- Terminou o que tinha a fazer, Alexis? – Luka perguntou, pondo-se de pé da cadeira.

- Terminei, por enquanto.

Alexis fechava os botões das mangas de sua blusa branca e muito bem cortada acompanhada por calças de linho preto e o relógio prateado; Colocou o sobretudo e finalmente disse:

- Vamos.

- Preciso pegar algumas coisas em casa. – Luka disse, levantando e prendendo as longas madeixas douradas com uma fita.

- Claro.

- Lud, cuide de deixar as malas no lugar que lhe mostrei, sim?

- Claro. – Lud colocou um par de luvas de couro. – Serei rápido, podem levar o carro.

As botas de Lud estalaram no chão e ele sumiu pela porta, levantando uma trilha de folhas secas pelo caminho sinuoso que levaria a seu destino.

- Luka, nos encontramos de novo daqui a três horas.

Os dois sincronizaram os relógios, Luka pegou o carro e Alexis a moto, ambos preferiam caminhar, mas se fossem caminhar demorariam uma eternidade, e o pior, amanheceria antes.

Tinham dezenas, talvez centenas de pessoas para encontrar, e o objetivo era um só, apagar qualquer rastro da existência de Absinthe da face da Terra, ela nunca existiu, nunca viveu, nunca conheceu ninguém e ninguém nunca a conheceu... Era imaginação e inexistência, somente isso.

E para que conseguissem, usariam algo chamado Corrente, que consistia numa ideia simples: Um humano era infectado com uma ideia, e sempre que falasse com qualquer outro humano, este seria contaminado pela mesma ideia, e assim sucessivamente.

Ou seja, iriam infectar os amigos, colegas e família de Absinthe, e sempre que estes falassem com qualquer outro humano, este apagaria Absinthe de sua mente também.

E ao fim da corrente, ninguém mais no planeta iria se lembrar dela.

Foi assim que apagaram a memória da primeira grande guerra...

***

Algumas horas se passam, falta pouco para a hora de amanhecer, e em breve os três estariam de volta, antes que o sol rompesse a barreira dos prédios e montanhas.

Absinthe sentou-se novamente no sofá, esperando voltar a ter a sensação firme de suas pernas para poder levantar novamente, e já se sentia pronta para levantar, assim que encontrasse um bom motivo.

A luz da sala se acende, irritando os olhos acostumados ao ambiente escuro dela, Absinthe cerra os olhos, cobrindo-os com uma das mãos e olhando na direção do interruptor, esperando encontrar Alexis ou Luka encostados ao batente... Mas não, tinha olhos dourados...

- Quem é você...? – não se atreveu a falar mais alto que um sussurro.

- Meu nome é Caim de Vanice, e eu venho aqui entregar um recado ao senhor da casa de Devareux.

- Erm... Temo que não possa ajuda-lo.

- Quem é você?

- Meu nome... É Absinthe Cardelian.

- Hum, o alvo de meu irmão... – disse, com sua postura altiva e olhos frios.

Um bom motivo.

Ela o observou no mais puro e refinado pânico, ia ser arrastada dali, uma situação já bem ruim, para uma realmente muito pior.

- Seu... Irmão?

- Vincent de Vanice, meu irmão, filho do sol, e traidor do juramento das quatro famílias.

Engoliu seco, imaginando o que deveria fazer a seguir.

- Irmão que será exterminado pelos... filhos da noite. – tinha ainda um certo desconforto ao citar a espécie antagônica, era difícil se habituar a eles. – Mas... É isso que cabe a um traidor...

Respirou fundo e olhou os olhos da humana que havia estancado onde estava, mas tinha todos os sentidos prontos caso fosse preciso se defender do novo individuo que havia chegado tão repentinamente à casa.

- É noite e tive de interromper meu sono para vir até aqui, espero que possa concluir meu objetivo...

- Caim! – Lud está parado no corredor. – Como ousa invadir a fronteira da casa dos filhos da noite sem ser previamente anunciado, é um desrespeito às nossas normas.

