Exile 3: O Renascer

Capítulo 17: O Resgate Parte 1...


Estava tudo pronto...

Não havia dia melhor que esse para um ataque surpresa à casa do demônio Absolen, ele estaria perfeitamente indefeso e enquanto os guerreiros celestiais destruíam seu forte eu resgataria Alan de seus domínios. Meu coração estava cheio de esperança, eu estava confiante e louco para realmente ajudar, pois o que fazia era apenas ser um simples mensageiro, nada contra, mas eu queria fazer algo mais... mais heroico do que enviar mensagem para lá e para cá.

Era bem cedo quando eu fui chamado para o Salão dos Portais, o conhecido salão branco onde residem os seres celestiais responsáveis pela organização das dimensões. Eles cuidam do que acontece na Terra e em outras dimensões. Cada um representa uma dimensão, por exemplo, o Guardião representava o Exile entre todos os outros.

Eu pensei que nunca mais iria pisar naqueles pisos brilhantes do enorme salão, pensei que eu iria descansar eternamente com minha família em meu paraíso, porém, eles não tinham opção a não ser e chamar de volta e me nomear o mensageiro deles, não os culpo, esses tempos eram cruéis e como eles eu fiquei sem ação sabendo que o meu maior temor voltou das profundezas para me atormentar novamente...

Olhando as enormes colunas de quartzo branco e admirando o local eu senti novamente aquela paz interior que há muito tempo não sentia... O ser de luz deveria estar aqui porque sua áurea de bondade e amor se propagava por quilômetros. Ele era uma força poderosa, eu sabia e sentia. Olhava nos olhos dos seres residentes e via como eles olhavam para o bondoso ser, eles ficavam maravilhados estar na presença dele, mesmo ele pouco aparecendo aqui. Ele não costuma vir muito aqui, na verdade, seres celestiais me contaram que ele quase nunca saia de seu dormitório. Mas com toda essa guerra e crise acontecendo ele despertou e passou a cuidar mais dos assuntos em relação a isso, eles me contaram também que ele sentiu que estava muito ausente de seus companheiros.

Dei passos leves e calmos até chegar do outro lado do grande salão, bem embaixo da grande cúpula com telhados de vidro e um lustre dourado e repleto de velas residia uma enorme escadaria que dava em outra escadaria, uma visão maravilhosa para aqueles que a apreciavam por um bom tempo.

— Ele quer vê-lo antes da batalha — Um desses seres surgiu atrás de mim e como os outros ele trajava um terno completamente branco, sempre carregando um olhar enigmático e um pequeno sorriso fraco em sua boca. — Ele está lá em cima — Ele imediatamente aponta para a imponente escadaria e eu agradeço a ele por ter me avisado. Sigo até o pé da escada e olho para cima, o lustre de ouro e repleto de velas dava ao lugar uma elegância descomunal. Estava com pressa, então respirei fundo e com o pé direito comecei a subir até dar em um corredor com apenas uma porta no final dele. A porta de madeira colonial bem envernizada e simples era o único caminho que existia ali, não havia outra passagem no lugar, o que residia ali era apenas uns quadros de árvores e flores pintadas e uma poltrona aconchegante. Segurei a maçaneta prateada e antes de empurrar a porta para entrar respirei novamente. — Vamos lá... — Falei enquanto abria a porta, estava adentrando o local mais importante de todas as dimensões, era o dormitório, escritório, chame do que quiser; era onde o ser de bem passava a maior parte do tempo que ele tinha, era o seu lugar de descanso. Quando tive coragem de abrir a porta estava imaginando um cômodo gigante com colunas imponentes e uma janela com vista para o exterior, um digno escritório para uma pessoa digna, só que onde apareci era muito diferente...

Senti uma brisa tocar minha face e junto com ela uma friagem gostosa que me lembrava o parque onde levava meu filho Arthur às vezes depois de sua escola. Abri os olhos e estava em um campo cercado de árvores e plantas incrivelmente bonitas. Um jardim incrivelmente cercado pela natureza, árvores e plantas com folhas tão verdes que chegava a doer os olhos se ficar olhando por muito tempo. Flores e arbustos cercavam um caminho feito de pedras perfeitamente alinhadas e atrás de mim existia um riacho com uma água pura e tão transparente que possibilitava ver os peixinhos bem pequenos nadarem por ali. A porta atrás de mim desapareceu e eu fiquei maravilhado com o lugar, eu realmente imaginava uma sala mais bonita que o Salão dos Portais, mas eu acabei vindo parar em uma floresta tão frutífera que poderia ficar admirando a sua beleza pelo resto de minha vida.

O sol me cegava um pouco, visto que ele estava muito perto daquele lugar, só que ele não esquentava muito, parecia um sol de um dia nublado que estava prestes a sair das nuvens esquentando o frio do inverno longo. E por causa disso não conseguia olhar para o céu, mas naquela hora não me importava tanto com isso... — Seguindo... — Comecei a andar pela estradinha de lajotas admirando a beleza do lugar. Borboletas de cores bem diversificadas voavam por mim e pássaros pousavam nos galhos das árvores para me ver passar, aquilo era tão mágico, tão magnífico.

