Esteja Onde Estiver

Anahi: Capítulo 6


Meu coração acelerou com a surpresa, e minha garganta ficou seca. Ele me olhou no mesmo instante que eu olhava para o seu rosto por um breve segundo antes de voltar minha mirada para o seu dedo anelar. Ele seguiu minha mirada, e ao dar-se conta, tirou suas mãos da mureta.

"Anahí..." - o interrompi, sem saber se estava mais surpresa ou decepcionada.

"Não" – eu disse, com um sorriso forçado - "Quero dizer, eu só... não sabia" - ele levantou uma sobrancelha, dando um sorriso torto.

"Você não sabia..." - ele disse, mas não pude ter certeza se era uma pergunta ou afirmação.

"Bem, também não conversamos direito, não deu para falarmos sobre a vida de cada um" - tentava parecer o mais natural possível, ainda que eu me sentisse toda revirada por dentro.

"Não... Não tivemos" - assenti, dando outra vez um sorriso forçado. Tentei engolir, mas senti a dor de algo preso na garganta - "Você é feliz?" - ele me perguntou minutos depois. O olhei e fiquei tentada a ser sincera com ele. Mas, nos segundos que seguiram antes de eu responder, decidi que não mudaria nada dizer a verdade.

"Olha esta casa, Christopher" - disse olhando para minha casa. Ele olhou também - "Olha esta vista" - disse, olhando a cidade aqui de cima. Apoiei minhas mãos na mureta e o olhei com ar travesso - "Como eu poderia não ser feliz?" - pisquei um olho, e ele assentiu - "E você também deve ser" - disse, apontando para a mão dele com a cabeça. Ele olhou para o seu dedo anelar e sorriu.

"Annie..." - o olhei, e ele ainda sorria.

Ele tirou a aliança do dedo, olhou para ela e em seguida a depositou sobre a mureta à minha frente. Olhei para ele antes de voltar meu olhar para a aliança, me perguntando por que ele estava fazendo aquilo. Peguei-a e a aproximei para vê-la melhor. Era de ouro e toda trabalhada com a palavra 'Vonego' gravada sobre ela. Olhei a parte interna à procura de algum dizer gravado, mas não havia nada. Eu estava ainda mais confusa. Ergui a aliança, pedindo que ele me explicasse.

"O que não entendeu?" - ele perguntou, sorrindo - "a parte que eu não sou casado, ou a que eu deixei você acreditar que era?"

Ele, ainda sorrindo, pegou o anel da minha mão e recolocou-o em seu dedo. Fiquei o olhando, tentando assimilar o que ele disse, e me perguntando por que saber que ele continuava solteiro, me deixara tão feliz.

"Você é um cretino, sabia?" - disse, sorrindo.

"Você já me falou isso algumas vez..." - disse, coçando o queixo - "Estou começando a acreditar que é verdade" - eu ri, sem conseguir conter minha alegria - "Agora que já conversamos e rimos como nos velhos tempos, você já pode me dar o abraço que estou esperando desde que cheguei ao país?"

Apertei os lábios e o olhei com uma expressão pensativa por alguns segundos. Talvez o correto fosse me afastar não lhe abraçar. Motivos eu tinha muitos, poderia enumerá-los para que eu não cometesse aquele ato de fraqueza. Estar perto dele outra vez, já era tortura demais para mim, para minha alma e meu coração. Mas eu não podia mentir para mim, eu queria aquele abraço.

Eu lembrei nos últimos cinco anos de como era estar em seus braços, eu lamentei por não ter mais aquele abraço nos últimos cinco anos, eu sofri com esta ausência desde a última vez que nos abraçamos. Aproximei-me dele e envolvi seu corpo com meus braços, descansando meu rosto sobre o seu peito. Ele me abraçou forte com um braço, acariciando minhas costas, enquanto o outro fazia o mesmo com meus cabelos. Seus lábios passeavam no alto da minha cabeça, fazendo o meu carinho preferido. O abracei ainda mais forte, despejando toda a saudade que eu senti daqueles braços, daquele cheiro, daqueles carinhos, daquela segurança...

Pouco tempo depois, ele disse que precisava ir. Eu o acompanhei até a porta da frente, e fiquei o olhando andar até o portão. Quando ele chegou lá, o abriu, e antes de sair, se virou e me olhou sorrindo.