- Mil perdões filho da noite. – Caim endireita a postura, seus olhos dourados parecem faiscar. – Mas não me dirijo a gente como você. O único com quem vim falar é o senhor dessa casa.

- Está em minha casa imortal... Muito cuidado com as palavras...

- Hump. Ameace alguém a quem você realmente poderia machucar vampiro, se não, me diga quando Alexis regressa e eu partirei.

Lud estreita o olhar.

- Não tenho a obrigação de lhe dizer coisa alguma, se Alexis quiser algo com você, ele mesmo o procurará.

Os braços fortes de Lud se cruzam sobre o peito, além de alto, ele era grande, e sua expressão transbordava perigo. Surpreendente a indiferença e o descaso com que Caim o tratava.

- Então esperarei por ele, ele deve voltar por isso. – ele aponta Absinthe dentro do aposento. – Ele sempre foi chegado em joguinhos... Hump... Ridículo.

- Não ouse desrespeitar o meu irmão! Ele não deveria ter poupado a sua vida!

- Eu também poupei a dele, não devo nada a ele. – Caim cruza os braços.

Lud da alguns passos pra frente, mas o braço de Alexis para seu peito antes que ele fizesse alguma besteira.

- Não. Não faça nada que possa custar mais caro do que o que você pode pagar Lud...

Com um rosnado irado, Lud da as costas e desce as escadas com passos duros, apertando as mãos em punho para não voltar lá e fazer aquele maldito imortal engolir cada uma de suas palavras.

- Deveria manter aquilo numa coleira Alexis, pode morder alguém. – Caim brincava com uma moeda que tinha entre os dedos, com um pequeno sorrisinho no canto dos lábios.

Absinthe não ousava respirar alto demais, tinha medo de chamar muita atenção dos dois seres opostos que se encaravam fixamente naquele momento.

Ao que parece, os termos do tratado de paz eram pavimentados em diplomacia, desconfiança e hostilidade.

- Muito atrevimento seu, vir na minha casa, ofender a minha família, e esperar que eu o escute. Está se tornando exageradamente prepotente Caim... Eu tomaria cuidado com a língua... Ou talvez algum dia alguém tire ela de você.

- Está me ameaçando, vampiro?

- Não sei, estou?

- Hump. De qualquer forma não foi por isso que vim aqui.

- Seria um desperdício monstruoso do meu tempo se fosse.

- Então relaxe, tenho coisa melhor a dizer.

- Sou todo ouvidos.

- O meu irmão, traiu a família, e... Ele não carrega mais o anel dos de Vanice.

- Ele tirou...?

A máscara fria de indiferença de Alexis cai quando a notícia mais chocante que poderia receber é jogado em seu colo.

- Esta manhã, e não pertence mais a minha casa, não vive mais sobre as nossas leis, agora eu não posso fazer mais nada para ajuda-lo na sua busca Alexis, ele entregou a alma... – por um momento, um extremo e miserável pesar cruzou o olhar altivo de Caim. – Só... Faça com que o fim dele seja rápido... Por favor.

Os olhos de Alexis o observam chocado, enquanto ele abaixa a cabeça em tom de suplica enquanto pediu desesperadamente que não torturassem seu irmão traidor.

- Caim...

- Não diga nada, por favor. Meu orgulho já foi pisoteado, se sentir pena de mim, não haverá mais o que tirar... É tudo o que eu peço... Que ele tenha um fim rápido, eu... – Caim toma fôlego, engolindo seu orgulho que sofria e se despedaçava. -... Imploro a você.

Os olhos dourados de Caim estavam voltados ao chão, não tinha como olhar nos olhos de Alexis depois de implorar-lhe algo, seja o que fosse.

Alexis, mesmo que por natureza não simpatize com o antagônico irônico e normalmente altivo, compreende sua posição, se algum de seus irmãos se perdesse, ele provavelmente faria o mesmo. E sabia que o orgulho de Caim agora tinha lacerações que só cicatrizariam depois de muitas décadas.

- É só isso. – Caim passa por Alexis e deixa a casa dos filhos da noite, caminhando pela rua até sumir na neblina espessa da madrugada.

