Capítulo Extra-Confissões

Enquanto Liam tomava banho, seus “amigos” foram esperar na sala. O sofá era grande, mas não o suficiente. Alguns se aconchegaram em poltronas ou cadeiras (retiradas da copa e da cozinha), as crianças menores (Sony, Donovan e John) se jogaram no tapete e começaram a brincar e dialogar, Anais, Lennon, Molly, Gene e Lily também ficaram trocando ideias entre si. Por fim todos estavam sentados e conversando:

–O Liam é um babaca. –confirmou Noel.

–Eu nunca fiz nada de ruim para ele e me trata assim. –Reclamou Johnny.

–Eu também! –Andy, Gem e Arthur em coro.

–Pois eu duvido muito. –Riu Nicole-Todos vocês, ninguém nunca foi “rude” com o Liam? Façam-me rir.

–Na verdade eu já. –Avisou Patsy.

–Percebemos pelo veneno que ele estava com você. –Afirmou Andy.

–Mas o quê? –Perguntou Amber, curiosa.

–Bem... Vocês não vão acreditar! Quando nós erámos casados... A Oasis estava bombando então ele mal parava em casa, era turnê atrás de turnê, show seguido de show, quando não, ensaio após ensaio. Claro que era ótimo quando tínhamos um tempo juntos, acreditam se eu disser que Liam Gallagher é carinhoso? –Alguns riram.

–Mas é verdade. –Assentiu Nicole. –Uma infeliz verdade.

–Então... –Prosseguiu Patsy seriamente- Um dia, cansada de esperar por ele, eu saí para me divertir e encontrei... Outro cara.

–Não tem nada de errado nisso. –Interrompeu Sarah.

–Acontece que eu, bem, não me separei do Liam. Quer dizer, eu ainda gostava... Um pouco... Dele. –Se enrolou na fala- Tipo, ele era legal ainda, sabem? Mas só era legal uma vez por mês ou duas, quando ficávamos juntos. No resto do tempo eu queria alguém bacana perto de mim também, e ai... Ah, não me julguem.

–O Liam era corno? –Perguntou imediatamente Noel, com um sorriso maroto e um olhar de deboche, Sarah olhou negativamente e lhe cutucou. –Quer dizer... Você o traiu? Não foi ao contrário?

Alguns segundos em silêncio se passaram com o clima pesado, a pergunta de Noel foi tida como retórica e em seguida Johnny se pronunciou:

–Pensando bem, eu também já fiz umas coisas que ele não gostou. –Os olhares se voltaram a ele-Tipo, uma vez que ele estava muito ansioso, parecia feliz, entusiasmado... Ligou-me: eu atendi. No entanto, eu tinha tido um dia um pouco cansativo e queria ir para algum pub beber um pouco. A gente conversou e ele pediu para eu ir falar com ele o mais rápido possível, que tinha feito uma música nova e queria me mostrar, que ia ser “melhor do que a do Noel”. – Fez aspas.

–Ele usou esse termo? –Questionou Noel.

–Sim, infelizmente sim. –Os outros riram- Mas enfim, eu falei que estava indo o mais rápido possível, mas talvez demorasse um pouco. Pedi que me esperasse e fui beber em um pub. Acontece que eu fiquei um pouquinho embriagado e acabei esquecendo, Liam ficou a tarde toda esperando e um pouco da noite... Cara, ele ficou muito chateado. Quer dizer, não muuuito chateado, porque o Liam nunca fica muito chateado, mas ele ficou bravo... E triste. –Suspirou- Depois daquilo nunca mais me chamou para nada, quase parou de falar comigo. E se eu o convido para alguma coisa é bem difícil aceitar.

Entreolharam-se mais umas vezes cabisbaixos, era como uma sessão de terapia para “aceitar” o Liam. Noel olhou para seus filhos brincando junto de John, filho de Johnny Depp e comentou:

–Mas nada disso dá o direito dele nos tratar assim, especialmente quando nossa intenção é nobre. –Os outros assentiram.

–Acho que ele ficou envergonhado. –Riu Nicole – Por isso arrumou esse barraco, Liam é ótimo para disfarçar seus sentimentos.

Todos olharam surpresos e com olhar arregalado para ela.

–Que foi gente? –Ela deu de ombros- Fui casada com ele, okay? Aprendem-se coisas com quatorze anos.