"Saber que você é feliz, me fez sentir que tudo valeu a pena, porque, te ver feliz é o que eu sempre quis"

Saiu, fechando o portão atrás de si. Fechei a porta, e segurando a maçaneta, apoiei meu rosto e fiquei pensando nas suas palavras. Se ele soubesse que nada valeu a pena, que o 'tudo' dele é o meu 'nada'. Porque nada valeu a pena, e tudo, tudo foi em vão. Pelo menos para mim. Eu teria vivido cinco anos totalmente diferentes. Eu ia amar quando chegasse a hora de ir dormir, eu ansiaria por este momento. Eu adoraria, também, despertar para mais um dia, pois meus olhos veriam a melhor forma de começar o dia deitado ao meu lado.

Talvez, eu não devesse ter mentido para ele. Devia ter dito a verdade. Afinal, ele precisa saber que nada valeu a pena. Não sou feliz, e talvez, seja por culpa dele. Ou então, ele seja apenas a causa da minha infelicidade, mas não tenha culpa disso. Talvez, eu devesse ter dito a verdade para ele, mas não disse. E não consigo decidir se foi bom ou ruim. As imagens do momento em que nos abraçamos não me permite pensar com clareza. Seu cheiro impregnou em mim, seus carinhos ficaram gravados em todo lugar do meu corpo onde ele tocou.

Olho para o céu, escolho uma estrela..., faço um pedido. Boa Noite! Não culparei meus sonhos por sonhar com ele. A presença dele está em mim.

"Menina?"

Despertei dos meus pensamentos, e dei-me conta de que permanecia apoiada na porta. Olhei para o lado e vi Conchita parada me observando com doçura em sua expressão. Ela estava com uma camisola longa de algodão e um robe fazendo o jogo, e seus cabelos meio grisalhos estavam soltos, o que me fez pensar que já era tarde, pois Conchita já estava pronta para dormir.

"Conchis, o que faz acordada? Já é tarde" - me aproximei lhe abraçando pelos ombros, depositando um beijo em sua bochecha.

"Vamos, tem uma xícara de chocolate quente te esperando lá na cozinha"

"Não precisava"

"Você é mi niña. Depois que você me falou quem ele era, eu imaginei que você ia precisar da sua nana para conversar"

"Eu não sei se aguentaria sem você comigo, sabe!?"

"Coloquei seis marshmallows desta vez... Não vá se acostumar, hã?"

No dia seguinte, acordei cedo para fazer as unhas. Minha manicure chegou no horário marcado, e como sempre, ela me contou muitas fofocas dos famosos. Como ela faz as unhas de muitas famosas, ela está sempre sabendo de algo, e me conta na maior empolgação. Depois me arrumei e fui para a casa dos meus pais almoçar com minha mãe. Sempre que meu pai vai pescar e Rodri viaja, nós duas fazemos companhia uma à outra. Eu não escapei do interrogatório dela sobre a volta do Christopher, e eu já sabia que seria assim no momento em que estivéssemos sozinhas. Nunca escondi nada dela, exceto pelo fato de eu não ser feliz. Mas no fundo, eu sinto que ela já sabe disso, mas não comenta nada. Talvez, porque ela também saiba que para que eu confirme suas suspeitas, eu teria que falar a razão, e ela sabe a razão. Ela conhece a ferida e sabe o quanto a cicatriz é delicada.

Quando cheguei em casa já estava anoitecendo. Tomei banho, lavei e sequei meus cabelos, deixando-os prontos para mais tarde quando eu fosse me arrumar. Eu não estava acreditando que iria mesmo para a balada, sem Rodri, só eu e Clau, depois de tanto tempo. Antes de me arrumar, comi a salada que Conchita preparou para eu não sair com o estômago vazio.

"Ual! Amiga, você está um arraso!" - Clau disse, após eu entrar no carro.

"Também não é para tanto" - disse fazendo uma careta, dando uma breve olhada na minha roupa.

Eu não me arrumei muito. Só queria mesmo era sair com minha amiga, me divertir muito e contar a ela as últimas novidades. E durante todo esse tempo, poder esquecer um pouco da minha vida real. Por isso, escolhi um jeans e uma blusa básica com um leve decote. Mas a maquiagem eu fiz questão de caprichar bastante. A Clau sim, estava super produzida, pelo o que pude observar do banco de trás do carro.

"E então, para onde vamos?" - ela perguntou depois que cumprimentei Yahir, seu marido.

"Qualquer lugar que não seja uma das boates de Rodri" - disse, rindo.

"Ótimo!" - ela colocou uma latinha de red bull na minha mão - "Está pegando o espírito da coisa" - disse, antes de tomar um pouco da sua latinha - "Há uma boate que inaugurou semanas atrás, e está bombando"

"Então é para lá que vamos" - pisquei um olho para ela, e levei a latinha à boca.