Alexis passa as mãos pelo rosto, correndo os dedos pelo cabelo castanho sedoso e olhando pra porta onde Absinthe se encontrava, ela provavelmente não era ciente da cena que acabara de presenciar como algo quase impensável.

Um mestre jamais implora, jamais.

Sem nem ao menos olhar para dentro do aposento onde ela possivelmente se perguntava o que havia se passado, Alexis deu meia volta e desceu as escadas, se dirigindo ao andar de baixo e a biblioteca da casa, um dos poucos lugares onde sabia que teria paz, sentado em frente a lareira com os olhos vagando pelas prateleiras de títulos de todas as épocas.

Sentado na poltrona de couro vermelho e lustroso ele massageava têmporas, não ouvia som algum, até que o barulho estridente e repetitivo do celular fez zunirem seus tímpanos.

- Alexis. – disse ao telefone.

- Ciao fratello. – Giovanni disse ao telefone, com seu sotaque arrastado e delicioso.

- Oi Giovanni. Do que se trata?

- O sol nasceu e nós estamos esperando escurecer, aproveitando isso, vamos escolher as casas que vamos ficar aqui pela cidade.

- Certo. Relatório.

- Ao que parece, Vincent e os mestiços ficam em algum lugar embaixo de uma igreja, naqueles tuneis escuros, por que a planta é complicada e é mais fácil se proteger.

- Hump, se escondendo em buracos, não esperava nada diferente.

- Muito bom fratello, agora io e os outros vamos dormir um pouco. Já fazem dois dias.

- Certo, até Giovanni.

- Ciao.

Desligando o telefone e atirando-o na poltrona da frente, Alexis suspira e crava os dedos nos cabelos, jogando as costas pra trás no encosto.

Ele corre os olhos pelas prateleiras de madeira polida e vai pegar a ânfora de bebida esverdeada onde tem uma etiqueta muito antiga e já amarelada, escrito: “La Fée Verte”.

Pegou uma das taças de cristal especiais a esses fins colocando-a sobre a mesinha de madeira, servindo a bebida verde translúcida em uma dose muito bem colocada.

Com a taça em mãos ele voltou a se sentar na grande poltrona de couro vermelho, sorvendo um pequeno gole e apreciando silenciosamente o sabor levemente picante.

As mãos estavam frias e os músculos cansados, não queria ter de entrar e guerra novamente, essa lembrança o deixava melancólico e fazia sua cabeça latejar.

A culpa é sua, você sabe disso...

Ele observava o interior alcoólico da taça, sentindo a sensação mórbida da batalha iminente, fora do seu controle evitar, por mais que quisesse.

O sangue corre rápido nas veias, detesta ter de se ajustar as situações, conformar-se de que o que está por vir está fora de seu governo, fora de suas mãos...

Ele levanta, deixando a taça de liquido verde-esmeralda sobre a mesinha e saindo da sala, pondo-se em movimento, ocupando-se para sentir um pouco menos os efeitos da pressão que pesavam seus ombros com a costumeira e familiar responsabilidade esmagadora.

Subindo as escadas ele procura com perfeição pétrea a localização da garota que moraria com ele até que algo dissesse o contrário, estava cansado e queria voltar logo para casa, para poder ter um pouco de descanso, finalmente.

Finalmente, quando encontra-a sentada no batente da janela respirando o ar frio e úmido daquela noite de outono, ele chama seu nome.

- Absinthe.

Ela volta seus olhos na direção dele, a névoa de incerteza e apreensão volta a enegrecer seus olhos verdes.

- Sim?

- Vamos, preciso dormir.

Assim simplesmente, ele sai pelo corredor, e ela o segue em passos apressados para acompanhar o ritmo naturalmente mais rápido que o dela.

Os dois descem as escadas, com uma distancia relativamente segura dele, e ele sem se importar muito com isso, manteve-se afastado. Caminharam até o Camaro negro estacionado do lado de fora da casa, que pertencia a Luka, e que Alexis pegava emprestado, uma vez que Luka havia levado o seu carro.

Ela deslizou pelo acento de couro e encarou os olhos cansados e estressados de Alexis, ela não compreendia, mas ele parecia carregar o mundo nas costas.

