer um por todos. Uma das mais demoradas foi coletar Fracons. O item que é uma espécie de minério simplório e pesado só era derrubado pelas pupas e precisávamos de 7. Caçando-as, botamos em prova nossa paciência. A criatura era muito resistente e custava a morrer, sem contar nas vezes em que ela eclodia e levantava voo um ameaçador Creamy. Ao fim, ao menos o ferreiro usou os minérios para refinar nossos punhais. E, mais uma vez, ao anoitecer, lá estávamos nós voltando para o paladino. Seu nome como descobrimos apenas nesta noite, é Jonas. Nós cinco montamos uma fogueira e assamos alguns pedaços de carne derrubados pelo condor. Jonas nos contou algumas de suas aventuras antes de adormecermos aquecidos.

O quarto dia amanheceu nublado. Fui o segundo a acordar, sem saber onde o primeiro, Cédric, havia ido. Meia hora mais tarde, ele voltando animado. Acordou toda a galera antes de anunciar que hoje procuraríamos uma garota que, segundo algumas pessoas, havia conseguido um cajado. Nos despedimos de Jonas e partimos. O campo estava muito vazio, se ainda tivessem 30 candidatos era muito. Mas isso não desanimou Cédric, ele estava certo de que, se a pessoa conseguiu derrubar um cajado de um Drops, ela ainda estaria pelo campo. E realmente estava, foi a trigésima segunda entrevistada, a última por sinal. Infelizmente, ela o havia vendido para alguém que foi desclassificado e seus itens foram parar com os avaliadores. Mas não era de todo mal, ela sabia de um garoto que também havia conseguido um. Um garoto baixinho de cabelos esverdeados.

Cédric de imediato lembrou dele, era o vigésimo quarto entrevistado. Achamos o garoto sentado, reclamando que todos do seu grupo haviam sido desclassificados e, antes que eu pudesse notar, o bracelete {Cédric's Party} brilhava no pulso do menor. Ele aceitou de bom grado trocar o cajado pela maça que havia ficado comigo outro dia e, finalmente, Dupont saltou de alegria ao conseguir a coisa que queria: o grupo completo e o cajado. Prosseguimos o restante do dia como o de ontem. Até fizemos a chata missão de refinamento para Bast Tinuë, o garoto de cabelos verdes. Coletamos carne de Condor para o jantar e fizemos a missão em que trocávamos Garrafas Vazias e algum tipo de fruta por uma Garrafa de Suco da fruta escolhida. Mais uma vez, jantamos decentemente ao redor de uma fogueira.

Estávamos ansiosos pelo último dia, conversamos cheios de expectativas quando começamos a ouvir gritos desesperados. Os magos avaliadores em um pequeno instante invocaram esferas luminosas de fogo que clarearam uma grande área do campo. Escutei um instrutor murmurar que algum desavisado deu o azar de conseguir um Galho Seco de um Salgueiro e o quebrou achando que não fosse nada de mais. Acionando a magia invocatória do item, lá estava, impiedosa e cruel, uma Jirtas. Serpenteava seu chicote pelo chão e trouxe com ela dois Injustiçados, monstros humanoides de aparência torturada e distorcida. As criaturas avançaram em diferentes lados visando destruir os mais fracos ali presentes.

Jonas nos alertou para que ficássemos próximos a porta, apesar disso, fomos atrás dele para não o deixar batalhar sozinho. As chamas mágicas se dissiparam e com a lua escondida entre as nuvens, nos vimos mergulhados em uma breve escuridão. Jonas não conseguiu ver quando o chicote da Jirtas lhe agarrou os pés, ela puxou com força, derrubando o enorme instrutor no chão, sem pensar duas vezes, Shandi avançou sobre a criatura e a atacou, seus golpes fracos pouco a afetaram, partimos então todos juntos. Só desta vez ela largou o chicote e tentou nos atacar.