–Eu também fui casada com ele. –Interrompeu Patsy- Três anos. E ele não me “ensinou” nada disso.

–Pois é... Quem sabe você que não tenha aprendido? Estava muito ocupada, pensando em outro cara “legal” para dividir a cama com você.

–Eu também já fui ruim com ele, hoje ainda. – Anunciou Paul, impedindo que a discussão se fizesse presente- Liguei seis e meia da manhã para “desejar parabéns”, mas vocês sabem que foi para arrumar a surpresa e tals. Ainda sim, ele ficou bravo, nos outros anos eu também liguei, só que sem a parte da surpresa.

Patsy e Nicole se fuzilaram com o olhar, Amber soltou um sorriso indiscreto. Nem Noel, nem Paul disseram nada e Sarah foi pegar uns biscoitos.

X-Y-Y

A fumaça reinava no banheiro, eu estava deitado, definitivamente deitado, na banheira. Pensei em cantarolar alguma coisa, contudo, não daria o prazer de um show grátis para aqueles que estavam na sala, certamente ouvir-me-iam cantar. A água estava com sabão e isso lhe fazia espumas e pequenas bolhas que ao contato com meu corpo me faziam cócegas, agradáveis cócegas.

Eu estava coberto pela água até a altura do queixo, e era deveras confortável, por um minuto esqueci toda a confusão anterior, esqueci que hoje é meu aniversário e que eu sou Liam Gallagher. Não que seja ruim, mas é um pouco cansativo, às vezes.

E o que eles fizeram? São todos uns babacas. Eu teria ficado razoavelmente feliz e até, mais tímido (assumo que me envergonhei um pouco), se não estivesse exausto. Aliás, eu pretendia compor quando voltasse, não? Qual era mesmo a letra?

Suspiro. A intenção foi boa, todavia eu odeio surpresas, qualquer tipo de surpresa. Não vou negar que me emocionei, por exemplo, quando descobri que ia ser “papai” do Lennon, mas também me irritei um pouquinho pela forma com qual me contaram – O pessoal da banda já sabia, Noel nos chamou na madrugada urgentemente para ensaiar não sei o quê e fui convencido pela Patsy a ir, tive de leva-la também. Ele disse que precisávamos ensaiar uma música e me deu a letra após muita discussão, era de madrugada. No papel estava escrito “Meu pai é vocalista da Oasis”.

O pior de tudo? As pessoas ao meu redor sempre insistem em me fazer uma surpresa. É irritante, do nada acontece uma coisa estranhamente ruim ou que poderia ser incrível, caso não fosse uma surpresa.

Pego um pouco de água com sabão e esfrego pelo meu corpo para tentar tirar aquele odor ruim. Depois encho minhas mãos de shampoo e cuidadosamente esfrego meus cabelos quase ruivos, após quase afogar-me na banheira (contei exatamente quarenta e sete segundos debaixo da água), termino de lavar meus fios e refaço a manobra, dessa vez enchendo meus pulmões de ar antes de afundar. Qual problema há em brincar um pouquinho na banheira, no dia de seu aniversário?

Enquanto tudo isso, reflito sobre o que se passou. Chocante reencontrar Nicole hoje, mas pior ainda foi rever Patsy, aquela trouxa. Não devo me alterar, certo?

Por falar nisso, Noel e sua família provavelmente vieram tentar esfregar na minha cara que eu não consegui me manter casado e blá, blá. Com certeza. Mas eu não ligo. E se ligasse, seria problema meu, não dele.

Arquejo um pouco, não por estar com falta de ar, mas simplesmente de raiva, pensar nesse idiota me tira do sério, ou melhor, me põe no sério.

Levanto-me sutilmente da banheira e deixo que a água comece a descer ralo a baixo. Enrolo-me na toalha e paro na frente do espelho: “Seu lindo”, falo para mim mesmo. Depois, cuidadosamente seco meu cabelo e o arrumo direitinho, já disse, sou vaidoso, e muito.

Seco o resto do meu corpo e visto aqueles trajes que havia pegado antes de entrar no banheiro; uma camisa regata branca muito confortável que eu só uso para dormir, uma bermuda preta e uma cueca vermelha (isso é a parte).

