Quando despertou finalmente, a primeira coisa que seus olhos puderam focar, foram os dois pontos prateados luminosos que a observavam com insistência tranquila.

Tomou ar pra gritar, mas sua boca foi coberta por uma das mãos do vampiro cujo quarto havia invadido a não muito tempo.

- Invadiu o meu quarto. – a voz aveludada soava acusatória e inquisitiva. – Por quê?

- Foi um acidente, nada mais. – disse, tirando as mãos de perto de si com grosseria palpável.

O predador de olhos cor de aço inclinou levemente a cabeça para o lado, pendendo suas mechas de cabelo castanho sobre os olhos.

- Mentira.

- Não estou mentindo.

- Aposta seu pescoço nisso? – ele pergunta, exibindo as presas afiadas num sorriso.

Ela abre a boca pra falar, mas as palavras se amontoam no fundo de sua garganta e não saem, as linhas finas dos olhos dele pareciam ler a verdade daquilo que ela mesma queria acreditar.

- Foi o que pensei. – seu sorriso se torna levemente mais irônico. – O que queria?

- Estava andando pela casa, queria me distrair.

- Não está me contando a história toda, do que queria se distrair?

- Estava pensando em tudo o que aconteceu nos últimos dias... Foi... Tanta coisa.

- Mentira de novo. – ele estreita o olhar. – O que está escondendo?

- Nada.

- Seus olhos, são os olhos escuros de uma humana desejosa por algo, algo que foge ao seu controle, e isso lhe deixa irritadiça. Por isso está evitando me olhar nos olhos.

- Não te olho nos olhos por que os seus olhos me assustam.

- Não assustam não. Você tem medo que eu saiba o que você está... – sua voz se silencia, um sorrisinho maldoso se forma no canto de seus lábios. – Andou tendo algum pensamento obsceno e está frustrada com isso. E está frustrada por que fui eu. – uma risadinha maliciosa irrompe o sorriso.

- De onde você tirou isso?!

- Está gritando.

- Escute Alexis, por mais que você ache isso, o mundo não gira ao seu redor! Entenda isso!

- Não o mundo, mas os seus pensamentos sim.

- Sabe o que eu acho, de verdade?! Que você é um cretino, mentiroso, manipulador, frívolo, insensível, grosseiro, imbecil!

Ela levanta, a raiva queimava em seus olhos, o sorriso dele apenas se torna mais sarcástico.

- Um cretino, mentiroso, manipulador, frívolo, insensível, grosseiro, imbecil, pelo qual você queima de desejo por. – ele levanta também.

- Prepotente, arrogante, mulherengo, desalmado, mesquinho, descarado! – pegando o outro vaso que fazia conjunto com o agora permanecia quebrado no chão, ela atira ele na direção do seu atual foco de raiva.

Ele segura o pequeno objeto com uma das mãos e deixa sobre a penteadeira próxima a ele, observando o fervor do ódio queimando pelo corpo dela.

- Não sente nada! Eu não sou seu maldito brinquedo! Não sou! Não sou! – ela fecha as mãos em punho, fincando as próprias unhas na carne macia de suas mãos. – Não sou sua fonte de entretenimento! Você nem ao menos me conhece! O que quer de mim afinal?! Por que quer tanto assim me fazer sofrer tanto?! Não é o bastante pra você que eu já tenha perdido na minha vida?! EU NÃO EXISTO!

As lágrimas de ódio queimam em seus olhos, escorrendo quentes pelo rosto rosado pelo sangue que fervia nas veias.

- Não. Não é. – ele declara impassível.

- O que mais você espera?! Minha alma?!

- Não. – ele se desloca em passos firmes pelo quarto, parando em frente a ela, a pressão estoica em seus olhos a faz recuar alguns passos até colar na parede. – Sua alma não é o bastante.

Ele coloca calmamente os dois braços parados um de cada lado da cintura da garota que agora tremia de raiva.

- Você se diz diferente daqueles que caça, se diz superior aos humanos... Mas no fim, você é um assassino frio assim como qualquer mestiço. – o olhar dela se enche de ódio.

Os olhos prateados dele se estreitam, as pupilas negras se alongam numa fina linha vertical.

- Você é uma humana muito confiada...

Ele reclina as costas até ficar na altura dela.

- E você é um vampiro sádico e controlador, quem é pior?

- Eu já matei por menos... – seu tom se torna gelado.

- Então mate! Eu não existo! Pelo menos vou saber que você vai ter de arrumar outro joguinho pra passar o tempo...

Os caninos dele roçam a pele fina do pescoço dela, e a respiração dele sobe a espinha de Absinthe num arrepio quente e frio.

As presas afiadas dele cravam impiedosamente a veia vital que corria por debaixo da pele de mulher dela, e ele deixa que o sangue dela inunde sua boca com o sabor férreo e apimentado de raiva, sabor que ele não experimentava há muito tempo.

