Esteja Onde Estiver

Anahi: Capítulo 4


Entrei no elevador, e por alguns minutos fiquei encostada na parede respirando, enquanto um milhão de pensamentos rodavam em minha cabeça me deixando tonta. Ainda podia ouvir a música soando, porém bem baixinho. Então decidi; eu ainda não tinha terminado o que fui para fazer ali. Com o coração aos saltos, e cheia de raiva abri a porta e voltei para frente do apartamento dele. Respirei fundo e toquei a campainha.

Ao abri-la, ignorei o olhar de espanto dele (o segundo só aquela noite) em me ver ali diante de si, e pulei no pescoço dele, entrelaçando meus braços. Minha boca cobriu a dele, calando-o de uma possível rejeição. Minha mão ergueu-se, mergulhando meus dedos de sua nuca até o alto de sua cabeça, puxando seus cachos de leve, e assim desarmando qualquer chance de resistência de sua parte.

Ele me apertou forte pela cintura, ao mesmo tempo em que sua boca se abria para encaixar-se à minha. Encostou-me a porta aberta, pressionando meu corpo ali. Afastei nossos lábios e entreabri meus olhos por um segundo, apenas para olha-lo nos olhos e voltar a beija-lo, sorrindo.

Após alguns minutos, baixei minhas mãos até sua cintura, para subi-la em seguida, trazendo sua blusa junto. Ele levantou os braços e facilitou o trabalho, antes de segurar-me pelo rosto, apertando minhas bochechas com o dedo polegar enquanto sugava todo o ar da minha boca.

"Está virando um hábito..." - falei com a respiração entrecortada. Acariciei seu peito e tórax, e mordi seu queixo antes de continuar - "...me deixar aqui na soleira da sua porta" - sorri, mordendo seu lábio inferior.

Ele ergueu meus cabelos pela nuca, enquanto voltava a me beijar. Afastou-me da porta, levando-me para dentro do apartamento para junto de si, ao mesmo tempo em que chutava a porta com o pé, fechando-a. Larguei minha bolsa e minhas chaves ali mesmo no chão da sala, e de costas, ele me guiou sem separar nossos lábios, até seu quarto. Ao chegar lá, já extasiada, levei minha mão ao botão da sua calça. Ao descer o zíper, a calça caiu aos seus pés com facilidade, fazendo-me morder meu lábio inferior, ao sentir a sensação de acariciar seu bumbum, ainda por cima da cueca, outra vez. Arfei ao sentir sua mão pressionar com firmeza um dos meus seios, por cima da blusa, então mordi seu ombro, enquanto traçava um caminho em suas costas com a ponta das minhas unhas bem de leve.

Suas mãos apertaram forte minha cintura antes de começar a erguer minha blusa. Levantei meus braços para libera-la, e ao fazê-lo, tombei a cabeça arrumando meus cabelos. Ganhei uma sequência de beijos ousados no pescoço por fazer isto. Ele traçou um caminho perturbador em meu colo, passando pelo meu ombro e pescoço, até chegar à minha orelha, onde me faltou ar ao sentir sua língua quente e úmida passear por ali. Séria, o mirei nos olhos, então ele desceu novamente suas mãos, mas desta vez para meu jeans. Desabotoou e desceu o zíper sem deixar de mirar-me.

Acariciei seu rosto, sentindo sua barba espetar as pontas dos meus dedos, fazendo com que ondas elétricas percorressem todo o meu corpo. Ele uniu nossos lábios outra vez, dessa vez com mais urgência, e num curto espaço de tempo, transferindo seus beijos para meu ombro, enquanto baixava a alcinha do sutiã.

Minhas mãos voltaram para seus cabelos, pressentindo o que veria a seguir. Ao sentir sua boca quente inebriando-me com aquele contato, mergulhei meus dedos dentre seus cachos, puxando-os com certa força desta vez, desejando que sua boca estivesse ao meu alcance para que a minha pudesse saborea-la, ao mesmo tempo em que desejava com o corpo todo trêmulo que ele não parasse o que estava fazendo.

