Não sabia o que fazer. Meu corpo ainda doía pela queda brusca no chão, e com o peso de Dean ficava ainda mais difícil. Tentei não pensar que tinha um cara em cima de mim mas, SOCORRO TEM UM CARA EM CIMA DE MIM!



— Nashi, você está bem? — meu salvador começou a falar — Por quê não saiu da frente, sua idiota, podia ter morrido!



— D-Dean, eu... Obrigada.


Ele saiu de cima de mim - de cima de mim - e eu tentei me levantar. Eu consigo fazer isso sozinha. Os exceeds que estavam conosco estavam agora no céu, acima de nós, com medo. Aquele tal gato-panda voltou voando rapidamente e se jogou em cima de Raven. Ele ou ela estava chorando descontroladamente, assim como os outros. Tinha esquecido completamente deles. Logo todos estavam em pé, ao lado da enorme "coisa" que tinha vindo, supostamente, na minha direção.


— Nashi, acha que eles estavam tentando te acertar? — Darin começou a falar com o tom preocupado dele.


— Não sei, mas eu só gostaria de saber o porque atiraram.

Gale se aproximou da "coisa" que agora, estava parecendo uma bola de lava vulcânica e arrancou um pedaço. Ele a encarou por uns segundos.

— Isso não queima? — Raven, que estava ao lado dele perguntou com uma cara de nojo da qual eu achei engraçada — Não mexa nisso! Pode ter algum tipo de radioatividade!

As coisas só pioraram quando ele COMEU o pedaço de seja lá o que for. Tenho que admitir que isso foi nojento até para mim.

— É ferro quente! — ele disse ainda mastigando a coisa — Nashi não corria perigo nenhum, mesmo que a acertasse.

— E por quê queriam acertar em mim? Ou melhor, por quê atiraram isso?

Olhei para o rastro queimado que estava no chão da floresta. Ia em direção à outra luz. Estava longe, e o brilho era fraco, então supus que não era outra daquelas. Mas algo estava mesmo vindo na nossa direção. Passos podiam ser ouvidos, mesmo que de muito longe. Os outros ouviram também. Eram guardas reais. Usavam armaduras aparentemente mais resistentes do que as de Fiore e as armas também eram diferentes. Talvez até melhores, afinal, nunca estivemos fora de Fiore e aquele reino podia ser bem mais rico do que o nosso.

— Todos vocês! Parados! Sabemos que são magos! Não resistam ou seremos obrigados a prendê-los! — Um guarda armado de uma lança veio na nossa direção. Estava acompanhado de mais quarenta soldados, pelo tamanho do grupo. Acho que ali era uma base militar na floresta.

— Não apresentamos perigo para vocês. Estamos apenas viajando. — Reed deu um passo à frente.


— Não apresentam perigo? Então o quê é aquela criatura? — O guarda apontou sua lança na direção de Charllote.



— Eu? O que eu fiz? — a mesma começou a se defender. — Que tipo de perigo eu poderia apresentar?


— Senhorita, creio que tem conhecimento sobre sua própria magia, não tem?



Charllote não entendia aquilo. Mas todos nós entendíamos muito bem. Depois do acidente dos Jogos Mágicos, a notícia da tal nova magia se espalhou rapidamente. As crianças que nasciam com esse novo tipo de magia eram abandonadas e acabavam morrendo. O rei de Fiore não suportava ver a situação em que o reino estava, então apenas decretou que as pessoas possuidoras fossem espionadas até descobrirmos se era segura. Lógico, quando descobriram que a mais nova filha da famosa Titânia era uma dessas crianças, foi uma bagunça. Eu tinha quatro anos, então não me lembro de muita coisa. Charllote começou a chorar.


— Nós vamos resolver isso. — Reed pegou Charllote pelo braço e a levou para um canto. Se ele achava que ninguém iria escutar o que eles estavam falando, está muito enganado.


— Charllote, é melhor você ir para casa. Os guardas não vão nos deixar passar com você.


— M-mas Reed, eu quero ajudar! E eu quero encontrar a mamãe tanto quanto você!


— E se ela tiver ido embora por sua causa?


Reed, essa foi terrível. Como pode ser tão mal com a própria irmã? Senti Darin me pegar pelo braço antes que eu partisse pra cima de Reed. A verdade é que Reed sempre foi mais ligado aos pais do que Charllote. Não sei se ele tinha ciúme dos pais ou se ele pôs a culpa dos pais terem ido embora por causa dela. A segunda hipótese é mais provável.


— Reed, eu sou sua irmã... Onee-chan... Eu...


Charllote se virou e saiu correndo. Ela entrou na parte densa da floresta e continuou. O quê fizemos? Saímos correndo atrás, é claro. Os guardas foram ficando para trás também, apenas seus gritos podiam ser ouvidos. Charllote é incrivelmente rápida, e por ser pequena, difícil de se pegar. Reed, seu idiota, você tem mesmo que ser tão cruel com a própria irmã?


Agora já eram sete da noite. Estávamos procurando por Charllote à duas horas. Já estava escuro demais para procurar, então simplesmente encontramos um lugar perto de um rio e ficamos por lá. Darin estava tão inquieto que era impossível pará-lo. Só achei engraçado quando ele começou à dar uma bronca em Reed na frente de todos. Sim, o grande Reed Scarlet estava levando bronca de um gato azul metido à mãezona de todo mundo. Essa foi: "Eu deveria ter uma câmera para registrar isso 2".

Fiquei fitando a fogueira que, eu, obviamente tinha acendido. Quase incendiei metade do lado daquela floresta. ms tudo bem, pelo menos o peixe estava bom. Senti alguém se aproximando enquanto eu devorava o peixe número oito. Era Dean. Era o único da Sabertooth que não estava dormindo. E nada, absolutamente nada, é mais irritante quanto alguém te observando enquanto você come. Principalmente quando você está sujo, com o cabelo bagunçado, um peixe estraçalhado nas mãos e comendo feito um dinossauro.



— Sabe... Obrigado.— meu "salvador" começou a falar comigo.



— Obrigado por quê? Foi você quem me jogou no chão naquela hora.



— Por isso mesmo idiota, estava agradecendo por ficar lá parada para eu te salvar!



— Hã... E por quê você iria querer me salvar? — Senti meu rosto corar um pouco.



— Ora, o quê acha que meu pai vai dizer quando descobrir que eu salvei a filha do Salamander, hein? Já posso imaginar ele dizer: "Sim, porque nós Eucliffe somos muito melhores!"



— Droga, você é muito idiota. E depois, eu não corria perigo nenhum de verdade. E tem coisas mais importantes para se preocupar.



— Tipo o quê? A fadinha azul miniatura que fugiu?



— Não chame Charllote de fadinha! E... Bem, ela é mesmo baixinha, mas não exagere. Agora saia daqui e me deixe comer em paz, sua cópia fajuta de Sting Eucliffe!



— Olha só quem fala, versão feminina de Natsu Dragneel!



— Idiota!

Ele voltou pro canto dele. Ainda bem, esse idiota. Mas também, tenho coisas mais importantes para me reocupar. Como o comportamento estranho de todos depois do trem, Charllote ter fugido, a tal ilha vulcânica da qual nossos pais estão lá... Só poderíamos ter ajuda para encontrar Charllote, só isso.