Olho-me no espelho novamente, arrumo uma ou duas mexas teimosas e passo desodorante debaixo do braço. Então, testo o perfume que comprei hoje mais cedo, seu cheiro é agradável como todos da marca “Smell”.

Sinto-me galante e arrumado, como se estivesse indo para meu primeiro encontro. Meu sorriso é perturbadoramente lindo e meu odor é incrivelmente melhor do que o normal. Estou até mais arrumado do que o esperado. Meus cabelos ajeitados à mão ainda estão molhados o que me deixa ainda mais charmoso, mas isso não é um problema, não para mim. Sorrio mais uma vez na frente do espelho, sussurrando algum elogio qualquer com relação a minha beleza e destacando que agora é hora de enfrentar os bobões.

Abro a porta solenemente e saio do banheiro, antes apago a luz. Passo pela sala como se ninguém estivesse lá, eles param de conversar e me fitam, ignoro-os. Adentro a cozinha onde encontro curiosamente Sarah, ela está termiando de arrumar uam bandeja cehia de biscoitos e leite:

–O que pensa que está fazendo com a minha comida? –Questiono imediatamente, fazendo-a se assustar.

–Ah, Liam... –Ela respira fundo, virando-se para mim – Não te vi ai.

–Não foi o que lhe perguntei. –Repondo seco e dou uma olhada, doze biscoitos e sete copos de leite.

–Achei que... Você ainda estava no banho então... Não tem problema, tem? –Eu franzo o cenho e ele suspira- Qualquer coisa eu te pago, o Noel está com a cartei-

–Xiii. –Respondo dando um leve baque nela- Termina de arrumar isso que eu também estou com fome.

Depois disso vou até a geladeira e pretendo abrir a prota, mas sou puxado pelo braço:

–Espera! –Ela ri com uma vergonha clara.

–Me solta. –Mandei enquanto o fazia.

Ficamos realmente próximos. Sarah deu uns passos para trás com um sorriso tímido e corada, desviou o olhar por uns segundos e depois:

–Deixa que eu arrumo tudo.

–Não posso abrir minha própria geladeira? –Indago.

Sem resposta, bufei com raiva e saí da cozinha, batendo a porta da mesma. Na sala todos me olharam confusos. Fitei-os por uns instantes:

–O que é que estão olhando? –Perguntei ainda bravo.

–Estávamos falando de você. - Nicole riu um pouco antes de contar isso.

–Falando o quê? –Revirei os olhos e soltei outra bateria de reclamações. –Seus desocupados! Vocês não tem nada pra fazer em casa? Vão vir aqui, ficar no meu sofá, comer minha comida e depois sair? Está escrito motel na porta da minha cas-

–Xii. – Dessa vez era Nicole que interrompia, ela colocou a mão nos meus lábios forçando-os a pararem de falar. –Não precisa ficar constrangido.

Eu olhei para ela e devo admitir que ao sentir sua pele - ainda que fosse apenas um dedo- tocando meus lábios, meu corpo inteiro estremeceu. E Nicole ficou tão próxima de mim, que meus ouvidos sentiram o ar de sua fala, senti a doçura de sua voz. Infelizmente, corei. Mas, não pela atitude, e sim, especialmente, porque ela falou que não era para eu ficar constrangido, isso foi muito constrangedor.

Demorou alguns segundos para que eu conseguisse entender o que havia acontecido, quando finalmente entendi me pronunciei:

–Não estou em... Constrangido. –Afirmei retomando a postura e me afastando um pouco.

–Não é? –Ela riu ironicamente, sabia que me deixava louco quando fazia isso – Então por que o “senhor” Liam Gallagher está ficando tão vermelho? –Franzi a sobrancelha.

–A que ponto você quer chegar? –Indaguei imediatamente

–Ao que você quiser me levar. –Sua voz era realmente provocante, e por um momento parecia que estávamos a sós na sala.

Para minha alegria, Sarah adentrou o ambiente trazendo uma bandeja cheia de horríveis (vulgo, deliciosos, mas feitos pela esposa do Noel) biscoitinhos de chocolate e copos de leite. Acompanhei com o olhar o caminho que a bandeja fez, em pouco tempo a mesma estava na mesinha de centro e várias mãos furiosas beliscavam o petisco. Como se nada tivesse acontecido Nicole voltou a se sentar, e Sarah fez o mesmo, fazendo com que eu fosse o único em pé.