Ao deitar na cama, ele me beijou dos lábios ao umbigo e parou apenas para tirar minhas sandálias e puxar meu jeans para baixo, livrando-nos dele.

Momentos mais tarde, eu estava deitava sobre o seu corpo suado desenhando o bico do seu peito com a ponta do dedo, enquanto sorria pensando em tudo que tinha acabado de acontecer.

"Agora nós -"

"Agora que você já teve o que queria, já pode ir embora"

"O qu-... O quê?" - me afastei mirando-o.

"Se aceitei fazer sexo com você, foi só para me certificar"

"Sexo?" - repeti confusa - "Se certificar de que?" - aquela conversa começava a me assustar. Sentei-me e puxei o lençol, cobrindo meus seios.

"Você foi uma vaca um dia quando me traiu, e hoje esta fazendo de novo. A diferença é que dessa vez não sou o corno"

"Christopher, você está interpretando tudo errad-"

"Tenha um feliz casamento, Anahí. Quando sair, feche a porta"

Ele se levantou ainda nu, e seguiu até o banheiro, fechando a porta, me deixando ali desamparada e estupefata com cada palavra que ele dirigiu à mim.

Eu nunca devia ter cometido aquela loucura de voltar e pular em seus braços. Devia ter descido e ido embora. Ou então, meu destino nunca devia ter cruzado com um porco nojento como ele. Senti-me suja naquele momento, usada e jogada fora pelo mais desprezível dos seres humanos.

"Você é um filho da puta, Christopher!" - gritei. Levantei-me pegando minhas roupas no chão - "E ao contrário de você, não te desejo felicidade alguma, idiota"

Não ouvi nenhum roído, nem mesmo da água da ducha. Ele estava no banheiro, certamente só esperando que eu fosse embora. Vesti minha roupa, calcei minhas sandálias e saí dali. Ao passar pela sala, peguei minha bolsa e minhas chaves no chão e deixei o apartamento batendo a porta o mais forte que pude.

"W-al" - Clau falou pausadamente quando terminei de lhe contar a história - "Sua vaca! Por que nunca me contou esse lance com o Christopher antes?"

"Não diz as palavras 'vaca' e 'Christopher' na mesma frase, por favor" - pedi com uma careta, ela ensaiou um sorriso.

"Não sei nem o que dizer, Annie... Quero dizer, o Christopher agir assim?! Nossa, é... Não, Annie... Não chore mais" - ela se deu conta que eu chorava outra vez - "Você vai acabar desidratada se continuar chorando. Esquece isso tudo, esquece ele de uma vez por todas. Não vale a pena, não vale mesmo... Ele está tão longe, e certamente não vai voltar nunca mais, entende?!

Depois que Clau foi embora, eu ainda fiquei lá embaixo andando pela casa, e depois fiz um lanche. Quando subi na esperança de dormir e terminar esse dia ruim, rolei por horas na cama. No dia seguinte acordei sentindo-me cansada devido a noite mal dormida. Acordei bem cedo com Pérola latindo e arranhando a porta querendo sair, ao libera-la do meu quarto, voltei para a cama e consegui cochilar apenas mais um pouquinho. Quando desci, após tomar um banho na tentativa de melhorar um pouco, meu café já estava pronto. Comi na cozinha mesmo, enquanto conversava com Conchita. Ela disse que acha que Pérola está louca, pois ontem no início da noite a viu perseguir grilos no jardim, me fazendo rir da travessura da minha bebê sapeca.

Julian chegou na hora certinha, como de costume. Hoje eu não estava nem um pouco disposta a malhar e Julian percebeu. Mas como sempre, para ele eu estava assim por saudade do meu marido, e eu não descordei dele. Esforcei-me ao máximo nos exercícios, e no fim senti que valeu a pena, pois me sentia melhor, meu corpo estava mais disposto.

