Abro meus olhos e percebo que o trem parou. Finalmente, aquele demônio estava me matando. Olho em volta e vejo que estou sozinha. Acho que todos já saíram. Eu dormi demais de novo. Dean provavelmente não quis me esperar. E por quê ele iria me esperar? Estou com fome. Faz sete horas que não como nada. Levanto e saio da cabine do trem, dou uma olhada rápida no corredor e, para meu azar, eu estava mesmo sozinha. Até você, Darin, me abandonou? Saí o mais rápido possível daquele trem e tentei procurar os outros. O tarde estava incrivelmente clara, considerando que era quase quatro da tarde. O vento estava u pouco gelado, e as nuvens estavam aparecendo aos poucos. Nunca estive desse lado de Fiore antes, acho que é porque ninguém mora aqui. Nas ruas só tem lojas e cafés, alguns hotéis espalhados por aí e a estação de trem. São os limites de Fiore, afinal de contas.

— Nashi! — Essa é a voz de Darin — Pensei que tinha se perdido! Estamos todos no café! Vem logo e vamos ver se encontramos alguma coisa para comer.

Assenti com a cabeça e segui Darin pelas ruas de terra do lugar. Não demorou muito até chegarmos à uma cafeteria perto da estação. Era como uma cafeteria normal, tinha uma placa vermelha na frente dizendo Coffe e janelas grandes. Das janelas pude ver Reed, Charllote e os outros lá dentro. Comecei a sentir o cheiro dos pães e cafés que vinha de dentro e não demorou muito para começar a babar no meio da rua.

Assim que entramos, uma moça de olhos verdes, loira, de aproximadamente uns vinte anos, vestida de empregada, nos atendeu. Ela era doce, e perguntou o que eu queria. Disse que tinha que esperar um pouquinho, e ela voltou para a cozinha. Por um momento, me senti aliviada por ela ter saído.

— Nashi, sabe que horas são? — Reed começou a falar comigo — Nós vamos sair em cinco minutos, então coma logo.

Escolhi um lugar na mesa entre Raven e Gale. Eles estavam se olhando de um jeito estranho desde que eu os vi. Talvez já estivessem se olhando estranho assim antes mesmo de sair do trem. Mas eu não deveria estar me preocupando com isso. Eu deveria prestar atenção em quem me olha do mesmo jeito. Dean não parava de olhar para mim. Na verdade, estavam todos se olhando de um jeito estranho. Acho que o trem afetou o cérebro deles. Afinal, por quê Charllote estaria mordendo um morango enquanto olha para Miniel? E Raven tentando fazer um nó no talo da cereja? Tem coisa errada aqui...

Tentei manter a consciência no caminho da sanidade mental e não pensar mais nisso. Acho que estou ficando assustada e tenho vontade de fugir daqui, correr para a floresta mais próxima e me esconder lá. No final, eu acabei pedindo o de sempre para comer: três pedaços de bolo de limão, meu suco de laranja favorito e torta de frango. Estou morrendo de fome, afinal de contas. E isso é só um lanchinho básico. Enquanto assassinava a torta de frango, percebi que os gatos estavam em outra mesa, se entupindo de bolo. Darin era o único que se preocupara em pedir comida de verdade. Sushi parecia uma boa escolha, mas não havia prestado muita atenção no cardápio.

Reed pagou as contas e saímos. Não foi tão caro assim, nada que dez trabalhos comuns não recuperassem. Mas o trabalho que vamos fazer vai ter uma recompensa muito mais valiosa. Charllote disse que para sair de Fiore precisaríamos passar por uma floresta, e que essa tal floresta atravessava uma parte do tal outro reino também. Eu não me importava de andar. Na verdade, é ótimo sair daquele trem maldito.

A floresta era como qualquer outra, com poças de lama, árvores grandes e a maioria tinha troncos grossos e galhos perfeitos para se escalar. Estava escurecendo, então dificultava um pouco. Depois de terem passado algo como vinte minutos, chegamos em uma parte sem árvore alguma, um campo vazio. Esse era o limite total de Fiore.

— A partir de agora — Reed começou a falar — Vai ficar mais escuro, não sabemos que tipo de guildas tem por aqui, então fiquem juntos o máximo possível.

— Tudo bem. — Aquele tal de Miniel disse, e a Sabertooth consentiu com a cabeça.

Passamos por uma listra de terra que estava no chão. Acho que era algum tipo de magia para proteger o reino ou separá-lo... Mas isso não importa, estamos saindo daqui mesmo. De repente escuto algo parecido com uma voz eletrônica. Ela está longe, muito longe, então não consigo entender o que ela diz. Dean, Gale e Raven também escutaram. Audição de Dragon Slayer... Sinto o chão tremer de leve também, mas acho que ninguém percebeu.

— Tem uma coisa errada aqui. — Raven disse, colocando o exceed dorminhoco dela no ombro.

— O quê quer dizer com isso? Acha que tem alguém aqui? — Charllote perguntou, com um tom de medo na voz.

Um estrondo. Como se dez raios caíssem no mesmo lugar. E uma luz forte vem na nossa direção. Não. Na minha direção.

É isso. Eu vou morrer aqui, agora e nem sei porquê. Não há tempo de desviar. Não há o quê fazer. Talvez fosse para isso acontecer mesmo. Só espero que papai e mamãe me perdoem.

Fiquei parada, esperando a luz, raio, ou seja lá o que for a coisa me atingir. Mas não foi isso o que aconteceu. Alguém me jogou no chão. Eu ainda estava com os olhos fechados, esperando alguém me dizer que eu já podia abrir. O barulho da explosão ainda estava se repetindo na minha cabeça. Ela latejava um pouco. minha audição é sensível, audição de Dragon Slayer... Não respiro direito. O peso de seja-lá-quem-for-que-me-salvou ainda estava sobre mim. A luz da explosão pareceu diminuir, então eu resolvi abrir os olhos para ver quem era.

Eu deveria ter continuado com os olhos fechados.

Eu deveria ter desviado sozinha.

Eu deveria não ter pensado aquelas idiotices quando aquela coisa veio na minha direção.

Eu deveria dizer menos "eu deveria".

Dean estava sobre mim. Nunca fui o tipo de garota que precisava ser salva. Aliás, nunca fui salva na minha vida. Eu sempre dependi de mim mesma. E de Darin. E talvez de Reed também.

A primeira vez que fui salva. E fui salva por um tigre.

O quê papai pensaria de mim agora?