"E como foi a apresentação da Ana Paula ontem?"

"Linda, e há algo que aconteceu lá, digo, depois, enfim... que tenho para contar" - apertei os lábios, sorrindo.

"Amor,tampe os ouvidos"

"Perdão, mas se você não se importar, amor” - Yahir disse enquanto dirigia – “eu gostaria de continuar com minhas mãos no volante" - eu ri com vontade.

"Oh, caramba!" - Clau me olhou, e nós duas rimos juntas. Acho que o energético começava a fazer efeito.

Yahir nos deixou na entrada, e entramos rapidinho pela entrada vip. Algumas vantagens que eu ainda tinha, e nem quis tentar saber por que, já que eu estava longe no meio artístico há um tempo.

A boate era mesmo muito boa. O ambiente muito bem decorado e frequentado, e as músicas super animadas como devem ser. Desde o momento em que entramos eu me senti leve por dentro, me senti a vontade e ainda mais animada. E não sei dizer se é pelo fato de eu estar saindo com minha amiga, ou se é porque não estamos em uma boate do Rodri, e eu não sentia a presença dele ali.

Primeiro nós duas demos uma volta pelo lugar e pegamos uma bebida. Depois, fomos para o meio da pista e começamos a dançar.

"Vou parar um pouco, Clau. Estou morrendo de sede"

Depois de dançar várias músicas, eu já me sentia cansada e com sede. Então Clau me puxou até o bar para bebermos algo. Pedimos nossas bebidas e nos sentamos nas banquetas que dois caras nos ofereceram. Quando as bebidas chegaram, comecei bebendo a água antes de beber meu drink.

"Puta que pariu!" - Clau falou de repente - "Não acredito no que estou vendo"

"O quê?"

"Não olha para trás, quero dizer, não é nada, não" - disse, rindo nervosamente.

"O que você tem, maluca?" - perguntei, rindo.

"Acho que estou tendo alucinações" - disse, virando todo o conteúdo do copo - "Não acredito que estou ficando velha e fraca para bebida" - ela me olhou com seus olhos bem abertos antes de falar: - "Amiga, acho que estou super bêbada"

Não conseguia parar de rir. Bem que ela disse que ficaria bêbada esta noite. Ela pediu outra bebida, enquanto eu não sabia se ria ou bebia minha água. Mas, de repente, contraí meu corpo e congelei ao ouvir aquela voz próxima ao meu olvido.

"E aí, broto, quer dar um rolé?"

Virei e o vi todo lindo, sorrindo. Desde os tempos da RBD, quando a banda ia para uma boate em uma das cidades que estava de turnê, ele fazia isto; sempre chegava por trás e me dava uma cantava pior que a outra, de brincadeira. A cantada podia ser péssima, a intenção uma brincadeira, mas a voz rouca dele tão pertinho era sempre o que valia a pena.

Sorri para ele, sem saber se o cumprimentava com um abraço ou não. Acho que ele também ficou neste impasse.

"Bebendo água?" - levantou uma sobrancelha.

"Também" - sorri, apontando meu drink com a cabeça.

"O que a Cláudia tem? Ela está bêbada ou pensa que minha presença é um fantasma?" - olhei para Clau que nos olhava com expressão descrente. Eu ri.

"Os dois" - ele riu junto comigo - "Mm, Clau... Era sobre isso que eu estava querendo te falar" - dei um sorriso amarelo.

"Pensei que seria um bafão, amiga. Mas, não uma bomba. Quero dizer, eu devo ficar feliz porque não estou nem velha e fraca para bebida e ainda não estou bêbada, ou Pê da vida e partir a cara desse filho da puta?" - fez sinal para que o barman trouxesse outra bebida.

"Que bom que está feliz em me ver" - ele disse com humor.

"Clau, está tudo bem. Quero dizer, você sabe... Esquece tudo o que passou" - fiz uma careta.

Ela sabia que quem nunca esqueceu nada fui eu, e que nunca a deixou esquecer também. E tive medo dela me dizer isso ali na frente dele. Ela olhou para mim, depois para ele, pegou o drink que o barman lhe entregou e virou toda a bebida.

"Que seja" - colocou o copo no balcão, revirando os olhos - "Te espero na pista para dançar"

"O temperamento dela piora com o tempo?" - ele perguntou rindo, vendo-a dançar.

"Não vou defendê-la, mas também não a julgo" - ele assentiu - "Está aqui sozinho?" - ele negou com a cabeça.