Pássaros recheado de cores e completamente belos com suas penas lisas e limpas era o que se via pousados em maioria das árvores da floresta. Sentia que ao andar eu parecia flutuar porque eu prestava toda a minha atenção na beleza e esquecia até de andar, parecia que estava andando automaticamente, não havia palavras para expressar aquilo que vi...

Cheguei a uma bifurcação. Dois caminhos, um para a esquerda e outro para a direita. Mas o que me prendia a atenção era o que existia no meio de ambos, uma poltrona de pedra branca, – parecia um trono simples- cercada de vinhas que deixava o objeto mais bonito de se ver. O trono tinha um acompanhamento de uma mesinha feita do mesmo material e sobre ela havia um livro grosso e de aparência medieval. Com uma capa de couro liso e adornada com o que parecia ser ouro, o livro parecia conter mais de mil páginas e também percebi que ele ficava trancado por um cadeado pequeno e prateado. Do lado do livro continha um frasco de tinta e uma pena, as antigas canetas, na hora bateu uma curiosidade ver o que tinha dentro do livro, mas tinha uma missão para resolver, então, deixei para lá.

— Quais caminhos devo prosseguir? — Estava quase escolhendo na sorte quando algo me chamou a atenção... Olhei para o caminho da direita e percebi que um pássaro pousou e olhou para mim, olhar para ele me fez perceber que ele estava me indicando o caminho que deveria rumar, não sei como explicar, mas sentia que aquilo foi uma dica para chegar até ele. Passava em minha mente naquela hora o que poderia estar noutra rota, será que eu poderia ir até lá? Bem... é difícil viver se você é muito curioso. Eu sempre fui muito curioso e atrevido, quando criança eu aprontava cada coisa que deixavam meus pais de cabelo em pé, contudo, sentia que o meu jeito de aprender as coisas da pior maneira possível me preveniu para o futuro desventurado de minha vida. Ora fui um detetive e mesmo que não fui um dos maiores, aprendi que a curiosidade têm dois lados e para se decidir qual escolher você deve primeiro, parar e analisar tudo a sua volta para então decidir seu caminho.

Me agachei e acariciei a ave que sem medo até chegou perto de mim. — Direita? Então devo prosseguir — Levantei e continuei andando. O pássaro – que aparentava ser um beija-flor, nunca fui bom com tipos de aves- depois de eu sair bateu suas asas pequeninas e voou livre pelos céus esplêndidos daquele lugar misterioso.

Parecia que logo no primeiro passo que dei sentia a presença dele, uma áurea iluminada de bondade, amor e com conhecimentos absurdamente antigos. Um ser tão poderoso, mas ao mesmo tempo tão humilde que fazia seu coração se questionar de como foi sua vida quando vivo. Em um mundo cruel cheio de mortes e mentiras ninguém imaginaria que ele seria assim tão bom e cheio de amor por aqueles que até mesmo já fizeram coisas tão horríveis que feriria o coração de qualquer um.

No final do caminho dava-se a um enorme lago com águas cristalinas no pé de um morro verdejante que desaguava uma cachoeira que até aparentava um véu de uma noiva. Olhar aquela paisagem me fascinava, acreditar que um dia a Terra já foi assim me enchia de alegria e ao mesmo tempo tristeza por saber que nós não a cuidamos e a destruímos. Finalmente eu consegui ver o céu e olhar aquilo era um pouco desconfortável... Acima de mim estava um límpido céu cercado de estrelas. Mas como assim? Era o que pensei na hora, estava de dia e do nada virou a noite? Era difícil de explicar, o sol ainda estava lá iluminando o céu, mas a vista era para como se fosse o espaço, um imenso mar azul escuro e iluminado com pontinhos brancos brilhantes. — É tão... indescritível — De longe eu o vi, estava agachado na margem do lago mexendo em algo no chão. Queria acreditar que ele ainda não percebeu minha inesperada visita, porém, ele já sabia... Aproximei-me dele e percebi que estava alimentando os peixes. – que incrivelmente chegavam até ele e aguardavam pacientemente até chegar sua vez de se deliciar com um lanche.