Subi e tomei um banho rápido. Não demorei para me arrumar também, pois eu queria resolver tudo o mais depressa possível para estar de volta o quanto antes para arrumar tudo para o jantar de logo mais à noite.

Quando cheguei ao escritório do Pedro, sua assistente disse que ele estava ocupado em reunião. Pedi que falasse para ele que era eu que precisava falar com ele, e que era urgente. Em instantes Pedro saiu da sala dele para me atender ali mesmo na sala da recepção. Eu imaginei por um breve momento que sua reunião devia ser mesmo importante, já que ele deixou a pessoa o esperando em sua sala em vez de encerra-la.

No caminho de casa até aqui, eu fiquei pensando no que a Clau disse antes de ir embora, sobre eu aceitar esse papel na série sugerindo ao Pedro que mudasse a música tema. Mas, sei lá... Achei melhor deixar tudo como estava e não aceitar mesmo. Pedro não estava aceitando minha rejeição, e desta vez mais que das outras vezes.

"Mas, Annie. É um papel maravilhoso. Será um desafio tanto para você quanto para mim"

"Eu sei, Pedro... Mas não quero mesmo" - disse estendendo-lhe a pasta que ele me dera no dia anterior.

"Dê-me apenas uma razão que justifique sua recusa, uma que me convença"

"Não há uma ra-" - não continuei, pois uma voz interviu me impedindo de mentir.

"É a música" - ele saiu da sala do Pedro, olhando-me nos olhos - "É por causa da música que ela não quer aceitar"

Ele parou ao lado do Pedro, e eu ainda não podia acreditar que o via ali na minha frente depois de tantos anos. Meu coração acelerou, sem que eu pudesse evitar, e minha boca ficou seca. Não conseguia entender o que ele estava fazendo ali. Quero dizer, até onde eu sabia, ele estava do outro lado do mundo.

Todos aqueles anos, e não mudou quase nada. Nos segundos que me permiti observa-lo, notei que não mudara em suas particularidades, apenas adquirira uma certa maturidade em sua expressão.

"O que tem a música?" - Pedro inquiriu após um momento de silêncio - "Ah..." - entendeu o nosso silêncio como resposta.

"Eu preciso ir" - disse me virando e saindo dali, não muito certa de realmente querer fazer aquilo.

Não me lembro de ter percorrido o caminho do escritório do Pedro até o estacionamento, só me lembro de ter me concentrado em respirar. Ao fechar a porta do carro e girar a chave, me assustei fazendo meu coração voltar a bater rápido devido à batidas no vidro do carro. Quando olhei, era ele fazendo sinal para que eu baixasse o vidro.

"Nós precisamos conversar"

"Não precisamos"

"Como não?! Depois de cinco anos e é assim que você me recebe?" - o olhei surpreendida.

"Como queria que eu te recebesse? Com festa e fogos de artifícios?" - ele respirou fundo.

"Sai do carro, vamos conversar?!"

"Eu já disse que não" - disse, olhando para frente.

"É sobre a série, Anahí. Tem alguns detalhes sobre ela que você precisa saber antes de tomar qualquer decisão" - o olhei, e pensei por um segundo.

"Nem se eu quisesse eu posso. Preciso ir para casa, tenho coisas a fazer"

"Não vai demorar. Vamos com meu carro para um lugar onde possamos conversar, e depois deixo você aqui novamente"

Pensei por alguns segundos, e desejei que minhas emoções não traíssem a razão. Não podia estar feliz com a volta dele. Talvez eu quisesse, mas não podia. Lembrei-me da conversa da noite passada com a Clau. Desliguei o motor e saí do carro. Ele andou na frente e eu um pouco atrás até chegar ao seu carro. Como nos velhos tempos, ele abriu a porta para que eu entrasse e depois deu a volta no carro, ocupando o lugar na frente do volante.