Ele pisa no acelerador e o motor ronca como uma fera enjaulada, queimando os pneus em uma fumaça negra enquanto sumiam pela rua escura e repleta de folhas secas.

***

Chegando a casa não muito grande, nem suntuosa, comparativamente com a outra, esta cheia de pequenos arbustos de e hibiscos vermelhos.

Ela desce do carro e caminha até a porta, destrancada, a casa era isolada como a outra, o último vizinho havia sido deixado para trás há uns dois quilômetros, e ambos estavam sozinhos naquela agradável propriedade de hibiscos vermelhos, damas da noite e orquídeas.

Alexis entra e deixa a porta aberta, Absinthe passa pouco depois, sentindo o espirito artístico queimar com a vontade de bater algumas fotos, pintar, assim como teve quando avistou a imensa casa enforcada por lindas roseiras e vitrais coloridos nas janelas.

Depois de se demorar um pouco na porta ela adentra a residência e observa Alexis escorregar o sobretudo preto pelos ombros e atirá-lo sobre o sofá de tecido opaco e macio, possivelmente camurça.

- Seu quarto é no andar de cima, posso indicar se quiser. – ele diz, abrindo as abotoaduras das mangas da blusa, e desabotoando os primeiros dois botões no alto da mesma.

Sua voz e firme e aveludada, quase um carinho, um consolo terno aos ouvidos que passaram por tanta discórdia em tão pouco tempo... Quase um convite...

- Não! – ela cobre a boca com as mãos, o não enfático reverberou pelas paredes até voltar novamente aos seus ouvidos, num eco quase em pânico.

Gritava consigo mesma, mas acabou por dizer alto... Alto o bastante para ouvir a palavra negativa soando umas três vezes antes de se dissipar.

- Como quiser.

Ele dá as costas e começa a subir as escadas, não tinha particular interesse em qualquer tipo discussão agora, estava cansado, havia umas três noites que não dormia nem sequer uma hora, estava exausto, e isso lhe consumia mais energia do que o que ele estava disposto a dar.

Absinthe se perguntava se não o tinha irritado, isso com certeza é uma coisa a qual ela não queria, tê-lo como inimigo seria a pior coisa que poderia fazer.

Subindo as escadas e observando as diversas portas do corredor, ela procura alguma que estivesse aberta, encontrando uma que localizava em frente a uma janela situada mais ou menos no meio do caminho, entrou e encontrou suas malas encostadas em uma das paredes acetinadas.

***

Deitado a cama, Alexis sentia-se pregado a ela, preso por uma pilha de entulho pesado, seus músculos pareciam ranger quando ele os flexionava, a cada respiração enchia seus músculos de desconforto.

As cicatrizes que carregava por baixo da pele indefectível ardiam, podia senti-las pulsar, quentes, correu os dedos pelo peito, onde uma fina linha imaginária se delineava transversalmente ao peito.

Levantou e abriu a camisa, olhando o reflexo no espelho, no meio da escuridão do quarto de cortinas pesadas, o lugar onde lhe ardiam as velhas feridas estava vermelho, rosáceo. Todo o seu corpo despertava em alerta, a ameaça despertava isso nele, assim como fazia questão de lembrá-lo usando exemplos do passado...

Não deixe que aconteça novamente... Não falhe...

Olhou os próprios olhos e se surpreendeu com o brilho assassino que encontrou olhando-o de volta. Suspirando voltou a se sentar, encarando o teto branco acima de sua cabeça, após alguns momentos fechou os olhos, deixando que a escuridão acalentadora da inconsciência afagasse seus pensamentos disparados, e o sono finalmente sobrepôs-se a razão da autopreservação.

Não falhe...

***

Ela caminhava pelo extenso corredor acarpetado, ouvindo os próprios passos estalando no chão, estava ansiosa e não conseguia dormir. Seus pensamentos vagam, a agravante sensação de perigo e proteção que sentia ao se aproximar de cada um dos membros da família de Alexis a angustiava, e o próprio Alexis incitava sua curiosidade de formas que não sabia exatamente como determinar.

