Fairies Never Die.

Fadas Não Morrem II


Mizore estava nos dando suporte. Ela não podia andar com a perna esquerda com um corte tão grande, então ela iria atirar lascas de gelo em quem tentasse se aproximar. De cara, nosso plano não parecia tão óbvio. Combinamos de começar quando todos fizessem um sinal de “ok” com as mãos. Charllote já estava preparada para correr por trás da maluca mascarada, eu estava sobre os escombros à esquerda, Mizore estava um pouco longe dos outros que lutavam contra os animais estranhos e Reed estava em um canto de frente para ela. Não parecia um cerco fechado.

Coloquei o plano em prática; fiz o sinal com a mão e me preparei para disparar e pegar as chaves. Charllote já estava com o braço esticado para atirar a qualquer instante ou enquanto corresse, e Reed lançou a primeira espada. A princípio, ela apenas serviu para chamar atenção, e depois desapareceu. A mulher da máscara pareceu não se importar, como se fosse apenas uma mosca tentando se aproximar de uma lâmpada. Logo em seguida vieram mais duas, mais três e todas disparavam e desapareciam, e a barreira começou a rachar. Uma pequena rachadura, mas já o suficiente para quebrar com uma grande pancada.

Charllote correu como se aquilo dependesse de sua sobrevivência. E de certo modo, dependia mesmo… E disparou seu penúltimo canhão, que estilhaçou a barreira. A explosão formou uma luz dourada e pedaços como o de vidro foram jogados pelo chão e pelos ares, batendo nas coisas e desaparecendo em mágica. Mas a mulher da máscara não se mexeu. Não fez um movimento sequer. Mesmo com os pedaços como vidro grudados e pingando sangue. Era como se estivesse paralisada. As chaves estavam caídas no chão.

Essa era minha vez; corri em direção às chaves douradas. Havia uma pequena ponta de esperança, que crescia cada vez mais. Eu finalmente veria meus pais e finalmente voltaríamos para casa. Eu teria meu final feliz e eu voltaria a ter uma família, mesmo que incompleta sem Darin. Peguei as chaves e o tilintar foi como música. A mulher da máscara não se moveu. Era como uma estátua viva. Mas quem se importa? Eu finalmente vou ver meus pais!

— Uma pena acabar assim. — A mulher da máscara disse em um tom baixo, quase inaudível, se eu não fosse uma Dragon Slayer.

Antes que pudesse dar uma resposta em chamas, e senti uma pequena dor no lado esquerdo do meu corpo. Eu ia usar meu rugido mas meu fogo não conseguia sair. Antes mesmo que pudesse perceber, havia sangue escorrendo pelo canto da boca. E um corte profundo na barriga. Foi o bastante para eu desabar no chão.

— Nashi! — Eu ouvia Reed e Charllote gritarem, e Mizore chorando.

Mas o som ficava mais distante. É assim que eu vou morrer? É assim que um dragão morre? Eu esperei tanto pelo momento em que veria meus pais para nada? Eu chorei por Darin, comecei a gostar de alguém de outra guilda por nada? Lutei contra criaturas esquisitas e vi meus amigos morrerem a toa? E eu tive mesmo esperança, isso é pior. Eu acreditei que iria vencer. Eu acreditei mesmo que teria mais força mágica que meu pai? Eu acreditei por um segundo que um plano idiota iria derrotar um mago que nem o conselho conseguiu capturar?

— Nashi, sua idiota! Você deveria ter me chamado! — Dean me sacudia freneticamente. Algumas gotas caiam no meu rosto, mas eu não ligava.

— Você já me salvou duas ou três vezes. É minha vez de salvar vocês.

Com o pouco de força que ainda restava, mesmo com as insistências de Dean de me deixar no chão, me coloquei de joelhos. Essa é a última coisa que eu vou fazer por vocês, mamãe e papai. Eu, eu eu. Até agora eu apenas pensei em mim. Pensei apenas em reencontrar meus pais e pronto. Eu fui tão egoísta.

— Hã? Ainda querem lutar depois dessa? — A mascarada pegava as chaves de volta, largadas no chão novamente.