Após colocar o cinto, apoiei meu cotovelo na porta e a mão no queixo, enquanto mirava o 'nada' pela janela. Ainda não acreditava que ele estava ali do meu lado depois de cinco anos. Aquele silêncio era perturbador, e não pude evitar lembrar-me da última vez que nos vimos.

Via-me no espelho e quase não me reconhecia. E não era a imagem externa que eu estranhava. Essa estava quase como eu imaginei durante anos. O que me assustava e surpreendia era a imagem que eu via através dos meus olhos azuis, a imagem da minha alma. De repente, eu já não ouvia mais nenhuma daquelas vozes femininas de amigas, primas e minha irmã, que falavam todas ao mesmo tempo ao meu redor. Mergulhei no fundo dos meus olhos, e fugi dali.

Tudo como eu havia planejado para aquele dia. Só estariam as pessoais mais especiais pra gente, de suma importância para compartilhar esse dia conosco, cerca de cinquenta convidados, apenas. Acima de todas as tentativas da imprensa de descobrir o dia e o lugar, conseguimos burla-la. Não queria transformar esse dia em um espetáculo público, principalmente porque em toda a minha carreira a imprensa inventou e falou mal de mim mais do que me apoiou, enfim nunca foi novidade que não gosto dela. O lugar escolhido foi a fazenda dos meus pais, realizando meu grande desejo de casar de dia ao ar livre no campo. E ali no espelho estava a minha imagem, vestida em um simples e nada exuberante, porém lindo vestido branco bem ajustado ao meu corpo.

Pousei minhas mãos na saia do vestido e alisei o tecido, enquanto tentava convencer a mim mesma que esta foi a melhor escolha e melhor decisão.

"Não! Não é uma boa ideia, nem boa hora" - ouvi a voz da Neni, minha irmã, ao longe.

"O que você está fazendo aqui?" - desta vez foi a voz da Clau - "Vai te catar, ou na pior das hipóteses, vai procurar um lugar para você lá fora que daqui a pouco começa a cerimônia, você sabe... de casamento dela com outro homem" - foi então que me dei conta, voltando de vez para a realidade. Mas desta vez já não havia todas aquelas mulheres falando ao mesmo tempo, pelo contrário. E quando me virei para ver, todas estavam paradas olhando para um mesmo ponto: a porta.

Levei minha mirada até lá.

"Eu posso falar com você? Não vai demorar" - ele pediu. Em um gesto automático eu olhei para a janela e segurei a saia do vestido com as duas mãos.

"Claro que não po-" - Clau começou a dizer, tentando fechar a porta.

"Espera" - consegui dizer.

"Annie" - Clau fez uma careta e tombou a cabeça tentando me dizer para não aceitar. Minha irmã me mirou por um instante.

"Vamos todas sair" - Neni disse alto, batendo palmas, e mirou-me uma vez mais - "Ela já está pronta, ainda tem um tempinho antes da cerimônia"

Ele entrou no quarto e, quando todas por fim saíram, fechou a porta. Um minuto se passou antes que ele começasse a falar e quebrasse aquele silêncio.

"Você está linda, definitivamente linda. Muito mais linda do que já cheguei a imaginar você em uma ocasião como esta"

"Não imaginei que viesse. Quero dizer, depois daquela noite-"

"Eu sei" - o olhei e ele havia baixado a cabeça - "Por isso estou aqui" - me olhou novamente - "Não vou me desculpar pelas coisas que falei. Ainda que eu estivesse com raiva, eu falei mesmo o que sentia. Por Deus, Annie. Olha para você; vestida de noiva, pronta para casar com outro"

"Você não precisava dar-se o trabalho de vir aqui me dizer o que já sei" - minha respiração, que tanto eu treinei todo o dia para manter-se normal, elevou-se, fazendo meu peito arfar embaixo do vestido - "Escolheu hoje para falar isto por quê?"