"Com meus amigos" - apontou para um canto onde tinha pufs e sofás, com a cabeça - "Estão ali"

Ele se sentou na banqueta onde Clau estava, e por um tempo, ficamos calados, olhando-a dançar animadamente na pista. O DJ trocou a música, colocando uma que eu adoro. Era um pouco antiga, mas muito legal. Peguei meu drink, tomei um pouco e pulei da banqueta, puxando-o pela mão.

"Vem, vamos dançar. Eu adoro esta"

"Não acho uma boa ideia. Cláudia vai aproveitar para me dar cotoveladas e pisar no meu pé" - eu ri.

"Deixa de ser bobo" - o puxei, e ele me acompanhou.

Aproximamos-nos da Clau e começamos a dançar. Quando ela o viu, fez cara feia, mas não disse nada, apenas continuou a dançar animada ao nosso lado. Vez ou outra, ele fazia um movimento engraçado com os ombros, me fazendo rir, como muitos anos atrás. Eu estava adorando tudo aquilo, a música, a dança, minha amiga ali comigo, e ele também.

Alguém que dançava ou passava atrás esbarrou em mim, me empurrando de encontro a ele. Apoiei-me em seu peito, e ele me abraçou pelas costas para que eu encontrasse equilíbrio. Ele perguntou se estava tudo bem, e eu respondi com um aceno de cabeça. Fiquei ali, quietinha por alguns segundos, sentindo ele tão próximo. Ergui-me na ponta dos pés e entrelacei meus braços ao redor do seu pescoço. Ele me abraçou forte pela cintura.

Com uma mão, acariciei sua nuca, enquanto respirava fundo sentindo o seu perfume me embriagar. Ele levou sua mão até minha nuca e a acariciou por baixo nos cabelos, enquanto respirava próximo ao meu olvido e me apertava pela cintura com a outra mão. Senti meu corpo se arrepiar, quando sua mão deslizou na minha cintura, levantando um pouco minha blusa. Tracei um caminho da sua nuca à sua bochecha, e permaneci ali, fazendo carinhos sob sua barba.

"Acho melhor eu parar de beber" - falei, e ouvi sua risada sussurrada.

Afastamos-nos e continuamos a dançar. Olhei para a Clau, e ela estava dançando e parecia não ter notado nada. Depois de duas músicas, ele voltou para junto dos seus amigos. Continuei lá com a Clau, e ela exigiu que eu contasse tudo. Falei que contaria quando ela estivesse sóbria, para que eu não tivesse o trabalho de contar duas vezes. Por mais que eu dançasse e me divertisse ali com a Clau, meu olhar sempre acabava parando nele, lá do outro lado da boate.

Durante o resto da noite eu controlei minha bebida. Não queria ficar bêbada e no dia seguinte esquecer aquele olhar lindo me vendo dançar, aquele sorriso lindo quando nossos olhares se cruzavam. Ao contrário da Clau que bebeu por nós duas e no fim, estava tropeçando nos próprios pés. Paguei nossa comanda e saímos da boate abraçadas como grandes amigas, talvez mais para apoiar uma na outra para não cair, que vontade de abraçar mesmo.

Quando fomos para o acostamento chamar um taxi, ele chegou por trás falando que nos levaria, pois não havia bebido esta noite.

"Não precisa, vamos pegar um taxi"

"Precisa, sim. Vai pegar seu carro, que te esperamos aqui, bebê" - Clau disse e piscou um olho para ele.

Ele sorriu e foi buscar o carro no estacionamento. Enquanto eu fiquei ali rindo, apoiando a cabeça da Clau no meu ombro.

"Amiga, você está muito bêbada" - falei rindo.

Clau foi atrás, dormindo todo o caminho, enquanto eu o guiava até a casa dela. Eu fui na frente com ele, e para não ficar um silêncio incômodo, ele ligou o rádio. Quando chegamos à casa dela, chamei Yahir para socorrê-la. Quando ele viu o carro, talvez, por alguns segundos tenha pensado que era Rodri, mas ao dar-se conta que era Christopher, sua expressão foi de surpresa, mas não comentou nada. Apenas o cumprimentou com um aceno de cabeça, e levou Clau para dentro após se despedir de mim.

Percorremos o restante do caminho quase em silêncio, até ele estacionar em frente à minha casa.

Ao desligar o motor, ele me olhou sorrindo.

"Não imaginei te encontrar em uma boate que não fosse do Rodrigo"

"Não imaginei te encontrar em uma boate" - ele sorriu, assentindo.

"Não vou nem perguntar por que"

"Por quê?" - ergui as sobrancelhas e encostei meu queixo no ombro ao perguntar.