Está na hora de usar a magia proibida e selada pelo meu pai. Eu me lembro daquele dia.

“Nashi, se acontecer alguma coisa, não use aquela magia que eu te ensinei. Ela é muito perigosa, e se for usar, deixe para último caso. Ela vai destruir tudo que estiver na frente, então cuidado!”

Tudo bem papai, eu posso usá-la agora. Basta deixar o braço direito para trás, com a mão aberta. Deixar a mão direita livre para reunir a magia e jogar como uma bola.

— Magia Proibida: Lótus Carmesim, Explosão das Chamas Celestiais!

As chamas começaram a se reunir normalmente, mas eram ainda mais douradas e brilhantes. Faíscas saltavam para todos os lados e o selo mágico apareceu brilhante abaixo de mim. A mascarada acionou uma barreira mágica de terceiro nível, daquelas forte o bastante para aguentar a pata de um dragão de verdade. Mas isso aqui é mais potente que qualquer dragão.

Luzes pequenas como a de estrelas brilhavam em volta. O brilho das chamas aparecia em várias cores: dourada, vermelha, alaranjada, azulada, e era um misto de todas elas.

Isso não é fogo. É uma Supernova.

Minha visão estava escurecendo cada vez mais, logo não poderia enxergar a um palmo de distância. A hora é agora. Lancei a supernova na direção daquela mascarada irritante e novamente estava no chão. Não pude ver direito os efeitos da magia na barreira, mas era lindo. Dean, Reed e os outros se abaixaram no chão e usaram o que pudiam para se proteger. A barreira mágica se estilhaçou completamente. Não vi a mulher da máscara. Só vi as luzes douradas, azuis e os cacos flutuando no ar. Era como ver uma explosão em câmera lenta, misturada com uma aurora boreal em uma chuva de meteoros. Talvez ver uma coisa linda como essa, seja o destino de quem está morrendo. Esse foi meu último pensamento antes de ser consumida pela escuridão total.

Minhas pálpebras pesavam para abrir, mesmo com a incessante luz no meu rosto. Eu estou morta? Minhas mãos ainda estão se mexendo. Com a força de vontade, apesar da preguiça que a luz morna dava, consegui abrir os olhos e presenciar uma imagem linda: milhões de estrelas, espalhadas no espaço. Galáxias, luas, planetas. Era como estar flutuando no espaço. O chão não era nem sólido e nem líquido, era como manteiga. E não havia nada além de silêncio. Aparentemente, aqui eu posso me mover, e eu não estou machucada. Meus arranhões sumiram, inclusive aquela ferida que poderia ter causado minha morte. Mas eu não estou morta, estou?

— Nashi! — Uma voz feminina ecoava atrás de mim. — É você mesmo?

Arranjei coragem para pelo menos sentar e me virar para trás. Para finalmente ter a visão dos deuses. Reed e Charllote ao lado de Erza Scarlet e Jellal Fernandez; Dean Eucliffe e Sting Eucliffe; Raven Cheney chorando ao lado de Rogue Cheney; D’Artaganan Lore e Rufus Lore; Mizore Fullbuster abraçando Gray e Juvia Fullbuster. E meus pais vindo na minha direção.

— Mãe! Pai! — Eu levantei e corri em direção à eles também.

Eu senti as lágrimas da minha mãe pingarem no meu cabelo. E senti novamente o mesmo calor que eu sentia ao abraçar o papai. Logo mamãe não era a única chorando. Desde a morte de Darin, agora. Eu nunca estive tão feliz, nunca senti tanto de algo bom fluindo dentro de mim. Quando o abraço inacabável havia terminado, recebi mais uma surpresa: pela felicidade do momento, não havia percebido que para eles, só haviam se passado três ou dois anos. Esse era o Mundo Celestial, aquele em que os espíritos habitam.

— M-mãe, eu não morri não é? Isso não é um sonho, não é? — Eu gaguejava e não sabia o que dizer. Esse é o melhor momento da minha vida.

— Isso é melhor do que um sonho, Nashi! — Minha mãe tentava não cortar as palavras, mas as lágrimas eram mais fortes.