"Porque se eu tivesse te encontrado em outro momento, não conseguiria fazer o que vim fazer"

"O que veio fazer, Christopher?" - transferi minha mirada dele para a janela.

Ainda segurava a saia do vestido. Baixei minha cabeça e mirei o chão enquanto me lembrava de ter perguntado naquela manhã a um empregado da fazenda onde havia uma escada, para que eu colocasse embaixo da janela do meu quarto. Uma tola esperança.

"Despedir-me"

"O quê?" - o mirei, surpreendida com suas palavras.

"Embarco rumo à Suécia daqui a pouco, e... E não volto mais"

"Não!" - gritei, sentindo meus olhos arderem - "Não! Por que você vai? Vai fazer o que lá? E porque justo hoje, Christopher" - gritei as últimas palavras.

"Porque sim, e isto basta. Mas não queria ir sem ter ver mais uma vez" - tentei engolir o nó que se formara em minha garganta.

"As coisas não precisam ser assim"

"Assim que são"

"Podemos tentar ser amigos, como tentamos na primeira vez" - ele negou com a cabeça.

"A distância será saudável para nós dois" - engoli o gosto amargo daquelas palavras.

"Nada mais?" - perguntei após um momento de silêncio.

"Nada mais" - neste momento, minha irmã bateu na porta e abriu-a em seguida me avisando que eu precisava me adiantar, pois a cerimônia já ia começar. Ao ficarmos sozinhos novamente, por alguns segundos, ficamos calados ouvindo as vozes dos convidados lá fora - "Nada mais" - ele repetiu.

"Você é um covarde filho da puta, Christopher" - disse ao sentir um choque de realidade, fazendo-me recobrar a razão.

"Annie, não-"

"Por Deus, fala logo o que você quer falar. Deixa de ser tão filho da mãe com você e comigo"

Ele se aproximou de mim, segurou meu rosto com as mãos e me deu um longo beijo na testa. Fechei os olhos, sentindo.

"Seja feliz, Magrela" - usou o apelido depois de tanto tempo, e aquilo foi o estopim para que as lágrimas caíssem dos meus olhos, sem que eu conseguisse impedir. Ele se afastou e enxugou-as com o dedo polegar - "Vai estragar sua maquiagem"

"Para o inferno a maquiagem" - me afastei, passando as mãos fechadas no rosto, sobre as lágrimas.

"Espero que ele te faça muito feliz, como você merece" - se virou e caminhou até a porta.

"Sustento minhas palavras daquela noite" - Falei. Ele parou com a mão na maçaneta da porta, e de costas ficou ouvindo o que eu falava - "Não desejo que seja feliz, Christopher. Você é um porco miserável. Te desejo saúde, mas por Deus, felicidade, não" - ele ficou um breve instante parado onde estava antes de abrir a porta.

"Adeus, Annie" - saindo para sempre da minha vida.

Fiquei olhando para a porta por onde ele saiu, sem piscar, até que meus olhos ficaram embaçados pelas lágrimas. Segurei a saia do vestido, e antes que meus joelhos entrassem em contato com a madeira do chão, senti braços me sustentando pela cintura e me guiando até a cama. Dei-me conta de quem era quando pisquei e uma grossa lágrima caiu, junto com um soluço.

"Vão, podem ir" - Clau disse - "Em alguns minutos nós descemos. Diga a todos que é problema com a maquiagem, o que não deixa de ser verdade" - ela esfregava a mão no meu braço enquanto falava. Quando ficamos sozinhas, ela deitou minha cabeça em seu ombro e começou a esfregar minhas costas - "Chora, amiga.. Chora toda essa mágoa que te fere tanto o coração" - tudo o que estava no peito, eu comecei a soltar em um choro tão doloroso que me doía não só o coração, como também minha garganta. Era algo tão forte que ao mesmo tempo em que eu chorava, eu soluçava e também gemia pela dor - "Tranquila" - ela seguia esfregando minhas costas - "Chora tudo o que tiver para chorar. Mas antes, espere..." - ela se levantou e voltou em segundos com uma toalha nas mãos. Colocou-a sobre o seu colo e deitou minha cabeça ali - "Pronto! Agora sim pode chorar sem perigo de molhar meu vestido" - tentei ri, mas a dor era maior - "Chora todo o Christopher que tem dentro de você, e quando isso terminar, vamos refazer sua maquiagem e você vai descer e começar uma nova vida, e vai ser muito feliz"

