Fairies Never Die.

Fadas Não Morrem I


— E então? Vocês não vão atacar?

Por um momento, o tempo parou novamente. Estávamos frente a frente com nosso inimigo e nem mesmo eu pensei em fazer um movimento! O único som, o da nossa respiração, era audível. O tilintar das chaves douradas estava começando a me irritar. Analisei o oponente. Provavelmente minha altura, a mesma roupa de circo e a máscara de palhaço da qual eu não podia ver o rosto. Que ótimo. Não posso vê - la. Pensei em um ataque rápido, provavelmente ela não teria tempo de desviar. Mas algo ainda mais rápido passou por cima de mim. Uma das espadas de Reed. A espada bateu em uma parede invisível, provavelmente uma barreira mágica e caiu no chão, desaparecendo em seguida.

— Só isso? Eu realmente esperava mais! — Uma das chaves douradas balançou e mais dos caranguejos assustadores surgiram do chão. Levantei o mais rápido que pude e novamente estava lutando contra eles, derretendo e queimando a todos. Mas meu objetivo não é eles, é quem os controla.

— Lottie! Corte o caminho para mim! — Eu gritei enquanto acabava com mais um - dos grandes - caranguejos.

Charllote assentiu enquanto disparava mais um de seus canhões azuis.

Um tornado azul brilhante passou por mim e eu desviei, deixado ele completar seu percurso, e logo em seguida, percorri o mesmo caminho. A mulher da máscara continuava sentada, sem se dar o trabalho de se levantar ou se mover para lutar. Não importa, pensei. Eu vou acabar com você. Já com o punho em chamas, acertei um soco de onde onde deveria ser seu rosto, mas a barreira bloqueou novamente. Intensifiquei o golpe pressionando mais e mais. A aura dourada começou a rachar como uma parede de vidro quebrada, e minúsculos pedaços começaram a sair. A máscara mudou de forma, formando um sorriso macabro e enorme. Saltei para trás, vendo a barreira ruir em dourado na minha frente. Os caranguejos sumiram novamente. Mas esse era apenas o começo da noite.

Um tremor na terra sacudiu a ilha inteira. A mulher da máscara de palhaço, com a mão esquerda estendida e uma das chaves erguida, ainda possuía o sorriso macabro. O tremor de terra continuou, até parar subitamente.

— O que foi isso? — Gale dizia enquanto levantava Raven, que se encontrava no chão.

— Uma coisa muito ruim. — Eu murmurei para mim mesma enquanto meus punhos se enchiam de chamas. Uma grande rachadura se abriu no chão e foi se expandindo enquanto os destroços iam caindo para a escuridão. Fui rápida o suficiente para sair do caminho antes que fosse minha vez de estar lá em baixo. Charllote não foi tão rápida.

— Lottie! — Reed tentava alcançar Charllote, que estava se segurando com apenas uma das mãos. Na outra, segurava o seu bem mais precioso: o colar que seu pai havia dado para a Titânia no dia do casamento.

A única lembrança que Charllote tinha dos pais e que ela nunca havia deixado os outros verem além de Reed.

— Reed! Eu não vou soltar! É a única coisa que eu tenho da mamãe!

— Lottie, se você não soltar, nunca irá ver a mamãe de verdade.

Charllote soltou um gemido antes de jogar o colar de safiras na escuridão abaixo.

— Então as fadas não aprendem mesmo? — A mulher da máscara jogou a cadeira em que a poucos instantes estava sentada no desfiladeiro — Ainda tenho mais alguns amigos para brincar. São treze, afinal!

— Pare com isso. — Disse Dean — Zeref não está mais nesse mundo como no passado e nós só queremos nossos pais de volta.

— Dragão estúpido. Eu sei que Zeref está aqui, eu vou trazê-lo aqui, e vocês e seus pais serão usados como oferenda à sua grandiosidade. É só uma questão de tempo, não importa o quanto demore!

A máscara se contraiu em uma expressão de raiva e ficou em uma tonalidade avermelhada. Uma chave foi levantada e novamente os tremores começaram. Da grande fenda era possível escutar o som de chiados e vozes que choramingavam. Mizore já estava com suas espadas de gelo e Reed havia trocado a armadura novamente. Mais algum daqueles bichos malucos iria sair, isso era certeza.

— Não está na fenda. — Raven disse. — Está abaixo de nós.

Como uma explosão, o chão se abriu e nos jogou para os lados. Uma toupeira estranha e de aproximadamente três metros saiu de dentro, jogando terra para todos os lados. Estranhamente, ela tinha uma pelagem rosa, preta e branca. Com os olhos completamente escuros e as garras arranhando o chão como um touro com raiva, a toupeira avançou na direção de Raven, que conseguiu se dissipar nas sombras antes ser atacada. Nesse momento, Gale conseguiu enfiar uma das espadas de ferro na pata traseira esquerda. A toupeira soltou um rosnado e se enterrou novamente. Agora haviam três buracos de profundidade desconhecida e prontos para nos levar à morte.

— Gale, Raven, Dean, D’Artgan, vocês cuidam desse rato rosa e ficam de olho para ver se não aparece mais um bicho esquisito! Reed, Mizore, Lottie, vocês vem comigo tentar acabar com a maluca! — Eu gritava para os outros enquanto segurava em um bloco de terra grande, e os tremores pioravam a cada instante.

Fixei meus olhos em um único ponto: as chaves. Se pegássemos aquelas chaves tão parecidas com as da minha mãe, teríamos o controle. Magos celestiais são indefesos sem as chaves, disso eu me lembro quando saía em trabalhos com a minha mãe. E possivelmente, poderíamos achar os exceeds. A maga celestial rodopiava o molho de chaves na mão, enquanto nos via lutar contra um tremor incessante e uma toupeira que nem sabíamos onde estava se escondendo abaixo de nós.

— Nashi, você tem algum plano? — Reed me perguntou enquanto uma espada quebrada desaparecia e outra mais nova voltava.

— Quantas espadas você tem?

— Acho que… Quarenta talvez, só tenho aquelas que a minha mãe deixou.

— Bom, você acha que pode fazer esse negócio de aparecer e reaparecer com todas?

— O que você tem em mente? — Reed fez uma expressão confusa.

— Um plano. Um plano bem maluco. Você atira as espadas na barreira de proteção, óbvio que as espadas vão quebrar, mas é só fazê-las desaparecer, voltar e atirar de novo. Você mesmo disse uma vez que quando elas quebram, assim que voltam elas são concertadas! Basta fazer isso várias vezes, e a proteção vai quebrar, enquanto isso Charllote procura lugar atrás dela e usa o canhão quando a barreira quebrar, ela vai cair e enquanto isso eu pego as chaves.

— Tem certeza que isso vai funcionar? — Charllote dizia quase como um gemido. — Eu só posso atirar mais dois canhões…

Sorri e assenti com a cabeça. Charllote pareceu dar um sorriso fraco também, apesar de o filete de sangue em sua boca parecer bem óbvio. Isso acontece quando se usa magia demais e a gasta. Somos magos, se nossa magia se esgota, nossa vida se esgota também. Não poderia fazer algo ruim à Lottie, então só fiz o meu melhor: fazer parecer que tudo ficará bem. Assim como o meu pai.