"Porque você também não vai me falar o que fazia na concorrente"

"Obrigada pela carona" – disse alguns segundos depois.

Ele não respondeu. Ficou me olhando como se estivesse com o pensamento longe. Olhei para frente e fiquei olhando para o fim da rua logo ali na frente, e por algum tempo, ficamos assim em silêncio. Quando o olhei novamente, ele ainda me olhava pensativo. Encostei minha bochecha no encosto do assento e o mirei sorrindo. Ele sorriu, parecendo voltar dos seus devaneios. Levou sua mão até minha face, então fechei meus olhos por alguns segundos, sentindo seus carinhos.

"Onde estava?"

"Bem distante"

"Onde?"

"No passado"

Sorri, apertando os lábios sem deixar de olha-lo. Nosso passado, é o epitáfio da nossa história; seja o que for, esteja onde estivermos, aconteça o que tiver que acontecer... Tudo o que vivemos nunca desaparecerá, sempre estará aqui. Porque, eu sempre saberei, e ele também, que ela existiu, que cada momento foi real, por mais mágico que tenha parecido, por mais doloroso que tenha sido.

Uma vez, quando ainda estávamos namorando, ele foi me deixar em casa depois de uma noite interira na balada com nossos amigos. Até o meio da festa estava tudo bem, mas depois ele ficou diferente e distante comigo por algo que nem me lembro mais. E quando ficamos sozinhos no carro, discutimos todo o caminho até minha casa. Ao chegar lá, eu saí do carro gritando e batendo a porta. Ele foi atrás de mim, e antes que eu alcançasse o portão, ele me pegou pelo braço, fazendo-me virar de frente para ele. Gritei ainda mais, e me debati tentando me soltar. Ele também gritou, o que acontecia raramente, apesar da gente discutir com frequência.

De repente, ele me puxou unindo nossos lábios, e por alguns segundos ficamos apenas com os lábios colados, enquanto eu tentava me soltar. Mas, quando ele me apertou pela cintura com um braço, enquanto usava a outra mão para apertar minhas bochechas e me fazer abrir a boca, não resisti sentir sua língua invadir minha boca. Apoiei meus cotovelos em seus ombros e segurei seus cabelos.

Ao finalizar o beijo, o mirei bem de perto "Te odeio", eu disse. Ele sorriu, dando o meu sorriso favorito "E eu te amo, sabia?!", sorri antes de unir nossos lábios outra vez.

Em outra ocasião havíamos planejado uma noite bem diferente para nós, para aproveitar os dias que estaríamos de folga na cidade. Estávamos na casa dele, aproveitando que sua mãe estava viajando e a casa estava só para nós dois. Mas, recebemos uma ligação do Pedro avisando que teríamos que viajar no dia seguinte bem cedo para uma entrevista de última hora. Ele foi me deixar em casa, nós dois frustrados. Mas, ao desligar o motor, não resistimos a um beijo mais intenso. Sentei-me em suas pernas, e enquanto nos beijávamos, sentia suas mãos deslizar pelo meu corpo, me causando arrepios. Afastamos-nos com nossas respirações aceleradas, e nós dois concordamos que eu devia sair logo do carro.

"Eu, você, carro... Você me deixando em casa..." - disse sorrindo, sentindo seus carinhos no meu rosto.

"O passado"

"É..."

Fechei meus olhos por alguns segundos, ordenando a mim que fosse forte o bastante para abrir mão daqueles carinhos e sair de uma vez do carro. Senti sua respiração quente tocar minha pele, então abri os olhos e me surpreendi ao vê-lo ali tão pertinho de mim. Meu coração acelerou enquanto nossas respirações se misturavam. Sua mão ainda estava acariciando meu rosto. Segurei-a, temendo que ela saísse dali, e fechei os olhos outra vez. Ele se aproximou mais, e por um tempo acariciou meu rosto com o nariz.

Por vezes pude senti sua barba roçar minha pele, então eu apertava sua mão e suspirava, entregando o efeito que aquilo me causava. Por fim, ele tirou a mão do meu rosto e levou a minha que a apertava até seus lábios, depositando um beijo na palma da minha mão, fechando-a em seguida.

"Boa noite" - me olhou sorrindo.

Entrei em casa como se estivesse flutuando, de tão leve que me sentia pela noite que passei. Não conseguia tirar o sorriso dos lábios, porque o toque da mão dele no meu rosto ainda estava lá, e isso me deixava boba de alegria. Subi as escadas cantarolando, mas me calei ao entrar no quarto.