"Já chegamos" - ele disse me despertando das lembranças. Passei o dedo por uma fina lágrima que escorrera do canto dos olhos, disfarçadamente para que ele não notasse.

"Onde estamos?" - perguntei ao dar-me conta de que entravamos na garagem de um prédio.

"Indo para o meu apartamento" - fiquei em silêncio por alguns minutos, enquanto ele estacionava o carro.

"Então já tem até um apartamento?" - perguntei, enquanto saia do carro. Ele tombou de leve a cabeça, fazendo uma careta - "Há quanto tempo está no México?"

"Quinze dias" – respondeu chamando o elevador. Não disse nada, mas não consegui esconder minha expressão de raiva - "Anahí, veja bem... Eu precisava chegar e organizar minha vida antes. Não podia chegar e começar a bater na porta de todos os meus amigos, entende?"

"Não" - o ouvi respirar fundo.

Subimos em silêncio, e não demorou muito para chegarmos ao quinto andar. Ao entrarmos no apartamento, ele me guiou até o sofá, porém, ele ficou de pé de costas para mim, enquanto mirava a cidade pelo vidro da varanda.

"Durante esses cinco anos" - ele disse depois de um incômodo silêncio - "Fui o produtor musical da minha prima lá na Suécia, e também compus várias músicas. E muitas delas entraram para o CD. Mas há uns meses tive uma ideia e comecei a pesquisar e estudar sobre o tema mais a fundo. Então comecei a escrever a série. E em todos esses anos eu não perdi contato com o Pedro Damián. Nos falávamos não sempre, mas com frequência, e comentei da estória que eu estava escrevendo. Ele pediu que eu mandasse algo para que ele lesse, e semanas depois veio falar comigo que estava muito interessado em produzi-la, e pediu que eu voltasse ao México. Eu precisei pensar, porque voltar implicava em encarar o passado, e não sabia se estava preparado. Mas depois de alguns dias, decidi aceitar porque queria ver minha estória ganhar vida. Depois de achar um produtor para me substituir com minha prima, vim para o México, mas eu e Pedro conversamos e achamos que seria melhor manter o projeto em segredo por enquanto, até que todos os atores sejam escalados, pelo menos. Mas principalmente, eu não queria que você soubesse que eu estava nesse projeto porque tive medo de você não aceitar por minha causa"

"Eu decidi não aceitar muito antes de saber que você é o autor"

"Claro, por causa da música" - eu ia negar, mas ele não deixou - "Eu não fazia ideia que esta música te afetava. Quero dizer, depois de tanto tempo, pensei que já havia se esquecido daquele dia"

"Como você quer que eu esqueça, Christopher? Hã?" - me levantei - "Fui te entregar o convite, mas esperando e desejando que você o rasgasse e não me deixasse levar aquele casamento adiante. Você ficou quieto, não falou. Nem mesmo para dizer que eu estava enganada e cega, pois o sentimento não era recíproco entre nós" - ele permanecia de costas - "E depois... depois você me tratou como um lixo, me causando uma dor tão grande que nunca vai conseguir imaginar. Nunca vou conseguir apagar da memória eu largada nua na sua cama, depois de você falar que fez sexo comigo e me chamar de vaca" - me odiava a cada segundo por estar falando tudo isso para ele, mas não conseguia controlar os impulsos de colocar toda a magoa de cinco anos para fora, na cara dele.

"Anahí.." - ele começou a falar, mas desta vez eu que não deixei.