— É tão belo, não é? Uma das coisas mais maravilhosas que existe... — Ele se afasta do lago e segue até uma árvore. Ele começa a olhar os galhos e tocar as folhas com um olhar meio triste. — Mesmo que muitos decidam acreditar que a própria humanidade destruiu os que lhes foi dado de todo o coração, muitas pessoas ainda lutam para salvar a beleza desse planeta tão magnífico que lhes dei... — Ele vira e olha me meus olhos — Esperava você, meu filho... — Sempre com um sorriso leve e sempre com aquela alegria que nunca saia de seu coração mesmo quando tudo estava pior. — O senhor queria conversar comigo? — Pergunto mesmo já sabendo a resposta. Com seus olhos taciturnos e sempre visando algo ele espera um pouco e observa, desta vez, ele olha para a floresta com uma face pensativa, logo, volta seu olhar para o fundo do lago e aparenta-me que ele estava vendo algo, mas eu não conseguia ver o que era, só sentia que era algo triste. — Sim, queria muito falar contigo... Eu sei que aqui é a parte mais bela desse lugar, mas eu estou um pouco cansado, podemos ir até lá na frente? Fiz muitas coisas hoje e todos nós precisamos descansar depois de um longo árduo dia de trabalho... — Aceitei, como poderia negar isso a ele? Também me sentia cansado às vezes, acho que era a correria se acumulando em minha alma e me decaindo cada vez mais. Enquanto andávamos pelo caminho ele olhava para tudo, sempre observador e atento, seus olhos castanhos pareciam bailar enquanto ele encarava os mínimos detalhes de tudo a seu redor, era tão incrível. Os pássaros se aproximavam voando de galho em galho até chegar perto dele. Parecia que eles queriam olhá-lo mais de perto, uma atitude diferente na Terra. Lá os pássaros fogem de nós com medo enquanto aqui eles vêm até nós para nos saudar. — Que dia ótimo para um passeio, não acha? — Fala ele sorrindo e olhando para o sol admirando-o.

— Estou sem palavras... — Respondi e ele deu uma risada simples. A clareira onde o trono ficava estava perto e mesmo com um comportamento normal não pude notar sua preocupação e tristeza com algo e essa tristeza tinha um toque de felicidade... É muito difícil explicar ele, talvez para podermos saber mais sobre ele devêssemos saber mais sobre nós mesmos.

A clareira esta bem à nossa frente e parecia que se passou pouco tempo depois de sairmos do lago, mesmo que esteja bem longe desse local. Ele me pediu licença e sentou-se na cadeira de pedra com um pouco de dificuldade, mas conseguiu. Esticando suas costas no encosto da poltrona e colocando os braços nos braços do móvel, fala: — Estou cansado, filho... — Ele olha para mim mostrando suas vistas um pouco exaustas e prossegue: — Mesmo com muitas pessoas me ajudando eu ainda me canso demais. Meus filhos me ajudam muito, mas eu ainda continuo na frente deles os aconselhando e os guiando porque eu sou a luz na vida deles... — Queria muito ajudá-lo, mas quem sou eu para realizar tal feito? Um simples homem, uma simples alma... — Você já está me ajudando, filho, não precisa ficar assim. A sua companhia já é uma grande ajuda e nada melhor do que uma conversa para relaxar a alma, certo? — Essa fala me surpreendeu. Estou cada vez mais fascinado com ele, e tem como não ficar?

— Por que o senhor me chamou? O que queria me falar? — Pergunto.

— Não era meu plano conversar, meu plano era te mostrar esse lugar. Sinto que você está com medo de fracassar e acabar machucando mais ainda seu amigo Alan... — Concordo com que ele falou, estou com medo sim.

— Quando eu saí desse lugar e fui até a Terra ver o que aconteceu eu conheci uma garotinha que estava morrendo de medo e havia perdido a esperança de que tudo iria melhorar. Eu olhei em seus olhos e senti que seu coração estava fraco e ela não acreditava que a bondade ainda existia, mas mesmo assim ela ainda rezava para que tudo melhorasse e que todas as pessoas que estavam sobrevivendo ao ataque de Absolen fossem protegidas... Ela não acreditava que tudo ia melhorar, mas nunca perdeu as esperanças, pois a esperança nunca morre e quem disser que a perdeu está errado. Então filho, acredite e mostre a todos que a esperança sempre estará nos corações daqueles que acreditam.

Ao ouvir aquelas palavras eu praticamente perdi todo o meu medo e receio. Faltava apenas uma coisa para eu ir, uma pergunta simples que eu queria tanto uma resposta:— Senhor, eu queria muito perguntar algo... Posso? — Ele – que estava olhando para o pequeno córrego ao lado do caminho – me encara pensativo um tempo até responder um sim, logo, eu faço a temida pergunta que eu queria saber...

— Entre Herobrine que é um grande guerreiro e líder, além de boa pessoa, eu que...bem... o senhor sabe, porque escolheu Alan? Por que ele é o que os seres celestiais o chamam de o "salvador dos mundos"? Queria muito saber... — Na mesma hora ele fala ainda pensativo: — Entre um guerreiro acostumado com guerras e mortes, entre um detetive acostumado com crimes e mentiras, eu escolheria o homem normal porque ele não apresentaria nenhuma característica e por ele ser alguém comum já é um bom motivo... Ele se mostrou esses anos uma pequena poeira, um simples mortal dentre os seres poderosos que ele conviveu e isso despertou uma coragem e uma força de vontade enorme de fazer o bem em seu coração. Ele quer ajudar e isso é o que o difere dos outros, não falo que você e Herobrine não são bons, falo apenas que ele mesmo nos piores momentos irá dar tudo de si para salvar aqueles que ele ama, ou seja, todos, até mesmo os que ele não conhece — Eu dei uma risada leve por ter achado a resposta perfeitamente bonita e aconselhadora. Ouvir cada palavra que ele falou me encheu de determinação e esperança para realizar minha missão. Agora eu poderia fazer o que tanto temia em fracassar... Preciso salvar Alan e acabar de uma vez por todas com Absolen...