Não demora muito para que os joelhos dela não sustentem mais o peso do próprio corpo, mas os joelhos dela não iriam salvá-la dessa vez, iria drenar o sangue das veias dela até que estivesse verdadeiramente feliz com isso, não importando se isso fosse matá-la, ela foi além daquilo que lhe era permitido, e iria ceder aquilo que ele desejasse dela. Para tanto, ele segura suas mãos e sustenta o peso diminuto do corpo frágil dela com o próprio, prensando-a na parede.

A concentração de veneno correndo em suas veias se torna intolerável, e ela começa a ver estrelas, e detestava ter de admitir, por mais cretino que ele fosse, ainda era único que jamais conseguiria tirar esse tipo de reação dela.

Morreria sabendo disso, mas ele não.

Ele solta os pequenos dois pontos de seu pescoço, cicatrizando-os demoradamente, ela suspira pela demora torturante da língua quente e úmida dele em sua pele sensibilizada.

- Cansei de brincar com você humana.

A voz dele parecia um afago distante a sua audição embaçada, sua respiração desestabilizava-se com cada tentativa de regula-la, morreria se esse fosse o caso, mas morreria sabendo o que perdeu até hoje.

Morreria sabendo como era ter experimentado do mestre da casa dos filhos da noite.

Ele levantou seus olhos e encontrou os enegrecidos olhos de Absinthe perdidos nos devaneios da droga que ele mesmo havia fornecido a ela.

Ele pode sorrir sarcasticamente antes de unir seus lábios num beijo úmido e com o forte sabor do sangue dela mesma. Não se importava mais, se afogaria nos lábios quentes daquele vampiro cretino antes de morrer, se ele quisesse quebrar-lhe o pescoço depois disso não importava mais, mas se recusava a partir antes de saber qual seria a sensação de tê-lo entre suas pernas.

... Realmente devia estar alterada para além de suicida, estar sendo tão fácil...

Maldito fraco por artistas, maldita humana convencida, iria tirar-lhe até a última gota de sanidade refinada, ela morreria enrolada a ele, e pouco lhe importava o que faria a seguir.

O vil predador acorrentado no fundo de sua mente rasgou as paredes de seu bom senso, tomando toda a sua mente em frações de segundo, atirando suas noções de dever no mesmo buraco de onde tinha se libertado, e para onde só voltaria depois de ter satisfeito toda a sua luxúria, tão forte e tão violenta que chegava a lhe doer os ossos, os músculos, os caninos.

Tudo pulsava ritmado ao coração disparando da humana que agora jazia deitada na cama de lençóis brancos, com os olhos tão dilatados que mal conseguia contemplar a íris verde esmeralda.

A paciência lhe escorria os dedos, enquanto se afogava no quase infinito beijo que tirava da humana agora, junto com o ar de seus pulmões.

Impaciência que não era somente dele, ela lhe desabotoava a camisa com a mais pura falta de calma, e ele cravava os dedos no cabelo sedoso cor de cobre que desejava a algum tempo.

Deus, chegava a ser torturante, o desejo ardente que lhe corria as veias de sangue negro, não sabia como ela não estava com medo com o provável olhar assassino que exibia agora, seus olhos predatórios possessivos possivelmente quase não exibiam mais a pupila, talvez somente um linha entre o mar luminescente.

Mordeu suavemente o lábio inferior da humana, deixando a respirar, rasgando superficialmente a carne rosácea e macia, levemente inchada com o contato por tanto, tanto tempo.

Não tomou total ciência de como haviam terminado de livrar-se das roupas que usavam, mas não era o mais importante naquele momento, havia tanto, tanto que consumia sua vontade de saber, que não houve nem sequer discussão.

Ela tomou fôlego e novamente jogou os braços ao redor da nuca do raptor sádico e assassino que agora a tomaria para si, e voltou a se afogar nos beijos incandescentes que ambos trocavam toda vez que a corrente elétrica corria pelos nervos de ambos.

Tomou-a sem cuidado algum, sabia que podia quebrá-la, mas não se importava com isso, nem tão pouco ela, ele ditava o ritmo que ela tinha de acompanhar, e seria assim, ponto.

Um gemido sofrido e apaixonado se rasgou pelos lábios dela, não havia mais nada no mundo que ela quisesse mais do que queria ele, e ele ocupava-se em explorar lhe cada milímetro de pele macia e perfumada com as mãos.

Os dedos finos e suaves dele correram sua pela quente, ela arqueou levemente as costas na direção do toque dele, impulso, nada mais que pudessem controlar.

Por fim, quando ambos finalmente se consumiram no ápice do prazer que poderiam trocar, ele ficou observando os olhos dela se nublarem lentamente.

Até que ela finalmente desmaiasse, para que ele pudesse então levantar e voltar ao próprio quarto, com certeza estaria com ressaca quando acordasse...