"E no dia do meu casamento.." - ri, sem humor - "Fui tão estúpida que o ódio que senti por você semanas atrás já havia se dissipado, e eu alimentava as esperanças de você ir me buscar. Cheguei até a perguntar se havia uma escada na fazenda" - ele se virou para mim, e deu um sorriso torto - "Continua rindo... Eu sei que há cinco anos você deve fazer isto. Fui uma idiota mesmo"

"Não estou rindo de você, e nunca fiz isso. Na verdade, achei graça o que você acabou de falar. Vou te falar porque, mas antes quero te falar algumas coisas que omiti desde aquela noite no meu apartamento" - o olhei franzindo o cenho - "Eu queria rasgar aquele convite na sua cara, gritar com você e mandar você acabar com aquela loucura de casamento. Senti meus músculos doerem, de tanto que precisei me concentrar para manter o autocontrole. Enquanto dançávamos, respondia a tudo o que você falava, mentalmente. Te apertava ao meu corpo, temendo o momento de você ir embora. Me senti covarde, como você mesma me chamou. Um filho da puta por não dizer o que você queria ouvir de mim. Quando você foi embora, andei em círculos pela sala, esfreguei minhas mãos no rosto, nos cabelos, tudo para tentar me acalmar e não ir atrás de você. E de repente, você tocou a campainha outra vez.

Te amei com loucura, com paixão, com desespero. Você era minha naquele momento, e sentia como se fosse nossa última vez. Depois, quando a tinha repousando em meus braços, tive que pensar em algo que a fizesse ir embora, então tive que fazê-la me odiar. Por isso disse aquilo e saí de perto de você, senão, não ia conseguir. E no dia do casamento.." - ele deu novamente o seu sorriso torto - "eu também perguntei a um empregado da fazenda sobre uma escada. Para o caso de eu desistir de fazer o que tinha ido fazer" - apertei os lábios para prender um sorriso, mas meus olhos sorriam - "Não é porque eu não me importo, porque eu me importo com o que você pensa de mim. Só não podia dizer o que você queria escutar. O que parecia ser o tema da minha vida... Só porque eu não podia falar, não significava que eu não queria. Eu queria muito. Você pode estar com uma pessoa, e estar feliz com ela e não amá-la. Ou você pode amar alguém e não querer ficar com ela. É muito frustrante quando o seu cérebro diz o que você quer, e o que você realmente quer não combina. É cansativo e bem, é complicado. Mas a vida é assim. E às vezes, a vida é uma droga"

"Você não conseguiu..." - confessei, após alguns minutos.

"O quê?" - me perguntou, franzindo o cenho.

"Fazer-me te odiar. Como eu disse, eu fui estúpida e idiota. E velhos hábitos não mudam. Mas, sinto muita mágoa por você, sabe?!" - perguntei fazendo uma careta. Ele assentiu.

"Eu sinto muito"

"Eu sinto mais, Christopher. Não imagina o quanto"

"Desde que decidi voltar, não paro de pensar em você. Quero dizer, fiquei apavorado, sabe?! Imaginei sua reação, a intensidade do ódio que você poderia estar sentindo por mim, se falaria comigo, se olharia na minha cara, enfim" - sua expressão era frustrada - "E olha só... você está morena" - ele sorriu - "Espero que um dia você possa me perdoar por tudo o que te fiz"

"Também espero..." - confessei - "Talvez no dia que você me perdoar por ter errado com você, também" - ele me olhou confuso - "Por ter te traído" - expliquei.

"Acho que temos algo em comum... Também sou estúpido e idiota"

Depois de me levar de volta ao estacionamento do escritório do Pedro, prometi que pensaria sobre a série e daria uma resposta em breve. Mas na verdade eu mantinha minha decisão de não aceitar, por mais que ele tenha me falado de suas ideias e objetivos antes de sairmos do seu apartamento. Agora, aceitar esse trabalho tinha um peso duplo para mim.