Eu Me Lembro - Xayakan

Lado A - Terça-feira de Setembro


Era manhã, quando eu o conheci. Ele chegou acompanhado de Sett e mais um rapaz de quem não me recordo do nome e nem da fisionomia para descrever aqui. Eu lembro de dizer "Oi, fica à vontade" e passear pelo salão de festas, que ficava no segundo andar do pequeno edifício, todo enfeitado e cheio de luzes porque era uma ocasião especial – o aniversário de alguém, não sei quem.

Mas os detalhes importantes? Eu me lembro, tenho certeza.

Rakan sabia animar uma festa como ninguém, sua alegria e energia contagiava a todos e eu fiquei a observar sua interação com os demais integrantes no recinto barulhento, sem dúvida que ele era o mais extasiado com o evento, embora eu não tenha na minha memória o motivo daquela bendita festa. Eu nem conhecia muitas pessoas naquele furdunço, era amiga de Ahri, Neeko, conhecia um pouco o Settrigh e o Rakan só de vista mesmo. Tinha bebidas à vontade, músicas soando em algumas caixas de som reunidas num cantinho tocando uma playlist via Bluetooth, não sei. Ah, um detalhe memorável e que vale ser destacado, Ahri começou a servir presunto enrolado no melão para todos com um sorriso simpático, Neeko os devorava como se não houvesse amanhã e rimos da sua voracidade, fazendo piadinhas e pegando no seu pé a festa toda. Fora isso, nada era muito animador dentro daquela comemoração, nem sei se era mesmo aniversário de alguém.

Mas, bem… Não é sobre essas coisinhas esquecíveis que eu desejo dedicar este breve relato. Ali, naquela terça-feira de setembro, eu tive a chance de me aproximar do meu objeto de interesse, vulgo Rakan. Percebi que ele não tirava os olhos de mim desde que havia chegado, sua atenção sempre se demorando na minha blusa, acredito que ele tenha gostado muito do meu look naquele dia. Pensei "caramba, esse cara lindo tá flertando comigo?", porque ninguém repara em mim a menos que eu esteja fazendo papel de palhaça. Não tem como virar a atração do momento tendo a Ahri no mesmo ambiente, aquela raposa seduzia qualquer um com seu busto avantajado e o vestido colado ao corpo voluptuoso, minha amiga é muito gostosa e eu admito que a invejo nas curvas. Inclusive, creio que sua história de amor com Sett tenha iniciado ali, porque o ruivo ficava babando por ela cada vez que a morena sedutora vinha com a bandeja de petiscos na sua direção. Mas o Settrigh é meio bobão por natureza, então vai saber quando esse rolo começou, de fato?

E no meio daqueles oito ou nove gatos pingados no salão, estava suficientemente bonita para chamar a atenção de Rakan. Meu Deus, ele me olhava tanto, com um sorrisinho torto que me encantava, ele adorou o jeito que eu me vesti, só pode!

Engatamos numa conversa pra lá de aleatória depois de algumas doses de cerveja barata, eu não era tão adepta ao álcool, mas ele não tinha preocupação alguma com isto, já que bebeu bem mais do que eu. E eu presumo que ele ficou meio alterado com as cervejas, porque a língua soltou de um jeito que, olha, vou te contar… Ele falou, falou, falou e eu fingi que ri, pois não dava pra entender nenhuma das suas piadas.

Lembro-me que começou a tocar uma música mais romântica, perfeita para que os casais dançassem coladinhos envolvidos no ritmo lento. Lancei um assovio de duplo sentido quando vi Ahri puxando Sett para dançar, a raposa me lançou uma piscadela marota e os dois eram os únicos ali no meio. Neeko desapareceu do meu campo de vista assim que paramos com a zoação do melão com presunto, e como eu não conhecia mais ninguém, fiz da mesa com comida e bebida meu refúgio por um longo período, com Rakan em meu encalço.

E depois de um curto tempo observando os demais, ele abriu um sorriso lindo pra mim e disse:

— Quer dançar, corvinha?

Eu sorri de nervoso, tanto por receber o convite quanto por não saber dançar direito e temer pagar mico bem na frente do meu crush. Ele me estendeu a mão e me guiou até a pista, eu não gostava de ser o centro das atenções, mas parecia que todos os olhos estavam grudados em nossas figuras e imediatamente tive uma crise de vergonha.

— Relaxa, corvinha. Ninguém vai rir de você, porque você está comigo. Eu vou te ensinar, vamô' lá!

A sua voz estava elevada sem necessidade, mas eu relevei porque ele não estava em plenas faculdades mentais. E provavelmente eu também não, pois, minha nossa… Como é difícil lembrar exatamente de tudo. Acho que fiquei concentrada demais em Rakan.

Enfim, aceitei dançar com aquele maluco assim mesmo, qualquer coisa era só botar a culpa nas cervejas e tava' resolvido o esquema. Até que não era difícil seguir seu embalo. Rakan era um professor paciente, movimentamos o corpo devagar, pra lá e pra cá. Minhas mãos no seu pescoço, as suas na minha cintura, os passos sincronizaram e no fim, eu arrasei naquela pista, velho! Tudo graças aos esforços dele de me ensinar. Trocamos olhares e sorrisos a festa inteira, a dança fez com que um clima propício surgisse, e assim, ao final da melodia nos beijamos.

Rakan e eu não nos conhecíamos até então, mesmo tendo amigos em comum. Porém, isso não foi impedimento para a química florescer entre nós. Neste dia específico, eu ofereci somente cinco beijos ao vastaya que me deixava maluquinha, mas para o resto da minha vida daqui em diante, eu sabia e ainda sei que desejo dedicar o máximo de beijos possíveis para ele. Eu amo esse bobão dançarino, metido e de raciocínio lento.

E foi assim que eu vi que a vida colocou ele pra mim ali naquela terça-feira de setembro. Por isso eu sei de cada luz, de cada cor de cor, pode me perguntar de cada coisa que eu me lembro.

"Mas cá entre nós… Você lembra se foi assim, desse jeitinho?"

E eu te digo: quem se importa?