Por alguns segundos parou no meio do corredor e voltou seus olhos para o chão de tecido macio e aveludado, ouvindo claramente as palavras de Alexis soando em sua mente como se ele as estivesse dizendo naquele momento...

“Minta pra todos, até pra você mesma... Mas nunca vai conseguir mentir pra mim, eu vejo através de você...”

Um arrepio cruzou sua espinha quando o tom ameaçadoramente tentador de Alexis percorria seus pensamentos. Passou as mãos pelos braços de repente gelados, e virou-se para passar por um instante a visão para o espelho, parou diante dele, correndo as pontas geladas dos dedos nervosos pela pele branca a fina e branca de seu pescoço, onde podia sentir o sangue pulsar sob uma frágil camada de carne.

Engoliu seco ao pensar quantas vezes os caninos de Alexis já haveriam rasgado esse fino invólucro de pele e drenado a vida de dentro dela. Os joelhos tremeram diante da inebriante lembrança do veneno invadindo seu sistema, apagando seu desejo de resistir, fazendo fraquejar os joelhos trêmulos e queimar a sanidade e a racionalidade...

Fechou os olhos por um momento, sentindo a garganta secar, as mãos ficando geladas e suando frio, passou a língua pelos lábios pra umedecer e seguiu caminhando pelo corredor, antes que seus joelhos estancassem seus passos no mesmo lugar e ela se perdesse nas memórias quentes que tudo aquilo lhe trazia.

Uma porta branca encontrava-se entreaberta, e a escuridão se instaurava do lado de dentro com intermitência trêmula, velas talvez.

Abrindo suavemente a porta, sentindo-se quase uma invasora, ela observou o interior de luz alaranjada e inconstante, forçando os olhos a pouca luz, entrou no aposento e encostou novamente a porta, correndo os olhos pelos arredores do quarto seus olhos recaíram sobre a cama de lençóis brancos de cetim, e logo em seguida na figura adormecida de Alexis sobre ela.

Segurou uma exclamação nervosa, engolindo-a de volta com dificuldade. O peito do vampiro subia e descia com ritmo constante, os olhos permaneciam fechados, e sua expressão, plácida.

O cheiro levemente apimentado de perfume masculino entrou por suas narinas, e pequenos choques elétricos fizeram suas pupilas ficarem um pouco mais dilatadas na escuridão. Ela engoliu seco, tudo que precisa, mais um motivo para pensar.

As ondas de cabelo castanho se espalhavam pelo rosto perfeito de maneira desordenada, sobre o peito exposto repousava a mão esquerda do rapaz que antes considerava normal, e um anel prateado encontrava-se nessa mesma mão.

Se aproximou dele e observou o anel de perto, tinha uma pedra vermelha como sangue no centro, e esta era abraçada por duas pequenas hastes de prata, como mãos que seguram uma pequena bola de cristal, cuidadosas e delicadas.

Demoradamente correu os olhos pela figura adormecida, e depois atirou-se para fora, encostando a porta e correndo de volta ao seu quarto, se encolhendo na cama e fechando fortemente os olhos.

Haviam coisas que não queria pensar, essa era uma delas, podia claramente imaginar aquelas mãos quentes e suaves abrindo os botões de seu vestido, subindo a barra de tecido esverdeado com cuidado, enquanto corria os dedos por sua perna... E pior, cada vez pior.

Engoliu seco, enfiando a cara no travesseiro de penas de ganso e ficando as unhas nas laterais macias da massa de plumas brancas sob o tecido espesso.

Era errado fantasiar com seu raptor, seu raptor frívolo e indiferente, e suas mãos mágicas e hábeis...

- Maldição... Eu o odeio!

Levantou uma das mãos e atirou o vaso de porcelana pintado a mão na parede, ouvindo-o se estilhaçar em centenas de pedaços, espalhando as flores recém-colhidas pelos cacos e pela escassa água que havia dentro.

Estava esgotada, e o cansaço venceu a revolta em pouco tempo, para fechar-lhe os olhos e atirá-la em inconsciência...