— Papai, derrotei um cara mais forte, agora posso ir em trabalhos classe S também?

— Isso não vale, você usou a magia que eu disse para não usar!

— Você também usava uns truques além da realidade e sempre ganhava!

— Então quando eu chegar em casa eu vou mostrar como se faz de verdade! E nem pense que vou deixar você usar uma roupa tão curta! — Meu pai jogou um dos casacos do mundo celestial em cima de mim.

Parando para pensar, eu não havia percebido que as roupas rasgadas da luta haviam sumido e eu estava com um vestido extremamente curto. Nem mesmo minha mãe teria usado isso! Coloquei o casaco imediatamente ao perceber que Dean estava indo na minha direção. Com o exceed dele.

— Nashi! Você está bem? Você caiu e depois fez aquela maluquice, eu teria salvo você, mas você usou aquela magia colorida das galáxias e dos brilhos e eu- O calei com um beijo.

— Você fala demais e é convencido. E foi graças a minha maluquice e a tal “magia das galáxias e dos brilhos” que você está aqui!

Uma risada abafada veio do Exceed no canto. Por alguma estranha razão, ele me lembrava alguém… Happy!

— Papai, onde estão os outros? Vieram todos da guilda aqui!

— Provavelmente estão com os espíritos, no banquete que vão fazer agora. E mais uma coisa: nem pense em arranjar namorado.

Comecei a rir, assim como minha mãe e o exceed. Dean bufou e foi em direção aos outros da guilda. Mas a sensação de que faltava algo. Quem era a pessoa da máscara? Quem escreveu o diário que Charllote se preocupou tanto em carregar? Será que eu a matei? E como nós viemos para cá se só um espírito pode nos trazer e minha mãe estava sem as chaves?

— Mãe, por favor, apareceu mais alguém por aqui? Alguém com máscara, roupa estranha, ou qualquer outra pessoa diferente? E você sabe quem era que nos mandou pra cá?

Minha mãe parou para pensar por um minuto, colocando a mão no queixo.

— Na verdade… Quando chegamos aqui, só havia aquela pessoa da máscara, não havia mais ninguém. Ela também usava chaves assim como eu… Mas não sei quem é.

Máscara… Filha… Sombras… Chaves… Eu me lembro de alguém. Alguém que sabia quem eu sou e quem eram os outros… A resposta é óbvia.

— Raven! — Eu chamei — Vem aqui!

— O que foi? Algum problema?

— O nome da sua mãe era… Yukino Aguria?

Raven fez uma expressão de surpresa. Acho que ela não esperava por essa.

— S-sim… Ela desapareceu um mês depois de eu ter nascido. Ela só deixou um recado dizendo que tinha que terminar algo que outra pessoa tinha começado. Por quê? Alguma coisa?

— Nada, é só que eu achei… Que poderia ter sido ela… Sabe, o décimo terceiro signo é uma serpente, igual aquela na ilha… Os caranguejos, os outros animais, são as chaves da minha mãe. Então, se ela ficasse desacordada, outro mago celestial iria conseguir usá-los, mesmo que não tivesse um contrato com eles.

Raven não disse mais nada. Apenas sorriu e se virou, e foi em direção ao seu exceed e ao pessoal da Sabertooth. Senti uma cutucada nas minhas costas. Uma cutucada suave e macia. O cheiro de bichinho de pelúcia estava no ar.

— A mocinha não está se esquecendo de dois exceeds peludinhos e adoráveis? — Happy! Darin! Você não morreu! — Os abracei enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas novamente. Meu melhor amigo, vivo!

— Enquanto eu estava na sua mochila, eu vim para cá e o espírito de gemini trocou de lugar comigo! Mas infelizmente, se quer saber, o tal amigo da Sabertooth não estava aqui. Acho que ele morreu mesmo…

— Eles vão ficar bem. Mas eu não ficaria bem sem você. Vamos comer!

Isso foi egoísmo da minha parte. Mas tudo bem, um pouco de egoísmo não mata. No meu caso, eu não poderia morrer mesmo. Nenhum de nós. Porque nós somos fadas. E é impossível matar uma. Nós não morremos. Nós nunca morremos.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.