Suas garras ágeis quase agarraram Bast que recuou no último segundo. Seu segundo golpe quase acertou Taylor, porém Cédric o puxou pelo braço e o salvou. Tínhamos certeza que apenas um golpe iria nos destroçar em pedaços. Em meio ao desespero, nem a notamos pegar seu chicote de volta. Ela o brandiu de um lado a outro e depois o rodopiou, acertando todos nós de uma só vez. Pensei que havia morrido naquele instante, porém, apesar de eu sentir o golpe, ele não me causou dano. Ainda sem entender, notei uma luz em minha volta e pouco depois, notei ela em volta de todos os membros da {Cédric's Party}. Só então escutamos uma voz ao nosso arredor.

–Ainda bem que vocês haviam me enviado um convite para fazer parte do grupo de vocês e eu não recusei - Jonas estava caído no chão, um bracelete, com uma luz vinculada a todos nós, brilhava em seu pulso - Para trás, novatos.

Seguimos a ordem de imediato. A Jirtas ficou furiosa e correu em minha direção. Correndo o mais rápido que meu tamanho me permitia, acabei por tropeçar e cair de costas no chão. Pude sentir a sua vontade de matar enquanto ela se aproximava. Eu a vi chegando cada vez mais perto, meu coração martelava em batidas descompassadas. Já estava me despedindo de minha breve e torturada vida quando um arcano, que logo reconheci, apareceu próximo a mim. Em pânico, não consegui ouvir o que ele disse ao certo, porém, em um movimento de cajado e algumas palavras, ele baniu a Jirtas para uma dimensão astral e em seguida, com um outro feitiço, ela brilhou intensamente antes de explodir.

O arcano reuniu a todos. O candidato que a invocou, havia sido gravemente ferido. Não cheguei a ver quem era. Alguns instrutores passaram correndo o carregando para fora, provavelmente até alguma enfermaria ou solo sagrado próximo ao Campo. Em seguida, novamente sob a luz mágica que os magos reacenderam, o avaliador principal caminhou até nós e disse que, segundo o imprevisto a avaliação acabaria hoje. Ele mencionou alguns aspectos importantes na vida de um aventureiro e por fim, nos entregou nosso Emblema de Aprendiz, que era necessário para seguir à próxima etapa, e anunciou que todos nós havíamos passados no teste.

Gritos comovidos e de comemoração foram as únicas coisas ouvidas naqueles segundos seguintes. Amanhã devíamos escolher a classe em que queríamos seguir toda nossa vida e aventura e a cidade para qual iriamos fazer a missão que nos tornaria a mesma escolhida.

–Foi muito divertido conhecer vocês. E olhem, tivemos nossa aventura juntos - Estas foras as últimas palavras de Jonas antes de ele sair do nosso pequeno grupo.

Houve um minuto de silêncio, pensamos em tudo o que acontecera naquele momento e nos dias anteriores, no nosso esforço em correr atrás das missões e de nossa notável evolução em combate. Porém, nossa empolgação esmagou completamente o silêncio.

–Passamos! - Todos gritamos ao mesmo tempo.

–Que caminho seguirão? - Cédric assumiu sua liderança - Farei a missão para me tornar um mago em Geffen.

–Bem, eu estou indo para Izlude, andei conversando com Jonas e é realmente isto que eu quero para minha vida - Shandi respondeu empolgado.

–Eu vou para bem perto de ti, podemos ir juntos até. Estou indo para Prontera me tornar um noviço - Disse o mais novo membro.

–Acho que eu terei uma longa caminhada para Payon - Taylor comentou - Tenho o sonho de me tornar um grandioso artista, antes, contudo, um arqueiro.

–E você, Salém? - Cédric perguntou o que já sabia.

–Rumo a Alberta, tentarei começar minhas pesquisas alquímicas o mais rápido possível, mesmo como um mercador - Respondi com convicção.

Houve mais um segundo de silêncio, como se nos despedíssemos

–Não vamos desanimar, amanhã nos separaremos, mas isto é momentâneo. Logo, logo, nos encontraremos para nossas grandiosas aventuras juntos. Este grupo jamais será desfeito, estou certo? - Cédric reforçou os laços de seu grupo

–Certo! - Respondemos em uníssono, animados.